Nasce em Copenhague a rede Mad in the World para fortalecer nossa comunidade internacional de desmedicalização da vida

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Em outubro deste ano, foi realizado o encontro da rede “Mad in”. Pela primeira vez desde a criação da rede, representantes de todos os países participantes da comunidade se reuniram na cidade de Copenhague, na Dinamarca, durante três dias. A comissão brasileira foi formada por Paulo Amarante, Leandra Brasil e Camila Motta, e contou com o apoio do Centro de Estudos Estratégicos (CEE/Fiocruz) e do Mad in América.

Os membros da rede se conheciam apenas através de encontros virtuais, realizados uma vez por mês pela equipe do Mad in América. Ou de forma individual, como é o caso de Robert Whitaker  que participou de todos as edições do Seminário Internacional “A Epidemia das Drogas Psiquiátricas”, e Olga Runciman que já visitou algumas vezes o Brasil para participar de eventos como palestrante. O objetivo principal do encontro foi possibilitar o encontro de toda a rede para que se conhecessem pessoalmente.

Os participantes ficaram hospedados no Hotel Phoenix, um lindo hotel no estilo clássico, próximo ao canal de Nyhavn, um charmoso ponto turístico de Copenhague, onde barcos a vela descansam e formam a linda paisagem, cercada de bares e restaurantes ao redor do canal. Foi nesse ambiente encantador que reunião se deu. Pessoas de diferentes culturas, etnias, idiomas, reunidos na luta pela desmedicalização da vida e pelos direitos humanos, em prol das pessoas em sofrimento psíquico. Ali havia pesquisadores, professores, profissionais de saúde, sobreviventes da psiquiatria, familiares. Todos muito animados e curiosos com o que iria ser produzido ali.

Organizada pela equipe do Mad in América, estiveram reunidos colaboradores do Mad in Finlândia, Noruega, Suécia, Dinamarca, Itália, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Brasil, México, índia, Canadá, EUA e os ainda estão em desenvolvimento: Mad in Portugal e Mad in Grécia. Os únicos que infelizmente não puderam estar presentes foram Mad in Espanha e Locos em Argentina.

A reunião teve seu início na sexta-feira, dia 20 de outubro. No primeiro dia cada participante se apresentou e um integrante de cada “Mad in” falou sobre o trabalho, desafios, contexto cultural do Mad em seu país. Nesse momento, já foi possível perceber a diversidade que havia daquele encontro, ao mesmo tempo em que também havia similaridades entre todos. Apesar das diferenças culturais, políticas, jurídicas, todos citaram como a influência da narrativa norte americana do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) havia colonizado nossas culturas e influenciado no processo de medicalização da vida e das nossas sociedades.

A equipe do Brasil ganhou espaço para apresentar aos demais participantes o material que foi preparado sobre a reforma psiquiátrica brasileira, os projetos de arte e cultura, os projetos desenvolvidos a partir do Mad in Brasil e os desafios que a medicalização da vida apresenta para o contexto brasileiro. Chamou a atenção de todos que o Mad in Brasil esteja vinculado a Fiocruz, uma instituição pública de saúde, com uma equipe profissional não voluntária, ao contrário dos outros “Mad in” que não estão ligados a instituições e que possuem equipes voluntárias (menos o Mad in América, que tem uma equipe grande assalariada trabalhando com eles). O Brasil virou uma referência de como mudar as coisas por dentro das instituições e serviços, com políticas públicas e leis específicas em defesa das pessoas em sofrimento psíquico. Mas apesar de todo os avanços no contexto brasileiro, assim como os demais “Mad in”, a narrativa da patologização e do reducionismo neuroquímico está fortemente introduzidas na sociedade, e muitas vezes, nos serviços de saúde mental.

Nos outros dias debateu-se sobre possibilidades de financiamento da rede “Mad in”, conteúdos, público, demandas, parcerias e questões internas do site.

Foi um encontro muito potente. Novos amigos foram feitos, houve celebração, risos, emoção e muito trabalho! E como resultado desse encontro, nasceu o Mad in The World, que se propõem estruturar a rede “Mad in”, possibilitando maiores parcerias, trocas e projetos em comum entre os diferentes países. Com isso, o Mad in Brasil e os demais “Mad in” se fortalecem, num apoio mútuo e solidário. Ninguém está sozinhos nessa luta, existe uma rede espalhada pelo mundo, construindo uma sociedade mais respeitosa e humana. Que venham outros encontros do Mad in the World!