SAÚDE MENTAL: A CONVICÇÃO DE OSMAR TERRA E O ATAQUE DO FASCISMO EM VASSOURAS (RJ)

0
1537

O 3º Levantamento sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira foi uma extensa pesquisa, feita pela FIOCRUZ por ter ganhado processo de licitação, que envolveu 500 pesquisadores aplicando 16 mil entrevistas em mais de 100 municípios de todo o país. A pesquisa iniciou-se em 2014 e em 2017 foi enviado à Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), à época ligada ao Ministério da Saúde. Envolveu profissionais de diferentes áreas, dentre entrevistadores de campo, pesquisadores da área de epidemiologia e estatística, e “compreendeu as seguintes fases: planejamento, estruturação, logística, treinamento, coleta de dados, apuração, ponderação, calibração, tabulação, análise de dados, escrita de relatórios e tradução para outros idiomas”. Foram utilizados 7 milhões de reais de um total de 8 milhões disponibilizados pelo órgão financiador e a prestação de contas aconteceu em julho de 2018.

Portanto trata-se de uma pesquisa robusta e metodologicamente reconhecida pelos órgãos de controle do próprio Ministério da Saúde, mas nunca foi reconhecida pela SENAD, embora a direção da FIOCRUZ assegure que “o 3° Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira cumpriu o proposto em edital, respeitando todo o rigor metodológico, científico e ético pertinentes a este tipo de estudo, produzindo informações de extrema importância para o país e a sociedade brasileira.”

Pois muito que bem, agora o ministro da Cidadania – onde a SENAD foi alojada, saindo do Ministério da Saúde – diz que não aceita o resultado da pesquisa da FIOCRUZ, por ter a “convicção” de que ela tem um “viés ideológico” para a liberação das drogas.

Temos diante da sociedade a convicção de um ministro proclamando a ignorância contra o resultado de uma pesquisa de um órgão competente e reconhecido, pelo motivo de que ele não concorda com os resultados da pesquisa. Dentre os resultados há a negativa de que existe uma epidemia de crack e a afirmação de que as drogas lícitas oneram muito mais que as drogas ilícitas o nosso sistema de saúde. Evidência, que para nós – que trabalhamos na área – a pesquisa só vem a confirmar.

O ministro Osmar Terra acaba de proclamar o reino da ignorância frente ao conhecimento científico. E já que o ministro, seguindo ao padrão ignorância desse governo, insiste em tentar esconder as evidências científicas, não há nada mais natural assistirmos, autorizados pelo fascismo reinante, os vereadores de Vassouras, cidade do Estado do Rio, destratarem os servidores do CAPS daquela cidade chamando-os de “vagabundos de esquerda”, proclamando não aceitar os dispositivos das residências terapêuticas e reafirmando o manicômio daquela cidade.

Embora todas as evidências científicas reconheçam a função dos dispositivos da Reforma Psiquiátrica em funcionamento há mais de 30 anos, o momento autoriza o ataque fascista e extemporâneo pela convicção fascista de que existe o “viés de esquerda” que eles vêm na diferença de entendimento da realidade. Ora, ser de esquerda é uma situação inaceitável para eles e em algum momento da sessão dos edis de Vassouras o orador conclama aos colegas a portarem fuzis (já que foram autorizados pela lei do Bolsonaro, mesmo que ainda não aprovada) para “dialogar” com a esquerda.

O ataque aos dispositivos da Reforma Psiquiátrica na cidade de Vassouras representa apenas o viés fascista que apareceu nas ruas na última manifestação a favor do autoritarismo (e não da reforma, como deturpou a mídia), um verdadeiro ataque ao conhecimento e à democracia.

Vivemos um momento muito perigoso. O fascismo se impõe pela força, não pelo diálogo. Não se iludam, só as ruas podem intimidar a canalha fascista. É necessária nossa reação política para defender a Reforma Psiquiátrica.