Questionando os pressupostos filosóficos da pesquisa em neurosciência

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Peter SimonsEm um artigo recente, o pesquisador de psiquiatria Diogo Telles-Correia argumenta que os pressupostos filosóficos não examinados por detrás da pesquisa em neurociência influenciam a maneira como os estudos são projetados e interpretados. Telles-Correia, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Lisboa, argumenta que essas posições metafísicas não questionadas estão no centro do fracasso da neurociência em fornecer pesquisas clínicas úteis. Ele sugere que os pesquisadores investiguem ativamente a filosofia da ciência com a qual operam e que questionem suas suposições sobre a questão mente-cérebro.

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Publicado no Journal of Evaluation na Clinical Practice, o artigo enfoca inicialmente a lacuna “mente-cérebro”. Telles-Correia escreve que a maioria das pesquisas em neurociência contém a suposição implícita de que a mente é sinônimo de cérebro e que a mente é governada completamente por fenômenos físicos já descobertos. No entanto, ele escreve:

“Não existe um método científico que comprove que a mente pode ser reduzida ao cérebro e que as leis que governam a mente são as mesmas que governam o sistema nervoso. ”

O reducionismo é a crença de que qualquer estado mental ou emocional pode ser simplificado por seus correlatos biológicos. Segundo Telles-Correia, “o reducionismo não é uma atitude científica, mas metafísica”. Segundo Telles-Correia, embora o reducionismo seja às vezes não abertamente declarado como sendo a posição dos pesquisadores neurocientistas, ele está frequentemente implicado no desenho da pesquisa assim como na forma como os resultados são interpretados.

Por exemplo, os pesquisadores tendem a projetar um teste sem questionar se o teste realmente representa a experiência interna que está sendo estudada. O resultado é que se interpreta qualquer atividade cerebral detectável como estando  ‘relacionada’ ao teste em questão e, finalmente, se conclui que essa atividade cerebral causa ou é causada pela experiência interna.

No entanto, essas suposições não levam em conta o significado do teste, nem tampouco a experiência interna real e a questão de saber se alguma atividade cerebral associada é causal de um estado mental. Telles-Correia ressalta que nenhuma dessas questões subjacentes pode ser investigada usando a metodologia atual da neurociência. Para exemplificar ele apresenta pesquisas em neurociência sobre trauma.

“Embora um evento traumático na infância possa ter uma tradução no nível da biologia do cérebro, isso não significa que é através das neurociências que esses eventos traumáticos podem ser melhor descritos e explorados”.

Telles-Correia prossegue comentando os achados dos ‘correlatos neurobiológicos’ dos transtornos psiquiátricos. “Distúrbios psiquiátricos são ‘construções sociais”, ele escreve, “não tipos naturais que existem independentemente de qualquer esforço humano. A avaliação do que é ou não ‘patológico’ na psiquiatria está relacionada a 1) se o estado mental / comportamento é compreensível, dado o contexto sociocultural do paciente, 2) adaptabilidade (adaptativo ou não-adaptativo ao contexto) do paciente), e 3) conexão com o sofrimento e a incapacidade (se causam ou não aflição ou incapacidade) ”.

Ele também observa que “não foi possível demonstrar a presença de fronteiras naturais entre doença mental e normalidade”. Isto é, as linhas que separam uma “doença” diagnosticada e os chamados estados mentais ‘normais’ são vagas, exigindo julgamento feito por uma entidade externa (como um psiquiatra ou pesquisador de neurociência). Portanto, ele sugere que não é possível encontrar os correlatos neurobiológicos dos transtornos psíquicos diagnosticados em comparação com a neurobiologia dos chamados controles ‘saudáveis’.

Outra questão surge em pesquisas que tentam descobrir os correlatos neurais de um transtorno psiquiátrico particular. Diagnósticos psiquiátricos são categorias amplas e indivíduos com o mesmo diagnóstico podem ter estados mentais muito diferentes. Por exemplo, alguém com o diagnóstico de depressão pode dormir muito ou pouco ou pode comer demais ou comer em excesso. Nestes casos, alguém diagnosticado com depressão pode ter os sintomas opostos de outra pessoa diagnosticada com depressão.

Telles-Correia argumenta que estudos futuros precisam incluir especialistas de vários campos, não apenas especialistas em neuropsiquiatria. Ele sugere que especialistas em filosofia da ciência passem a ser considerados como um apoio necessário para equipes de neurociência e de pesquisa psiquiátrica.

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Telles-Correia, D. (2018). The mind-brain gap and the neuroscience-psychiatry gap. Journal of Evaluation in Clinical Practice. doi: 10.1111/jep.12891 (Link)

Em defesa da depressão saudável

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EnricoUm recente relatório da Blue Cross Blue Shield documentou um aumento de 33% nos diagnósticos de depressão nos Estados Unidos de 2013 a 2016. Concluiu-se que os índices de depressão estão um pouco abaixo dos da pressão alta, uma condição que é da maior importância por afetar adversamente a saúde em geral.

Podemos atribuir o aumento dos diagnósticos de depressão ao incentivo que médicos da atenção primária rastreiem a depressão. Os médicos não-psiquiatras não apenas estão se tornando verdadeiros rastreadores da depressão, mas estão passando a ser os profissionais de saúde mental da linha de frente. Estima-se que cerca de 80% dos antidepressivos sejam prescritos por médicos não psiquiatras.

À medida que mais e mais médicos veem o tratamento da depressão como algo que está sob a sua alçada, em combinação com a nova ênfase na integração dos cuidados de saúde entre médicos e demais profissionais de saúde, é provável que a tendência ascendente nos diagnósticos de depressão persista. Ela persistirá porque quanto mais a depressão for avaliada e tratada por meio de uma lente médica maior a probabilidade de que estados normais e saudáveis de depressão sejam patologizados e agrupados indiscriminadamente com a verdadeira depressão clínica.

É imperativo distinguir entre a depressão clínica real e a ‘depressão saudável’, como sendo respostas adaptáveis e esperadas a eventos de vida angustiantes que sinalizam a necessidade para a pessoa de repensar a sua vida e de calibrar diferentemente as suas percepções e emoções.

Na depressão clínica, há um pensamento pessimista arraigado; distúrbios no sono e no apetite; letargia; dificuldades de concentração; culpa patológica sobre transgressões reais e imaginárias; isolamento; desesperança desoladora; e um humor desanimado. A pessoa clinicamente deprimida pode ser assombrada por ideias suicidas. Acabar com a vida pode parecer a única solução para livrar-se da dor psíquica, do sentimento de desespero e futilidade e das autoimagens odiosas que acredita serem características permanentes da vida.

Na depressão saudável: há menos a sensação de um sentido geral do eu como deficiente ou defeituoso do que a pessoa que imaginamos ser e que é tão valorizada passar agora a ser menos imaginável. Há uma diminuição de si mesmo, em vez de uma fragilidade de si mesmo. O início da depressão nos indica que, de alguma forma, precisamos enquadrar nossas autoconfianças com os nossos atributos, talentos e conquistas reais. O bem-estar emocional exige que formemos estimativas de nossos atributos, talentos e conquistas que sejam mais precisos e estáveis. Se percorrermos a vida subestimando ou superestimando quem somos, potencialmente nos prepararemos para um sofrimento perpétuo. A depressão transitória pode nos indicar que é loucura continuar procurando parceiros mais atraentes do que é ser realista, por exemplo, ou buscar cargos que estão fora de nosso alcance, ou deixar de aceitar limitações funcionais provocadas por doenças crônicas. Podemos resistir emocionalmente e ficar com raiva e irritados: por que não podemos ter tudo isso. A vida é injusta! Mas, mais cedo ou mais tarde, a irritabilidade e a raiva precisam ser suplantadas pela aceitação amorosa de quem realmente nos tornamos, e ok.

Tipicamente, a depressão saudável é caracterizada por perdas identificáveis e tristeza acessível. Pode ser a perda de um relacionamento romântico, uma posição de emprego valorizada ou uma capacidade atlética devido à doença. Se a tristeza normal é confundida com depressão clínica e é medicada, são perdidas as oportunidades para se lamentar uma perda, processá-la emocionalmente e aprender sobre si mesmo, possivelmente em psicoterapia.

Para as pessoas clinicamente deprimidas, o isolamento muitas vezes serve ao propósito de escapar de uma vida que é insuportável e percebida para sempre sendo assim. A pessoa tem pouca energia para ser social conforme maneiras básicas – corresponder a um sorriso ou responder a um aceno. Atenção e concentração estão comprometidas. Isso porque a pessoa está tão preocupada com suas próprias falhas e sentimentos que tem pouca energia mental em reserva para se concentrar em outras coisas.

No entanto, a necessidade de isolar-se pode ser uma aspiração saudável em alguém com depressão transitória. A atenção dada aos outros e a compromissos externos pode desviar o foco e a energia para a atenção para o eu que é produzida por uma percepção emocional que é apenas adquirida com solidão. Estar sozinho nos ajuda a pensar e fazer um balanço das velhas ideias sobre nós mesmos e nossas vidas. Permite a introspecção que traz autopercepções do valor pessoal e da atratividade alinhando-as com as novas circunstâncias da vida. Isso nos permite tempo e espaço para chegar a uma consciência mais completa das novas regras com as quais o jogo da vida deve ser jogado. Podemos chamar a isso de ‘solidão produtiva’.

Isso envolve um sentimento incômodo vindo lá de dentro de que não estamos vivendo de acordo com o nosso potencial, sem levar a efeito os dons e talentos que possuímos. É a voz dentro da nossa cabeça que está a nos dizer que estamos perdendo a nossa vida, se tornando complacentes demais e deixando a barra muito baixa. Atender ao chamado da culpa existencial nos mantém honestos quanto a seguir nossos ideais internos e realizar nossas capacidades.

‘Culpa má’ é culpa patológica, que é encontrada em pessoas clinicamente deprimidas. Isso envolve um sentimento global de que tudo é ruim. É como se a pessoa tivesse uma consciência hiperativa, onde está preocupada em ter feito algo errado ou estar prestes a fazer algo errado. A parte trágica é que, na realidade, a pessoa é decente e bem-intencionada.

Às vezes, a depressão é realmente apatia. Resulta do fato de uma pessoa ter sacrificado sua autonomia, vivendo passivamente uma existência roteirizada e, sem sucesso, tentando ignorar a percepção de que as convenções sociais ou religiosas que deveriam dar significado perderam toda a relevância. A disforia sentida em torno disso, se ouvida, é o ímpeto emocional para renovar os compromissos de vida de alguém, de acordo com novas crenças e valores emergentes.

Da mesma forma, a depressão pode nos alertar de que estamos presos, deixando de agir com base em fontes de satisfação pessoal e realização que não podem mais ser negadas; ou, a depressão pode ser o resultado de permanecer em relacionamentos estagnados com os efeitos estagnados sendo finalmente sentidos.

Relampejos de ideação suicida nem sempre devem ser abordadas com alarme e ação protetora. Para algumas pessoas, confessar pensamentos suicidas é o mesmo que comunicar que a vida que estão vivendo se tornou inabitável e precisa ser repensada e re-abordada. Pode haver mais esperança do que desesperança, porque o desespero que se sente é processado como um chamado à ação, um doloroso lembrete de que algumas mudanças essenciais na vida precisam urgentemente ser feitas.

Agora, mais do que nunca, com a crescente medicalização da depressão, precisamos separar a depressão saudável como sendo uma resposta humana relativamente normal à perda; um sistema inato de sinalização que nos estimula a recalibrar pensativa e emocionalmente quem somos, quem nos tornamos e quem precisamos ser; e uma indicação de que a solidão produtiva pode ser necessária para um período de introspecção pessoal, e que a tristeza, a culpa e o remorso, se reconhecidos e processados, fornecerão alívio e aceitação.

Mad in Asia: Para que existam múltiplas narrativas pela inclusão

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A comunidade Mad se expande, chegando agora à Ásia. Foi lançada a página Mad in Asia, com a missão de contribuir para mudar a narrativa sobre loucura e sofrimento mental na região da Ásia. Mad in Asia espera mostrar narrativas que são contextualmente relevantes para a região, com foco nos direitos humanos das pessoas com ‘transtornos mentais’.

Compartilhamos as preocupações que muitos ativistas e defensores de todo o mundo têm sobre o domínio do modelo biomédico na compreensão, tratamento e cuidado de pessoas consideradas ‘mentalmente doentes’. Muitos de nossos países ainda operam sob o legado de instituições coloniais e estruturas legais criadas para ‘administrar’ os loucos. Enquanto isso, novos ‘movimentos globais’ têm se proposto a criar e replicar políticas e instituições baseadas na psiquiatria ocidental e em sua psicologia clínica. Mesmo no contexto das ‘alternativas à psiquiatria’, os esforços para impulsionar as inovações desenvolvidas no norte global para o sul global às vezes tendem a reproduzir antigas tendências coloniais.

Acreditamos que não há uma única maneira abrangente de desafiar e mudar as atuais narrativas e práticas que marginalizam as experiências das pessoas consideradas com “transtorno psiquiátrico” *. Nem tampouco que possa ser articulado apenas em termos de uma oposição à psiquiatria biomédica e suas instituições. Em muitos dos nossos países, a psiquiatria e a psicologia institucionais não existem, e a violação dos nossos direitos e personalidade ocorre no seio de nossas sociedades, nos mais imediatos espaços comunitários, assim como nas próprias famílias. A ação coletiva deve envolver toda uma gama de negociações, bem como a afirmação e validação de conhecimentos, experiências e habilidades emergentes e sensíveis aos contextos locais. O que é necessário, então, são narrativas múltiplas contextualmente relevantes.

A aliança de pessoas com ‘transtornos psiquiátricos’ e os que os oferecem suporte a elas – TCI Asia (Comunidades Transformadoras para a Inclusão de Pessoas com Transtornos Psiquiátricos, Ásia) – tem estado na vanguarda deste trabalho na região da Ásia. O Mad in Asia trabalhará em parceria com a TCI Asia, alinhando nossos objetivos ao enfoque nos direitos humanos e na inclusão da comunidade de pessoas que sofrem de algum dos chamados ‘transtornos psiquiátricos’. Para mudar a narrativa de ‘saúde mental’ para uma outra que se engaje criticamente com as experiências vividas das pessoas em nossa região, acreditamos que noções tais como ‘comunidade’, ‘inclusão’, ‘direitos’, ‘personalidade’, ‘deficiência’, ‘sociedade’, ‘loucura’, ‘saúde mental’ e ‘psiquiatria’ precisam ser examinadas.

Mad na Ásia é um espaço liderado por pessoas com ‘transtornos psiquiátricos’ de diversos países asiáticos e que têm como propósito negociar e nutrir tais narrativas. Esperamos fazer isso em colaboração com nossos aliados, incluindo ativistas com ‘transtornos psiquiátricos’, profissionais de saúde mental, acadêmicos, defensores da justiça social, membros das famílias e da comunidade e qualquer pessoa interessada em se unir a essa comunidade on-line para mudanças. Ao fazer isso, esperamos disseminar o extenso conhecimento (teorias, investigações, ações e práticas) mantido por nosso pessoal e dentro de nossas comunidades que, de diferentes formas, buscam entender o sofrimento e a experiência direta de pessoas com ‘transtornos psiquiátricos’. Grande parte desse conhecimento está ausente, até mesmo na atual base de conhecimento global de ‘alternativas críticas e progressistas’. Escrevendo para fora da Ásia, tanto em inglês quanto em idiomas regionais, Mad in Asia reivindica um espaço válido para essa base de conhecimento coletivo. Queremos compartilharmos – tanto material quanto epistemologicamente- o que entendemos a partir da sabedoria da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD).

O conteúdo do lançamento do Mad in Asia abrange diversos tópicos. Bhargavi Davar escreve sobre a importância da CDPD para ajudar a construir identidades, bem como a que talvez seja a agenda mais importante para a região: transformar as comunidades para a inclusão de pessoas com ‘transtorno psiquiátrico’. Escrevendo das Filipinas, Janice Cambri advoga a defesa do contexto socioeconômico do país e as transformações necessárias – e o começo da mobilização – para a realização plena dos direitos humanos. As reflexões de Lynn Tang sobre “recovery” e o que isso significa para pessoas com ‘transtornos psiquiátricos’ em Hong Kong e na diáspora chinesa dos que vivem no Reino Unido apontam para paralelos em nossas preocupações coletivas. A relevância da mídia digital como um espaço de apoio de pares e as formas complexas em que essa mídia funciona é o tema explorado por Momina Masood e Noor ul Huda Niazi do Paquistão. Yang Weihua conta a história da luta de um homem pela liberdade do encarceramento em instituições psiquiátricas no contexto das leis que regem a saúde mental na China. Também apresentamos os esforços de defesa da TCI Asia na representação de interesses regionais em fóruns da ONU, bem como os esforços em andamento para abordar as questões práticas e éticas em torno do desenvolvimento de apoio de pares no Japão, especificamente, e em toda a região.

Mad in Asia não está sendo visto neste momento como um e-zine diário, mas como um blog com atualizações regulares. Esperamos construir lentamente uma publicação diária e desenvolver conteúdo que inclua pesquisas e reflexões críticas, ações e inovações, práticas baseadas em arte e criatividade e conteúdo audiovisual.

Mad in Asia é trazido a você pela TCI Asia em parceria com o Mad in America, com o apoio fiscal da International Disability Alliance.

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Nota do tradutor: Optou-se por traduzir a expressão “psychosocial disabilities” por “transtornos psiquiátricos”.

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Jhilmil Breckenridge é uma poeta, escritora e ativista e é fundadora da Fundação Bhor, uma instituição de caridade indiana, que é ativa na defesa da saúde mental. Ela defende a Poesia como Terapia e está trabalhando em algumas iniciativas para levar isso às prisões e instalações psiquiátricas. Ela está fazendo seu doutorado no Reino Unido e sua coleção de poesia de estreia, Reclamation Song, foi publicada em junho de 2018. Ela é apaixonada por criar mais consciência sobre a abordagem informada do trauma e direitos para aqueles que vivem com incapacidades psicossociais.
Jhilmil Breckenridge é uma poeta, escritora e ativista e é fundadora da Fundação Bhor, uma instituição de caridade indiana, que é ativa na defesa da saúde mental. Ela defende a Poesia como Terapia e está trabalhando em algumas iniciativas para levar isso às prisões e instalações psiquiátricas. Ela está fazendo seu doutorado no Reino Unido e sua coleção de poesia de estreia, Reclamation Song, foi publicada em junho de 2018. Ela é apaixonada por criar mais consciência sobre a abordagem informada do trauma e direitos para aqueles que vivem com incapacidades psicossociais.
Jayasree Kalathil é pesquisadora, escritora e tradutora e dirige o coletivo virtual Survivor Research. Ela está interessada em garantir que as vozes das comunidades diaspóricas racializadas e pós-coloniais permaneçam válidas na criação de conhecimento. Ela foi editora-fundadora da aaina, a primeira revista de saúde mental liderada por usuários da Índia, e editou a publicação de saúde mental baseada no Reino Unido, a Open Mind. Jayasree está atualmente pesquisando a história do ativismo de usuário / sobrevivente por pessoas de comunidades africanas, afro-caribenhas e asiáticas no Reino Unido. Ela é de Kerala, na Índia, e atualmente mora em Londres.
Jayasree Kalathil é pesquisadora, escritora e tradutora e dirige o coletivo virtual Survivor Research. Ela está interessada em garantir que as vozes das comunidades diaspóricas racializadas e pós-coloniais permaneçam válidas na criação de conhecimento. Ela foi editora-fundadora da aaina, a primeira revista de saúde mental liderada por usuários da Índia, e editou a publicação de saúde mental baseada no Reino Unido, a Open Mind. Jayasree está atualmente pesquisando a história do ativismo de usuário / sobrevivente por pessoas de comunidades africanas, afro-caribenhas e asiáticas no Reino Unido. Ela é de Kerala, na Índia, e atualmente mora em Londres.

 

“O Rei Leão” Psiquiatrizado: E se a psiquiatria tivesse colocado as mãos em Simba?

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LawrencePor meio de sites, filmes, escola, governo, autoridades médicas etc., as crianças americanas, e as do mundo em geral, estão sendo doutrinadas com a medicalização da psiquiatria de todos os sentimentos e experiências desagradáveis. A propaganda sobre doenças cerebrais cientificamente comprovadas e seus tratamentos médicos eficazes está no ar que as crianças respiram. E isso fico firmemente enraizado em suas mentes no momento em que elas passam a ser adultas. É por isso que as descobertas claras de Robert Whitaker [1] e de Irving Kirsch [2] sobre as afirmações da psiquiatria não abalaram a crescente fé na medicalização psiquiátrica.

Está na hora de uma nova estratégia. Em vez de se tentar convencer os adultos a questionar suas crenças arraigadas, por que não chegar diretamente às crianças quando ainda não totalmente doutrinadas? Isso pode ser feito criando entretenimento embutido em contrapropaganda, mostrando quão ridículo e prejudicial é o modelo médico no campo da saúde mental. Por exemplo: e se a psiquiatria colocasse as suas mãos em Simba, do filme de 1994 da Disney, O Rei Leão, qual teria sido o resultado?

Cena 1: Mufasa está aborrecido com o hiper / exuberante Simba, repetidamente despertando-o, pela sua desatenção às ordens dadas por ele e pelo Zasu, assim como pelos seus empreendimentos impulsivos e imprudentes em suas aventuras para além da terra natal. Então, a pedido de Scar, Simba é levado para Rafiki, o psiquiatra dos macacos.

Após uma avaliação de 10 minutos, Rafiki proclama: “Eu usei meus poderes místicos para olhar dentro do cérebro de Simba, e vi que ele está permanentemente perturbado devido a uma doença chamada TDAH.” Mufasa então pergunta: “Será que devemos fazer uma varredura do cérebro para confirmar isso? ”Rafiki responde: “ Não, não, não cara. Não vai aparecer nada lá. Somente nós, macacos sábios e de confiança, podemos ver – tenha fé! ”Mufasa se pergunta:“ Como você sabe que o Simba não vai superar isso quando amadurecer? ” Rafiki responde: “Minha bola de cristal me mostrou o futuro dele”. E então a câmara cinematográfica toma como foco uma bola de cristal onde é mostrada uma sala de espera cheia de filhotes de leão sedados, e Rafiki em um grande iate usando um chapéu de capitão.

Rafiki explica a Mufasa: “Como rei, você precisa entender que nós, macacos e leões, existimos juntos em um equilíbrio delicado, como se segue: Nós alvejamos filhotes de leão com dardos tranquilizantes diariamente, a fim de impedi-los de aprender habilidades necessárias para resolver seus próprios desafios. Como eles nunca aprendem a dominar qualquer desafio, eles sempre precisarão voltar para nós para serem atingidos por dardos tranquilizantes diários. Estamos todos conectados neste grande “Círculo de Lucro” e Simba agora deve ocupar o seu lugar nesse círculo. ”

Cena 2: Timon e Pumba trazem seu novo amigo Simba para o Dr. Rafiki porque ele está triste. Depois de uma consulta de dez minutos, Rafiki anuncia: “Nenhum animal normal se sentiria triste apenas porque ele testemunhou seu pai ser espancado enquanto salvava sua vida, é por isso que ele foi exilado para sempre de seus amigos, família e pátria. Então a única maneira de explicar seus sintomas são estas duas palavras …  ”Ele então começa a cantar uma música intitulada ‘Desequilíbrio Químico’ cantada para ‘Hakuna Matata’, com as seguinte letra:“ Desequilíbrio químico! Que frase maravilhosa. Desequilíbrio Químico! Não é loucura alguma passageira. Significa sem sentimentos pelo resto de seus dias. É a maior tirada da história … Desequilíbrio químico!”

Rafiki diz: “Simba tem uma condição médica severa chamada depressão. E ele tem uma história anterior de sintomas maníacos, como rir euforicamente em face do perigo, ideações grandiosas sobre o que ele fará como rei, e ficar a cantar / dançar / viajar / se divertir excessivamente. Então eu o diagnostiquei com transtorno bipolar e seu tratamento agora é … mais tranquilizantes! ”Timon pergunta:“ Existe um exame de sangue para verificar sua bioquímica anormal? ”Rafiki responde:“ Na verdade, nenhum desequilíbrio químico foi encontrado apesar de 60 anos de pesquisa. Mas garanto que estamos muito perto de um avanço científico incrível!”

Cena 3: Nala implora a Simba que retorne para a sua terra natal para retomar seu trono, dizendo: “Os leões zumbificados estão morrendo de fome porque as hienas pararam de compartilhar suas presas com eles devido a uma seca. Muitos leões sofrem de overdose de heroína ou cometem espasmos em massa! ”Simba responde:“ Eu não posso porque que eu perdi a prescrição do dia.” Ele se volta para o espírito de Mufasa para ter um conselho. Mufasa o repreende: “Lembre-se de quem você é – um inválido indefeso e dependente. Você deve aceitar sua doença crônica incapacitante e desistir de uma vez por todas de se tornar algo. É hora de tomar seus remédios”. A câmera então se dirige para Pride Rock, para a apresentação cerimonial de Scar e Rafiki da última maravilha da psiquiatria: uma mistura de Xanax, Adderall, suboxone, ketamina e ecstasy. A música “How to Get High e Die in the Pridelands” toca ao fundo.

A maioria dos filmes da Disney retrata obstáculos sendo superados pela resiliência, desenvoltura e adaptatividade. Da mesma forma, versões psiquiátricas poderiam ser produzidas, a fim de levar a verdade a mais e mais crianças. Vamos levar a mensagem do Mad para um público mais amplo, mais aberto e maleável, antes que os EUA e o resto do mundo entrem em colapso total provocado pelo parasitismo insidioso da psiquiatria. Os adolescentes, em particular, podem raciocinar abstratamente e muitas vezes questionar e se rebelar contra a autoridade (o que provavelmente é o motivo pelo qual eles são os mais rotulados e drogados psiquiatricamente). [3] Eles são, portanto, os que provavelmente serão mais receptivos e interessados em nos ouvir, especialmente porque a maior parte de suas vidas ainda está à frente deles.

Referências:

  1. Whitaker, R. Anatomy of an Epidemic: Magic Bullets, Psychiatric Drugs, and the Astonishing Rise of Mental Illness in America. 2010, Crown Publishers, New York.
  2. Kirsch, I. The Emperor’s New Drugs: Exploding the Antidepressant Myth. 2010, Basic Books, New York.
  3. 2016 National Survey on Drug Use and Health.” Substance Abuse and Mental Health Services Administration.

“Depois de tomar antidepressivos, meus genitais passaram a estar entorpecidos”

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Publicado no The Guardian: “Eu tive uma libido normal e uma boa vida sexual até os 22 anos e me prescreveram um antidepressivo ISRS. Eu estava com meu parceiro há dois anos e éramos muito felizes. Dois dias depois de tomar os comprimidos, meus órgãos genitais pareciam entorpecidos, a realização de um orgasmo passou a ser impossível e a minha libido saudável diminuiu gradualmente para ‘nada’ nas semanas seguintes. A depressão passou e eu assumi que, quando parasse de tomar as drogas seis meses depois, tudo se recuperaria; mas já faz oito anos e os efeitos colaterais sexuais não melhoraram. ”

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Revisão de estudos com antidepressivos pediátricos descobre evidências de falta de benefício

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Captura de tela de domínio público do curta Curious Alice (1971), baseado no livro Mundo Encantado de Alice, de Lewis Carroll.

RebeccaDavid Healy, Joanna Le Noury e Jon Jureidini apresentam sua reanálise de dados de pesquisas com antidepressivos pediátricos, em um novo artigo publicado no International Journal of Risk and Safety. Depois de classificar os estudos como positivos ou negativos de acordo com medidas de resultados primários, os autores descobriram que todos os 20 estudos conduzidos entre 1990 e 2005 foram negativos em seus resultados primários. Todos os 20 também resultaram em “um excesso de suicídio em quem estava em tratamento ativo”.

“Apesar dos desacordos sobre os dados que impulsionam o uso desses medicamentos, na prática os ‘antidepressivos’ podem ser os medicamentos mais comumente utilizados por meninas adolescentes, e os serviços de saúde mental infantil estão atraindo cada vez mais atenção”, escrevem Healy, Le Noury e Jureidini.

Captura de tela de domínio público do curta Curious Alice (1971), baseado no livro Mundo Encantado de Alice, de Lewis Carroll.
Captura de tela de domínio público do curta Curious Alice (1971), baseado no livro Mundo Encantado de Alice, de Lewis Carroll.

As prescrições de antidepressivos para adolescentes nos países ocidentais aumentaram nos últimos anos, apesar de uma breve queda no uso após o alerta da caixa preta de 2004 feita pela FDA. O CDC estima que entre 2011-2014, quase 13% dos adolescentes americanos estavam usando antidepressivos, com o uso das drogas pelas meninas sendo duas vezes maior do entre os meninos.

O uso disseminado de antidepressivos pediátricos persiste, apesar das dúvidas persistentes sobre a força dos resultados dos ensaios clínicos nos quais a aprovação regulatória dos medicamentos foi baseada. São esses resultados que Healy, La Noury e Jureidini reexaminam em seu estudo recentemente publicado. Sobre a questão do uso extensivo de antidepressivos entre adolescentes, os autores escrevem:

“Esse aumento no uso provavelmente decorre da visão positiva da eficácia e da suposta ausência de danos, informações veiculadas na literatura que chega ao público em geral. Até mesmo dicas de como aumentar a eficácia têm contribuído para as prescrições… ”

Os autores mapearam a história de aprovação regulatória dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), incluindo um ensaio de fluoxetina que foi apoiado pelo NIMH em 1997 que “relatou um benefícios”, e que forneceu uma base parcial para sua aprovação pela FDA para o tratamento da depressão adolescente. Preocupações posteriores surgiram em relação aos ‘benefícios e segurança’ dessas drogas para crianças e adolescentes, o que levou, em 2004, a uma advertência da FDA colocada em caixa preta. Nos últimos anos, estudos reavaliando dados de Pesquisa de Controle Randomizado com antidepressivos descobriram que os medicamentos apresentam benefício limitado e até mesmo danos potenciais a crianças e adolescentes.

Para o artigo atual, os autores examinaram todos os estudos sobre antidepressivos pediátricos realizados de 1990 até os dias atuais – 35 no total – e classificaram seus resultados como positivos ou negativos vis-à-vis os resultados primários dos estudos. Eles o fizeram revisando os Relatórios de Estudos Clínicos (CSRs), uma revisão da FDA de 2004, revisões da FDA da aplicação pediátrica da fluoxetina, bem como os relatórios da empresa clinicaltrials.gov. Os trabalhos avaliados incluem estudos da paroxetina, sertralina, fluoxetina, venlafaxina, citalopram, nefazodona, mirtazapina, duloxetina, L-Milnacipran, vortioxetina e vilazodona.

Os autores descobriram que todos os 20 ensaios realizados entre 1990 e 2005 foram negativos em medidas de resultados primários. Dois ensaios com a fluoxetina que forneceram a base para a aprovação regulatória do medicamento, e cujos resultados foram considerados positivos, revelaram ser na verdade negativos após a revisão.

Dos 15 estudos realizados desde 2006, revisados pelos autores, quase todos foram negativos em resultados primários. Além disso, os autores verificaram que todos os ensaios entre 1990 e 2005 mostram um “excesso de suicídio no tratamento ativo”. Eles também descrevem outros danos documentados dos ISRSs em crianças e adolescentes, que incluem entorpecimento genital, obstrução da velocidade de crescimento, ganho de peso e dificuldades com a descontinuação dos antidepressivos.

Healy e seus co-autores observam que as pesquisas com antidepressivos pediátricos para o TOC e ‘outros estados de ansiedade’ produziram alguns resultados primários positivos. Em suas recomendações finais, eles sugerem que as pesquisa de controle randomizado e as práticas de prescrição clínica poderiam se concentrar mais estreitamente no ‘efeito terapêutico’ específico dos ISRSs que é a ansiólise (descrita por alguns usuários como “entorpecimento emocional”), uma das características originais dessa classe de drogas e dos antidepressivos tricíclicos. Eles sugerem que concentrar-se nesse efeito como foco principal de estudos e tratamento “ajudaria a tornar mais racional a prática clínica ”. Sobre esse assunto, eles escrevem:

“Existe outra maneira de pensar sobre a utilidade clínica dessas drogas. Isso significaria um retorno ao pensamento que deu origem aos ISRSs, que foi um esforço para tornar mais visível um efeito terapêutico específico”.

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Healy, D., Le Noury, J., & Jureidini, J. Paediatric antidepressants: Benefits and risks. International Journal of Risk & Safety in Medicine, (Preprint), 1-7. (Link)

Antidepressivos funcionam para a depressão maior! Não tão rápido

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“Esta última meta-análise [o estudo Cipriani] afirma ter encontrado algo diferente – que os antidepressivos são eficazes. De fato, seus resultados são basicamente os mesmos das análises anteriores, confirmando que quase todos os antidepressivos são ineficazes ou pelo menos não de maneira clinicamente significativa, quando examinados como um todo em comparação com o placebo. Em outras palavras, a única coisa que este estudo confirma é que estudos anteriores estavam certos quando eles relataram que os antidepressivos não funcionam“.

Artigo →

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Tratamento Medicamentoso em Medicina e em Psiquiatria: Encobrindo Diferenças Importantes

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JoannaO tratamento de transtornos mentais com drogas não é o mesmo tipo de atividade que é o uso de drogas na medicina. Drogas psiquiátricas não têm como alvo uma doença subjacente ou mecanismos produtores de sintomas; elas criam um estado alterado de funcionamento mental que é sobreposto a sentimentos e comportamentos subjacentes. Por conseguinte, as implicações éticas das duas situações são diferentes.

Sou grata ao editor de  Epidemiology and Psychiatric Sciences  Corrado Barbui, por publicar no ano passado meu artigo sobre o modelo centrado nas drogas para entender a ação das drogas na psiquiatria, e a Carmine Pariante e Catherine Harmer e Phil Cowen que fornecem comentários sobre o artigo [1].  Foi muito útil para aguçar as minhas ideias haver respondido aos comentários e ter participado de um debate ao vivo com o professor Pariante, e também sou grata aos que persistentemente me questionaram em recentes apresentações que dei!

Pariante, Harmer e Cowen conduziram pesquisas interessantes que ultrapassam os limites dos diagnósticos. É particularmente impressionante, portanto, que ambos os comentários confirmem a importância do modelo de ação da droga centrado na doença para a psiquiatria moderna. Ambos os comentaristas afirmam que as drogas psiquiátricas funcionam visando as anormalidades subjacentes baseadas no cérebro que supostamente produzem sintomas psiquiátricos. Harmer e Cowen referem-se a pesquisas sobre a associação da dopamina e a psicose e aos trabalhos com os efeitos dos antidepressivos no processamento emocional. Eles concluem que “aumentar a função da 5-HT [serotonina] reverte uma função fisiopatológica central para a experiência da depressão”. [2] Pariante descreve o trabalho experimental com drogas anti-inflamatórias como “visando um sistema bioquímico no corpo, para induzir efeitos em direção contrária no cérebro, para eventualmente afetar processos relevantes para a depressão ”,

Tanto Pariante quanto Harmer e Cowen argumentam que a ação das drogas na psiquiatria é essencialmente a mesma que no resto da medicina. Pariante defende “por que não podemos aceitar que os medicamentos psicotrópicos são como todos os outros remédios da medicina?”. [3]

Pariante corretamente chama a atenção (assim como eu) que a maioria das drogas médicas não tem como alvo a causa final das doenças que são usadas para tratar. Os anti-inflamatórios não tratam a causa de uma infecção, por exemplo, mas podem ser úteis na redução do inchaço, dor e irritação que é produzida pela resposta inflamatória do organismo a um agente infeccioso. As drogas anti-asma, como o salbutamol, não abordam em primeiro lugar os mecanismos biológicos que causam a asma, mas aliviam o sintoma de falta de ar ao reverter a constrição das vias aéreas.

Mas a questão é que na psiquiatria, apesar do que esses autores argumentam, não temos ideia de quais mecanismos estão por trás dos padrões de sentimentos e comportamentos que chamamos de sintomas, e nenhuma evidência de que as drogas que usamos agem nesses mecanismos. Não temos ideia de quais processos biológicos estão associados à depressão, à esquizofrenia ou a qualquer outro transtorno mental, sem falar em evidências de qualquer processo causal. Mesmo se o fizéssemos, isso não seria suficiente para nos permitir ignorar os efeitos gerais que as drogas psiquiátricas exercem sobre a atividade mental.

Harman e Cowen argumentam que há pesquisas suficientes a respeito da disfunção da dopamina como base da psicose. Já fiz uma crítica abrangente dessa linha de pesquisa. [4] Apenas para repetir alguns pontos: alguns antipsicóticos como a clozapina têm efeitos relativamente fracos no sistema da dopamina e efeitos mais fortes sobre outros sistemas neuroquímicos; não conhecemos a base neuroquímica dos efeitos indutores de psicose da anfetamina, e a anfetamina afeta vários neurotransmissores, não apenas a dopamina; a maioria dos testes de atividade de dopamina não mostra diferenças entre pessoas com psicose ou esquizofrenia e aquelas sem; testes que mostram diferenças não controlaram as muitas outras coisas que são conhecidas por afetar a atividade da dopamina, incluindo estresse, movimento, tabagismo e, em muitos estudos, os efeitos residuais do tratamento antipsicótico atual ou anterior.

Harmer e Cowen também citam seu trabalho sobre os efeitos dos antidepressivos no processamento de emoções. Este trabalho é interessante, e Harmer e Cowen devem ser parabenizados por tentar investigar a maneira como os antidepressivos alteram o funcionamento mental ‘normal’, e por considerar o impacto de alterações subjetivas como a sedação, mas os resultados não são consistentes ou convincentes.

Tomemos um exemplo típico. [5] Os pesquisadores deram a 24 voluntários uma dose única do antidepressivo duloxetina ou um placebo, e mediram suas respostas a imagens de expressões emocionais e sua capacidade de classificar e recordar corretamente palavras representando características de personalidade agradáveis e desagradáveis seis horas depois. O achado mais forte foi que as pessoas que tomaram a duoloxetina foram mais propensas a reconhecer a expressão de nojo do que aquelas que tomaram placebo (p = 0,002). Elas também foram ligeiramente mais propensas a reconhecer uma expressão feliz (p = 0,05). Não houve diferenças no reconhecimento de raiva, medo, tristeza, surpresa ou expressões neutras. Não houve diferenças na classificação ou na recordação correta das características de personalidade, mas as pessoas que tomaram duoloxetina tiveram uma probabilidade ligeiramente maior de lembrar falsamente os descritores de personalidade ‘positivos’ do que as que receberam placebo (p = 0,04). A duoloxetina fez com que as pessoas se sentissem tontas, ansiosas, enjoadas e tristes, e relataram alterações no humor e nos níveis de energia. Os autores concluíram que o experimento demonstrou efeitos rápidos no processamento emocional que são independentes das alterações subjetivas relatadas, mas os resultados não suportam a hipótese de que a duloxetina reduz o pensamento negativo (viés) ou aumenta o pensamento positivo, especialmente porque não houve correção para testagem múltipla.

Mesmo se tivéssemos evidências de que a atividade da dopamina causa psicose, ou que a baixa serotonina causa depressão, ainda temos que explicar o fato de que mudar o cérebro por meio de drogas, cirurgia, lesão ou doença altera a natureza de nossa experiência subjetiva e o comportamento. Mudar o cérebro pode redefinir o substrato da nossa vida mental, sobrepondo um novo e alterado o estado de funcionamento do cérebro. Esse novo estado interage e pode anular estados mentais pré-existentes e seus comportamentos associados, incluindo aqueles a que nos referimos como depressão, ansiedade, psicose etc., sem necessariamente ter qualquer impacto específico nos processos neurológicos que podem ser associados ou produzirem esses estados.

Todos nós sabemos disso se pensarmos nos efeitos do álcool. Nós falamos sobre o uso do álcool para ‘afogar nossas mágoas’, sem implicar que pensamos que o álcool está especificamente direcionado para o mecanismo dessa tristeza. A frase refere-se ao fato de que o estado alterado produzido pelo álcool é sobreposto a sentimentos subjacentes, substituindo-os temporariamente. Todas as drogas que têm o que poderíamos chamar de ‘efeitos psicoativos’ podem sobrepor as alterações que produzem as emoções, funções cognitivas e comportamento existentes, e isso inclui todas as drogas comumente prescritas para problemas de saúde mental.

As drogas psicoativas afetam as atividades mentais normais, incluindo pensamento, percepção, emoção e comportamento de maneiras características. Estamos familiarizados com o tipo de alterações produzidas por drogas recreativas, mas prestamos menos atenção àquelas produzidas por outros medicamentos prescritos para transtornos mentais, e alguns medicamentos prescritos para transtornos físicos (esteróides, por exemplo). No entanto, como o álcool, opiáceos e maconha, drogas como antipsicóticos, antidepressivos e lítio produzem determinadas alterações mentais, que estão ligadas a algumas das alterações físicas que produzem (veja a Tabela de efeitos psicoativos neste artigo de 2015, p. 2316). A questão é que, a menos que desconsideremos o impacto dessas alterações de alguma forma, não podemos concluir que um determinado medicamento atinja seus efeitos por meio de um mecanismo cerebral específico.

Pariante assinala corretamente que as drogas médicas também modificam todo o corpo de várias maneiras. A quimioterapia para o câncer altera os processos de reprodução celular em geral e não se restringe aos efeitos nas células cancerígenas, daí seus efeitos adversos debilitantes e perigosos às vezes. No entanto, afeta as células cancerígenas inibindo sua tendência de reprodução descontrolada. Atua especificamente, portanto, no mecanismo biológico anormal que produz o câncer. Se a quimioterapia não atuasse em mecanismos relevantes para a produção de câncer, isso não funcionaria. Não são seus efeitos gerais que são úteis, são de fato prejudiciais; seus benefícios resultam de seus efeitos específicos nos processos que impulsionam o câncer. Em contraste, com drogas psicoativas o impacto geral delas no funcionamento mental e comportamental normal pode, por si só, explicar seu impacto nos sintomas de transtornos mentais. Não há necessidade de postular ações sobre mecanismos específicos de ‘doença’ ou de produção de sintomas em nível celular, químico ou fisiológico.

O mecanismo dos efeitos das drogas psicoativas nos sintomas do transtorno mental difere, portanto, da maneira pela qual a maioria dos medicamentos atinge seus efeitos. A maioria das drogas usadas na medicina geral pode ser entendida como funcionando de acordo com um modelo centrado na doença, agindo em mecanismos fisiológicos que produzem sintomas, mesmo que também afetem outros sistemas. Como descrevi em meu artigo original, há algumas exceções que envolvem o uso de drogas psicoativas, como opiáceos para o alívio da dor. Ao contrário de alguns outros analgésicos, os opiáceos são drogas psicoativas que produzem alterações mentais gerais, juntamente com seu efeito direto sobre os sistemas de condução da dor. A indiferença emocional produzida pelos opiáceos significa que as pessoas às vezes dizem que ainda sentem alguma dor, mas não se importam mais com isso. O estado de indiferença emocional é sobreposto à experiência de dor das pessoas, diminuindo o seu impacto, e este efeito pode ser distinguido da capacidade dos opiáceos e outras drogas analgésicas para reduzir as sensações de dor diretamente.

Em minha teoria da ação das drogas, não argumento que seja impossível encontrar drogas que visem os mecanismos subjacentes aos transtornos mentais, apenas afirmo que não temos evidência de que qualquer um de nossos atuais medicamentos funcione dessa maneira. Mas não seremos capazes de demonstrar conclusivamente que qualquer droga psicoativa tem uma ação de direcionamento na doença, a menos que possamos desconsiderar o impacto de seus efeitos psicoativos gerais.

O fato de não termos conseguido definir os mecanismos dos estados mentais ‘normais’ ou ‘transtornos mentais’ até agora pode refletir diferenças mais gerais entre a natureza dos seres humanos e sua biologia. O comportamento humano consiste em respostas complexas, intencionais e imprevisíveis à história e às circunstâncias únicas de cada indivíduo. Ao contrário dos sistemas físicos, incluindo os biológicos (isto é, corpos humanos), o comportamento humano não pode ser capturado ou entendido usando fórmulas universais. Ele pode ser explicado e entendido, mas não é ‘causado’ por outros eventos de forma inevitável, pois os eventos se sucedem em um sistema mecânico (veja meu blog anterior sobre a filosofia do conhecimento [7]). Embora existam indubitavelmente eventos neurofisiológicos que ocorrem quando alguém se sente deprimido, por exemplo, não está claro se conseguiremos mapeá-los com precisão e consistência no estado emocional. De fato, apesar de todas as resmas de pesquisas conduzidas sobre eles, ainda nem sabemos as funções precisas dos neurotransmissores, nem mesmo, por exemplo, a base neuroquímica de algo tão básico quanto a excitação.

Assim, mais financiamento para mais pesquisas visando a identificação de drogas com ações direcionadas, como é defendido por Carmine Pariante, pode estar apenas despejando dinheiro relevante em algo que não funciona. Ao invés de se insistir em uma situação que pode nunca ser alcançada, o que eu estou reivindicando é uma abordagem mais sofisticada, transparente e apropriadamente cautelosa sobre o uso de substâncias químicas que alteram a mente.

Que se tome o exemplo dos ‘antipsicóticos’ e lembrando que essas drogas foram inicialmente referidas como ‘inibidores neurológicos’ e ‘tranquilizantes maiores’ por pessoas que reconheceram as alterações que tais drogas produzem. Em voluntários humanos e em estudos em animais, os ‘antipsicóticos’ produzem um estado de atividade reduzida e incapacidade de resposta ao ambiente, assim como redução da reatividade emocional, da iniciativa e motivação (embora com distinções entre agentes individuais). Podemos ver imediatamente que esse estado terá impacto sobre alguém que esteja preocupado com crenças delirantes ou experiências internas, reduzindo a intensidade dos sintomas psicóticos e sua força emocional, juntamente com outros aspectos da experiência subjetiva, sem necessariamente ter qualquer efeito sobre os mecanismos específicos subjacentes à psicose.  Também podemos ver que, embora os efeitos possam ser úteis na redução da intensidade dos sintomas psicóticos, eles podem ter um efeito prejudicial no funcionamento e na qualidade de vida de um indivíduo.

Apesar do desejo de Pariante de alinhar o uso de drogas em psiquiatria com o resto da medicina, o uso de drogas que ‘reorganizam’ os processos mentais normais para modificar sentimentos e comportamentos é um tipo fundamentalmente diferente do uso de drogas para atingir patologias corporais reconhecidas. Existem alguns pontos em comum, é claro. Na psiquiatria, como na medicina, a decisão de intervir com drogas ou outros meios depende de uma consideração dos danos e benefícios relativos de fazê-lo. O uso de drogas antiepilépticas pode causar mais danos do que benefícios após um ou dois ajustes, por exemplo, mas quando os ataques são recorrentes e mudam a vida, os efeitos adversos podem valer a pena. Da mesma forma, os benefícios do uso de um antipsicótico para suprimir os sintomas psicóticos podem superar os danos que podem ocorrer quando alguém está agudamente psicótico, mas o equilíbrio pode ser mais incerto após a recuperação.

Avaliar os benefícios e danos das intervenções que mudam o pensamento e o comportamento das pessoas é mais complicado do que pesar os efeitos de uma droga com efeitos puramente físicos. Nossa vida mental é o que nos faz ser o que somos. É fundamental para a nossa individualidade e sentido de nós mesmos. Além disso, as pessoas têm visões diferentes sobre a conveniência dos sentimentos e comportamentos aos quais nos referimos como ‘transtornos mentais’. A legislação de saúde mental existe porque quando as pessoas estão em estado de turbulência mental e confusão, elas podem não ver sua situação da maneira que os outros a veem. Elas podem não concordar com que algo esteja errado ou que qualquer coisa precisa ser mudada. Quando usamos drogas para mudar o comportamento das pessoas em tais situações, estamos fazendo algo semelhante a restringi-las. Estamos usando a força para evitar comportamentos que não gostamos (possivelmente por um bom motivo, se esse comportamento for perigoso). Algumas pessoas nos agradecerão quando tiverem se recuperado, mas sabemos que muitas não o farão. Muitas pessoas nunca verão o mundo como os outros o veem.

O tratamento médico típico e o uso de drogas na psiquiatria têm diferentes implicações éticas, portanto. Geralmente, há consenso de que o tratamento de alterações corporais prejudiciais é o desejável. É menos provável que haja concordância em induzir certas mudanças mentais e comportamentais. Insistir em equacionar as duas situações obscurece essas diferenças e apresenta o uso de drogas para sofrimento e transtorno mental como menos controverso do que realmente o é.

Bibliografia:

  1. Moncrieff J. Research on a ‘drug-centred’ approach to psychiatric drug treatment: assessing the impact of mental and behavioural alterations produced by psychiatric drugs. Epidemiol Psychiatr Sci 2018 Apr;27(2):133-40.
  2. Harmer CJ, Cowen PJ. How do drugs for psychiatric disorders work? Epidemiol Psychiatr Sci2018 Apr;27(2):141-2.
  3. Harmer CJ, Cowen PJ. How do drugs for psychiatric disorders work? Epidemiol Psychiatr Sci2018 Apr;27(2):141-2.
  4. Moncrieff J. A critique of the dopamine hypothesis of schizophrenia and psychosis. Harv Rev Psychiatry 2009;17(3):214-25.
  5. Harmer CJ, Heinzen J, O’Sullivan U, Ayres RA, Cowen PJ. Dissociable effects of acute antidepressant drug administration on subjective and emotional processing m
  6. Yeomans D, Moncrieff J, Huws R. Drug-centred psychopharmacology: a non-diagnostic framework for drug treatment. BJPsych Advances 2015;21:229-36.
  7. Moncrieff J. Philosophy Part 3: Knowledge of mental states and behaviour – insights from Heidegger and others. 2017 November 1.

Pesquisadora critica a cobertura enganosa da mídia sobre a metanálise do antidepressivo publicada em Lancet

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RebeccaEm um comentário publicado no BMJ, com o título “Alardear um milhão de pílulas da felicidade?”, a editora clínica do jornal, Kate Adlington, sugere que a maior parte da cobertura da mídia que tem sido dada ao estudo da metanálise sobre antidepressivos publicado em The Lancet foi insuficientemente diferenciada. Desde a sua publicação em fevereiro último, o estudo tem recebido ampla atenção e tem sido objeto de um forte debate entre pesquisadores, clínicos e pacientes.

” ’Deem mais pílulas da felicidade’, gritava a primeira página do The Sun no dia 22 de fevereiro … Muitas agências de notícias reivindicaram mais prescrição “, escreve Adlington. “Mas e quanto ao tratamento excessivo, com as suas incontáveis implicações práticas e financeiras?”

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Em fevereiro deste ano, Andrea Cipriani, John Geddes e colegas publicaram os resultados de uma metanálise em rede comparando a eficácia e a aceitabilidade de 21 antidepressivos no tratamento do transtorno depressivo maior em adultos. Por haver sido a primeira grande metanálise de rede (n = 116.477) desse tipo, o estudo recebeu ampla atenção da mídia e resultou em manchetes atraentes, como as incluídas nos comentários de Adlington (por exemplo, ‘incentivo às pílulas para mais felicidade’ no The Sun). O estudo e sua subsequente cobertura noticiosa suscitaram debates que vem de longa data sobre a eficácia dos antidepressivos e provocaram vários artigos como resposta, bem como entrevistas na TV e cartas ao editor, conforme já detalhado aqui neste site.

Em seu comentário, Adlington destaca a forma confusa e, às vezes, sensacionalista, da apresentação da metanálise tal como vem sendo feita por muitos veículos tradicionais da mídia. Por exemplo, a manchete da BBC sobre o estudo declarou: “Os antidepressivos: um grande estudo descobriu que funcionam”. Outras fontes promoveram essencialmente o aumento da prescrição para dar respostas aos resultados do estudo; um artigo no The Telegraph sugeriu que “um milhão a mais de britânicos” deveria receber antidepressivos.

Essas manchetes e seus conteúdo produzidos em grandes pinceladas não refletem com precisão o escopo e os resultados do estudo, afirma Adlington. Por exemplo, a pesquisa não enfocou a “prática de prescrição”, nem os resultados publicados referem-se ao número de “pessoas não tratadas”. Em vez disso, esse número “um milhão” se originou em uma entrevista ao The Guardian com um dos coautores do estudo, John Geddes, em que ele afirmou que “pelo menos mais um milhão de pessoas por ano [no Reino Unido] deve ter acesso a um tratamento eficaz para a depressão, seja medicamentoso ou psicoterapia.” O reconhecimento de Geddes que antidepressivos são uma das múltiplas opções possíveis de tratamento foi assim perdido na matéria do Telegraph; ainda que os números apresentados por Geddes também tenham sido contestados.

Além disso, muitas notícias sobre o estudo não abordaram totalmente as limitações do estudo. Uma dessas limitações é a discrepância entre o período de referência nos estudos incluídos na metanálise (8 semanas) e a duração média que é  muito maior do uso de antidepressivos na prática. E mais ainda, Adlington ressalta que muitas das reportagens não discutiram “os pequenos efeitos, os efeitos colaterais, a predominância de ensaios clínicos patrocinados pela indústria farmacêutica, assim como outras opções de tratamento, como psicoterapia ou terapia cognitivo-comportamental”.

Adlington prossegue em sua argumentação, observando que os resultados do estudo também receberam amplo “endosso profissional”. As respostas das pessoas no campo incluíram a declaração de Carmine Pariante em nome do Royal College of Psychiatrists de que “essa metanálise finalmente coloca um fim à controvérsia sobre os antidepressivos.” Sobre este assunto, Adlington escreve:

“O que o estudo achou se transformou em uma mensagem midiática de que todos os antidepressivos são eficazes em toda depressão. Não obstante, parece que as comunidades psiquiátricas e de pesquisa cautelosamente confirmaram que a cobertura positiva da mídia seria justificável”.

Concluindo, Adlington reconhece o contínuo e controverso “debate ideológico” sobre o uso de antidepressivos, um debate que antecede o estudo da The Lancete em sua cobertura feita pela mídia. À luz das hashtags do Twitter que surgiram em resposta à reportagem sobre o estudo – # medsworkedforme e #medsdidntworkfor me – Adlington sugere que, “o estudo pode muito bem levar o debate adiante para os pacientes”. Ela fecha com uma citação de Cipriani e Geddes, que disse ao BMJ: “Talvez o resultado mais impressionante da mídia para todos nós tenha sido a conversa no Twitter. Isso pareceu refletir a verdadeira experiência vivida de pessoas com depressão e nós achamos os tweets ao mesmo tempo humilhantes e comoventes”.

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Adlington, K. (2018). Pop a million happy pills? Antidepressants, nuance, and the media. BMJ: British Medical Journal (Online)360. (Link)

Revisitando Szasz: Metáfora e Equívoco

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“As idéias de Szasz sobre psiquiatria e doença mental podem ser resumidas da seguinte maneira. Em primeiro lugar, a doença mental é uma metáfora para os problemas humanos na vida expressos, como ‘sintomas’ através de uma protolinguagem somática. Não há testes biológicos para doenças mentais; assim, a doença mental não é doença no sentido literal. Em segundo lugar, segue-se que se a doença mental não é uma doença literal, então as pessoas não devem ser privadas de liberdade e responsabilidade em nome da doença mental. Szasz se opôs a todas as formas de tratamento involuntário e à defesa da insanidade. Sociologicamente, ele via a psiquiatria como um mecanismo sancionado pelo Estado de controle social e uma ameaça onipotente à liberdade civil. Ele chamou essa associação entre governo e psiquiatria ‘O Estado Terapêutico’ (…)

(…) É importante notar que as opiniões de Szasz sobre a psiquiatria foram influenciadas por sua ideologia política libertária, formado enquanto uma criança que cresceu na era nazista de Budapeste. Durante sua residência em psiquiatria e depois durante seu treinamento psicanalítico, Szasz evitou todo contato com pacientes psiquiátricos involuntários. Ele nunca internou um paciente involuntariamente no hospital e nunca receitou uma droga psiquiátrica. Moralmente oposto à coerção na psiquiatria, Szasz manteve uma prática privada de psicanálise, onde ele praticava o que ele chamou de ‘psicoterapia autônoma’, delineada em seu livro de 1965, The Ethics of Psychoanalysis.”

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