Em novembro de 2017, 35 organizações de saúde mental, lideradas pela Society for Psychotherapy Research (SPR), escreveram uma declaração de tomada de posição, dirigida ao Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (National Institute for Health and Care Excellence -NICE), pedindo revisões das diretrizes clínicas para a depressão em adultos. Eles solicitaram a inclusão do envolvimento das partes interessadas para abordar “falhas significativas na metodologia, falta de transparência e várias inconsistências” presentes nas diretrizes hoje existentes.
No entanto, uma atualização sobre as próximas diretrizes indicou que essas preocupações não foram abordadas. Em resposta, os signatários elaboraram a Declaração da Posição das Partes Interessadas. Eles escrevem:
“Mantemos nossa posição de que estas diretrizes não são adequadas ao objetivo e, se publicadas, impedirão seriamente o atendimento de milhões de pessoas no Reino Unido que sofrem de depressão, potencialmente até mesmo causando danos clínicos”.
Na declaração original de 2017, as partes interessadas identificaram no rascunho “falhas metodológicas abrangentes e fundamentais”. Inúmeras sugestões de revisões foram descritas.
Primeiro, eles exigem que o NICE examine estudos clínicos que incluam dados de acompanhamento de 1 a 2 anos, em vez de resultados exclusivamente de curto prazo. O significado dessa inclusão foi discutido recentemente por outros pesquisadores (consulte o relatório publicado em MIB). Além disso, a exclusão de ensaios relevantes resultou em diretrizes equivocadas que favorecem pesquisas médicas em detrimento de pesquisas psicológicas, bem como certos tratamentos psicológicos em detrimento de outros.
“Esta não é uma posição científica aceitável e cria preconceitos baseados em escolhas subjetivas, em vez de boas evidências científicas da eficácia do tratamento”.
Outro ponto importante de discórdia com as novas diretrizes envolveu a exclusão de experiências de usuário do serviço. Eles argumentam:
“É necessária uma revisão sistemática completa dos estudos primários da experiência do usuário do serviço, empregando metodologia formal para síntese qualitativa; E os resultados dessa revisão devem ser incorporados à abordagem mais ampla das recomendações quantitativas de revisão e tratamento, em vez de serem deixados como uma seção independente.”
Dado que as opiniões dos usuários do serviço sobre suas experiências têm “pelo menos valor igual à evidência quantitativa de resultados clínicos”, eles observam que a exclusão desses dados não se justifica.
Além disso, de acordo com a Associação Europeia de Psiquiatria, os casos em que os pacientes experimentam “depressão persistente” precisam ser agrupados em vez de separados. Eles acrescentam,
“No futuro, o NICE também precisa verificar se o sistema categórico geral de transtornos mentais realmente se encaixa na experiência do usuário do serviço ou se uma abordagem mais focada no trauma se encaixaria melhor na experiência do usuário do serviço. Enquanto isso, a diretriz atual deve estar pelo menos alinhada com as melhores evidências clínicas e de pesquisa. ”
Juntamente com outras considerações metodológicas específicas, a coalizão sugere fortemente que o NICE use métodos apropriados para examinar os efeitos do tratamento e inclua uma análise dos resultados que não são do tratamento, como a qualidade dos relacionamentos e a capacidade de trabalhar.
Eles escrevem:
“O esboço atual das diretrizes tem um foco extremamente restrito nos sintomas enquanto resultantes do tratamento e falha em levar em consideração outros aspectos da experiência do usuário do serviço que há muito são solicitados, como qualidade de vida, relacionamentos e capacidade de participar no trabalho, educação ou na sociedade. O escopo das diretrizes lista o funcionamento adaptativo, o bem-estar do cuidador e uma série de outros resultados constantes na lista dos principais resultados a serem considerados, e ainda assim as diretrizes não levam em conta esses resultados.”
Embora o NICE tenha reconhecido suas omissões e as suas interpretações errôneas na elaboração do esboço das diretrizes, eles não abordaram as preocupações acima quando ocorreu a segunda rodada de consultas.
“O escopo da terceira revisão não inclui nenhuma das preocupações detalhadas nesta declaração. Em vez disso, o NICE propõe atualizar a revisão de evidências existente e incluir novos trabalhos sobre a ‘escolha do paciente’. Não está claro a que corpo de evidência “escolha do paciente” se refere, mas o NICE especificou que isso não se refere à experiência do paciente (da qual existe um corpo significativo de evidências). ”
Portanto, esta Declaração das Partes Interessadas foi escrita para expressar ainda mais a visão da coalizão de que a diretriz atual é imprópria e corre ainda o risco de causar danos clínicos. Eles enfatizam que isso não pode ser adiado.
“Se essas falhas metodológicas sérias não forem tratadas adequadamente nas diretrizes, as recomendações de tratamento não poderão ser consideradas e serão enganosas, inválidas e impedirão o atendimento de milhões de pessoas no Reino Unido, causando potencialmente danos clínicos”.
Eles concluem:
“As diretrizes da NICE têm uma influência significativa na política do Reino Unido e internacionalmente, e, portanto, a publicação dessas diretrizes em sua forma atual teria um impacto muito prejudicial sobre os usuários, serviços, força de trabalho dos profissionais de saúde e práticas de pesquisa.”
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Leia aqui a Declaração na íntegra: https://cdn.ymaws.com/www.psychotherapyresearch.org/resource/resmgr/docs/downloads/StakeholderPositionStatement.pdf
Webinar: “Hora de uma mudança radical, as diretrizes da NICE precisam de uma metodologia revisada”: https://vimeo.com/344828465