Os livros de psiquiatria estão cheios de erros e propagandas

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Estudantes de medicina, psicologia e psiquiatria, e profissões de saúde aliadas aprendem sobre psiquiatria através da leitura de livros didáticos psiquiátricos. Eles geralmente acreditam no que lêem e o reproduzem em seus exames. Portanto, os livros didáticos universitários são uma poderosa ferramenta de doutrinação – para se chegar à “opinião certa”, mesmo quando ela está errada.

Ao terem passado nos exames, os estudantes defenderão com unhas e dentes o que aprenderam. É um traço curioso da psicologia humana que uma vez que se tenha tomado uma decisão, mesmo quando estava em sérias dúvidas, se passe a defender vigorosamente a sua posição quando alguém provar que a outra opção era a correta.

É muito importante, portanto, que as informações veiculadas nos livros didáticos psiquiátricos estejam corretas. E esse é o problema. Há uma enorme diferença entre a narrativa psiquiátrica oficial e o que a ciência mostra.

Muito do que os principais psiquiatras dizem e escrevem é incorreto: sobre a confiabilidade dos diagnósticos psiquiátricos; sobre as causas dos transtornos psiquiátricos; se as causas podem ser vistas em um exame cerebral ou química cerebral; e quais são os benefícios e danos das drogas psiquiátricas, eletrochoque e tratamento forçado. Isto tem sido amplamente documentado por psiquiatras críticos e outros.

A discrepância entre opinião e ciência também é predominante nos livros didáticos psiquiátricos. As próximas gerações de profissionais da saúde aprenderão, portanto, sobretudo durante os seus estudos, o que é comprovadamente incorreto em detrimento de seus pacientes.

Tem sido os pacientes e seus parentes quem têm acertado, não os psiquiatras. Uma pesquisa com 2.031 australianos mostrou que as pessoas pensavam que os comprimidos para depressão, as pílulas para psicose, o eletrochoque e a admissão em uma enfermaria psiquiátrica eram mais freqüentemente prejudiciais do que benéficos. Os psiquiatras sociais que haviam feito a pesquisa ficaram insatisfeitos com as respostas e argumentaram que as pessoas deveriam ser treinadas para chegar à “opinião correta”.

Mas o público em geral não tem estado errado. Suas opiniões e experiências estão de acordo com as informações científicas mais confiáveis que hoje temos.

Temos uma situação em que os “clientes”, os pacientes e seus familiares não concordam com os “vendedores”, com os psiquiatras. Quando este é o caso, os vendedores geralmente são rápidos para mudar seus produtos ou serviços, mas isto não acontece na psiquiatria, que tem o monopólio do tratamento de pacientes com problemas de saúde mental, tendo os médicos de família como sendo a sua complacente equipe de vendas de primeira linha e que não fazem perguntas incômodas sobre o que estão vendendo.

Na Suécia, o Conselho Nacional de Saúde recomenda que todos os adultos com depressão leve a moderadamente severa recebam psicoterapia, mas apenas 1% a recebem. Isto ilustra que a psiquiatria é um comércio perverso. Ela não ajuda os pacientes como eles querem ser ajudados, mas ajuda a ela mesma.

Em 2021, tive a idéia de que se eu lesse e avaliasse os livros didáticos mais usados na Dinamarca e escrevesse o meu próprio livro didático explicando o que estava errado com os outros, isto poderia abrir os olhos para os estudantes em todos os lugares.

Escrevi um livro sobre o que encontrei, que todos os usuários do site Mad in Brasil (versão em português) podem obter gratuitamente, bastando enviar um e-mail para pcg AT scientificfreedom.dk. Está em pdf.

Não se espera que os livros didáticos dinamarqueses sejam diferentes dos de outros países, porque a psiquiatria convencional é a mesma em todos os países. Espero que outros pesquisadores analisem os livros didáticos usados em seus países como eu o fiz.

Ao ler livros, pode ser difícil descobrir o que não está lá, mas que deveria ter sido mencionado. Portanto, antes de começar a ler, descrevi em um protocolo o que acredito que deveria ser mencionado nos livros didáticos psiquiátricos.

As questões centrais que escolhi são aquelas de importância óbvia para os pacientes e aquelas consideradas controversas, por exemplo, se os transtornos psiquiátricos podem ser vistos em um exame cerebral. Os subtítulos do meu protocolo foram as causas de transtornos psiquiátricos, diagnósticos, benefícios de drogas, danos das drogas, retirada de drogas psiquiátricas, estigmatização, consentimento informado, psicoterapia e outras intervenções psico-sociais e o eletrochoque. Como existem centenas de diagnósticos psiquiátricos, eu me concentrei em psicose, depressão, bipolar, TDAH, transtornos de ansiedade e demência.

Identifiquei os cinco livros didáticos psiquiátricos na Dinamarca mais usados por estudantes de medicina e psicologia e avaliei se as informações apresentadas sobre as causas, diagnóstico e tratamento eram adequadas, corretas e baseadas em evidências confiáveis. Os livros didáticos estavam em dinamarquês, tinham um total de 2969 páginas e foram publicados entre 2016 e 2021.

Entre os autores estavam incluídos alguns dos mais proeminentes professores dinamarqueses de psiquiatria, porém os livros didáticos estavam longe de ser baseados em evidências. Freqüentemente contradiziam as evidências mais confiáveis; vários grupos de autores às vezes forneciam mensagens contraditórias mesmo dentro do mesmo livro; e a maneira como eles usavam referências era insuficiente. Eu esperava que quanto mais implausíveis fossem as alegações, menos provável seria que elas fossem referenciadas.

Em resumo, descobri uma ladainha de afirmações enganosas e errôneas sobre as causas dos distúrbios de saúde mental, se são genéticas, se podem ser detectadas em um exame cerebral, se são causadas por um desequilíbrio químico, se os diagnósticos psiquiátricos são confiáveis, e quais são os benefícios e danos das drogas psiquiátricas e eletrochoques.

Muito do que é alegado é desonestidade científica. Eu também descrevo fraudes e manipulações sérias com os dados em pesquisas freqüentemente citadas.

O debate sadio e sem preconceitos sobre questões essenciais na psiquiatria é raro. Quando os defensores do status quo não têm contra-argumentos válidos contra as críticas de suas práticas, eles não respondem às críticas, mas atacam a credibilidade de seu oponente.

Se você fizer perguntas a seus professores com base em meu livro, ou em outros livros ou artigos científicos que escrevi, você pode ser enganado com respostas como, “Gøtzsche? Eu nunca ouvi falar dele” (mesmo sabendo quem eu sou), “Não perca seu tempo com ele”, “O professor Gøtzsche é um psiquiatra? Ele já tratou de pacientes psiquiátricos? Como ele pode julgar o que nós fazemos”? Ou dirão que “Gøtzsche é um antipsiquiatra”, que é o derradeiro pseudo-argumento que os psiquiatras usam.

Não se deve aceitar tais respostas, mas sempre se deve pedir as provas.

Os autores dos cinco livros didáticos incluem alguns dos mais proeminentes professores de psiquiatria da Dinamarca. Não há razão para acreditar que a traição sistemática da confiança pública seja diferente em outros países. Em todos os lugares vemos as mesmas mentiras, negação, omissões de pesquisa que são embaraçosas para a auto-imagem da psiquiatria e para a narrativa oficial, e informações enganosas sobre a psiquiatria. Robert Whitaker ilustrou isso de forma convincente em sua revisão do novo livro de Thomas Insel.

Insel, que é chamado “America’s psychiatrist”, foi diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (NIMH) por 13 anos, até 2015. Em 2022, ele publicou o livro “Healing” (Cura): Nosso caminho da Doença Mental para a Saúde Mental. O livro apresenta uma argumentação não intencional para se abolir a psiquiatria, apesar de Insel tentar apoiá-la.

Sendo um ex-diretor do NIMH, Insel deveria ter contado a seus leitores sobre os maus resultados a longo prazo do tratamento com medicamentos psiquiátricos, como o documentado em pesquisas caras e de prestígio financiadas pelo NIMH.

Ele não o fez. Insel transformou areia em ouro ao fazer um desvio horrível. Ele alegou que os tratamentos atuais são necessários mas não suficientes para curar distúrbios complexos do cérebro. Isto não tem absolutamente nenhuma relação com o caso. Ele citou o seu predecessor Steven Hyman, que disse que precisamos saber muito mais sobre a biologia das doenças mentais antes de “iluminarmos um caminho através de terreno científico muito difícil” e desenvolvermos medicamentos que sejam tão eficazes quanto a insulina ou os antibióticos.

O pomposo palavreado do livro de Insel encobriu o fato de que a psiquiatria biológica é um fracasso total, o que a história tem mostrado tão claramente. Além disso, as fantasias mal fundamentadas de Insel sobre um futuro melhor não eliminam o imenso dano que sua especialidade inflige atualmente a centenas de milhões de pessoas.

Na terra da aventura de Insel, os médicos são mais eficazes hoje do que eram há 25 anos. De fato. Eles estão prejudicando os seus pacientes mais do que nunca, à medida que o uso de drogas psiquiátricas aumenta o tempo todo, enquanto o número de pessoas com pensão por invalidez por causa de problemas de saúde mental também aumenta.

Concluo que a psiquiatria biológica não levou a nada de útil e que a psiquiatria como especialidade médica é tão prejudicial que deveria ser dissolvida. As pessoas não devem receber drogas, exceto em algumas situações agudas, mas sim psicoterapia e outras intervenções psicossociais.