Como a China mudou para a assistência em saúde mental on-line durante o surto de COVID-19

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A rápida disseminação da nova doença do coronavírus (COVID-19), que resultou na morte de milhares em toda a China e agora em todo o mundo, tem contribuído para o desenvolvimento de sintomas psicológicos, incluindo ansiedade, depressão e estresse, nas equipes médicas bem como no público em geral. Como o COVID-19 é altamente contagioso entre as pessoas, as abordagens padrão face a face dos cuidados de saúde mental tornaram-se arriscadas para pacientes e profissionais.

O afluxo de COVID-19 e o subsequente aumento de problemas de saúde mental associados a ele tem exigido criatividade. Na China, vários serviços de saúde mental on-line foram desenvolvidos e implementados para atender às necessidades das pessoas afetadas pelo surto.

Pesquisadores, liderados por Bin Zhang, da Southern Medical University, em Guangzhou, China, escrevem: “. . . os serviços on-line de saúde mental que estão sendo usados para a epidemia COVID-19 estão facilitando o desenvolvimento de intervenções de emergência públicas entre os chineses e, eventualmente, podem melhorar a qualidade e a eficácia das intervenções de emergência. ”

Os pesquisadores examinaram 72 pesquisas on-line de saúde mental associadas ao surto de COVID-19. As pesquisas incluíram populações como equipe médica, pacientes com COVID-19, estudantes, população em geral e populações mistas, além de áreas-alvo dentro e fora da província de Hubei – onde está localizado o epicentro do surto, Wuhan.

Uma pesquisa com 1563 trabalhadores médicos constatou que a depressão era predominante em 50,7% do pessoal, a ansiedade em 44,7% e a insônia em 36,1%. Além disso, 73,4% da equipe médica relatou apresentar sintomas relacionados ao estresse. A administração e a revisão de exames on-line de saúde mental permitem que pesquisadores e profissionais de saúde mental identifiquem e tratem melhor o pessoal médico que está enfrentando problemas de saúde mental relacionados à pandemia.

A equipe médica e o público em geral têm usado a educação em saúde mental on-line através de plataformas on-line como WeChat e TikTok durante o surto na China. Isso permitiu a disseminação oportuna de informações ao público e às equipes médicas sobre prevenção, controle e educação em saúde mental do COVID-19. A Associação Chinesa de Saúde Mental publicou diretrizes sobre como lidar com os sintomas psicológicos associados à pandemia.

Serviços de aconselhamento on-line também foram implementados por profissionais de saúde mental em instituições e universidades na China após o surgimento do COVID-19. Além disso, recursos de autoajuda on-line, como terapia cognitivo-comportamental on-line para depressão, ansiedade e insônia, foram desenvolvidos e implementados.

Além disso, programas de inteligência artificial (IA) foram desenvolvidos para atender às necessidades de indivíduos em crises. Os autores dão o exemplo do programa Tree Holes Rescue, que avalia o risco de suicídio analisando as mensagens postadas no Weibo.

No geral, os serviços de saúde mental on-line que estão sendo implementados pela China durante a pandemia do COVID-19 revelam as necessidades e o escopo das necessidades de saúde mental de populações específicas e gerais. Também permitiu que a educação em saúde mental e as informações sobre o vírus fossem espalhadas por uma ampla audiência, incluindo a população em geral e o pessoal médico.

Além disso, a adaptação da saúde mental para incluir a prestação de serviços on-line é fundamental durante a pandemia, em que o distanciamento social é recomendado para retardar a propagação do surto. Segundo os pesquisadores, a capacidade de fornecer serviços terapêuticos, intervenções de autoajuda e avaliação de riscos on-line é crucial durante um período em que o contato pessoal é potencialmente prejudicial ao profissional de saúde mental ou ao cliente.

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Liu, S., Yang, L., Zhang, C., Xiang, Y-T, Liu, Z., Hu, S., & Zhang, B. (2020). Online mental health services in China during the COVID-19 outbreak. Lancet Psychiatry. (Link)

Coronavírus e o paradoxo do isolamento

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As experiências dos países aonde o coronavírus chegou antes que no Brasil mostram uma séria de medidas públicas corretas que devem imediatamente ser adotadas. Como que as pessoas na medida do possível trabalhem em casa, que as universidades mudem para aulas virtuais, que reuniões bem como atividades culturais e esportivas sejam canceladas, para ficarmos com alguns exemplos. Essas são estratégias-chave para impedir a transmissão e/ou diminuir a sua velocidade no seio da população. No entanto, tais medidas podem ter um custo social e de saúde mental muito significativo.

As reações à crise podem incluir sentimentos de opressão, medo, tristeza, raiva e desamparo, de acordo com os especialistas. Algumas pessoas podem ter dificuldades para dormir ou se concentrar. O medo de entrar em contato com outras pessoas, viajar em transporte público ou entrar em espaços públicos pode aumentar, e algumas pessoas terão sintomas físicos, como aumento da freqüência cardíaca ou dor de estômago.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), em um recente comunicado, reconheceu que a crise gera um forte estresse, e aconselha que as pessoas procurem evitar ler, ver  ou ouvir notícias que provoquem sentimentos de ansiedade ou aflição.  Para diminuir os impactos negativos para a saúde mental, a OMS aconselha:

“Que as pessoas procurem informações que sirvam sobretudo para tomar medidas práticas para preparar seus planos e proteger a si mesmo e a seus entes queridos. Que as pessoas procurem atualizações de informações em horários específicos durante o dia, uma ou duas vezes. O repetido e quase constante fluxo de notícias sobre o surto epidêmico pode fazer com que qualquer um se sinta demasiadamente preocupado. Que as pessoas procurem obter os fatos. Que as pessoas coletem informações regularmente, no site da OMS e nas plataformas das autoridades locais de saúde, para ajudá-las a distinguir fatos de rumores.”

Além da ansiedade e seus sintomas que crescem na medida em que vamos nos dando conta da gravidade dessa epidemia, é importante que não deixemos de levar em alta consideração que tais medidas geram “isolamento social e emocional“.

Protective measures on a subway train in New York.Credit…Damon Winter/The New York Times

A respeito, muito recentemente foi publicado no The New York Times (NYT) um artigo que  merece que trechos sejam destacados e comentados:

“Um paradoxo deste momento é que, embora seja necessário distanciamento social para conter a disseminação do coronavírus, ele também pode contribuir para problemas de saúde a longo prazo. Portanto, embora o isolamento físico seja necessário para muitos que têm o Covid-19 ou que foram expostos a ele, é importante que não permitamos que essas medidas causem isolamento social e emocional também.

A Administração de Recursos e Serviços de Saúde (Health Resources and Services Administration) adverte que a solidão pode ser tão prejudicial à saúde quanto fumar 15 cigarros por dia. Sentimentos de isolamento e solidão podem aumentar a probabilidade de depressão, pressão alta e morte por doenças cardíacas. Eles também podem afetar a capacidade do sistema imunológico de combater infecções – fato especialmente relevante durante uma pandemia. Estudos demonstraram que a solidão pode ativar o mecanismo natural de luta ou fuga, causando inflamação crônica e reduzindo a capacidade do corpo de se defender dos vírus. ”

“Solidão e isolamento são especialmente problemáticos entre os idosos. 27% dos americanos mais velhos vivem sozinhos. De acordo com a H.R.S.A, entre os idosos que relatam sentir-se sozinhos, há uma chance aumentada de 45% de mortalidade. Em uma situação de quarentena, isso pode se tornar ainda mais terrível. Aqueles que precisam de medicamentos que salvam vidas, necessitam de assistência médica específica, ou que necessitam receber\ refeições, podem não conseguir esses serviços.”

Levando em consideração que a epidemia do coronavírus acaba de chegar ao Brasil, e que segundo as estimativas a tendência é que em 1 1/2 mês a 2 meses a crise irá atingir uma proporção gigantesca, temos que aprender muito com as experiências das sociedades aonde a epidemia chegou antes da nossa. Em em termos de saúde mental, em particular, será indispensável não apenas aprender com os outros povos como eles têm enfrentado os desafios do ‘isolamento social e emocional‘, mas igualmente será desafiador como mobilizarmos as nossas capacidades criativas de solidariedade que são próprias ao modo de ser brasileiro e as suas diferenças em cada região, estado, município do país.

Eis mais um trecho da matéria do NYT, desta vez que diz respeito a algumas experiências de solidariedade entre os povos aonde o coronavírus chegou já há algumas semanas senão há meses:

“Para soluções, podemos procurar países onde as pessoas lidam com o coronavírus há algum tempo. Como noticiou a BBC, as pessoas na China estão recorrendo a meios criativos para se manterem conectadas. Alguns são shows em streaming e aulas de ginástica on-line. Outros estão organizando reuniões virtuais de clubes do livro. Em Wuhan, as pessoas se reuniram em suas janelas para gritar “Wuhan, jiayou!” que se traduz em “Continue lutando, Wuhan!” Um empresário embalou 200 refeições para os profissionais médicos, enquanto um morador de uma província vizinha doou 15.000 máscaras para os necessitados.

Para aqueles de nós que conhecem pessoas, especialmente idosos, que podem estar isolados, vamos nos conectar. Faça check-in diariamente e procure maneiras de passar tempo juntos, seja por meio de uma ligação pelo FaceTime ou pelo WhatsApp, por meio de jogos colaborativos ou apenas usando o telefone.”

Ouso a propor algumas ideias.  A serem discutidas evidentemente. E que outras surjam. A ideia geral é que imediatamente os nossos diversos serviços públicos de assistência em saúde mental, que nós criemos grupos de suporte psicossocial, via os diferentes meios de comunicação na rede da internet. Penso que isso é possível ser feito nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) – em um CAPS individualmente, embora provavelmente o mais viável seja um pool de CAPS de uma determinada cidade.  Penso que o suporte psicossocial poderia também ser feito pelas Faculdades de Psicologia, através dos seus Serviços de Psicologia Aplicada (SPA).  E assim por diante.  O importante é que os usuários não percam seus vínculos com o sistema de saúde mental, se sentindo desamparados. Aos que já são seus usuários, que não temam que seus transtornos sejam agravados. Aos que não são usuários, que possam participar da rede de suporte psicossocial colaborando conforme suas iniciativas.  E, pode-se pensar ainda em meios lúdicos e/ou artísticos-culturais, como os  suscitados pelos exemplos dados na matéria do NYT acima citada.

É da maior importância que coloquemos todas as nossas capacidades de solidariedade em ação, usando o máximo possível dos recursos que estarão disponíveis. Estamos apenas começando. A sua colaboração em redes sociais, como a do Mad in Brasil, é da maior relevância.

Experiência de Implementação dos Princípio do ‘Diálogo Aberto’ em Vermont

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A revista Psychiatric Quarterly publicou recentemente um artigo sobre a adaptação e implementação da abordagem ‘Diálogo Aberto’ na cidade de Vermont nos EUA. O estudo qualitativo realizado por Ana C. Florence, Gerald Jordan, Silvio Yasui e Larry Davidson explorou as experiências de 22 membros das equipes de dois serviços, através da participação desses profissionais em grupos focais, além de realizar entrevista com 3 desenvolvedores da abordagem.

Inspirado pela Terapia de Família Sistêmica, o ‘Diálogo Aberto’ enfatiza a perspectiva da rede social e concebe que problemas de saúde mental são problemas relacionais. O foco está na criação de significado através da linguagem, na qual a psicose e outras crises de saúde mental são compreendidas como experiências extremas não faladas. Portanto, a meta do tratamento é gerar diálogo terapêutico através do compartilhamento de todas as vozes, possibilitando uma conversa compartilhada a fim de produzir a criação conjunta de significados.

Alguns autores veem chamando a atenção para o alinhamento do ‘Diálogo Aberto’ com o paradigma dos Direitos Humanos. As práticas do ‘Diálogo Aberto’ promovem uma compreensão contextualizada das necessidades de saúde mental; equilibra as diferenças de poder durante o tratamento; e reduz o risco de excesso de medicalização dos problemas de saúde mental. Além do que, é bem sucedido em prevenir violência e coerção nos tratamentos e sistemas.

No caso de Vermont, foi desenvolvida em 2010 um adaptação do ‘Diálogo Aberto’ denominada Collaborative Network Approach (CNA). Um currículo de treino foi criado, engloba as principais técnicas e princípios do ‘Diálogo Aberto’, assim como outras várias modalidades de treinamentos curtos. Alguns dos princípios da CNA é a reflexão; ouvir sem uma agenda; desacelerar e levar um tempo antes de tomar decisões; evitar explicações e interpretações em prol da escuta com curiosidade; convidar todas as vozes a serem a escutadas durante os encontros e garantir segurança para a rede. Esses princípios também podem ser praticados em sessões de terapia individual, equipes de supervisão, suporte à crises e outras práticas.

Os temas comuns encontrados em todas as entrevistas com o pessoal das equipes foram: o impacto do treinamento, a cultura organizacional e a adesão. No princípio da implantação da CNA, os entrevistados informaram que a cultura organizacional foi favorável a incorporação dos princípios do ‘Diálogo Aberto’, por causa do seu conjunto de valores humanisticos. A maioria concordou que as técnicas aprendidas foram úteis de uma maneira geral, influenciando suas relações com clientes, familiares e colegas.

“O psiquiatra mencionou que a filosofia do CNA se encaixa bem com suas preocupações sobre uso de medicamentos e efeitos colaterais e permitiu discussões adicionais com as redes sobre a introdução ou aumento de medicamentos antes de tomar decisões.”

Outro elemento destacado pelo artigo, é a importância da adesão de diferentes níveis do serviço de saúde, colegas, gerência e departamento de saúde mental o que possibilitou implementar as mudanças necessárias.

Enquanto que os principais desafios destacados pelos entrevistados, foram as estruturas de cobranças inadequadas, treinamento caro e demorado, e resistência em mudar a cultura organizacional para integrar a CNA nas agências.

Esses achados, por fim, mostraram ser coerentes com outros estudos já realizados sobre a implementação de abordagens derivadas do ‘Diálogo Aberto’ em outros locais do EUA, assim como em outros países. Porém, ainda há uma defasagem em materiais sobre o assunto, bem como uma falta de medidas padronizadas para determinar a fidelidade dessas abordagens ao modelo original e a adaptabilidade dos princípios do ‘Diálogo Aberto’ em diferentes contextos, dificultando determinar em qual grau essas adaptações se assemelham ao modelo original do ‘Diálogo Aberto’.

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Florence, A.C., Jordan, G., Yasui, S. et al. Implanting Rhizomes in Vermont: a Qualitative Study of How the Open Dialogue Approach was Adapted and Implemented. Psychiatr Q (2020) (Link)

Alerta de suicídio no rótulo de antidepressivos é justificado, dizem pesquisadores

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Em 2004, o FDA adicionou uma etiqueta de aviso com ‘tarja preta’ às prescrições de antidepressivos devido ao aumento do risco de suicídio em crianças e adolescentes que tomam os medicamentos. Isso ocorreu depois que surgiram evidências de taxas mais altas de suicídio em ensaios controlados com placebo dos medicamentos.

No entanto, desde então, a etiqueta de aviso tem sido objeto de controversa. Os críticos sugeriram que isso pode resultar na diminuição das prescrições de antidepressivos e no aumento das taxas de suicídio.

Um novo estudo investigou essas alegações. A etiqueta de aviso de tarja preta causou danos ao impedir prescrições de antidepressivos para crianças?

Não; de acordo com os pesquisadores, que escrevem:

“O aviso de Tarja Preta está baseado em dados sólidos, enquanto as tentativas de reivindicar o aviso causaram danos são baseadas em evidências bastante fracas.”

Os pesquisadores, liderados por Glen Spielmans da Metropolitan State University, em Minnesota, publicaram suas descobertas na revista Frontiers in Psychiatry. Segundo Spielmans e seus co-autores, as prescrições de antidepressivos continuaram a aumentar, juntamente com o aumento das tentativas de suicídio em jovens.
“Dados recentes sugerem que o aumento das prescrições de antidepressivos está relacionado a mais tentativas de suicídio de jovens e mais suicídios consumados entre crianças e adolescentes americanos”, escrevem os pesquisadores.

Os pesquisadores também criticam artigos que sugeriram o contrário. Estudos que descobriram que as tentativas de suicídio aumentavam juntamente com a diminuição das prescrições de antidepressivos sofreram de muitos problemas metodológicos. Por exemplo, alguns desses estudos não fazem uma análise estatística; outros não controlam outras variáveis que podem impactar os resultados; alguns usam estágios finais “questionáveis”do processo que “distorcem” os dados ou usam “medidas questionáveis de tentativas de suicídio” – como escalas de classificação da depressão que não realizam um bom trabalho na identificação da condição de suicídio.

Tudo isso resulta em vários estudos enganosos, que pretendem demonstrar danos casados com o aviso da agência reguladora FDA – e ignoram os dados reais, de acordo com Spielmans e seus coautores.

Outros estudos analisaram mais de perto os dados. Depois que o aviso da tarja preta foi instituído, as taxas de suicídio diminuíram junto com as prescrições de antidepressivos por três anos. No entanto, após cerca de 2007, as prescrições de antidepressivos começaram a subir novamente, e as taxas de suicídio seguiram o exemplo.

Spielmans e seus coautores fazem questão de lembrar ao leitor que as melhores evidências disponíveis demonstram maior risco de suicídio para jovens que tomam antidepressivos:

“Os estudos de caso controlados mostram aumento do risco de suicidalidade e de suicídio entre jovens que tomam antidepressivos, mesmo depois de controlar algumas causas intervenientes”, escrevem eles.

Os ensaios clínicos estão entre os melhores no controle de variáveis intervenientes, de acordo com os pesquisadores, e “esses estudos demonstraram um risco aumentado de eventos adversos de tentativas de suicídio entre jovens que tomam antidepressivos”.

Antes de instituir o aviso da tarja preta, a agência reguladora FDA convocou um painel de especialistas em suicídio na Universidade de Columbia para avaliar o risco de suicídio em jovens que tomam antidepressivos. O painel realizou uma apropriada investigação com o duplo-cego (eles não sabiam se estavam analisando dados de antidepressivos ou placebo) até depois de revisarem os dados dos ensaios clínicos.

De acordo com Spielmans e seus coautores, o que o painel revelou foi que os jovens que tomavam antidepressivos experimentaram um aumento de 71% na suicidalidade e um aumento de 79% na agitação / hostilidade quando comparados aos jovens que receberam placebo.

Os artigos publicados são conhecidos por ocultar eventos adversos, incluindo suicidalidade. De acordo com os pesquisadores, “em 142 estudos de seis medicamentos psiquiátricos, 62,3% das mortes, 53,3% dos suicídios e 46% dos eventos de ideação / tentativas / lesões suicidas que apareceram nos registros on-line não apareceram nos artigos publicados. […] Às vezes, os eventos adversos foram rotulados como “piora da depressão” ou “labilidade emocional” quando, de fato, as narrativas descritivas relevantes nos relatórios do estudo clínico descrevem claramente as tentativas de suicídio “.

Mais importante ainda, os pesquisadores sugerem que manter médicos, jovens e seus pais informados sobre riscos potencialmente mortais – como o aviso da tarja preta é feito – está de acordo com os melhores princípios da área médica.

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Spielmans, G.I., Spence-Sing, T., & Parry, P. (2020). Duty to warn: Antidepressant black box suicidality warning is empirically justified. Frontiers in Psychiatry, 11, 18. DOI: 10.3389/fpsyt.2020.00018 (Link)

Desafios na Atenção à Crise em Saúde Mental

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A revista Ciência & Saúde Coletiva publicou recentemente um artigo sobre a atenção à crise na saúde mental. O objetivo é analisar as disputas teóricas e práticas na área de urgência e emergência, assim como compreender quais são os desafios para o cuidado em rede.

Os autores realizaram um estudo exploratório de dois tipos de protocolos: protocolos de centrais regulatórias e de serviços de atendimento móvel à urgência (SAMU) que contivessem fluxos e protocolos relacionados à saúde mental de municípios que estabelecem serviços de referência em atenção à crise, publicados entre 2006 e 2016.

Os documentos analisados apresentaram um contraste discursivo, enquanto uns evocam uma terminologia referente à reforma psiquiátrica, outros se referiam a uma terminologia que remetia ao diagnóstico psiquiátrico. Com base na análise, foram identificados três formas de organização dos serviços em relação a atenção à crise a partir do binômio centralização x não centralização.

A primeira categoria de organização é aquela em que o atendimento é centralizado em um serviço especializado. Nele o conhecimento biomédico é hegemônico, há maior concentração de poder e menor articulação com a rede. As principais abordagens utilizadas são aquelas voltadas para a estabilização. Encontra-se em prontos-socorro de psiquiatria e no próprio hospital psiquiátrico, principais referências para a rede em situações de crise.

A segunda categoria são as redes com atenção centralizada, no entanto com uma boa capacidade de articulação. Permitindo que outros tipos de serviço, como o CAPS, sejam consideradas. Enquanto o terceiro modelo parte do referencial de que toda a rede deve realizar o cuidado à crise. As abordagens devem ser orientadas por um projeto que preveja as situações de crise, possibilitando diferentes abordagens com corresponsabilização dos serviços especializados, atenção básica, emergência, etc.

“No Brasil, a existência de concepções antagônicas que correspondem ao mesmo fenômeno,coloca em evidência as disputas de sentido teóricas e das práticas não só sobre a noção de crise, mas sobre as diferentes abordagens em saúde mental. Um dos dispositivos capazes de evidenciar essas disputas são os protocolos e documentos institucionais que servem como instrumentos norteadores de práticas de gestão e de cuidado em saúde mental.”

No entanto, essa última categoria apresenta dificuldades em ser desenvolvida, especialmente porque cada um dos serviços apresentam linguagem e dispositivos muito diferentes do que é usado pela saúde mental. A maioria dos casos atendidos pelo SAMU em Aracaju, por exemplo, são por motivos de “agitação” e conduzidos a prontos-socorros de urgência. Aos CAPS são levados apenas 1,1% dos casos. O que permite inferir que a rede de urgência/emergência funciona como redes paralelas ao sistema assistencial em saúde mental.

Os autores chamam a atenção para a tríade SAMU – Unidade de pronto atendimento -hospital psiquiátrico, acabar culminando na internação psiquiátrica, independentemente do sujeito em crise estar vinculado a algum CAPS. Essa situação acaba ocasionando no desenvolvimento da noção de que a rede substitutiva é alternativa e de baixa capacidade resolutiva.

O artigo evidencia os desafios da Reforma Psiquiátrica quanto a atenção à crise e os jogos de poder existentes dentro da rede. Reafirmando a importância de uma forma de abordagem à crise construída em rede, com ênfase nos serviços comunitários, de maneira interdisciplinar. Há a necessidade de se desenvolver outras formas de lidar com a crise, desmistificando a ideia de que apenas o hospital psiquiátrico é capaz de lidar com esses tipos de casos.

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DIAS, Marcelo Kimati; FERIGATO, Sabrina Helena; FERNANDES, Amanda Dourado Souza Akahosi. Atenção à Crise em saúde mental: centralização e descentralização das práticas. Ciênc. saúde coletiva,  Rio de Janeiro ,  v. 25, n. 2, p. 595-602,  Feb.  2020 (Link)

Gaslighting: devemos rotular as vítimas como psicóticas ou abusadas?

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Numa reunião social, uma mulher fica inexplicavelmente em pânico e histérica; seu marido suavemente a leva para longe do olhar do público. Para os espectadores desinteressados, ela parece ser um desastre emocional, ele um protetor nobre. Eles respeitam o seu cavalherismo, talvez tenham um pouco de pena dele. Em segurança, em casa, sua exasperação brota: “Se eu pudesse entrar naquele seu cérebro e entender o que faz você fazer essas coisas loucas e distorcidas!” No entanto, sabemos do que sua esposa nem suspeita: que ele próprio tem lentamente plantado as sementes de sua angústia e insegurança e está planejando tirá-la de si.

A cena vem do filme de 1944 de Ingrid Bergman, Gaslight, a segunda adaptação cinematográfica de uma peça teatral antiga. Nela, a personagem de Bergman, Paula, é pouco a pouco manipulada pelo marido para acreditar que está perdendo a cabeça. Ele move objetos pela casa para confundi-la, rouba seus pertences enquanto afirma que ela os perdeu, e seus misteriosos e secretos empreendimentos no sótão fazem as luzes piscarem e escurecerem, o que só Paula vê, fazendo com que ela duvide da sua própria sanidade mental. O título do filme, portanto, diz respeito a essa forma de abuso psicológico, ‘gaslighting’.

Essencialmente, gaslighting é um termo usado na psicologia para descrever o abuso psicológico que resulta quando uma pessoa tenta convencer a outra de que ela é louca. No filme, o espectador está plenamente ciente de que Paula não é louca e que seu marido não é uma boa pessoa. No entanto, isso não é aparente para as pessoas ao seu redor, incapazes de ver o que está acontecendo a portas fechadas em sua casa. Na verdade, quando ela está fora de casa e com o marido muitas vezes ele faz um truque ou dois, para que ele possa mostrar a sua confusão, estresse e histeria às testemunhas, como se tudo isso fizesse parte de uma trágica queda de Paula na loucura. A própria Paula confia em tudo isso e não consegue entender o que está acontecendo.

À medida que o filme avança e sua ‘condição’ imaginada se deteriora, seu marido informa que dois psiquiatras virão para examiná-la e assim poderem levá-la para receber a ‘ajuda’ de que precisa – ou seja, para leva-la a viver em um asilo psiquiátrico. Felizmente, sendo Hollywood e Ingrid Bergman uma detetive bonita e observadora, o personagem de Ingrid Bergman suspeita do que está acontecendo, chega em cima da hora antes que ela possa ser institucionalizada. A questão é, porém, o que teria acontecido se os médicos chegassem lá antes da detetive? Eles teriam diagnosticado Paula como louca, ou haveria uma chance de que eles percebessem que ela era vítima de uma campanha de abuso emocional e psicológico nas mãos do homem que ela achava que a amava?

Tendo conseguido escapar de um relacionamento psicologicamente abusivo, infelizmente apenas depois de anos de ‘tratamento’ dentro do sistema psiquiátrico, eu argumentaria fortemente que eles quase certamente não teriam reconhecido a manipulação. Os psiquiatras, com a importância que colocam nos rótulos dos diagnósticos, em vez de descobrir as causas principais do sofrimento, têm pouca chance de perceber quando o comportamento é resultado do abuso de outras pessoas. Meu parceiro também foi capaz de convencer a mim e àqueles que estavam ao meu redor que eu estava louca, que eu não tinha discernimento e que minhas preocupações (inclusive sobre ele) eram manifestações de meus ‘delírios paranoicos’.

Começou quando tentei deixá-lo pela primeira vez. Não tendo família a quem recorrer, eu não tinha para onde ir, e o estresse de tudo isso me levou a desmoronar. Meu parceiro me levou a um médico. Eu estava exausta principalmente depois de semanas bebendo muito e da falta de sono, mas o clínico geral me encaminhou a um psiquiatra. Vejo como isso pode acontecer: as orientações do NHS sobre o que observar como indicadores de psicose incluem: alucinações; delírios; pensamentos confusos e perturbados; e falta de discernimento e autoconsciência *. Como se vê, pode-se esperar que o mesmo resulte de uma combinação doentia de insônia, embriaguez e difamação constante. Curiosamente, essas são todas as características que um médico também teria visto em Paula.

O gaslighting que eu experimentei acelerou quando comecei o tratamento no sistema psiquiátrico. Meu parceiro se posicionava como meu cuidador e meus amigos costumavam me dizer que, considerando minha ‘condição’, eu deveria estar agradecida por ter alguém por perto tão dedicado ao meu bem-estar. Essa condição nunca foi questionada por ninguém. Meu parceiro me acompanhava a consultas psiquiátricas, onde os profissionais o ouviam com simpatia, valorizando sua perspectiva sã. Ele também me aconselhava dizendo que um grande problema que eu tinha era a falta de discernimento e que ele poderia me ajudar a ver as coisas corretamente. Tanto controle ele tinha sobre mim e sobre a minha chamada doença que ele até assumiu a responsabilidade de monitorar os medicamentos antipsicóticos que eu estava tomando. Ele se assegurava que eu nunca deixasse de toma-los, exceto nas noites em que ele queria que eu me juntasse a ele para beber; nessas ocasiões, ele generosamente me permitia uma noite de folga dos comprimidos. Quando o acusava de tentar ser meu médico, ele ficava bravo e eu deixava para lá – afinal, ninguém mais do que eu iria considerar que o problema pudesse ser algo fora da minha própria biologia. Se eu tentasse novamente deixá-lo, ele diria aos meus amigos que eu estava tendo uma recaída, e isso era aceito por todos, novamente me deixando sem a quem procurar por apoio.

Levei muito tempo para me dar conta de que estava sendo vítima do fenômeno chamado de ‘gaslighting’. De fato, eu não tinha palavras para descrever a experiência até anos depois de finalmente haver escapado dela, quando me deparei com o termo por acaso. O que é pior, sempre que falo agora com os meus atuais amigos sobre o meu relacionamento no passado, fico horrorizada ao descobrir como são comuns os relacionamentos manipulativos. Felizmente, a maioria dos que compartilharam suas experiências comigo têm famílias que os ajudaram a escapar. Eu não. As únicas pessoas a quem eu poderia pedir ajuda eram os psiquiatras, porque no Reino Unido o sistema médico é para onde você é enviado com ‘sintomas’ como os meus. Eu nunca posso voltar atrás e provar que estava sofrendo de ‘gaslighting’, desse tipo de manipulação psicológica, por isso estou ainda hoje presa a um diagnóstico psiquiátrico. Existe uma ideia risível de que as condições de saúde mental dependem da susceptibilidade de cada um, que sim, nossas experiências têm impacto sobre nossas mentes, mas nem todo mundo reage psicoticamente, por isso faz sentido rotular àqueles que assim reagem como eles tendo algum desequilíbrio químico subjacente. No entanto, quem poderia experimentar o nível de controle de um parceiro como eu sofri – ou o trauma que Paula sofre no filme – sem emergir traumatizado?

Então, o que pode ser feito com respeito a esse problema? O fenômeno do ‘gaslighting’ tornou-se muito mais conhecido recentemente, e isso é progresso. As vítimas precisam de uma palavra para descrever o que lhes está sendo feito, para saber que está errado e que podem escapar. Além disso, popularizar o termo significa que mais pessoas passem a enxergar o disfarce do agressor e passem a dar apoio à vítima. Isso irá exigir uma conscientização mais ampla sobre o fato de que os rótulos de diagnóstico não são validados cientificamente e são, na melhor das hipóteses, opiniões subjetivas de médicos que não veem o paciente na realidade do mundo ao seu redor. Enquanto isso, o sistema precisa mudar para evitar a recorrência do que aconteceu comigo. “Controlar ou agir de forma coercitiva em um relacionamento íntimo ou familiar” agora é um crime na Inglaterra e no País de Gales e que leva uma sentença de prisão. O sistema de saúde precisa recuperar o atraso; os psiquiatras devem parar de ficar cegos para qualquer coisa, exceto para os rótulos de diagnóstico, como os que ativamente vieram a favorecer ao meu parceiro em seu abuso, e perceber que consequências psicológicas graves e de longo prazo podem ser causadas por vários abusos traumáticos cometidos a portas fechadas, e não apenas os óbvios.

Esse problema não afeta exclusivamente às mulheres, mas os pesquisadores reconhecem um aspecto de gênero no fenômeno ‘gaslighting’, dada a frequência com que na sociedade as respostas de uma mulher a determinadas situações são consideradas como irracionais e super emocionais, enquanto se supõe que os homens tenham o monopólio da razão. Para uma mulher que nunca foi ouvida quando mais importava, agora é quase impossível imaginar contar com um psiquiatra acredite na minha história e corrija o erro de me haverem rotulado, uma etiqueta que vem causando tantos problemas em minha vida, mesmo depois de eu ter conseguido me livrar do meu relacionamento abusivo. Essencialmente, o que o campo psiquiátrico precisa fazer é ouvir, e não apenas isso, mas ouvir e realmente acreditar nas experiências das pessoas.

Ainda não tenho ideia se a manipulação do meu parceiro foi deliberada ou se ele realmente acreditava que eu estava doente. O marido assassino de Paula no Gaslight é claramente maligno, mas de qualquer forma o resultado é o mesmo: a manipulação causa intenso sofrimento e danos. O marido de Paula por fim recebeu a sua punição. Não existe um conto de fadas para muitas vítimas da vida real que têm que tentar provar sua sanidade em face de algo tão perniciosamente abusivo quanto o ‘gaslighting’.

* Nota do editor: no momento da redação deste blog, as orientações do NHS on-line identificavam quatro principais indicadores de psicose, incluindo “falta de percepção e autoconsciência”. Esta informação foi atualizada em dezembro de 2019 para limitar os principais sintomas a alucinações, delírios e pensamentos confusos ou perturbados.

[Originalmente publicado em Mad in the UK. Trad. Fernando Freitas]

A Coisa Mais Perigosa que Você Jamais Deve Fazer

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A coisa mais perigosa que você fará é consultar um psiquiatra.

Por quê? Como há quase certeza, você receberá um medicamento psiquiátrico neurotóxico ou até um eletrochoque; e porque as informações fornecidas a você o enganarão totalmente sobre seus problemas reais e como superá-los. Sem perceber o que está acontecendo, você estará seriamente em risco de se tornar prisioneiro de drogas psiquiátricas por toda a vida e das desinformações desmoralizadoras fornecidas pelo seu médico.

Sou psiquiatra e vejo minha profissão se deteriorando há muitas décadas. Esta é a minha declaração escrita mais direta sobre os perigos de entrar no consultório de um psiquiatra moderno. Minhas conclusões são o culminar de montanhas de pesquisas feitas por mim e por um número crescente de outros psiquiatras, cientistas e jornalistas.[1]

Como as drogas psiquiátricas tornam a sua mente prisioneira

Quando o cérebro é danificado por quase qualquer invasão generalizada – concussões múltiplas e lesão cerebral traumática (TCE), infecções graves (encefalite), quedas de raios ou tratamento com eletrochoques e drogas psiquiátricas – o resultado final é um dano generalizado ao funcionamento mental. Essas lesões globais sempre incluem danos aos lobos frontais, sede da consciência, da racionalidade, da capacidade de amar e de todas as nossas outras capacidades humanas mais elevadas.

Lesões nos lobos frontais, cujas funções também incluem auto-conhecimento ou autoconsciência, tornam as vítimas incapazes de avaliar pessoalmente o grau de dano que lhes está sendo causado. Eu chamei esse efeito magia do medicamento – como as drogas psiquiátricas nos tornam incapazes de compreender completamente o mal que estão causando a nós.[2]

Todas as drogas psiquiátricas são neurotoxinas potentes que perturbam a tal ponto o funcionamento mental e a regulação emocional que as pessoas que as tomam quase nunca têm consciência adequada de quanto dano as drogas estão causando ao seu corpo, cérebro e mente, sua energia e força de vontade e sua qualidade geral de vida.

Praticando psiquiatria e psicoterapia em uma cidade universitária, frequentemente encontrei essas deficiências em pessoas que funcionavam muito bem antes. Estudantes universitários e de pós-graduação com alto desempenho acadêmico, professores universitários, matemáticos e cientistas quase sempre mal suspeitam ou não suspeitam absolutamente nada de que não estão funcionando da melhor maneira possível. Suas neurotoxinas (erroneamente chamadas de antidepressivos, estimulantes, anti-ansiedade, estabilizadores de humor ou antipsicóticos) estão deteriorando suas habilidades cognitivas, motivacionais e sensibilidade emocional.

Com ajuda, eles podem identificar o declínio em seu desempenho geral e qualidade de vida; e, se não forem bombardeados com vários medicamentos por anos seguidos, normalmente obtêm recuperação completa após a retirada dos medicamentos. Quando livres de drogas, eles podem ver a melhora em seu funcionamento mental e na qualidade de vida. Tragicamente, isso não é verdade para dezenas de milhões de pessoas que nunca percebem como estão sendo prejudicadas por seus medicamentos psiquiátricos.

Sintomas de abstinência tornam extremamente difícil a retirada das drogas

Ao interromper os medicamentos psiquiátricos por conta própria, as pessoas podem experimentar sintomas de abstinência perigosos e assustadores, como ansiedade, agitação, depressão e sentimentos suicidas, levando-os por engano a acreditar que precisam dos medicamentos para se manterem saudáveis.[3]

Enganados por seus médicos de inúmeras maneiras, acreditando que precisam de ajuda médica, desconhecendo os perigos de interromper abruptamente os medicamentos, convencidos de que estão ‘doentes mentais’ quando são mentalmente prejudicados por neurotoxinas – essas pessoas infelizes compreensivelmente não podem se libertar da prisão do sistema psiquiátrico no qual elas estão inconscientemente presas.

Quanto mais drogas são prescritas para essas vítimas, mais difícil fica para elas apreciarem o que está acontecendo com elas ou reunir a força de vontade para protestar. Embora falem e andem como zumbis, algumas pessoa se apegam à medicação. Seus cérebros são muito prejudicados pelas neurotoxinas para que elas saibam o que está acontecendo com elas e se sentem intimidadas demais para tentar viver sem os mesmos produtos químicos que os estão destruindo.

Enquanto isso, os psiquiatras frequentemente encobrem o que está acontecendo, dizendo a seus pacientes e suas famílias que os medicamentos são necessários e que os sintomas óbvios de lesão cerebral são produtos da suposta doença mental do paciente. Na minha experiência, os piores psiquiatras são frequentemente os mais prestigiados, com cargos em lugares como o Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) e nas faculdades de medicina das universidades. Por quê? Porque eles estão entre os mais beneficiados pelas empresas farmacêuticas.

A própria psiquiatria é uma espécie de prisioneiro

A própria psiquiatria tornou-se uma próspera prisioneira do império farmacêutico. Juntamente com as falácias de sua orientação médica e tratamentos médicos, o fato de estar submetida aos contratos com as empresas farmacêuticas vem causando grande parte do drástico declínio da psiquiatria nas últimas décadas.[4]

Para começar a remediar a psicofarmacologia predominante dirigida por empresas farmacêuticas, desenvolvi o que chamo de “princípios da psicofarmacologia racional”. [5] É baseado no princípio incapacitante do cérebro, [6] que todas as substâncias psicoativas, incluindo as psiquiátricas, só podem produzir os efeitos procurados danificando a função do cérebro e da mente, geralmente diminuindo a capacidade de resposta emocional e o engajamento com a vida. O mesmo, é claro, é verdadeiro no tratamento com choque elétrico.

Os psiquiatras são mais bem informados do que os médicos da atenção primária?

Como a maioria das drogas psiquiátricas é prescrita por médicos da atenção primária – incluindo médicos de família, médicos internistas, ginecologistas, pediatras – algumas pessoas têm mais precaução com esses profissionais do que com os psiquiatras. As pessoas acham que os psiquiatras sabem mais sobre os medicamentos e que os prescreverão com mais segurança. Essa crença comum é perigosamente falsa.

Como um grupo, os psiquiatras são de longe os prescritores mais arrogantes e sem cerimônia no campo da medicina. Geralmente, eles fazem coisas que seu médico de família consideraria estar além do nível de sua habilidade e até da prudência, como iniciar pacientes em vários medicamentos ao mesmo tempo, administrar vários medicamentos em doses máximas ou mais altas, trocar e interromper medicamentos sem plano de como reduzir, e costumam ficar zangados quando seus pacientes reclamam ou querem ajuda para diminuir doses ou interromper os medicamentos.

Menos comumente, mas pelo menos tão angustiante, muitos psiquiatras ainda encaminham as pessoas para o choque elétrico ou o administram na unidade psiquiátrica local, onde o tratamento de choque gera muito dinheiro para o médico que o aplica, para o anestesista e para o hospital.

Isso não é exagero. Ir a um psiquiatra é a coisa mais perigosa que se possa fazer. E como psiquiatra, aconselho que não vá, a menos que você tenha provas positivas de que o psiquiatra conversará com você em vez de drogar ou aplicar um choque em você – o que é altamente improvável.

A maioria dos psiquiatras não tem formação adequada e pouco interesse em conversar com as pessoas sobre suas vidas e sobre como viver de forma mais eficaz e feliz. Eles não sabem fazer psicoterapia e são inerentemente inadequados por causa de seu autoritarismo e falta de empatia. Além disso, eles têm crenças falsas sobre causas genéticas e biológicas, e sobre a utilidade das drogas, que destroem o próprio cérebro dos pacientes e comprometem a autoconfiança, a autonomia e a compreensão de seus problemas.

Psiquiatras são extremamente ignorantes sobre a vida

Poucos psiquiatras têm consciência de que um relacionamento positivo é a maneira mais segura e eficaz de ajudar alguém que sofre emocionalmente, independentemente da gravidade de seu diagnóstico psiquiátrico. Para que alguém possa realmente ajudar outro ser humano com problemas emocionais ou ‘transtornos psiquiátricos’, deve primeiro entender o poder da empatia e do amor. Eles devem entender e abordar o trauma e a negligência na infância, subjacentes a tantos sofrimentos e incapacidades aparentemente intratáveis dos adultos. Eles devem entender como os fatores sociais afetam as experiências de crianças e adultos e como pode ser difícil criar relacionamentos igualitários e amorosos entre homens e mulheres.

Em outras palavras, para saber o que estão a fazer, os psiquiatras precisariam de uma educação ampla, um entendimento do desenvolvimento infantil e da psicologia do apego, insights sobre a vida na família e a sociedade, um entendimento de abuso e trauma e outros conhecimentos sobre por que e como as pessoas precisam de ajuda para a sua vida emocional e psicológica, porque às vezes caem em desespero ou psicose. Quase nada disso é ensinado no currículo médico da faculdade e na residência psiquiátrica – tornando muitos psiquiatras menos informados sobre a vida do que a maioria de seus pacientes que têm alguma curiosidade sobre psicologia e que não foram rigorosamente doutrinados e introduzidos no santuário interno da psiquiatria biológica.

Como eles sabem muito pouco e têm muito pouco a oferecer, os psiquiatras devem baixar o nível e orientar mal a si mesmos e a seus pacientes sobre o que realmente faz as pessoas sofrerem e o que realmente as ajuda a recuperar e levar uma vida boa. Em vez de sabedoria e compreensão, eles se baseiam na banalidade dos diagnósticos e medicamentos. A grande maioria dos psiquiatras não conhece outra maneira de ganhar a vida a não ser atuar como máquinas de dispensação de medicamentos, a amontoar vários pacientes em uma hora para ‘atualizar os procedimentos’ e a coletar um fluxo constante de reembolsos das empresas de planos de saúde e a preencher as folhas de controle dos planos governamentais de saúde.

Além de sua ignorância, há outra poderosa razão pela qual os psiquiatras sabem tão pouco sobre seus pacientes e o que precisam. As pessoas que controlam e abusam de outras pessoas estão sempre dispostas a ter compreensão, empatia e preocupação por elas. Isso não era nada mais óbvio do que no assassinato sistemático e organizado das dezenas de milhares de pacientes mentais pela psiquiatria na Alemanha, no que foi chamado de “o caminho inicial” ou protótipo para o Holocausto. [7] Mesmo que os psiquiatras de hoje tenham sido atenciosos e empáticos em sua juventude, seus anos de treinamento e os abusos que eles cometeram sobre seus pacientes os tornaram incapazes de oferecer serviços humanos informados, empáticos, atenciosos e até amorosos.

Como médicos que aplicam choque tornam a fuga totalmente impossível
Mesmo quando o cérebro e a mente dos pacientes estão sendo obliterados pela terapia eletroconvulsiva contínua (ECT), geralmente junto com vários medicamentos, os médicos aplicadores de choque mentem regularmente dizendo que a perda maciça de memória e a disfunção cognitiva são o resultado de sua  ‘doença mental’ [8]. Os pacientes ficam tão confusos e desamparados que geralmente necessitam que um membro da família indignado intervenha para parar o eletrochoque e as drogas.
Como especialista médico agindo em processos legais contra psiquiatras que realizam ECT, eu já vi essa situação desanimadora documentada muitas vezes nos registros médicos e nos depoimentos dos médicos. Felizmente, meu relatório científico em um caso de 2018 contra um fabricante de aparelhos de ECT recentemente contribuiu para forçar um acordo e a um reconhecimento do fabricante de medicamentos de que a ECT pode causar danos cerebrais e perda generalizada de memória.[9] Mas ainda temos um longo caminho a percorrer antes que essa atrocidade seja interrompida.

O risco de ficar fisicamente bloqueado

Em qualquer lugar dos Estados Unidos, e provavelmente em qualquer parte do mundo, qualquer psiquiatra em um quadro de emergência pode preencher um formulário que exigirá que as autoridades policiais prendam o(a) paciente. [10] Às vezes, também pode ser necessária uma segunda assinatura profissional, mas que dificilmente é achada. A base técnica para esse processo inconstitucional e desumano é geralmente que o psiquiatra acha que você é um “perigo para si ou para os outros”, embora não haja evidências de que os psiquiatras sejam particularmente bons em fazer esse palpite.

Uma vez internado, você se torna peça fácil para que a sua internação involuntária seja autorizada por um juiz de plantão. O paciente / réu quase sempre está drogado com a prescrição dada pelo psiquiatra e angustiado demais para se defender ou para parecer normal ao ser avaliado nessas audiências, o que provavelmente é a coisa mais próxima de um genuíno tribunal onde os direitos básicos são ignorados.[11]

A psiquiatria é uma realidade alternativa

A psiquiatria criou uma realidade alternativa ou um estado de exceção para si [12], com base em slogans de marketing de empresas farmacêuticas, ciência falsa, medicina falsa e alegações fabricadas de conhecimento superior. A psiquiatria criou para si uma realidade alternativa ou um estado de exceção que é mais bizarro e irreal do que os da maioria dos pacientes que afirmam estar a ajudar. Na visão de mundo da psiquiatria, as pessoas são quase inanimadas e destituídas de todas as qualidades humanas superiores – pelo menos no que diz respeito ao motivo pelo qual estão infelizes ou sofrendo. Em vez de serem entendidas como seres humanos em dificuldades, em essência não sendo diferentes de qualquer outra pessoa que tenta dar um jeito em sua vida, os psiquiatras veem seus ‘pacientes’ como afetados por doenças comparáveis às doenças malignas do cérebro.

Assim como pacientes com câncer recebem drogas ou radiação altamente tóxicas, o ‘dano colateral’ é amplamente ignorado ou negado no esforço de eliminar a malignidade e manter o status do médico. Ao contrário dos pacientes com câncer, as neurotoxinas são direcionadas e infligidas a tecidos cerebrais totalmente normais, dificultando ainda mais as pessoas que já estão tendo dificuldades para gerenciar suas vidas.

É uma ironia profundamente trágica: as realidades pessoais da maioria das pessoas que veem psiquiatras não são tão alternativas, extremas ou perigosas para os outros quanto as realidades alternativas da grande maioria dos psiquiatras que vivem dentro de uma rede de auto-ilusões para justificar o envenenamento e a danificação do cérebro das pessoas que procuram ajuda.

Comparando o bem e o mal

Em 19 de fevereiro de 2020, Mary Neal Vieten, PhD, comandante aposentada da Marinha, fundadora e diretora da WarFighter Advance, foi minha convidada no meu horário semanal de rádio / TV. O WarFighter Advance é o melhor programa que conheci para ajudar soldados que retornam sofrendo as cicatrizes emocionais da guerra, juntamente com os efeitos neurotóxicos de várias drogas psiquiátricas. Os médicos militares costumam dar uma dúzia ou mais de medicamentos psiquiátricos ao mesmo tempo para muitos desses soldados. No entanto, o treinamento e a educação do WarFighter Advance ajudam quase todos a deixar seus medicamentos para trás, enquanto constroem uma vida melhor para si.

Com seminários intensivos, incluindo a influência de um dos meus livros [13], a comandante Vieten educa seus colegas militares sobre os perigos das drogas psiquiátricas e como retirá-los com segurança. Seu programa WarFighter Advance também ensina a seus clientes como conceitos médicos como ‘doença mental’ e desequilíbrios bioquímicos são falsos e desmoralizantes.

Seu trabalho impressionante e sua apresentação na minha hora de rádio / TV me inspiraram a dizer isso diretamente no ar: como um grupo, os psiquiatras são as pessoas mais estúpidas da Terra em relação aos seres humanos. Eles precisam ser estúpidos com relação às pessoas para continuar prejudicando-as sem sentir culpa, vergonha e ansiedade pelo que fazem.

Onde e como obter ajuda

Se você precisar de ajuda para problemas de saúde mental ou psicológico, uma das coisas mais perigosas que você pode fazer é optar por procurar um psiquiatra. Se você quiser ajuda profissional, procure profissionais não médicos, como assistentes sociais clínicos, psicólogos clínicos, terapeutas de casamentos e de famílias ou conselheiros de saúde mental, p.e.

Leia o que os terapeutas dizem sobre si mesmos em seus sites da Internet ou em plataformas que anunciam terapeutas. Pergunte a si mesmo: “Essa pessoa parece gentil e atenciosa, será que é alguém que será um ouvinte atencioso e empático e que possui sabedoria e experiência para compartilhar?”

Acredito que um bom terapeuta deva ser tão útil na primeira visita que você sinta vontade de voltar para a próxima sessão e que você deve estar livre de drogas o suficiente para aproveitar e se beneficiar da ajuda.

Notas de  Pé de Página:

  1. Here is a sample of the many professional and scientific books that are deeply critical of psychiatry:Breggin, Peter. (2013). Psychiatric Drug Withdrawal: A Guide for Prescribers, Therapists, Patients and their Families. New York: Springer Publishing CompanyBreggin, Peter. (2008a). Medication Madness: The Role of Psychiatric Drugs in Case of Violence, Suicide and Crime. New York: St. Martin’s Press.

    Breggin, Peter. (2008b). Brain-Disabling Treatments in Psychiatry: Drugs, Electroshock, and the Psychopharmaceutical Psychiatry. New York: Springer Publishing Company.

    Breggin, Peter. (1991). Toxic Psychiatry: Why Therapy, Empathy and Love Must Replace the Drugs, Electroshock, and Biochemical Theories of the New Psychiatry. New York: St. Martin’s Press.

    Gøtzsche, Peter. (2015). Deadly Psychiatry and Organised Denial. Copenhagen: ArtPeople.

    Gøtzsche, Peter. (2013). Deadly Medicines and Organised Crime: How Big Pharma Has Corrupted Healthcare. London: Radcliffe.

    Kirsch, Irving. (2010). The Emperor’s New Drugs: Exploding the Antidepressant Myth. Boston: Perseus.

    Moncrieff, Joanna. (2013). The Bitterest Pills: The troubling story of antipsychotic drugs.Basingstoke, Hampshire, UK: Palgrave Macmillan.

    Moncrieff, Joanna. (2008). The Myth of the Chemical Cure: A critique of psychiatric drug treatment. Basingstoke, Hampshire, UK: Palgrave Macmillan.

    Whitaker, Robert. (2010). Anatomy of an Epidemic: Magic Bullets, Psychiatric Drugs, and the Astonishing Rise of Mental Illness in America.

    Whitaker, Robert. (2001). Mad in America: Bad Science, Bad Medicine, and The Enduring Mistreatment of the Mentally Ill. Boston: Perseus Publishing.

  2. Breggin, Peter. (2007). Intoxication anosognosia: The spellbinding effect of psychiatric drugs. Journal of Risk and Safety and Medicine, 19, 3-15. http://breggin.com/studies/Breggin2007.pdfAlso see Breggin 2008a&b and 2013 listed in footnote 1 above
  3. See Breggin 2013 listed in footnote 1 (above) for how to safely taper psychiatric medications. Psychiatric drug withdrawal can be very dangerous, even life-threatening, and should be done with experienced clinical supervision
  4. See footnote 1 for a list of books about psychiatry’s unholy partnership with the pharmaceutical industry and how psychiatry’s identity as a specialty of medicine has made it irrelevant and dangerous in respect to helping people with so-called mental illnesses or psychiatric problems
  5. Breggin, Peter. (2016). Rational principles of psychopharmacology for therapists, healthcare providers and clients. Journal of Contemporary Psychotherapy, 46, 1-13. http://breggin.com/wp-content/uploads/2008/06/Breggin2016_RationalPrinciples.pdf
  6. For the brain-disabling principle of psychiatric treatment, see Breggin, 2013, 2008a and 2008b in footnote 1 (above).
  7. For a discussion of how psychiatrists objectify people and lose their empathy, see Breggin, Peter. (1993). Psychiatry’s role in the holocaust. International Journal of Risk & Safety in Medicine, 4, 133-148. http://breggin.com/wp-content/uploads/2008/01/psychiatrysrole.pbreggin.1993.pdf
  8. See my free ECT Resource Center at www.123ECT.org and Breggin 2008b, listed in footnote 1 (above).
  9. Breggin, Peter. (October 23, 2018). Huge Breakthrough in Lawsuits Against ECT Shock Device Manufacturers. Mad in America. https://www.madinamerica.com/2018/10/huge-breakthrough-ect-lawsuit/
  10. Szasz, Thomas. (1997). Psychiatric Slavery: When Confinement and Coercion Masquerade as Cure. New York: Free Press.
  11. Haddad, L. (1985). Predicting the Supreme Court’s Response to the Criticism of Psychiatric Predictions of Dangerousness in Civil Commitment Proceedings. 64 Neb. L. Rev. 215.
  12. Alternative state and extreme state are less pejorative ways of describing psychoses. For use of the terms, see Cornwall, Michael. (2019). Merciful love can help relieve the emotional suffering of extreme states. Journal of Humanistic Psychology, 59(5) 665–671 and Breggin, Peter. (2019). Extreme psychospiritual states versus organic brain disease: Bringing together science and the human factor. Journal of Humanistic Psychology, 59, 686-696.
  13. Breggin, Peter and Cohen, David. (1999). Your Drug May Be Your Problem: How and Why to Stop Taking Psychiatric Medications. Cambridge, MA: Perseus Books.

 

[trad. Fernando Freitas]

Disfunção Sexual Pós-Uso de Antidepressivos

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Acaba de ser publicado em The British Medical Journal, o que os antidepressivos produzem em seus usuários em termos de saúde sexual. Com não pouca frequência, são dificuldades sexuais após o tratamento, que são muitas vezes irreversíveis.

“Dificuldades sexuais após o tratamento com inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) foram relatadas pela primeira vez às agências de regulação de medicamentos em 1991, mas somente em 2006 esses sintomas foram formalmente caracterizados como uma síndrome, agora conhecida como disfunção sexual pós-ISRS.

“Em maio de 2019, o comitê de avaliação de risco de farmacovigilância da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) concluiu que a disfunção sexual pós-ISRS é uma condição médica que pode persistir após a descontinuação dos ISRS e inibidores da recaptação da serotonina-noradrenalina (IRSNs). Um mês depois, a EMA recomendou que as informações do produto sobre todos os antidepressivos relevantes fossem atualizadas para refletir os relatos de disfunção sexual a longo prazo após o término do tratamento.

“A disfunção sexual pós-ISRS é sub-reconhecida e pode debilitar tanto psicológica quanto fisicamente. Os sintomas incluem dormência genital, diminuição do desejo sexual (libido), disfunção erétil, falha na excitação ou orgasmo, orgasmo fraco ou desprazeroso e ejaculação precoce. As alterações sensoriais podem se estender além da área genital …”

Para ver a matéria na íntegra, clique aqui →

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[Se você fizer uma busca em nosso site, você encontrará várias referências a essa síndrome.

Senão, basta clicar na página central da página do MIB, à esquerda, em links importantes] →RxISK  

Demandas de Saúde Mental em Unidades do Degase

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A demanda de saúde mental em duas unidades socioeducativas do Rio de Janeiro é o tema do artigo publicado na revista Ciência & Saúde Coletiva. O objetivo é analisar os discursos dos profissionais de saúde mental das unidades através de entrevistas, identificando quais necessidades dos adolescentes internados são consideradas demandas de saúde mental.

Alguns dados chamam a atenção, entre os adolescentes em conflito com a lei é recorrente os diagnósticos de transtorno mental, chegando até mesmo, em alguns estudos, a 100% dos internados apresentarem algum tipo de diagnóstico psiquiátrico.

O Estatuto da criança e do adolescente prevê a medida socioeducativa para adolescentes em casos de atos infracionais. No Rio de Janeiro a gestão do sistema socioeducativo é realizada pelo Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase). Cada unidade deve ter uma equipe de saúde mental, a qual deve realizar ações de prevenção de agravos, escuta subjetiva e articulação com a rede de saúde mental. No entanto, as unidades vem enfrentando dificuldades, especialmente em relação a superlotação.

As autoras do artigo, Débora Stephanie Ribeiro, Fernanda M. L. Ribeiro e Suely F. Deslandes, entrevistaram profissionais de saúde mental de duas das seis unidades existentes no Rio de Janeiro, uma feminina e outra masculina. No total foram nove entrevistas semi estruturadas, realizadas em 2016. Os profissionais participantes foram 4 psicólogos, 2 assistentes sociais, 1 psiquiatra, 1 musicoterapeuta e 1 terapeuta ocupacional. Para a análise das entrevistas utilizou-se a Análise de Discurso Crítica (ADC).

A partir das entrevistas, notou-se que os maiores encaminhadores para a equipe de saúde mental é a equipe de medida. Formada por psicólogo, pedagogo e assistente social, são responsáveis por acompanhar os processos judiciais dos adolescentes e responsáveis pela elaboração de relatórios para as audiências.

Com a análise das entrevistas foi possível identificar quatro grupos discursivos, discurso psiquiátrico, discurso da reforma psiquiátrica, discurso dos determinantes sociais e o discurso institucional, relacionados aos “maus” comportamentos dos jovens.

O primeiro bloco discursivo apresenta uma forte intertextualidade com o discurso psiquiátrico, associando as demandas de saúde mental às mudanças bioquímicas no cérebro durante a adolescência. Por outro lado, o segundo bloco discursivo, apresenta uma negação do transtorno psiquiátrico, se preocupando com a não rotulação dos adolescentes, ao mesmo tempo em que reconhecem um sofrimento mental intenso.

Já o terceiro bloco discursivo está relacionado à situação de pobreza dos adolescentes, falta de supervisão das famílias e ausência de proteção social por parte do Estado. Por fim, o quarto bloco discursivo associa problema disciplinares a demandas de saúde mental. O uso de drogas ilícitas também apareceu nas entrevistas como demanda de saúde mental, no entanto, também aqui os discursos se alternam.

“É…enfim, eu acho que o que mais chega, é, garotos que dão problema. Aí você ai ver, na visão de quem dão problema?” (Entrevista 7)

“Numa casa super lotada, é fácil um garoto dar problema, entendeu. O que que é dar problema? O que que é dar problema numa unidade super lotada? é tirar a paz dos funcionários […]” (Entrevista 7)

As autoras concluem que existem concepções diferentes coexistindo no campo da saúde mental, porém o desafio é se aproximar do sofrimento sem se ligar a categorias pré-determinadas, com uma compreensão flexível e diversa, assim como nas estratégias de intervenção. É importante destacar a ausência de outros profissionais no encaminhamento, como os agentes socioeducativos. Além disso, há conflitos entre as equipes de medida e as equipes de saúde mental, quando a equipe de medida não sabe o que fazer quanto ao “mau” comportamento de um adolescente ela faz o encaminhamento para a equipe de saúde mental.

Talvez o fator mais importante encontrado na pesquisa é o pouco acesso direto dos adolescentes à equipe de saúde mental para apresentarem suas próprias demandas e como isso é atenuado nos discursos dos profissionais. Não seria importante que os principais interessados tivessem acesso livre a equipe de saúde mental, sem necessariamente passar pela equipe de medida?

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RIBEIRO, Débora Stephanie; RIBEIRO, Fernanda Mendes Lages; DESLANDES, Suely Ferreira. Discursos sobre as demandas de saúde mental de jovens cumprindo medida de internação no Rio de Janeiro, Brasil. Ciênc. saúde coletiva,  Rio de Janeiro ,  v. 24, n. 10, p. 3837-3846,  Oct.  2019. (Link)

Psiquiatria e sistema prisional

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Publicado em The Guardian. “Ela usava uma mistura de drogas, incluindo medicamentos usados para tratar ansiedade, antidepressivos, hipnótico para tratar insônia, tratamento para mania aguda e outro para controlar tremores causados por medicamentos antipsicóticos, segundo o inquérito”.

Mais um caso do que é feito quando a Psiquiatria é usada como meio de tratamento para as vicissitudes da vida. Um exemplo do que o tratamento psicofarmacológico pode, virtualmente, fazer com os que passam a ser “pacientes”, senão “vítimas” nas mãos de psiquiatras.

A ver o desfecho da história.

Matéria na íntegra→ 

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