Além da Crítica: os Psicólogos Discutem Alternativas de Diagnóstico

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Photo Credit: JD Hancock, “I’m a doctor, not a psychiatrist” (Flickr)

ZenobiaO Journal of Humanistic Psychology apresenta diversas alternativas de diagnóstico oferecidas por pesquisas com o objetivo de uma mudança de paradigma na atenção em saúde mental.

Como parte do Journal of Humanistic Psychology o segundo número especial sobre Alternativas de Diagnóstico, pesquisadores continuam a conversação importante a respeito da necessidade de uma mudança de visão na psicologia e na psiquiatria. Para se ir além da crítica aos equívocos do atual paradigma da atenção em saúde mental e seus correspondentes sistemas de diagnóstico, um grupo de diferentes pesquisadores oferece alternativas e explora novas abordagens que privilegiam tanto a ciência quanto os usuários dos serviços.

“Os variados artigos que vem nesse número especial pretendem sublinhar a diversidade das alternativas de diagnóstico atualmente em desenvolvimento e as já existentes, “ os editores escrevem.

“A existência de múltiplas alternativas ao atual paradigma de diagnóstico demonstra que os sistemas de diagnóstico não são classificações fixas ou pré-determinadas de entidades objetivas encontradas na natureza, mas sim modelos conceituais e empiricamente inspirados que se desenvolvem e se transformam ao longo do tempo. “

Photo Credit: JD Hancock, “I’m a doctor, not a psychiatrist” (Flickr)
Photo Credit: JD Hancock, “I’m a doctor, not a psychiatrist” (Flickr)

Em um dos artigos destacados, “Mas o que são doenças mentais reais? Alternativas à abordagem do modelo de doença”, Dra. Anne Cooke entra no debate que está circulando com críticas aos sistemas de diagnóstico e medicalização da ‘psicose’.  Cooke aprofunda a conversação, propondo sistemas alternativos de classificação que enfatizam formulações conceituais de experiências individuais.

Anne Cooke é também editora do relatório recentemente revisado da Sociedade Britânica de Psicologia (BPS) intitulado “Entendendo a psicose e a esquizofrenia: por que as pessoas algumas vezes ouvem vozes, creem em coisas que os outros acham estranho ou que parecem estar fora da realidade, e o que pode ajuda-las” (veja o recente relatório do MIB).

Peter Kinderman, também um grande colaborador do relatório do BPS, oferece uma crítica explícita aos modelos de ‘doença’ que é compartilhada pelo comitê clínico da entidade – que representa a maioria dos psicólogos que trabalham nos serviços de saúde mental do Reino Unido.

Neste número especial, Cooke e Kinderman resumem  as chocantes falhas que atravessam a atual abordagem da ‘esquizofrenia’.  Primeiro, eles argumentam que a distinção entre as experiências ‘normais’ e ‘psicóticas’ não podem ser concretamente identificadas, muito menos contarem com suporte científico. Essa questão é especialmente importante quando se leva em consideração o quão comum é para as pessoas terem experiências ‘psicóticas’, tipicamente consistindo em ouvir vozes e experimentarem paranoia. Não apenas são essas experiências subjetivamente compreensíveis, mas a sua consideração varia fortemente entre culturas.

A realidade dessas experiências entre as pessoas e culturas enfatiza a necessidade de se conceituar a experiência de ‘psicose’ em um continuum, os autores argumentam. Mais ainda, a natureza falsa e arbitrária do constructo ‘esquizofrenia’ é demonstrada pelo seu fracasso em atender os imperativos científicos básicos de confiabilidade, validade e utilidade.

Há discrepâncias entre clínicos, hospitais e países quando se observa o constructo da ‘esquizofrenia’ pelos critérios do DSM-5. Sem evidências para uma causa biológica subjacente, o constructo parece apenas ser reificado circularmente, por meio da identificação de ‘sintomas’ associados.

Finalmente, pesquisas que demonstram como o rótulo de ‘esquizofrenia’ faz mais mal do que bem, com isso comprometendo a utilidade do emprego das atuais categorias de diagnóstico que é hoje professada, os autores argumentam. Contudo, a ideia de ‘esquizofrenia’ permanece inseparável das instituições de saúde mental por várias razões, incluindo os próprios interesses corporativos. Os autores sublinham sinais de mudança, apontando para a crescente cobertura das mídias e o interesse despertado nos movimentos focados em modelos-centrados no paciente e em sistemas alternativos de classificação.

Acompanhando sugestivas abordagens que privilegiam as perspectivas dos usuários dos serviços, formulações conceituais colaborativas e explicações psicossociais, os autores notam a necessidade de se afastar das experiências de enquadramento em explicações no ‘cérebro ou na culpa’. Com outras palavras, eles defendem experiências compreensíveis de um modo que nem sugira que os indivíduos devem ser culpabilizados nem que seus problemas estejam ‘em suas mentes’. Cooke e Kinderman concluem seu artigo com as palavras de alguém que foi pessoalmente afetado pelo atual paradigma em saúde mental”

“Se os psicólogos estão corretos de que as causas primárias da doença são psicossociais ao invés de biológico, a narrativa da minha família pode ser reescrita. Nós podemos sair do nossa armário da vergonha e  ter os nossos direitos colocados em um continuum de experiência humana aceitável. “

Uma outra contribuição que vem apresentada nesse número especial do JHP desafia o monopólio do DSM/CID para o diagnóstico, ao sugerir uma abordagem diferente de classificação que retenha benefícios práticos na medida em que emancipa os que a utilizam do foco do modelo patológico médico. Em “Preocupações com o Manual de Classificação e Estatística de Saúde Mental: uma proposta de alternativa científica prática ao DSM e ao CID”, Dr. Jeffrey Rubin sublinha um argumento para um sistema alternativo, com o Manual de Classificação e Estatística de Preocupações em Saúde Mental (CSM). Rubin delineia as limitações primárias da abordagem do DSM/CID:

“Entre elas estão as que o Manual tende a estigmatizar os usuários dos serviços de saúde mental, a violar os princípios básicos da ciência, a privilegiar a perspectiva do clínico em detrimento daquela do usuário do serviço, e com isso se tornou um monopólio com todas as desvantagens associadas em tais instituições. “

Essencialmente, ele observa que o sistema DSM/CID coloca adiante a ideia que um ‘transtorno’ existe como um resultado de ‘disfunção mental no indivíduo’. Enquanto oferece escassa ciência para sustentar essas pretensões, ou para apoiar os 300 constructos listados como ‘transtornos’ no DSM, não há um meio direto, confiável, válido para acessar o ‘funcionamento’ individual. A decisão final de determinar se as apresentações são ‘clinicamente significativas’ permanece então nas mãos dos clínicos que são influenciados tanto pelas demandas dos serviços quanto pelos interesses financeiros.

Rubin escreve, “a falta de confiabilidade e validade para o DSM e a aplicação da palavra ‘diagnóstico’ de uma maneira enganosa, violando três dos princípios básicos da ciência. O problema final com o DSM que eu quero discutir aqui é que a despeito das questões que se espalharam sobre a sua validade, ele parece alheio à falácia ontológica, quer dizer, em acreditar que por ter dado um nome para algo que pensamos que vemos, que algo deve existir. “

A abordagem do CSM, em contraste, enfatiza que a “individualidade ultrapassa qualquer sistema de classificação. “Ao substituir ‘transtorno’ de saúde mental pelo termo “preocupação”, seu principal constructo é definido como se segue?

“Uma inquietação de saúde mental ocorre quando uma pessoa que procura serviços de saúde mental expressa ao prestador de serviços de saúde mental uma preocupação sobre qualquer um desses tópicos: comportamento, emoção, humor, vícios, significado da vida, morte, morrer, gerenciamento de dor crônica, trabalho, relacionamentos, educação, alimentação, cognição, sono e situações desafiadoras de vida “.

Desta forma, a preocupação é definida por quem busca ajuda, que é também quem identifica sua identidade pessoal e fatores contextuais. Seguindo essa classificação, ambas as partes constroem juntas uma hipótese sobre a natureza e a origem da preocupação.

Rubin observa que o sistema CSM poderá introduzir uma competição positiva em um campo onde a abordagem DSM / ICD domina. Além disso, ele chama a atenção para o caso de que o sistema CSM possa ser facilmente usado por terceiros pagadores e ser praticamente incorporado em uma sociedade com vastas organizações, incluindo programas educacionais, alinhando-se com missões de “saúde mental”.

“Por estas razões, o CSM manteria o conceito de “saúde mental “para que ele possa ser acomodado confortável e realisticamente em muitas grandes organizações que estejam usando”, ele escreve. No entanto, o CSM usaria o termo “saúde mental” de uma maneira que é diferente do que está implícito no DSM e no CID. O CSM rejeitaria explícitamente a ideia de que o oposto da saúde mental é doença mental “.

Ao contrário do sistema DSM / ICD, o CSM é ateórico e orientado para reduzir o estigma e elevar o respeito pelos usuários do serviço. A sintonização com a pesquisa e o foco no empoderamento de indivíduos que procuram ajuda, oferece uma resposta potencial a recentes clamores e solicita mudanças no campo (confira matéria do MIB).

Acompanha esses dois artigos acima apresentados uma ampla gama de tópicos diversos que formam esta segunda edição especial, incluindo uma resposta colaborativa / avaliativa de resultados de psicoterapia liderada por Barry Duncan, formulações psicológicas como alternativa ao diagnóstico, e um modelo de consentimento informado para o tratamento de transgênero como alternativa para a ‘Disforia’ de gênero.

Os editores da edição especial, Kamens, Flanagan e Robbins, escrevem:

“Acreditamos que as alternativas de diagnóstico previstas por esses autores nesta edição geram esperança para um futuro humanista e centrado na pessoa, na pesquisa e nas práticas de saúde mental”.

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Leia o número especial na íntegra →

Epidemia de Doenças Mentais em Tempos de Capitalismo Ultraliberal

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Rita AlmeidaNão é necessário ser especialista para ver “a olho nu” o que algumas pesquisas, aqui e acolá já constataram: as desordens psíquicas ou psiquiátricas estão em uma reta ascendente. Diante desta realidade, as perguntas que vou fazer a seguir não são de modo algum inéditas, mas precisam ser repetidamente levantadas: Será que estamos mesmo adoecendo mais da nossa psique? Será que estamos apenas conseguindo diagnosticar, pelo avanço das ciências médicas e psicológicas, problemas que antes não conseguíamos? Ou será que ampliamos tanto o espectro do que é considerado “patológico” que transformamos quase tudo em doença mental?

Diferentemente de outros campos da medicina, a psiquiatria traz consigo uma particularidade, especialmente no que se refere ao diagnóstico, já que grande parte das doenças mentais não é comprovada por exame. Ou seja, mesmo que o sujeito não apresente nenhuma anomalia ou disfunção que possa ser observada em um laboratório de análises clínicas ou de imagem, ainda sim, por um conjunto de sintomas e sinais, ele pode ser diagnosticado como portador de algum transtorno mental. Essa peculiaridade leva a algumas questões éticas que perseguem a psiquiatria desde o seu nascimento: Qual é o limite que distingue a loucura da normalidade? Como fazer esta medição?

A novela Machadiana, O Alienista, ilustra bem esse incômodo ético. Simão Bacamarte é o médico que envereda pelo ramo da psiquiatria e que, autorizado pelo rigor da sua ciência, acaba por internar todos os cidadãos de Itaguaí, até que só resta ele mesmo fora do hospício. Publicada pela primeira vez em 1882, o texto de Machado de Assis nos soa mais como uma profecia. Hoje, o DSM – Bíblia da psiquiatria americana exportada para o mundo que está na sua V edição – transforma quase todos os nossos mal-estares em patologia.

Mas, diante das três questões que levantei no início do texto, defendo que, a última responda mais ao que temos tomado como direção em nossos tempos de capitalismo ultraliberal. Ampliamos sobremaneira o limite utilizado para diagnosticar os males que atormentam nosso ser, transformando-os em alguma doença, de preferência medicalizável. E seria ingenuidade pensar que isso se deve a um suposto avanço científico que “descobriu” novas doenças. A verdade é que “fabricamos” novas doenças, e para um propósito muito simples, para que sejam vendidas no mercado.

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Dany Dufour – em A arte de reduzir as cabeças – vai dizer que, o avanço do capitalismo, representa a morte do sujeito crítico kantiano e do sujeito neurótico freudiano; ambos sujeitos modernos. Ele nos lembra que, tal como formula Lacan quando nos diz que “o inconsciente é a política”, esse Outro que já está posto aí quando chegamos ao mundo não é um organismo fixo, ele modifica ao longo do tempo, o que, consequentemente, interfere no tipo de sujeito que irá emergir em determinada época. Assim sendo, o sujeito dos nossos tempos – balizado pelo Outro da política do capitalismo ultraliberal – seria o sujeito pós-moderno; um sujeito sem limites. Na busca da radicalidade da sua “liberdade” tal sujeito rejeita se submeter a qualquer tipo de categoria ou determinação, seja no campo da sexualidade, da identidade ou da geração. Ao rejeitar o recalque como estratégia, acreditando que assim teria mais garantia de satisfação, o sujeito pós-moderno favorece a plenitude do capitalismo, afinal, quanto menos barreiras (externas ou internas), mais interessante a esse modelo político-econômico. Se o sujeito que faz mover o capitalismo é o consumidor, ele é tanto mais interessante quanto mais flexível, descontruído e mutante for. O novo capitalismo, dirá Dufour, tem como objetivo principal destruir sistematicamente todas as instituições e todas as referências culturais e simbólicas que possam entravar a livre circulação das mercadorias.

Mas, voltando ao tema dessa nossa psiquiatria que serve ao mercado de consumo, é curioso que, em tempos de defesa irrestrita a tantas “liberdades individuais”, as diferenças que emergem sejam cada vez mais capturadas pelo mercado, incluindo o de diagnósticos e medicamentos. Atenta a tanta diversidade, a indústria farmacêutica – uma das três mais poderosas do mundo – não para de crescer e de se diversificar. Todo dia há uma nova pílula para cada novo mal-estar do ser.

E enquanto o sujeito freudiano tinha interesse em decifrar seu mal-estar, interrogá-lo para saber mais sobre seus sintomas e o véu que os encobria, o sujeito pós-moderno não quer saber nada sobre isso, na medida em que não acredita que haja qualquer simbólico que o anteceda e o determine de algum modo. O sujeito pós-moderno parece querer viver sem referências, ou seja, sem passado, usa o seu presente para consumir e o futuro para pagar a fatura do cartão. E, sem uma barreira identitária ou simbólica que o marque e que o determine em seu passado, temos sujeitos que não se sentem impelidos a escolher entre uma coisa e outra, já que eles podem,  tranquilamente, querer as duas coisas. E se sabemos que desejar implica em escolher entre uma coisa e outra, o sujeito que interessa ao nosso tempo não deseja, pois ele quer tudo. Então, que consumidor maravilhoso ele se tornou!

Para esse mal-estar sem passado, sem recalque e sem desejo, resta a prateleira de medicamentos, que serve muito bem à nossa epidemia de doenças do ser, chamadas de mentais, quem sabe apenas para caber no discurso da ciência. Talvez não seja possível resgatar o sujeito freudiano, mas, talvez seja necessário sustentar uma ética do desejo, tal como a psicanálise propõe. Isso significa escutar o sintoma como algo que diz da matéria-prima da qual fomos feitos e que serve, sobretudo, para nos manter desejantes. Tal ética inaugurada por Freud nos alerta que é impossível eliminar todos os nossos sintomas sem perder junto com eles, aquilo que representa nosso estilo de ser, aquilo que nos aproxima da obra de arte e nos afasta de sermos mera cópia de um original previamente definido, higienizado, polido e considerado normal.

Nesse sentido, o deprimido de nossos tempos, talvez, seja menos doente do que supomos. Quem sabe seja apenas esse sujeito que foi alijado do desejo e que, consumindo a si mesmo, nos denuncia que consumir não é a saída?

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Manifestação da ABRASME sobre o Encontro dos 30 anos de Luta Antimanicomial

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A Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME) oficialmente vem manifestar o seu total apoio ao Encontro em Bauru, que ocorrerá nos dias 8 e 9 de dezembro, que reunirá usuários, familiares, profissionais de saúde mental, estudantes, representantes dos movimentos sociais organizados, intelectuais, em defesa de uma Sociedade sem Manicômios.

Como é destacado pelo Manifesto da ABRASME:

“Neste momento histórico em que o Movimento por Uma Sociedade sem Manicômios completa 30 anos de grandes vitórias e, ao mesmo tempo, de enfrentamentos de imensos desafios, colocam-se em pauta reflexões sobre o futuro do Movimento (…) O Movimento por Uma Sociedade sem Manicômios e todos os seus acúmulos e conquistas no processo da Reforma Psiquiátrica Brasileira é alvo, hoje, de tentativas claras de conquista e destruição. Seremos mais vulneráveis quanto mais divididos estivermos. É da maior importância que os vários grupos, movimentos e entidades que compõem este Movimento polissêmico estejam bem articulados, para melhor cumprirmos a missão comum de defender direitos que estão sendo espoliados. “

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Na íntegra o conteúdo do Manifesto:

Neste momento histórico em que o Movimento por Uma Sociedade sem Manicômios completa 30 anos de grandes vitórias e, ao mesmo tempo, de enfrentamentos de imensos desafios, colocam-se em pauta reflexões sobre o futuro do Movimento. Uma delas relaciona-se à construção de uma posição estratégica na relação interna dos coletivos que compõem a luta antimanicomial, para o enfrentamento dos ataques que sofrem atualmente não só à Saúde da população brasileira, mas a todos os sistemas públicos de sustentabilidade, amparo e promoção social. O Brasil vive um amplo processo de regressividade dos direitos econômicos, sociais e culturais!

A situação é de uma verdadeira guerra entre os grupos que tomaram o Congresso e os outras instituições da República – subsidiários de esquemas internacionais, cujo objetivo é a destruição do bem público para favorecer mercados, a exploração das pessoas e a expropriação de seus direitos pelo capital internacional – contra o povo, principalmente os trabalhadores e os mais vulneráveis pela miséria historicamente a eles imposta pela elite dominante.

A metáfora da guerra invoca as estratégias militares como, por exemplo, os ensinamentos de Sun Tzu que escreveu, em tempos remotos, A Arte da Guerra, e de Maquiavel, cujo livro O Prìncipe foi publicado no alvorecer da Idade Moderna. Estas obras afetam até hoje as táticas de guerra e de conquista de poder. Um ponto comum destes ensinamentos encontra-se na máxima “Dividir para Conquistar”.

Aponta que é vantajoso, quando se quer conquistar um exército, um povo, um grupo ou uma comunidade, que esta esteja dividida, fraturada, desunida. Um grupo dividido é fraco, é presa mais fácil do grupo conquistador, facilita o trabalho de quem quer destruir.

O Movimento por Uma Sociedade sem Manicômios e todos os seus acúmulos e conquistas no processo da Reforma Psiquiátrica Brasileira é alvo, hoje, de tentativas claras de conquista e destruição. Seremos mais vulneráveis quanto mais divididos estivermos. É da maior importância que os vários grupos, movimentos e entidades que compõem este Movimento polissêmico estejam bem articulados, para melhor cumprirmos a missão comum de defender direitos que estão sendo espoliados.

Em um dos grandes momentos de nossa História conseguimos, com a força das articulações entre diversos atores sociais, derrubar uma sangrenta e poderosa ditadura militar. A história desta luta nos lembra a evolução dos lemas que, juntos, ritmicamente, bradávamos nas manifestações, nas passeatas, onde pudéssemos ser ouvidos. O primeiro lema era a expressão de um desejo: “Abaixo a ditadura”. O segundo demonstra maior entendimento da importância da organização dos grupos: “O povo organizado / Derruba a ditadura” tornou-se um mantra, uníssono, ritmado, musical, motivador.

Mas o ultimo lema iluminou um momento em que já reconhecíamos como melhor lutar, já sabíamos que assim lutando venceríamos e que já podíamos prever passos futuros: “O povo / Unido / Jamais será vencido”. Esta é uma grande lição daquela luta dolorosa, mas em que fomos coroados com a Vitória: Unidos, jamais seremos vencidos.

O Manifesto de Bauru, que faz 30 anos, já apontava o sentido de unidade de todos e todas que lutavam contra a estrutura manicomial na sociedade brasileira, com a máxima “Por uma sociedade sem manicômios” (…) organizado em vários estados, o Movimento caminha agora para uma articulação nacional”. Sinalizava inclusive a necessidade dessa unidade se compor com o “movimento popular e sindical”.

No campo da Luta Antimanicomial temos a clareza de que somos muitos e precisamos estar juntos. Isto significa superar divergências, quando as houver. O fundamental não é buscar um pensamento único, mas que a diversidade de

pensamento seja uma potência de luta. Que no Movimento Antimanicomial não haja disputa de supremacia, mas consensos progressivos para a ação, e clareza do inimigo comum. Para isto os movimentos e entidades precisam construir estratégias para permanecerem articulados e atentos.

Nessa perspectiva a ABRASME entende que esse amplo processo de mobilização dos 30 anos da Carta de Bauru deve ser impulsionador de uma unidade na pluralidade que se expresse na construção de uma Articulação Nacional da Luta Antimanicomial, para que possamos construir mais avanços e conquistas #PorMais30.

A derrubada da ditadura é uma inspiração para que, em Bauru, possamos nos articular para que, Unidos, jamais sejamos vencidos.

Todas e Todos a Bauru, Por Uma Sociedade sem Manicômios! “

ABRASME

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Resultado do Relatório sobre Viéses em Pesquisas com Medicação Antipsicótica

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Peter SimonsUm novo estudo sugere que a eficácia dos medicamentos antipsicóticos pode ser exagerada devido a métodos tendenciosos de publicação. Os pesquisadores descobriram que a grande maioria dos testes com drogas antipsicóticas tem usado métodos com viéses em seus relatos. Essas práticas têm garantido que os ensaios clínicos publicados sobre a eficácia de tais drogas demonstrem resultados positivos, obscurecendo uma série de achados negativos.

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Desde 2006, a Organização Mundial da Saúde determina que pesquisas com drogas têm que  pré-registrar no banco de dados quais são os indicadores dos resultados pretendidos. Isso foi projetado para justamente evitar viéses seletivos nos relatórios, um tipo de prática enganosa em que os pesquisadores manipulam os indicadores de resultados e, em seguida, relatam somente os que são positivos.

Pesquisadores da Utrecht University recentemente realizaram um estudo. A investigação foi coordenada por Jurjen J. Luykx, do Departamento de Neurociência Transnacional. Luykx e seus colegas descobriram que 85% dos ensaios com medicamentos antipsicóticos publicados não relataram os indicadores de resultado que eles indicaram quando pré-registraram seus estudos. Na verdade, de acordo com os pesquisadores:

“81% dos [ensaios com antipsicóticos] tinham pelo menos um resultado secundário não relatado, recém-introduzido ou alterado, para dar um resultado primário na respectiva publicação”.

Para se entender melhor o que está em jogo, eis como isso é feito. Quando os pesquisadores conduzem estudos para determinar se determinados medicamentos são eficazes, é prática padrão declarar um resultado primário (como por ex. a pontuação em uma medida padronizada de psicose). No entanto, quando os pesquisadores utilizam questionários múltiplos que avaliam muitos tipos de resultados, são aumentadas as chances de que qualquer resultado possa ser melhorado simplesmente devido ao acaso. Ou seja, quanto mais testes se executa, maior a  probabilidade que um deles encontre algum resultado significativo.

Quando os pesquisadores informam sobre o teste que resultou positivo, em vez do teste que eles selecionaram para o resultado primário no início do estudo, isso é conhecido como ‘viés de relatório seletivo de resultados’. Isso permite que os pesquisadores se assegurem que seus resultados sejam positivos e publicáveis; mas isso tem o efeito colateral de enganar o público – e potencialmente outros pesquisadores – ao se pensar que os resultados foram uniformemente positivos.

Luykx e seus colegas encontraram 48 estudos publicados, desde 2006, de controle randomizados de medicamentos antipsicóticos para esquizofrenia ou transtorno esquizofrênico, e compararam os resultados relatados com os indicadores de resultado que eles haviam registrado na base de dados de ensaios clínicos antes de haverem iniciado seus estudos. No entanto, 17 dos 48 ensaios haviam sido registrados no banco de dados antes que as pesquisas estivessem sido concluídas, fazendo malograr a finalidade do pré-registro dos resultados esperados.

Dos 48 ensaios, quatro nem sequer mencionaram algum dos resultados primários pré-registrados em sua publicação. Outros três converteram seu resultado primário pré-registrado em um resultado secundário ao publicar a pesquisa (ou seja, o resultado primário parece ter sido o menos importante). Outros dez estudos não conseguiram pré-especificar adequadamente seu resultado primário.

Os resultados secundários mostraram ainda mais discrepâncias. Dezoito dos ensaios falharam em mencionar seus resultados secundários pré-especificados em sua publicação; quatro dos estudos converteram um resultado secundário em um resultado primário para a publicação (fazendo parecer que era o resultado alvo, quando de fato era uma parte menor do estudo); e 37 dos 48 ensaios não conseguiram pré-especificar todos os seus resultados secundários.

Quanto à segurança e à tolerabilidade dos medicamentos antipsicóticos, houveram 74 resultados pré-especificados – dos quais 53 foram incluídos nas publicações como relevantes. No entanto, os artigos adicionaram 335 novas medidas de resultado em relação à segurança e à tolerabilidade que não haviam sido pré-registrados. Isso pode indicar que os pesquisadores realizaram uma miríade de testes de segurança e tolerabilidade para publicar seletivamente os que eram favoráveis.

Essas descobertas são consistentes com pesquisas anteriores que encontraram resultados semelhantes para pesquisas tanto para com drogas antipsicóticas  (ver artigo completo) quanto para os antidepressivos (ver artigos completos aqui e aqui). Esses estudos também documentam outras formas de viéses, como a tendência a se deixar os resultados negativos como não publicados. Por exemplo, em pesquisas com antidepressivos, quando ensaios publicados e não publicados são combinados, 49% destas pesquisas descobriram que os medicamentos não eram mais eficazes do que placebo.

Luykx e seus colegas pesquisadores sugerem que a comunidade de pesquisadores precisa ser mais cuidadosa. Os autores devem explicar discrepâncias em seus artigos publicados, e os editores de revistas devem exigir que os pesquisadores deem conta das suas medidas de resultado previamente especificadas.

Somente quando essas fontes de vieses forem reduzidas, o público poderá confiar na veracidade dos estudos que avaliam a eficácia e a segurança dessas drogas.

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Lancee, M., Lemmens, C. M. C., Kahn, R. S., Vinkers, C. H., & Luykx, J. J. (2017). Outcome reporting bias in randomized-controlled trials investigating antipsychotic drugs. Translational Psychiatry, 7, e1232. doi:10.1038/tp.2017.203 (Link)

Uma psicanalista pioneira, desprezada pelos ‘Grandes Homens da Psicanálise’, depois assassinada pelos nazistas

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Da revista Tablet: o novo livro de Angela Sells, Sabina Spielrein: The Woman and the Myth, descreve o trabalho e a vida de uma psicanalista pioneira que desafiou as ideias convencionais de seus contemporâneos sobre as mulheres e a sexualidade feminina. Como uma mulher judia e ex-paciente mental, Spielrein enfrentou a marginalização no mundo psicanalítico e na sociedade em geral; seu trabalho foi roubado e apagado pelos chamados Grandes Homens da Psicanálise, e ela finalmente foi assassinada pelos nazistas.

Entre as suas contribuições: o questionamento da ‘inveja do pênis’, em voga na psicanálise; assim como a formulação do conceito psicanalítico de ‘pulsão de morte’, que permitiu avanços no pensamento da psicanálise.

“É insuportável que o trabalho de Spielrein tenha sido tomado e usado sem credenciá-la; que seu personagem tenha sido difamado pelos ‘Grandes Homens’ que usaram suas ideias sem dar crédito a ela; e que ela não tenha conseguido ganhar a vida na Áustria e na Suíça porque era uma mulher; incapaz de continuar seu trabalho pioneiro em Moscou porque era judia; e que foi, em 1942, assassinado pelos nazistas. Em um ato heroico de resistência contra o ‘memoricídio’, Sells começou a promover a ressurreição de Spielrein há algum tempo. O livro de Angela Sells é uma contribuição feminista importante, talvez definitiva, para a literatura. Alguém deve fazer um filme sobre a verdadeira Sabina Spielrein “.

Artigo →

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Campanha Internacional Prêmio RxISK

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Mad in Brasil está disponibilizando para o nosso leitor quatro vídeos que nos foram enviados pelo Dr. David Healy.

Trata-se de uma campanha internacional de arrecadação de fundos para o Prêmio RxISK de $100.000,00 para quem descobrir a cura para a Disfunção Sexual Pós-Antidepressivos. Dr. David Healy lidera essa campanha.

Nas páginas do Mad in Brasil você pode encontrar várias postagens que podem lhe ajudar a melhor entender a problemática. Como a que aborda a Morte do Sexo acarretada pelos antidepressivos, clique aqui.  Ou a definição do que é a Disfunção Sexual Pós-Antidepressivos, conhecida pela siglas PSSD, clique aqui.

Para quem quiser ver os vídeos com legendas em português, embora a qualidade da tradução deixe a desejar, pelo menos pode ajudar caso você necessite de uma mãozinha. Siga essas instruções: Ativar as legendas clicando no ícone CC; Clique no ícone de configurações; Clique em Legendas / CC; Clique em Auto-traduzir; Escolha a linguagem (Português). E boa leitura.

 VÍDEO 1

Em uma hora com ISRS ou ISRNs, a maioria das pessoas tem dormência nos genitais.

Nesse grupo há muitos entre nós que se tornam persistentemente vítimas de dormência genital, quando suspendem o tratamento. O que significa, mesmo após a interrupção do tratamento a dormência pode persistir para sempre em nossas vidas.

Healy diz que se chega a um ponto em que as pessoas podem até mesmo esfregar pimenta em seus genitais e não sentir absolutamente nada.

Isso é chocante!

Quantas relações amorosas são destruídas pelos antidepressivos!

E também por drogas como aquelas para tratamento da calvície masculina e para tratamento da acne!

Confira.

 

VÍDEO 2

Neste segundo vídeo, Dr. David Healy entra em mais detalhes sobre o Prêmio RxISK.

Você pode estar se perguntando ‘Por que sexo?’ Na medida em que há outros problemas sérios ligados a essas drogas, como os problemas criados com a abstinência propriamente dita e a acatisia, que acarretam muito sofrimento e até mesmo o suicídio. E por que os antidepressivos estão no foco da campanha internacional, quando há outras drogas como as estatinas, fluoroquinolonas e benzodiazipinas, que também causam sérios problemas.

As respostas são dadas pelo próprio Dr. David Healy.

Resumindo com meia dúzia de palavras: a hipótese é que os antidepressivos e seus impactos na vida sexual podem ser a chave para se descobrir os mecanismos subjacentes dos diversos outros problemas relacionados com o uso das drogas psiquiátricas.

 

 

VÍDEO 3

Neste terceiro vídeo, você pode conhecer a síndrome da Persistente Excitação dos Genitais (PGAD), produzida por antidepressivos e outras drogas. Aqui a pessoa fica insensível, e seus órgãos genitais se encontram dolorosos e sempre inquietos.

 

VÍDEO 4

Neste último vídeo desta série que estamos disponibilizando no MIB, Dr. David Healy apresenta um mapa da incidência mundial desses transtornos genitais pós-antidepressivos, a partir das informações que RxISK recebe de pacientes espalhados pelo mundo. É impressionante.

O que reforça a importância de uma campanha internacional que envolva o maior número possível de países.

 

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Eu, David Healy agradeço o que vocês brasileiros puderem fazer para reforçar essa campanha. Com doações em dinheiro. Mas, sobretudo, divulgando a nossa campanha.

Muito obrigado.

DAVID HEALY

Dr. Joseph Firth: O Papel do Exercício e da Nutrição no Início da Psicose

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bernalyn ruizEsta semana no MIA Radio, entrevistamos o Dr. Joseph Firth. Dr. Firth é um pesquisador em pós-doutorado da Western Sydney University. Sua pesquisa enfoca o papel do exercício e da nutrição no primeiro episódio de psicose em jovens.

Nesta entrevista, discutimos:

  • Que o Dr. Firth completou seu doutorado em Manchester, no Reino Unido, que se concentrou no papel do exercício no tratamento da psicose em jovens.
  • Que ele agora trabalha em um programa de tratamentos adjuntos e novos para psicose, particularmente o papel do exercício e da nutrição, incluindo a tecnologia e a saúde móvel.
  • Como os resultados mostram que o exercício pode reduzir os sintomas em jovens, como déficit cognitivo, a falta de motivação e o isolamento social e que estes são sintomas que os medicamentos realmente não ajudam.
  • Isso, nos estágios iniciais da doença psicótica, atualmente existem poucas intervenções além da terapia, de modo que o exercício e a nutrição podem ter um papel na redução da necessidade de medicamentos antipsicóticos e até mesmo evitar o aparecimento de sintomas psicóticos.
  • Essa pesquisa qualitativa mostrou que os jovens relatam que seus sintomas são reduzidos ou se tornam menos preocupantes quando se exercitam.
  • Como o exercício e a nutrição têm papéis fundamentais na redução das desigualdades na saúde que são observadas em jovens tratados com drogas antipsicóticas.

Links relevantes:

A qualitative study of exercise in early psychosis

Exercise useful for cognitive functioning in psychosis

Feasibility study of exercise for young people with psychosis

B-Vitamins as an add-on treatment for Schizophrenia

Por que Doenças e Enfermidades são Conceitos do Corpo

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jmoncrieff-150x150O quinto em uma série de blogs que apresentam uma análise filosófica do moderno sistema de saúde mental.

Neste blog eu quero voltar ao trabalho de Thomas Szasz. Os dois últimos blogs argumentaram que os estados e processos corporais precisam ser entendidos de maneira diferente da forma como entendemos o que os seres humanos pensam e fazem. A ‘doença’ mental consiste em coisas que as pessoas dizem e fazem. Para Szasz, uma ‘doença’ significa uma condição do corpo e, portanto, a doença mental não é uma doença.

De acordo com Szasz, o termo ‘doença’ (em seu uso adequado e coerente) refere-se a mudanças nas estruturas ou mecanismos corporais que produzem sensações e experiências físicas indesejadas, também conhecidas como ‘sintomas’. Doença, por conseguinte, é a experiência subjetiva que surge como consequência da presença de doença no corpo.

Nesta visão, uma doença, no seu sentido central, é uma propriedade do sistema biológico conhecido como corpo. Assim, as doenças podem ser descritas em termos materiais e podem ser compreendidas de acordo com princípios biológicos gerais que são independentes dos indivíduos afetados por tais princípios. As doenças se desenvolvem de maneiras mais ou menos previsíveis de acordo com sua natureza biológica. Células de câncer múltiplas e disseminadas, eventualmente invadindo outras células, a tal ponto que os órgãos deixam de funcionar. O estreitamento das artérias que fornecem sangue ao coração leva a angina e a ataques cardíacos, conhecidos como doença cardíaca coronária. Pode ser possível influenciar o curso de uma doença modificando o corpo e o ambiente, como parar de fumar ou receber tratamento; mas você não pode simplesmente desejar uma doença para que ela simplesmente passe a existir no seu corpo. Os sistemas biológicos, como as reações químicas e subatômicas, são regidos por regularidades previsíveis que não têm nada a ver com os desejos e propósitos dos seres humanos.

Pouca atenção tem sido dada à questão de saber se uma doença é necessariamente uma condição corporal. Isso parece ser porque os filósofos da biologia ou doença, que não se preocupam principalmente com o transtorno mental, apenas assumem que há doença e enfermidade no corpo, enquanto aqueles que se concentram em transtornos mentais geralmente ignoram a questão. O filósofo francês da biologia, Georges Canguilhem, por exemplo, afirma que “pode-se falar com razão da ‘medicina grega’ apenas a partir do período hipocárdico em diante – isto é, desde o momento em que as doenças passaram a ser tratadas como distúrbios corporais”. [1]

Muitos pensadores – que estão preocupados em englobar o domínio dos distúrbios mentais dentro do medicamento – implicitamente sugerem que os termos ‘doença’ e ‘enfermidade’ não precisam se referir ao corpo. Eles argumentam que o que é essencial para esses conceitos é o fato de que eles representam estados desvalorizados ou indesejados. Peter Sedgewick, por exemplo, ressalta que não há doenças na natureza.[2] Além de sua capacidade de causar dor e morte, as consequências das condições físicas dependem das expectativas e demandas sociais. A artrite leve nas mãos pode ser altamente problemática para um violinista, mas irrelevante para a maioria de nós. As sociedades industrializadas organizadas em torno da produtividade do trabalho assalariado aumentam o impacto de condições crônicas que reduzem o desempenho, o que pode ser melhor tolerado em sociedades rurais com tradições mais comuns.

Sedgewick tem razão ao salientar que o corpo funcionar de forma adequada depende do seu ambiente e das demandas que precisam ser atendidas, e essas demandas, por sua vez, dependem das convenções e expectativas de uma determinada sociedade. Simplesmente ser uma característica do corpo não é suficiente para qualificar algo como uma doença. Há também um julgamento de valor envolvido sobre as consequências dessa condição e os benefícios de tratá-la, o que diferirá de um contexto para outro.

Mas Sedgewick e outros levam o argumento um passo adiante e sugerem que é a natureza desvalorizada da doença que é central para o conceito e, portanto, que outras situações envolvendo um julgamento de valor negativo também podem ser chamadas de doença ou enfermidade. Isso equivale a dizer que qualquer situação indesejada pode ser considerada uma doença.

Em resposta a esta definição baseada em valores de doença e enfermidade, alguns pensadores tentaram reintegrar critérios objetivos que podem abranger transtornos mentais ao lado de condições corporais. Argumentando que mecanismos físicos ou biológicos e ‘mecanismos psicológicos’ podem ser considerados equivalentes, estendem o conceito de doença para incluir situações, como as que nos referimos enquanto ‘distúrbios mentais’, que são definidos pela presença de comportamentos indesejados. Daí o psiquiatra Robert Kendell argumentar que “as diferenças entre doenças mentais e físicas são diferenças quantitativas, e não qualitativas, não havendo diferenças fundamentais entre elas”. [3]

O conceito muito discutido de “disfunção prejudicial” de Jerome Wakefield é um exemplo desse pensamento.[4] Wakefield elide a diferença entree disfunção corporal e disfunção psicológica, alegando que ambas são situações objetivas que podem ser definidas por falha na realização de objetivos evolutivos. No entanto, assim como o fato de que o câncer e o crime por serem situações negativamente valorizadas não as torna o mesmo tipo de coisa, a ideia de que os mecanismos mentais e físicos podem ser resultantes da evolução também não confirma sua equivalência. Nossa capacidade de ser flexível e adaptável, em outras palavras, nossa livre vontade, pode ser vista como um fenômeno evoluído, mas isso não faz o comportamento humano o mesmo tipo de coisa que a estrutura do olho ou a destreza de nossas mãos.

Além disso, a confiança de Wakefield na teoria da evolução não agrega valor à compreensão das doenças físicas, e muito menos à definição de transtorno mental. A medicina usa explicações mecânicas não adaptativas da função. Definimos a função normal do coração, por exemplo, como o nível de funcionamento necessário para manter o resto do corpo vivo. Não há necessidade de postular a seleção natural ou uma teleologia evolutiva.[5] De fato, a psicologia evolutiva tem sido objeto de críticas extensas e suas reivindicações de objetividade têm sido reconhecidas como falsas. Fala-se com julgamentos avaliativos sobre o que as funções e o comportamento mental ‘normal’, ‘natural’ ou ‘adequado’ consistem [6].

Ao equiparar a disfunção psicológica e biológica, Wakefield está sugerindo, como Sedgewick, que não há valor na distinção entre uma condição indesejada do corpo e outras situações problemáticas. No entanto, isso certamente não é verdade. É evidente que na vida real achamos importante distinguir situações que surgem como consequência de um estado ou evento corporal e aquelas que são manifestações do que reconhecemos como comportamento humano; isto é, atividade iniciada por um indivíduo autônomo e auto-dirigente. Considere a importância de distinguir os ‘ataques epilépticos’ reais das ‘pseudo-convulsões’, por exemplo! Nós tratamos as pessoas que ‘falsamente’ se encaixam, conscientemente ou inconscientemente, de forma diferente das pessoas cujos ajustes se originam de impulsos elétricos anormais no cérebro.

Trabalhando em uma unidade de desintoxicação de drogas, este é um problema real e cotidiano. As pessoas que estiveram usando grandes quantidades de álcool ou benzodiazepinas são susceptíveis de ter crises epilépticas durante a desintoxicação, que podem ser perigosas e fatais, e que precisam de tratamento imediato com benzodiazepínicos ou outros agentes antiepilépticos. No entanto, as pessoas com uma história de dependência também podem ter ajustes falsos para obter essas substâncias. Se você der às pessoas com ‘falsa epilepsia’ drogas anti-epilépticas, você não apenas as expõe a danos desnecessários, mas também prejudica o ethos do programa de recuperação na unidade.

Fazemos um esforço para distinguir essas diferentes situações, porque exigem uma compreensão e uma resposta completamente diferentes. Fazer a distinção importa, e muito.

Szasz não negou, como às vezes pode parecer, que os conceitos de doença e enfermidade são relativos ao que é referido como normativo – ou seja, eles incorporam julgamentos de valor sobre o que é ‘normal’. Ele simplesmente observou que condições corporais desejadas ou indesejáveis podem ser descritas em termos materiais e biológicos: “embora a conveniência da saúde física, como tal, seja uma norma ética, o que é saúde pode ser declarado em termos anatômicos e fisiológicos” .[7] Se você afrouxa a associação entre os conceitos de doença e enfermidade e o corpo, você os esvazia de seu significado distinto. Não são mais capazes de escolher uma categoria específica de situações indesejadas,  tratando-as como sinônimos ao fazer emprego de termos genéricos como ‘problema ou ‘dificuldade’. Divorciadas do corpo, as palavras deixam de ter qualquer poder discriminativo. Elas ficam sem sentido.

No próximo blog, devo abordar a ideia de que os transtornos mentais são, de fato, doenças do corpo – em particular, que são doenças cerebrais.

Referências Bibliográficas citadas:

[1] Canguilhem G. Writings on Medicine (Forms of Living). New York: Fordham University Press; 2012, p. 35.

[2]  Sedgwick P. Psychopolitics. London: Harper & Row; 1982.

[3] Kendall RE. The myth of mental illness. In: Schaler JA, editor. Szasz Under Fire. Chicago: Open Court; 2004, p. 29-48.

[4]  Wakefield JC. Disorder as harmful dysfunction: a conceptual critique of DSM-III-R’s definition of mental disorder. Psychol Rev 1992 Apr;99(2):232-47.

[5]  Schaffner KF. Discovery and Explanation in Biology and Medicine. Chicago: University of Chicago Press; 1993

[6]  Houts AC. Harmful dysfunction and the search for value neutrality in the definition of mental disorder: response to Wakefield, part 2. Behav Res Ther 2001 Sep;39(9):1099-132

[7]  Szasz T. Law, Liberty and Psychiatry: an inquiry into the social uses of mental health.Syracuse, New York: Syracuse University Press; 1989, p 14.

Pacientes em Antipsicóticos com Alto Risco para Problemas Cardiovasculares, achados de uma recente pesquisa

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bernalyn ruizPesquisadores de Buenos Aires, Argentina, exploram o risco de doenças cardiovasculares em pessoas com drogas antipsicóticas prescritas. O estudo revela que os pacientes que começaram com antipsicóticos intermediários e de alto risco apresentaram risco significativamente maior de sofrer um evento cardiovascular do que aqueles que começaram com uma medicação de menor risco.

Os indivíduos diagnosticados com esquizofrenia geralmente experimentam numerosas condições de comorbidade, incluindo (entre outras) obesidade e diabetes mellitus tipo 2 que podem aumentar a taxa de doença cardiovascular (DCV) e mortalidade nesta população. Além disso, a doença cardiovascular tem sido implicada no aumento do hiato de mortalidade entre pessoas com esquizofrenia ou diagnóstico bipolar e a população em geral.

Sistema-circulatorio

Dada a alta incidência de DCV nas pessoas prescritas em antipsicóticos, bem como ganho de peso e anormalidades metabólicas, o presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito de vários medicamentos antipsicóticos. Os diferentes fármacos foram classificados como baixo, intermediário ou de alto risco de eventos cardiovasculares. Os pesquisadores realizaram um estudo de coorte retrospectivo de 1.008 pacientes que receberam medicamentos antipsicóticos pela primeira vez. Os participantes tiveram seus resultados avaliados aos dois e cinco anos de uso de antipsicóticos.

As características da base dos dados coletados incluíram idade, sexo, ano da data do início com antipsicóticos, diagnósticos psiquiátricos e características basais sobre eventos cardiovasculares anteriores. Fatores de risco e marcadores para DCV também foram examinados juntamente com doença obstrutiva pulmonar crônica, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica, malignidade, consumo de tabaco e álcool, número de hospitalizações e número de tentativas de suicídio.

O principal resultado de interesse foi o composto de infarto agudo do miocárdio, síndrome coronariana aguda, acidente vascular cerebral isquêmico, doença arterial periférica ou um novo procedimento de revascularização. Os resultados secundários compostos incluíram tempo para o compósito do desfecho primário mais a mortalidade por todas as causas, bem como o aparecimento de diabetes mellitus tipo 2.

Os diferentes fármacos antipsicóticos foram divididos em três categorias: baixo risco, risco intermediário e alto risco. A classe de baixo risco foi composta por haloperidol, Aripiprazol, Ziprasidona, Trifluoperazina e Levomepromazina. A categoria média incluiu Quetiapina e Risperidona. O grupo de alto risco incluiu Tioridazina, Olanzapina e Clozapina. Os pacientes que estavam em dois ou mais antipsicóticos foram colocados no grupo de alto risco.

Dos 1.008 pacientes no estudo, 223 estavam no grupo de baixo risco, 465 estavam no grupo intermediário e 320 estavam no grupo antipsicótico de alto risco. Na linha de base, a maioria das pessoas prescritas com antipsicóticos apresentava diagnóstico de demência, seguido de depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia. A maioria dos pacientes foi tratada com baixas doses de medicamentos antipsicóticos.

Aqueles em antipsicóticos de baixo risco apresentaram maior comorbidade CDCV na linha de base. Significativamente mais no grupo de alto risco em comparação com o grupo de baixo risco que desenvolveu obesidade com tratamento com antipsicóticos. 15,9% e 6,7% dos grupos de alto risco e risco intermediário desenvolveram diabetes tipo 2. Não foram encontradas diferenças significativas quanto ao número de hospitalizações ou tentativas de suicídio entre grupos de medicação alta, intermediária e de baixo risco.

No geral, 19,6% dos participantes tiveram um evento CV. Aqueles no grupo de baixo risco tiveram menos eventos durante o período de acompanhamento. O grupo intermediário estava em 2,57 vezes mais em risco do que o grupo de baixo risco. No grupo de alto risco, os resultados compostos primários foram 2,82 vezes em risco maior do que os do grupo de baixo risco. Não foram observadas diferenças aparentes entre os grupos com respeito à por todas as causas. Somente aqueles em medicamentos de alto risco apresentaram significativamente mais incidentes de diabetes tipo 2 quando comparados ao grupo de baixo risco.

Os pesquisadores encontraram um risco aumentado de apresentações de resultados significativos de CV entre os pacientes que iniciaram a mediação antipsicótica classificada como intermediária ou de alto risco.

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Szmulewicz, A. G., Angriman, F., Pedroso, F. E., Vazquez, C., & Martino, D. J. (2017). Long-Term Antipsychotic Use and Major Cardiovascular Events: A Retrospective Cohort Study. The Journal of clinical psychiatry. (Link)

Mortalidade de Pessoas que Usam Serviços de Saúde Mental e Medicamentos

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YlucySob instigação da Comissão Nacional de Saúde Mental, o Australian Bureau of Statistics (ABS) realizou um estudo de Mortalidade de Pessoas Usando Serviços de Saúde Mental e Medicamentos Prescritos, Análise de dados de 2011. [1]  Eles examinaram os registros do Programa de Benefícios Farmacêuticos (PBS) de 3.190.847 pessoas, que incluíram 14,8% da população australiana – que é de 21.507.719 – que haviam acessado “tratamentos relacionados à saúde mental”, em 2011. Em seguida, eles investigaram seus registros de óbitos e registros de suicídios.

O escopo do programa MBS (Plano de Benefícios do Medicare) e PBS (Programa de Benefícios Farmacêuticos) foi restrito às pessoas que acessaram itens subsidiados relacionados à saúde mental e que estavam listados no MBS ou PBS em 2011. O estudo não incluiu pessoas em hospitais públicos que tenham recebido drogas de farmácias hospitalares ou drogas prescritas pelo Departamento de Assistência Veterinária e Programa de Restituição de Benefícios Farmacêuticos. Os veteranos foram contados dentro do denominador da população, com exceção daqueles que cometeram suicídio.[2] Os dados da ABS (Australian Bureau of Statistics) também excluíram as pessoas que acessaram serviços através de Programas de Saúde para Aborígenes e para Insulares da Ilha do Estreito de Torres, porque não haverem usado o sistema de processamento do Medicare. É importante ser lembrado que as taxas de suicídio são elevadas nas populações aborígenes australianas.

Não obstante, a duplicação e a triplicação da mortalidade foram irrefutáveis entre as pessoas usando serviços de saúde mental e em medicação psiquiátrica. 153.451 mortes foram registradas na Austrália no período de 10 de agosto de 2011 a 27 de setembro de 2012. 75,858 dessas mortes foram registradas para pessoas que tiveram acesso a tratamentos relacionados à saúde mental. Estas mortes representaram 49,4% de todas as mortes neste período.

A taxa de mortalidade padronizada para as pessoas que acessaram tratamentos relacionados à saúde mental em 2011 foi quase duas vezes (1,9 vezes) maiores que a taxa de mortalidade padronizada para a população australiana (11,4 / 1.000 versus 6.1 / 1.000).

Na faixa etária de 15 a 74 anos, acessando tratamentos relacionados à saúde mental, a taxa de mortalidade padronizada foi 2,4 vezes superior à da população da mesma idade (7,4 / 1.000 vs. 3.0 / 1.000). Para homens de 15 a 74 anos, era quase três vezes (2,9) superior (11,2 / 1.000 v 3.8 / 1.000). Para as mulheres de 15 a 74 anos foi 2,2 vezes (5,1 v 1.000 v 2.3 / 1.000) população).

A principal causa de morte foi doença cardíaca isquêmica, seguida de câncer de pulmão. Pacientes de saúde mental morreram de câncer de pulmão (12,3% vs. 14,1%) e doenças cardíacas em maior proporção do que a população em geral. Pacientes psiquiátricos fumam porque os hidrocarbonetos nos cigarros induzem as enzimas que metabolizam antidepressivos e antipsicóticos e, como resultado, passam a senti-los como menos tóxicos e mais confortáveis. A causa da morte por intoxicação (envenenamento) e suicídio é a toxicidade da droga, níveis acima do limiar terapêutico. As drogas psiquiátricas afetam todos os sistemas do corpo humano e a morte pode ser por insuficiência cardíaca, respiratória, endócrina ou de múltiplos órgãos.

Ocorreram danos nos cérebros, que agora estão sendo chamados de ‘lesão cerebral neuroléptica induzida por substância / medicação’. Essa enfermidade iatrogênica costumava ser denominada de Síndrome de Déficit Induzido por Neurolépticos, NIDS. Os cérebros são danificados por neurolépticos quando estes são administrados em altas doses, particularmente se a pessoa não pode metabolizá-los. O que parece estar acontecendo muito frequentemente entre os mais jovens.

O resultado é um adulto que era normal antes de obter medicação passar a ser como um autista. Essa condição clínica faz lembrar das pessoas que nasceram com autismo infantil inicial, diagnosticadas a seis semanas de nascidas com a síndrome de Kanner e que cresceram assim até à maturidade.

A expectativa é que os avaliadores do Esquema Nacional de Seguro de Deficiência da Austrália passem a encontrar indicadores dessa população jovem que não havia sido identificada e que não foi diagnosticada apropriadamente. Os mais velhos entre eles devem estar agora no início dos 40 anos. Na verdade, esses avaliadores precisam ser informados disso, para levarem em conta esse problema iatrogenicamente produzido.

A taxa de mortalidade padronizada por auto-dano intencional para pessoas que acessaram tratamentos relacionados à saúde mental foi três vezes (3.3) maior do que a taxa de mortalidade padronizada por auto-dano intencional entre a população total australiana (34,4 mortes por 100.000 habitantes em comparação com 10,5 / 100,000).

Esses números de suicídio subestimam o número de suicídios induzidos por medicação. Os suicídios induzidos por medicação e retirada de medicamentos são 100% evitáveis, podem ser previstos a partir de um genótipo e podem ser prevenidos se a educação médica contínua for removida da indústria farmacêutica e dada a educadores responsáveis. A indústria farmacêutica teve a benção do governo da Commonwealth para educar os médicos como desejava, e a Big Pharma deseja educá-los não com interesses voltados aos pacientes, mas para atender seus próprios interesses.[3].  Alguns membros da profissão médica têm demonstrado nenhuma disposição para aprender, ler ou para aceitar qualquer informação que ameace suas práticas e rendimentos atuais. Os reguladores da prática médica na Austrália confiaram no que eles acreditavam ser uma prática psiquiátrica padrão, conforme o definido pelas diretrizes de prática clínica elaboradas pela indústria farmacêutica, e assinadas por líderes de opinião que são em geral bem remunerados. Às vezes, o texto e os gráficos são praticamente idênticos a uma infinidade de guias de prática clínica, escritas no Canadá, a pedido do Texas Medication Algorithm Project, TMAP, um consórcio de interesses da indústria farmacêutica com altas remunerações.

Em 1993, 68 pessoas se suicidaram enquanto eram atendidas pelos serviços de saúde mental de NSW e, em 1999, 173 pessoas se suicidaram. Entre 1996 e 2002, 1163 pessoas se suicidaram no período de 28 dias de contato com algum serviço de saúde mental. Entre 2003 e 2008, mais 937 suicídios cometidos, totalizando 2000 suicídios.[4] No entanto, a forma como esses suicídios foram contados mudou e, após 2002, os suicídios foram contados apenas se ocorressem dentro de 7 dias do contato com os serviços de saúde mental de NSW. Isso significa que mais pacientes do que foram incluídos nas estatísticas cometeram suicídio e homicídio, estando em medicamentos que foram prescritos por serviços de saúde mental de NSW.

Entre 1993 e 2001, os números de suicídios em pacientes com atenção mental triplicaram, passando de 9% para 21% de todos os suicídios em New South Wales. O aumento do número de suicídios em NSW foi exatamente explicado pelos suicídios cometidos por pacientes sob cuidados de saúde mental.[5]

Hospitalizações por tentativas de suicídio em NSW aumentaram três vezes, de 55 / 100.000 da população em 1989-90, para 155 / 100.000 da população em 2005-06. Isso representou 9 mil hospitalizações por ano, e alguns hospitais não as contabilizaram.[6]

Os dados de ensaios clínicos aceitos pela FDA para o licenciamento de antidepressivos e antipsicóticos atípicos fornecem advertências sobre esses fenômenos. Após a assinatura do Acordo de Livre Comércio com os Estados Unidos em 2005, a Austrália adotou o padrão da FDA.[7] A Administração de Mercadorias Terapêuticas (TGA) não disse ao público australiano que os medicamentos que aprovou desde 1990, usando o padrão da US FDA, já não eram seguros ou eficazes, e que não estavam sendo avaliados de forma independente na Austrália. Darrow investigou o processo de aprovação de drogas na FDA e concluiu que o público (e médicos e seguradoras) não deve confiar no fato da aprovação da FDA como uma indicação de que os medicamentos, incluindo os novos e com preços muito elevados, possuem eficácia que seja significativamente maior do que nenhuma eficácia.[8]

Para que uma droga seja aprovada pela FDA, ela precisa superar o placebo em dois ensaios clínicos em qualquer critério que a empresa de medicamentos nomeie. A eficácia dos antidepressivos é testada utilizando a Hamilton Depression Scale (HAM-D), que mede a ‘energização’, mas não a capacidade de voltar ao trabalho. Algumas pessoas se tornam maníacas e obtêm bons resultados no HAM-D, apenas para se matarem e a outros. As empresas farmacêuticas podem fazer qualquer número de ensaios antes de terem dois ensaios bem sucedidos para serem apresentados, e no caso da risperidona e sertralina para crianças, dois desses ensaios foram eventualmente realizados cerca de 20 anos após a aprovação dos medicamentos.

Healy resumiu as linhas de evidência que demonstram que o risco relativo de suicídio em antidepressivos está entre duas e três vezes maior do que em pílulas de açúcar. [9]

Os antipsicóticos “atípicos” entraram no mercado com advertências significativas e um perfil de efeitos colaterais de condições que ameaçam a vida. Os dados da FDA estabeleceram que uma em cada 145 pessoas inscritas em ensaios clínicos para olanzapina (Zyprexa), risperidona (Risperdal), quetiapina (Seroquel) e ziprasidona (Geodon) morreram como resultado de reações adversas aos medicamentos, incluindo, entre outros, suicídio, diabetes, convulsões, síndrome neuroléptica maligna, pancreatite, hiperglicemia, discinesia tardia, acidente vascular cerebral, hipertensão, arritmia cardíaca, cardiomiopatia, hiper prolactinemia e obesidade. As pessoas em antipsicóticos atípicos se suicidaram duas a cinco vezes mais frequentemente do que a população esquizofrênica em geral. O diagnóstico inicial é irrelevante, pois os efeitos colaterais ocorrem em pessoas com distúrbios psiquiátricos e não-psiquiátricos. Em 1997, quando havia cinco antidepressivos no mercado e três novos atípicos, e eles estavam sendo prescritos conjuntamente, a taxa de suicídio na Austrália atingiu níveis recordes. O enforcamento por suspensão, a forma mais comum de suicídio em portadores de acatisia, representou o modo de suicídio em 50%, enquanto que geralmente é 10% .[10]

Os medicamentos não associados à saúde mental que são relatados ao FDA como causando suicídio incluem relaxantes musculares, analgésicos (Tramadol é um SSRI), oxicodona, anfetaminas, MDMA (ecstasy), Ritalina (metilfenidato) e drogas tão diversas em estrutura e função como hipericum (Erva de São João), [11] (Chantix®), oseltamivir (Tamiflu®), isotretinoína (Roaccutaine®), mefloquina (Lariam®), metoclopramida (Maxalon®), zolpidem (Stilnox®), bloqueadores de canais de cálcio, fármacos antiepilépticos promovidos como “estabilizadores do humor”, medicamentos para alergias, [12] .[13]  [14] reserpina, benzodiazepinas, estatinas e interferon, todos induzem o suicídio e o pensamento homicida como um efeito colateral ocasional. Moore et al. identificaram 1527 casos de violência, incluindo homicídios desproporcionalmente reportados à FDA para 31 medicamentos, incluindo vareniclina, 11 tipos medicamentos antidepressivos, sedativos / hipnóticos e 3 medicamentos para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.[15]

O prenúncio do suicídio e da violência é um efeito colateral neurotóxico chamado acatisia (do grego, ‘não poder se sentar’) que vem em conjunto com outros distúrbios induzidos pela substância / medicação que imitam doenças mentais. A acatisia apresenta-se como um infortúnio flutuante; não conseguir ficar tranquilamente sentado; juntamente com pensamentos de morte e estar morrendo, ou agressão indesejável que, voltada para si próprio, torna-se suicídio e voltada para fora, torna-se violência, até homicídios e homicídios em massa. [16] [17] [18] Uma manifestação da sensibilidade ao fármaco, a acatisia correlaciona-se com níveis sanguíneos que excedem a janela terapêutica, bem como mudanças bruscas de dose, para cima ou para baixo. Isso faz com que começar a diminuir o medicamento e parar de tomar o medicamento sejam ocasiões muito perigosas, embora não o único momento para o suicídio. Por isso é que ambos devem ser feitos muito, muito devagar com medicação e supervisão combinadas.

Quando um suicídio ou homicídio obviamente induzido por medicação são relatados na imprensa, parece que todos na comunidade, exceto os legisladores e os prescritores, fazem a pergunta: “O que ele/ela estava tomando?” Cinco minutos de busca na internet é o recomendado para se dimensionar a problemática que os que denunciam são todos cruelmente silenciados via a difamação e pelos reguladores médicos e seus tribunais. Seus tribunais são baseados em tribunais eclesiásticos, que foram projetados para excluir os hereges e não para encontrar a verdade.

Por exemplo, após o massacre do jardim de infância de Sandy Hook por Adam Lanza, uma petição à Casa Branca para descobrir o medicamento que ele tomou ganhou 86.000 assinaturas em dois dias. Foi encerrada pela Casa Branca com as palavras: “Obrigado pelo seu interesse no controle de armas”. Inicialmente, Lanza recebeu escitalopram e teve umas reações muito adversas à droga, o que sugere genes de metabolização seriamente defeituosos. Seu psiquiatra tratou de fugir para a Nova Zelândia e lá destruiu seus registros. Ninguém pensou em perguntar o que havia sido prescrito ou em testar para o post-mortem.

A carta da Casa Branca teve o mesmo nível de relevância que a dos “ministérios” australianos: respostas a perguntas preparadas por servidores públicos, em nome do ministro, e que surgiram do Departamento de Saúde da Commonwealth ,em resposta às cartas ao Ministro. A informação que relaciona o suicídio com drogas e genes foi submetida a inúmeros comitês do Senado e aos ministros de saúde estaduais e federais, cujos redatores dos departamentos ministeriais estão comprometidos pela política, mesmo quando sabem o que deveriam dizer.

O problema exige a reeducação de todas as pessoas que escrevem prescrições para qualquer tipo de medicação; e vontade e insistência que eles obtenham o ‘consentimento informado’ do paciente para cada droga prescrita. Isso pode ser feito com mais facilidade, ao ser apresentado um documento de informação do consumidor, que está disponível para cada medicamento no site da TGA. Os pacientes têm direito a isso, o que deveria ser aplicado.

Acatisia tem sido associada ao suicídio desde a década de 1950 e com homicídio desde 1985. [19] Shear et al. relataram homicídios associados à acatisia após o tratamento com depósito de flufenazina. [20] Schulte descreveu cinco casos de assassinato, suicídio e violência grave com acatisia em pacientes psiquiátricos.[21]  [22]  Os mesmos medicamentos que induzem a violência também induzem suicídio e os homicídios de akatie geralmente acabam em suicídio.

As condições que afetam o metabolismo da droga e que fazem com que uma droga atinja níveis tóxicos incluem a dose, medicamentos prescritos juntos que induzem ou inibem as vias enzimáticas, idade, nutrição, estresse, doença hepática, hormônios (naturais e estranhos), a sequência em que drogas foram prescritos ou removidos, a via de administração, o tempo médio de vida da droga em qualquer população, múltiplas vias metabólicas possíveis, o tamanho da janela terapêutica acima da qual um medicamento é ineficaz e tóxico, a duração da terapia, e a duração da inibição. [23] [24] 

A população é amplamente dividida em metabolizadores extensos, intermediários, pobres e ultra-rápidos. Os metabolizadores pobres desenvolvem efeitos colaterais muito rapidamente, mas os metabolizadores intermediários estão em maior risco porque os níveis sanguíneos aumentam lentamente e a toxicidade não é reconhecida. O maior risco de morte por suicídio e intoxicação são metabolizadores ultra-rápidos. O que se observa na entrada e saída da retirada de drogas durante um período de um dia com algumas drogas e isso é problemático emocionalmente. [25]  [26] .  Com algumas drogas e pró-drogas, o metabolismo ultra rápido que produz um metabólito ativo pode ser problemático, particularmente na retirada.  [27] [28]  Os metabolizadores intermediários podem metabolizar como metabolizadores pobres e alguns como metabolizadores extensivos e são vulneráveis à inibição. [29]  Alguns metabolizadores extensivos metabolizam drogas como metabolizadores pobres após tomar inibidores do CYP que reduzem ou eliminam a atividade enzimática. [30] [31]

A taxa de suicídio na esquizofrenia entre 1875 e 1924 foi de 20 / 100.000 anos hospitalares, uma taxa de vida de menos de 0,5%. A taxa de suicídio para todas as psicoses foi de 16 / 100.000 anos hospitalares. As taxas atuais de suicídio para esquizofrenia e outras psicoses aparecem 20 vezes mais.[32]

O ABS usa uma “taxa de mortalidade por auto-dano intencional” e considera que o suicídio é mais do que três vezes maior nos medicamentos que na população. Isso é uma subestimação. O ABS não analisou suicídios em hospitais ou suicídios cometidos por pessoas em medicamentos prescritos em um hospital, ou aqueles que ocorreram dentro de alguns dias de um paciente sendo prescrito um antidepressivo ou um antipsicótico atípico em um hospital e que cometeu suicídio logo após a alta. O ABS não contava suicídio no fluxo de compensação dos trabalhadores, particularmente entre a polícia, porque suas prescrições não apareceram no PBS. O ABS não perguntou sobre o número de militares devolvidos que se suicidaram em 2012. Os veteranos também estão se suicidando, pelo menos, o dobro da taxa da população em geral. [33] O relatório de mortalidade não contava pessoas cujas prescrições estavam escritas sob o regime de repatriamento.

Em 2003, a FDA emitiu uma série de avisos de saúde pública sobre o agravamento da depressão e suicídio nos antidepressivos.

O Royal Australian and New Zealand College of Psychiatrists (RANZCP) permanece “não convencido” diante de críticas de literalmente centenas (373) de ensaios clínicos. Os velhos antidepressivos induziram o suicídio em algumas pessoas no livro de psicologia clínico psiquiátrica de 1960, escrito por Mayer-Gross, Slater e Roth. A American Psychiatric Association mudou imediatamente suas diretrizes de prática clínica para incluir avisos de suicídio. O RANZCP se recusou a fazê-lo. Isto é devido à fraude no setor farmacêutico, que tem sido documentado extensivamente, país por país e droga por droga.[32]

É abundante na Austrália, porque o país não tem como resgatar, nem para pessoas afetadas ou para a Commonwealth e os contribuintes. O problema pode ser, como é nos Estados Unidos, que a indústria farmacêutica e seus representantes, Medicines Australia, por exemplo, são generosos doadores para ambos os partidos políticos. Qualquer alteração neste sistema exigiria uma Lei de Reclamações Falso estruturada no modelo americano, de modo que a Commonwealth e os indivíduos prejudicados pela fraude da indústria farmacêutica possam obter algum tipo de restituição. Isso também implicaria que a indústria farmacêutica proibisse os doadores.

O RANZCP é extremamente financiado, em particular pelas suas conferências, pela indústria farmacêutica. É um sindicato, não um órgão especializado.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CITADAS ACIMA:

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