NOTA DE REPÚDIO AO ATAQUE CONTRA A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA

O Ministério da Saúde (MS), por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, instituiu um grupo de trabalho no qual propôs a revisão da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e a criação de uma nova proposta de modelo assistencial em Saúde Mental. O MS prepara o “revogaço”, que consiste na revogação de cerca de cem portarias sobre Saúde Mental, ameaçando diversos programas e serviços do setor de Psiquiatria e Saúde Mental.

Na reunião realizada na Câmara Técnica da Comissão Intergestores Tripartite, no dia 03/12/2020, foi apresentada a proposta de revogação de todas as portarias que embasam o processo de construção do modelo comunitário de saúde mental do SUS. Este modelo, amplamente debatido e aprovado em quatro conferências nacionais (1987, 1992, 2001 e 2010), fundamentado na Lei da Saúde Mental (10.216/2001), é orientado pela ética do cuidado em liberdade.

A proposta do governo Bolsonaro se baseia em um modelo que prima pela centralidade nas internações psiquiátricas, cujo domínio é orientado por um modelo de cuidado reducionista e exclusivamente médico-psiquiátrico.

O governo brasileiro ao propor uma política sem amplo debate e participação de usuários, familiares e trabalhadores, orientado unicamente por uma corporação médica, fere o princípio e o direito fundamental da ampla participação, que é o alicerce do Estado democrático.

Como se não fosse suficiente termos um general a frente do Ministério da Saúde em uma pandemia de Covid-19, estão ameaçando o programa de reestruturação da assistência psiquiátrica hospitalar no SUS, as equipes de consultório de rua, os serviços de Residência Terapêutica e o programa de Volta para Casa.

Também corre risco a Rede de Atenção para pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, o modelo de atendimento ambulatorial e de financiamento dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Objetivamente, estamos diante do risco de desmonte das Políticas Públicas de Saúde Mental resultantes do processo de revisão do paradigma assistencial na Saúde Mental.

Especificamente em relação à atenção das crianças e adolescentes, o documento da Associação Brasileira de Psiquiatria (2020) que inspira a proposição atual do Ministério da Saúde, propõe, dentre outras coisas: a) Criação de Hospitais-Dia, com finalidade “de observação, manipulação de condutas, e determinação de níveis de desenvolvimento […] indicado para crianças pré-escolares (ABP, 2020, p. 17); b) Interconsulta nas escolas para “detecção dos principais problemas de aprendizado ou comportamentais que dificultam o desempenho ou a inserção da criança”; c) Formação de profissionais para atendimento de crianças e adolescentes “segundo teoria e prática referendada pela ABP” (Idem, p. 18, grifo nosso).

Ora, manipular condutas, detectar problemas com finalidade de adequação e desempenho, impor a hegemonia de um único campo de conhecimento na organização do cuidado em saúde mental de crianças e adolescentes, são reproduções do modelo higienista vigente nas primeiras décadas da República, responsável pela institucionalização, segregação, exclusão e silenciamento das infâncias e adolescências brasileiras.

Esse retrocesso é inaceitável posto que não é ético, não é legítimo, não está referendado em consensos amplos, participativos e fundamentados – como são as conferências nacionais do SUS.

No Brasil, vivenciávamos um importante momento histórico, no qual a loucura era sido revisitada e novas construções feitas, a partir da perspectiva da promoção da cidadania e bem-estar social para aqueles que padecem de sofrimento psíquico. A década de 80 foi marcada por um processo de redemocratização do país, após duas décadas de regime militar. Tomou forma o “Movimento pela Reforma Sanitária”, tendo em vista a abertura e livre acesso da população à assistência à saúde. A expressão foi usada para se referir ao conjunto de ideias que se tinha em relação às mudanças e transformações necessárias na área da saúde. Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas todo o setor saúde, em busca da melhoria das condições de vida da população.

Tais ações culminaram na inclusão na atual Constituição Federal, promulgada em 1988, em seu artigo 196, que consagra a noção de saúde enquanto direito de todos e dever do Estado. Disposto da seguinte forma: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (C.F. 1988, artigo 196).

Ainda na Constituição Federal, no artigo 199: “A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. § 1º – As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. § 2º – É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.

Cabe indagar qual é o interesse dessa psiquiatria privada que segue o modelo biologicista medicalizante em auxiliar (embasar) mudanças estruturais nas regulamentações e na operacionalização do SUS?

Em 1990, com a aprovação da Lei 8.080, também chamada de Lei Orgânica da Saúde, a qual institui o Sistema Único de Saúde, preconizou-se a criação de uma rede pública e/ou conveniada – de caráter complementar – de serviços de saúde e atenção integral à população nos níveis de prevenção, promoção e reabilitação.

O SUS é norteado com base em princípios e diretrizes que visam balizar suas ações e contribuir para a conservação de suas bases fundamentais. Os princípios de integralidade, respeito à singularidade, diversidade de abordagens, territorialidade, humanização e reintegração social, estão na base do paradigma de Atenção Psicossocial da Reforma Psiquiátrica brasileira e são garantidos pela lei 10.216, de 06 de abril de 2001.

Sendo assim, violar estes princípios significa também violar o que dispõe a constituição brasileira sobre o assunto. Na prática, a proposta do MS decreta a extinção da Reforma Psiquiátrica Brasileira, ao atingi-la em seus alicerces, e cria um retrocesso institucional de décadas. O tipo de psiquiatria que sustenta esse discurso atroz não tem condições de estabelecer políticas de cuidado que não sejam excludentes, segregatórias, desumanas.

É pela imprescindível necessidade de um atendimento ao sofrimento psíquico em liberdade, dispondo de múltiplas abordagens teóricas, trabalho inter/transdisciplinar, e diferentes dispositivos de assistência, que precisamos nos posicionar com firmeza contra essa proposta descabida de mudança do modelo assistencial em Saúde Mental do Ministério da Saúde do (des)governo Bolsonaro. Trata-se de mais um descalabro, um crime contra a saúde pública e a humanização do atendimento, proposto por um governo que vem mergulhando o país nas trevas do atraso, do obscurantismo e do negacionismo. Desta vez, com o retorno do modelo de exclusão manicomial.

Concluo enfatizando que não podemos tolerar tamanho retrocesso nas conquistas civilizatórias, humanitárias e democráticas, que foram duramente conquistadas em nosso país.

Agradeço especialmente ao psiquiatra Manoel Olavo Loureiro Teixeira pelas conversas que contribuíram para a formulação deste texto.

Saúde mental: Revogaço do Ministério da Saúde ameaça milhares de pessoas que cruzaram o inferno e ousaram desejar a vida que pulsa mais forte

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Publicado em VIOMUNDO. “Nessa semana, o Ministério da Saúde apresentou aos conselhos Nacional de Secretários de Saúde  (Conass) e de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) um conjunto de “propostas” em relação às políticas de Saúde Mental.

Na verdade, um revogaço de cerca de 100 portarias, editadas sobre saúde mental, de 1991 a 2014.

Para quem não é da área, pode parecer à primeira vista que seria mera eliminação de portarias “antigas”, velhas”, visando à “modernização”.

Puro engano.”

A  matéria traz entrevistas e depoimentos em vídeos. Clique aqui para ver o conteúdo  na íntegra →

Aos gestores e trabalhadores da saúde mental e aos amigos e às amigas da lutaantimanicomial brasileira

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Acho muito importante explicitar minha posição frente ao documento “Diretrizes para um modelo de Atenção em Saúde Mental no Brasil” produzido por várias organizações e, dentre elas, a Associação Brasileira de Psiquiatria. Esse documento cita dois de meus artigos de 1990 e 1994 (escrevi mais de 150 artigos de 1994 até hoje mostrando minha posição antimanicomial inequívoca, mas eles não são citados).

Acho importante esclarecer que a cortesia, que me foi dada ao citar dois de meus escritos, entretanto, não corresponde a nenhum tipo de concordância, de minha parte, com as posições expressas no documento.

As recomendações finais do documento expressam exatamente o contrário do meu pensamento (por exemplo, não considero, jamais, o eletrochoque como um tratamento a ser recomendado e estou convencido de que qualquer forma de internação em manicômios é uma violação dos princípios terapêuticos e éticos expressos na Convenção das Nações Unidas sobre os direitos de pessoas com deficiência).

Acho que precisamos investir em seis áreas principais:

1. Em primeiro lugar, a integração da atenção à saúde mental nos serviços primários de saúde é um componente fundamental da atenção integral à saúde mental. A equipe de atenção primária deve ser capaz de fornecer identificação precoce de transtornos mentais, tratamento de pacientes psiquiátricos estáveis, encaminhamento para outros níveis, quando necessário. No entanto, muitas vezes, a ênfase no papel da atenção primária
tem sido a desculpa para não investir em atenção secundária de saúde mental, isto é, em serviços comunitários de saúde mental. Que esteja muito claro: somente se houver cuidados de saúde mental comunitários fortes e generalizados, o pessoal da atenção primária será capaz de funcionar com eficácia. Se não houver nada entre a atenção primária e a terciária, a equipe da atenção primária será capaz de fazer muito pouco e provavelmente falharam m suas tentativas. Portanto, prefiro falar da equipe da atenção primária e da equipe da atenção secundária como partes de uma organização única e harmoniosa, em estreita comunicação e com gestão conjunta dos casos mais complicados.

2. Em segundo lugar, precisamos de mais investimentos em “Cuidados de Saúde Mental Comunitária”. Hoje, existe um amplo consenso que demonstra que a atenção à saúde mental deve abandonar o modelo exclusivamente hospitalar e caminhar para a atenção baseada na comunidade. Essa mudança é necessária por três motivos: ampliar a cobertura, melhorar a qualidade do atendimento e reduzir as violações de direitos humanos. As equipes comunitárias devem, então, ser substancialmente fortalecidas.

3. O terceiro é o foco em hospitais gerais. Os ambientes de hospitais gerais oferecem um local mais acessível e aceitável para atendimento médico 24 horas por dia para pessoas com transtornos mentais agudos. Não precisamos admitir pacientes agudos em hospitais psiquiátricos. Não há mais polêmica sobre isso: é um assunto que tem muitas evidências científicas.

4. Em quarto lugar precisamos fortalecer os processos da desinstitucionalização do Hospital Psiquiátrico. As instituições psiquiátricas têm um histórico de graves violações dos direitos humanos, com resultados clínicos ruins e programas de reabilitação inadequados. Eles também são caros e consomem uma parcela desproporcional dos gastos com saúde mental. Há evidências científicas suficientes para mostrar que pessoas com deficiências mentais crônicas graves não devem ser atendidas em hospitais psiquiátricos. É preciso parar com o debate a favor ou contra o manicômio: é um debate medieval que é superado por evidências epidemiológicas, clínicas, de saúde pública e, sobretudo, éticas.

5. Em quinto lugar está o foco na legislação, direitos humanos e capacitação do usuário. Considerando que Brasil ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, todas as leis nacionais devem ser consistentes com as Normas desta Convenção. As organizações de usuários devem ser radicalmente fortalecidas e as violações dos direitos humanos devem ser punidas, não sendo mais toleradas.

6. O sexto é o Foco na Prevenção. Desenvolver programas i) prevenção do suicídio; ii) treinamento dos pais disponibilizando habilidades para o relacionamento com as crianças; iii) prevenção do uso nocivo de álcool e substâncias psicoativas.

Concluindo, é necessária uma mudança radical de paradigma de um modelo biomédico para um modelo pautado na promoção e defesa dos direitos humanos e capaz de proporcionar intervenções que tenham um impacto real sobre os determinantes sociais da doença, que são, por exemplo. pobreza, exclusão social e baixo nível educacional. Por isso me identifico plenamente com os princípios e práticas do movimento de luta antimanicomial brasileiro e as experiências de reforma dos últimos anos, que têm
acompanhado as lutas pelos direitos dos usuários e trabalhado pela superação total e definitiva dos hospitais psiquiátricos.

Benedetto Saraceno
06 de Dezembro de 2020

Relação entre Indústria Farmacêutica e Psiquiatria no Brasil

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O artigo publicado na revista Política & Sociedade, aborda a relação da indústria farmacêutica com a psiquiatria, e os contornos que tem essa relação a partir da década de 1990 no Brasil. O interesse pelo assunto surge com a epidemia de diagnósticos de transtornos da infância, denunciados por estudiosos do tema como Robert Whitaker, Sandra Caponi e Allen Frances. A questão que o artigo procura responder é: qual o contexto de aproximação mais recente entre a indústria farmacêutica e a psiquiatria no Brasil?

A discussão é situada durante a crise do Brasil durante a década de 1980, seguida por reformas liberais na década de 1990 e os fenômenos de mercados que dizem respeito ao setor de saúde. Nesse contexto, é possível observas novas ações da indústria farmacêutica. Alguns autores afirmam que o Estado é o ator que cria condições para que o mercado possa se tornar estável, aquele que cria e garante as regras do jogo para que as empresas possam agir: elabora leis de incentivo, dá subsídios, investe em pesquisa, em formação profissional e pode ser o principal comprador em alguns mercados, como é o caso das vacinas e outros medicamentos no setor farmacêutico. A partir dos anos de 1980 houve uma forte defesa das instituições privadas como solução para os problemas do aparato público.

No Brasil, depois dos canais alimentares (supermercados, bares e restaurantes) as farmácias são o segundo lugar mais visitados por consumidores. Sendo alto o volume de gastos com medicamentos pelas famílias brasileiras, principalmente aquelas mais pobres.

“Os laboratórios farmacêuticos ocupam a 2ªcolocação, entre os 21 setores do ranking do anuário Valor Inovação Brasil 2018, com o maior nível de investimento da receita líquida em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), conforme Sociedade Brasileira Pró-inovação Tecnológica (PROTEC, 2018).”

Mas, ao contrário do consumo de alimentos, os produtos farmacêuticos (normalmente) necessitam da prescrição e o receituário médico para que o consumo se realize. Além disso, a qualidade dos medicamentos só pode ser passível de avaliação por parte do profissional especializado, diferentemente de outros bens de consumo.

“Quando falamos de indústria farmacêutica e de medicina, é importante
lembrarmos que estas duas áreas não se diferenciaram a não ser a partir
da Revolução Industrial que marca a era das especialidades: anteriormente,
fazer medicamentos, diagnosticar e prescrever receitas médicas eram tarefas
de curandeiros e boticários os quais disputavam espaço e legitimidade com
os médicos.”

A indústria farmacêutica no Brasil começou a se desenvolver no período entre 1890 e 1950. Seu impulso se relaciona com a constituição da saúde pública e o surgimento das primeiras epidemias. Ocorre então, a institucionalização da saúde, marcada pelo controle das epidemias e por um processo civilizador das formas de convívio entre seres humanos e destes com a cidade, utilizando um contexto de moderação e contenção.

“O Estado brasileiro foi peça fundamental
no desenvolvimento da indústria farmacêutica ao incentivar e fornecer
recursos para os primeiros laboratórios farmacêuticos e foi responsável
pelos próprios planos de saúde pública, produção de soros, vacinas e
medicamentos.”

O Brasil é o segundo maior consumidor de psicotrópicos na infância, em particular a Ritalina, atrás apenas dos EUA. O retorno de teses biologizantes e cerebrais na psiquiatria abriu espaço para a indústria farmacêutica ampliar suas vendas. A partir da década de 1980 há uma aproximação entre a Indústria Farmacêutica e a Associação Psiquiátrica Americana (APA), associação responsável pela edição do DSM.

“Este raciocínio promove a ideia de que os medicamentos
psiquiátricos devem ser a primeira linha de tratamento para estes transtornos.”

No Brasil, recentemente houve a elaboração do manual de boas práticas assinado pelos principais representantes da classe médica brasileira: Conselho Federal de Medicina
(CFM), Associação Médica Brasileira (AMB) e Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e pela Associação da indústria Farmacêutica de Pesquisa (INTERFARMA) – entidade que representa parte da indústria farmacêutica no Brasil.

O documento prevê limites legais no relacionamento entre as empresas do setor farmacêutico e os médicos. No caso do pagamento de despesas de transporte, hospedagem, alimentação, estas devem ser compatíveis com as circunstâncias dos serviços contratados. O documento proíbe a entrega de materiais de interesse científico a estudantes de medicina a não ser durante eventos médicos; o apoio a profissionais para participar de eventos(nacionais ou internacionais) não pode estar condicionado à prescrição e/ou à dispensação de um determinado medicamento. Igualmente é proibida a realização de congresso em local de apelo turístico ou, ainda, a compra de passagem de avião na primeira classe.

Como conclusão, a autora do artigo observou a atuação do Estado brasileiro como responsável por criar um ambiente estável para que as empresas farmacêuticas se consolidassem, em vários momentos diferentes, inclusive no modelo descentralizado e universal como é o SUS.

“A atuação psiquiátrica no Brasil, ao longo do século XX, saiu de um
modelo centrado no hospital para outro descentralizado. Naquele momento
de descentralização que se iniciou uma aproximação entre indústria farmacêutica
e a psiquiatria.”

 

***

MAZON, M. da S. Indústria farmacêutica e psiquiatria no quadro da Sociologia Econômica: uma agenda de pesquisa. Política & Sociedade – Florianópolis – Vol. 18 – Nº 43 – Set./Dez. de 2019. (Link)

Medicina Insana, Capítulo 3: A Fabricação do Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH) (Parte 2)

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Nota do Editor: Nos próximos meses, Mad in Brasil publicará uma versão serializada do livro de Sami Timimi, Medicina Insana. Neste capítulo 3, parte 1, são apresentados as supostas bases biológicas para o TDAH e como elas são cientificamente falas. A cada quinze dias, uma nova seção do livro será publicada, e todos os capítulos serão arquivados aqui.

Deixem-me então olhar para as provas que apoiam que o TDAH é uma “coisa” que surge através de problemas genéticos e cerebrais.

Genética do TDAH: A hipótese nula foi refutada?

A alegação de que o TDAH é genético foi extrapolada principalmente a partir de estudos com gêmeos, porque os gêmeos idênticos são mais frequentemente ambos diagnosticados com TDAH do que os gêmeos não idênticos. No método dos gêmeos, presume-se que quando uma percentagem mais elevada de gêmeos idênticos do que não idênticos é diagnosticada com a mesma doença, isto se deve a fatores genéticos e não a fatores ambientais. Isto porque os pares de gêmeos idênticos partilharão 100% dos genes, enquanto os gêmeos não idênticos partilharão, em média, 50% dos seus genes.

O investigador Jay Joseph examinou a questão da hereditariedade das perturbações psiquiátricas (incluindo TDAH) com grande detalhe nos seus livros e artigos, e as suas críticas ilustram os problemas com as provas que apoiam o TDAH como sendo um transtorno com altos níveis de hereditariedade genética.

Para que gêmeos idênticos tenham maior probabilidade de ter um transtorno devido à partilha dos mesmos genes, é preciso assumir que o ambiente psicológico e social é o mesmo para gêmeos idênticos e não idênticos. Isto é conhecido como a Assunção de Ambiente Igual ou AAI, para abreviar. Foi há muito estabelecido que o AAI não se mantém quando se compara gêmeos idênticos e gêmeos não idênticos. Os gêmeos idênticos são frequentemente tratados de forma bastante mais semelhante (por exemplo, vestidos com a mesma roupa) e experimentam um ambiente psicológico único (por exemplo, troca de papéis para confundir os outros).

Ser um dos gêmeos idênticos é uma experiência diferente de ser um dos gêmeos não idênticos, pelo fato que os fatores psicológicos e sociais poderiam por si só ser responsáveis por uma maior semelhança comportamental ou emocional em relação aos gêmeos não idênticos. Isto significa que o método de estudo de gêmeos não pode separar fatores genéticos de fatores ambientais para condições psiquiátricas, e por isso não se pode chegar a estimativas da contribuição genética para o TDAH a partir deste método.

Não tem havido verdadeiros estudos de adoção em crianças com TDAH. De qualquer modo, os problemas metodológicos têm sido numerosos nos estudos de adoção, desde o fato de que a maioria dos adotados já passou um tempo considerável em famílias biológicas de origem ou em abrigos antes da adoção, até as diferenças que os pais dos adotados, como grupo, podem ter em relação aos pais originários.

Os estudos de adoção, como os estudos de família, não são portanto capazes de distinguir as contribuições ambientais das genéticas, e por isso nenhum destes métodos utilizados para estimar a hereditariedade pode por si só ou em conjunto refutar a “hipótese nula” de que não existe nenhuma anormalidade genética característica ou diferença associada àqueles que obtêm um rótulo de TDAH.

A única forma de comprovar de modo seguro uma contribuição genética específica para TDAH é através de estudos genéticos moleculares. Desde que os exames genéticos inteiros mais rápidos e baratos se tornaram disponíveis, as provas genéticas moleculares têm vindo a acumular-se. Este volume cada vez maior de investigação genética com TDAH não está mostrando quaisquer descobertas particulares, quer em relação a genes anormais, quer em relação a associações genéticas consistentes. Isto não tem impedido que investigadores inescrupulosos façam alegações em contrário.

Em 2010 foi publicado um estudo na revista médica The Lancet afirmando haver sido encontrado provas genéticas moleculares concretas de que o TDAH é uma doença genética. Este estudo tem sido, e continua a ser referido como o estudo prevalecente a demonstrar a certeza que se pode chamar TDAH de um transtorno com origem genética. No comunicado de imprensa da época no qual a líder da equipe de investigação, a Professora Anita Thapar, deixou pouco espaço para dúvidas, dizendo “Agora podemos dizer com confiança que o TDAH é uma doença genética e que os cérebros de crianças com esta condição se desenvolvem de forma diferente dos de outras crianças”. Foi isto que realmente encontraram:

O estudo envolveu a comparação de escaneamentos de genoma completo de 366 crianças “com TDAH” com os feitos em 1047 crianças de controle “não TDAH”, à procura de algo chamado copy number variants (CNVs). Os CNVs são pedaços anormais de código genético que são repetidos onde não devem ser ou apagados onde devem estar.

Os investigadores descobriram que 15,6% (57) das crianças com TDAH tinham CNV em comparação com 7,5% (78) dos controles sem TDAH. Isto dá um excesso de 8% no grupo com TDAH, o que não é um número significativo. Se quisermos aceitar a prevalência padrão citada para o TDAH, significa também que se nos depararmos com um jovem que tenha CNV é mais provável que ele não tenha um diagnóstico de TDAH do que o tenha.

O engano, porém, não acaba aí. O QI médio registrado (uma medida psicológica do nível de inteligência utilizada para avaliar o nível de aprendizagem, incluindo o nível de dificuldades de aprendizagem) das crianças com TDAH foi de 86, quer dizer, 14 pontos abaixo da média geral da população de 100. Além disso, quando 33 crianças com TDAH (QI inferior a 70) foram excluídas do grupo com TDAH, apenas 11,4% das restantes 333 crianças tinham CNV (agora apenas 4% acima do grupo de controle sem TDAH). 39% (13) das 33 crianças com TDAH e com uma deficiência intelectual que tinham CNVs.

Esta evidência é mais sugestiva de uma relação entre a presença de CNV e deficiência intelectual (39%) do que CNV e TDAH (11,4%). Os autores deste estudo deveriam, portanto, ter controlado para o QI dado o seu impacto desproporcional na probabilidade de ter CNVs, mas optaram por não o fazer.

Tal como mencionado, o QI médio no grupo TDAH era significativamente inferior ao do grupo de controle (que podemos assumir que teria um QI médio de 100). Os autores deveriam ter escolhido um subgrupo dos seus pacientes com TDAH que tivesse um QI médio de 100. Isto teria então proporcionado um grupo de comparação mais legítimo com o seu grupo de controle. Não posso deixar de pensar se o fizeram, porque suspeito que possam ter ficado sem ou com uma pequena diferença e por isso optaram por não divulgar isto. Este tipo de publicação de grande visibilidade e de atenção mediática é pior do que a ciência fraudulenta [junk Science], pois os autores enganaram a comunidade médica e o público em geral nas suas conclusões.

Desde então, tem havido uma explosão na investigação genética sobre TDAH muito bem financiada. Milhares das pessoas diagnosticadas com TDAH tiveram o seu genoma inteiro digitalizado para ser detectado o que é conhecido como “variantes de DNA” – pedaços de DNA que são diferentes em pessoas com uma condição em comparação com as que não a têm. Estes estudos são denominados estudos de associação de todo o genoma [genome-wide association studies] (GWAS).

Em GWAS, cada pessoa dá uma amostra de DNA, a partir da qual são lidos os milhões de códigos genéticos que cada pessoa carrega, procurando um gene que ocorre mais frequentemente em pessoas com uma condição do que naquelas que não têm. Se um gene é encontrado com mais frequência em pessoas com a condição, diz-se que está associado a essa condição. Os estudos da GWA investigam todo o genoma, o que os torna fundamentalmente diferentes dos métodos que começam com a hipótese de que um determinado gene poderia estar associado ao (neste caso) TDAH.

Uma abordagem baseada em hipóteses apresenta uma teoria de que um determinado gene ou conjunto de genes que codificam, por exemplo, o neurotransmissor dopamina ou os seus receptores em células nervosas, é anormal, e depois compara estes genes em pessoas com um diagnóstico e em controles não-TDAH. Este último tipo de estudo seria a forma prevalecente de investigação de anomalias genéticas moleculares ou diferenças no TDAH, mas isso não foi feito.

Os estudos de GWA não são orientados por hipóteses e são mais exercícios de pesca de dados. Podem levar a hipóteses que podem ser melhor investigadas se revelarem regiões que possam ser de interesse e parecer relevantes para a condição que está a ser estudada. Mas, por si só, dizem mais sobre o que não é relevante do que o que é, particularmente se os genes que ocorrem com mais frequência do que o acaso estiverem espalhados por muitas partes diferentes do genoma.

Os números aqui estudados são particularmente importantes para se compreender. Os estudos iniciais de GWA sobre TDAH não descobriram quaisquer variantes de DNA que alcançassem significado em todo o genoma, mesmo quando a maioria destas amostras foram combinadas numa meta-análise que incluiu mais de três mil doentes com diagnóstico de TDAH e/ou os seus pais.

Mais tarde, utilizando amostras ainda maiores, que chegaram a dezenas de milhares, estudos da GWA mostraram que o TDAH está associado a um grande número de variantes comuns, cada uma com efeitos minúsculos, que estão espalhados pelo genoma, cruzam-se com outros diagnósticos chamados psiquiátricos (como o autismo, esquizofrenia, transtorno bipolar) e muitas vezes sem qualquer controle sobre os efeitos de dificuldades de aprendizagem.

O que isto significa é que para captar genes que ocorrem muito, muito ligeiramente mais do que o acaso naqueles com TDAH em comparação com os controles saudáveis, é necessário ter uma amostra de tamanho muito grande (de pelo menos dez mil). A maioria das pessoas com diagnóstico de TDAH não tem nenhuma das diferenças genéticas individuais detectadas nas amostras maciças de GWAS, nem temos nenhuma teoria biológica razoável para testar o que está a ser detectado a partir destas pequenas e pouco relevantes descobertas.

Os entusiastas da etiologia genética têm-se referido à incapacidade de encontrar anomalias ou diferenças genéticas moleculares confiáveis como um enigma ao qual se referem como “a hereditariedade em falta”. Porque presumem que o TDAH deve ser genético, eles imaginam que os problemas genéticos devem estar aí em algum lugar; é que ainda não o encontramos. A razão mais provável para a “hereditariedade em falta” é, evidentemente, que nunca esteve lá, em primeira instância.

Cientificamente falando, temos de assumir então que no que diz respeito à genética, o armário está vazio e a “hipótese nula” mantém-se: Não há nenhuma anomalia genética característica identificável/perfil associado ao TDAH.

Estudos de imagiologia cerebral TDAH: A hipótese nula foi refutada?

Tal como com a genética, os estudos de imagens cerebrais TDAH não revelaram qualquer anomalia ou característica específicas. A imagem que emerge é de descobertas consistentemente inconsistentes, que são desvios estatísticos (os cérebros não seriam reconhecidos pelos radiologistas como sendo clinicamente anormais), provêm de pequenos estudos de tamanho de amostra, que nem sempre correspondem exatamente à idade (e você verá porque é que isto é importante, quando comentarei a investigação da data de nascimento a seguir) e tipicamente não controlam o nível de QI, ou os possíveis efeitos da medicação. Uma equipe de investigação encontra um pedaço do cérebro menor do que os controles “saudáveis” e a equipe seguinte não, ou até se encontra que esse pedaço é um pouco maior.

Mas, como tenho vindo explicando, esse tipo de ciência não se deve intrometer no caminho do cientificista dedicado! Em 2017, The Lancet Psychiatry publicou um estudo que os autores alegavam ter oferecido provas definitivas de que jovens com TDAH têm cérebros diferentes e de dimensões mais reduzidas em comparação com os seus pares saudáveis.

Tal como com a ciência  genética da sucata, o investigador principal, Dr Hoogman, fez afirmações ousadas afirmando, num comunicado de imprensa com uma grande cobertura pela grande imprensa, “Os resultados do nosso estudo confirmam que as pessoas com TDAH têm diferenças na sua estrutura cerebral e, portanto, sugerem que a TDAH é uma desordem do cérebro”. Uma análise cuidadosa das suas descobertas mostra como a sua investigação revela mais o desespero dos autores em encontrar algo do que a sua capacidade de realizar um exame científico adequado das suas descobertas.

Os autores chamam ao seu estudo uma “mega-análise”, uma vez que retiraram dados de um número grande de projetos anteriores de investigação e “comprimindo” todos os resultados dos diferentes sites, como se fossem todos apenas um grande estudo. Este processo é por vezes esclarecedor, mas pode também fazer com que as descobertas incidentais pareçam mais significativas do que o são na realidade.

No total, tiveram dados dos escaneamentos do cérebro de 1713 pacientes diagnosticados com TDAH e 1529 indivíduos que não tiveram este diagnóstico, recolhidos de 23 equipes de investigação em todo o mundo. Alegam ter encontrado o que corresponde a pequenas diferenças em algumas (não todas) estruturas cerebrais específicas, mas que se tornam estatisticamente significativas quando adicionam todos os volumes disponíveis registrados para uma determinada estrutura no TDAH, quando comparados com grupos não diagnosticados com TDAH.

A utilização de certas medidas de variação estatística permitiu-lhes fazer esta afirmação sobre diferenças tão pequenas que não têm qualquer relevância clínica. Este método permitiu-lhes esconder os resultados consistentemente inconsistentes.

Por exemplo, a maior diferença foi encontrada para uma estrutura cerebral minúscula chamada núcleo accumbens (NA). Esta mega-análise faz assim a afirmação de que as crianças com TDAH têm uma NA menor do que as crianças sem TDAH. No entanto, se olharmos para os dados por site investigado, encontramos 10 sites que encontraram uma média menor de NA no grupo TDAH, 4 sites que encontraram uma média maior de NA no grupo TDAH, e 6 sites que não encontraram qualquer diferença.

Este é o quadro para a estrutura com a maior diferença no estudo. Permanecendo com a NA, também se pode ver que existem grandes problemas técnicos com a interpretação dos escaneamentos, decorrentes das diferentes máquinas e/ou algoritmos analíticos dos diferentes grupos de investigação utilizados. Por exemplo, os indivíduos em Bergen, Noruega, têm um volume médio de NA de 758 mm3 versus 805 mm3 (TDAH versus controle), enquanto em Wuzberg, Alemanha, têm um volume médio de NA de 462 mm3 v 449 mm3 ( TDAH versus controle).

Talvez as crianças norueguesas tenham NAs surpreendentes em comparação com as crianças alemãs, que por esta norma devem ter todas que se defrontar com o TDAH. No entanto, dado que o grupo norueguês é um dos grupos onde os controles têm volumes maiores, enquanto que o grupo TDAH tem volumes maiores no centro alemão, esta enorme variação – que é maior entre centros do que no interior – distorce os resultados se (como é o caso) aqueles com volumes totais maiores se situarem mais no grupo que tinha diferenças a favor de controles com maiores NAs.

Finalmente, aqui está mais um estudo que não controla as diferenças de QI. As associações entre o volume cerebral e o QI têm sido demonstradas através de uma série de estudos com adultos e crianças. Quando os autores deste estudo publicaram a tabela de QI correta (embaraçosamente tinham originalmente publicado uma versão incorreta), um grupo separado reanalisou os seus dados, tendo em conta os efeitos potenciais do QI, e concluiu que não havia diferença significativa entre indivíduos com TDAH e os do grupo de controle em qualquer uma das áreas investigadas do cérebro, uma vez que a diferença de QI é controlada.

Também aqui, no que diz respeito à ciência, o armário está igualmente vazio. Ninguém tem se aproximado de encontrar uma anomalia característica e, como resultado, não há nenhum marcador biológico ou exame cerebral utilizado para diagnosticar o TDAH. A hipótese nula mantém-se – não existe nenhuma anomalia característica do cérebro associada ao TDAH.

TDAH causado por um desequilíbrio químico: A “hipótese nula” foi refutada?

Não há escassez de “especialistas” afoitos para afirmar que o TDAH está relacionado com uma falta ou desequilíbrio químico do neurotransmissor “dopamina”. Esta ideia baseia-se unicamente na constatação de que as drogas (como a Ritalina) que agem para estimular a liberação de dopamina, e, portanto, aumentam os seus níveis nas sinapses cerebrais, parecem melhorar os “sintomas” do TDAH (mais sobre isso vejam em seguida).

Décadas atrás, estudos descobriram que ao se tomar estimulantes, independentemente do diagnóstico, melhora-se a capacidade, pelo menos a curto prazo, de se manter a concentração em uma tarefa. No entanto, ainda que ninguém tenha demonstrado haver falta de dopamina ou não em indivíduos diagnosticados com TDAH, a teoria do desequilíbrio químico foi capaz de se espalhar juntamente com a comercialização agressiva de fabricantes de medicamentos que aumentam os níveis destes agentes químicos no cérebro.

De vez em quando, surge um estudo que desafia a sabedoria aceita e, por isso mesmo, recebe pouca publicidade. Um desses estudos foi publicado em 2013. Os seus resultados questionaram “sugestões anteriores de que a perturbação do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é o resultado de anomalias fundamentais na transmissão de dopamina“. Os investigadores descobriram que a administração de metilfenidato (mais comumente conhecido pela marca Ritalin) a voluntários adultos saudáveis, bem como àqueles que apresentam sintomas de TDAH, levava a aumentos semelhantes da dopamina química no cérebro. Ambos os grupos também tinham níveis equivalentes de melhorias como resultado da droga, quando testados em sua capacidade de concentração.

Não deveríamos ficar surpreendidos com esta descoberta. Estimulantes como a Ritalina agem sobre o sistema nervoso de formas quase que idênticas à cocaína. A maioria dos medicamentos estimulantes são análogos às anfetaminas e, de fato, alguns são derivados de anfetaminas. As anfetaminas são amplamente utilizadas ilegalmente porque lhe dão uma espécie de visão focalizada, fazendo o seu usuário ficar altamente absorvido no que está a fazer; assim, além de se as utilizar pelos seus efeitos recreativos, também são utilizadas como auxiliares de estudo para os exames escolares, uma vez que aumentam a concentração e  mantêm o usuário acordado. Como todas as outras drogas que usamos na psiquiatria, elas têm efeitos gerais em toda as pessoas. Elas não corrigem quaisquer “desequilíbrios químicos” baseados em doenças.

Também aqui, portanto, o armário está também vazio. A “hipótese nula” mantém-se – não há desequilíbrio químico característico associado ao TDAH.

As crianças pequenas para a sua classe escolar são mais propensas a “apanhar” o TDAH

Vários estudos realizados em diferentes países descobriram que as crianças mais novas em uma classe têm um risco significativamente maior (em comparação com as crianças mais velhas num ano escolar) de serem diagnosticadas com TDAH e/ou receberem medicação para TDAH. Estes estudos descobriram que, quer se esteja em um país com altas taxas de diagnóstico ou prescrição (como os EUA) ou com baixas taxas (como a Finlândia), este padrão ainda é evidente.

Tal padrão de identificação do TDAH é fortemente sugestivo da noção de que a imaturidade relativa em comparação com os seus pares é um importante fator de risco para se receber este rótulo (ou seja, para os adultos notarem e problematizarem a capacidade de concentração de uma criança e os seus níveis de atividade – o seu ” barulho). Quer seja mais de 6% das crianças (no estudo islandês) que recebem estimulantes prescritos ou menos de 1% (no estudo finlandês), o padrão ainda se mantém. Seja como for, as normas culturais para a problematização destes comportamentos são que a relativa imaturidade na classe continua a emergir como um fator de risco.

É claro que as crianças amadurecem em ritmos diferentes, levantando uma importante questão de saber se um diagnóstico de TDAH, mesmo para crianças mais velhas da turma, pode também refletir a sua trajetória de desenvolvimento relativamente mais lento. Lembremo-nos de que este é um diagnóstico dado principalmente aos meninos, e os meninos em média desenvolvem-se mais lentamente do que as meninas.

Há já algum tempo que penso que o crescimento de pseudo-diagnósticos, como o TDAH, é um reflexo da intolerância neoliberal ocidental à diversidade entre as crianças, onde desde cedo são dadas mensagens às crianças de que são valorizadas pelo que fazem (pelo seu “desempenho”) e não apenas pelo que são. Estas descobertas dão mais apoio à minha preocupação de que a prevalência de diagnósticos como o TDAH funciona como um barômetro da intolerância das crianças e da “infantilidade” na cultura moderna.

Tratamento de TDAH: Convencer os pais que os seus filhos precisam de tomar substâncias semelhantes à cocaína

Nos anos 70, 80, e 90, o TDAH como conceito havia sido arrancado, ajudado em grande parte pelo crescimento na utilização de derivados de anfetaminas. Este grupo de substâncias é referido como “estimulantes”, pois aumentam a liberação de certos neurotransmissores (ou seja, estimulam o sistema nervoso), muito especialmente a dopamina. A Ritalina era a marca mais reconhecida destes medicamentos e tornou-se um best-seller, obtendo enormes lucros para a Novartis Pharmaceuticals. Outras empresas cedo se aperceberam do enorme potencial que advém da medicalização dos comportamentos das crianças, em particular as que estressam os pais e os professores, e por isso uma variedade de substâncias químicas de longa e curta duração estão agora disponíveis.

Rotular os comportamentos irritantes, preocupantes ou angustiantes das crianças com um rótulo pseudo-médico abre enormes mercados potenciais; por isso, embora a prescrição de estimulantes perigosos e viciantes para crianças tenha começado e permanecido durante algumas décadas como sendo um fenômeno quase que exclusivo dos EUA, desde então o fenômeno espalhou-se globalmente e os números do que estão recebendo medicamentos continuam a aumentar.

Esta tendência não tem sido isenta de controvérsias. Afinal, sabe-se que as anfetaminas, tal como a cocaína, são altamente viciantes, com um acentuado potencial de dependência física e psicológica e com muitos riscos graves para a saúde. Como estimulantes do sistema nervoso central, elas elevam as funções vitais, como a pressão arterial, a temperatura corporal e o ritmo cardíaco. Aqueles que usam anfetaminas geralmente precisam de menos sono, têm menos apetite e têm maior concentração. Como poderíamos justificar dar às crianças uma substância que advertimos os adultos sobre a sua ingestão, devido aos terríveis efeitos a longo prazo que sabemos que pode ter no corpo, cérebro e em tantos aspectos da vida quotidiana de uma pessoa?

É aqui que seria necessária uma teoria de desequilíbrio químico. Os entusiastas da medicação de TDAH criaram um mito, baseado não em provas ou evidências científicas, mas como uma forma de justificar o que eles defendiam. O argumento era que aqueles com TDAH reagem de forma diferente aos estimulantes do que aqueles sem TDAH, porque no TDAH há uma deficiência de dopamina – portanto, os estimulantes estão apenas a substituir o que não estava lá em primeiro lugar. Isto significa que seria uma correção e não algo que conduzirá a todos os efeitos terríveis conhecidos. Por conseguinte, os estimulantes são perigosos se não houver TDAH, mas seguros e talvez vitais para o funcionamento “normal” no caso de se ter TDAH.

Como discutido anteriormente, a “hipótese nula” de um desequilíbrio químico no TDAH tem ainda de ser refutada e, consequentemente, essa teoria é infundada.

A exemplo da maioria dos medicamentos utilizados na psiquiatria, a utilização das drogas para TDAH baseou-se em estórias e que já havia começado antes de ter sido feito um estudo para demonstrar que elas eram seguras e eficazes. O pressuposto era que, uma vez que os estimulantes pareciam acalmar estas crianças, devia estar a funcionar de uma forma diferente daqueles que as utilizavam de forma recreativa, que pareciam mais energizados. No entanto, quando foi estudado nos anos 80, verificou-se que, na realidade, tem efeitos semelhantes, independentemente do diagnóstico.

O seu principal efeito nas doses prescritas é de se criar uma espécie de visão psicológica focada, de modo tal que se fica absorvido no que se está a fazer. O aparente efeito calmante está relacionado com este efeito de maior concentração. Quando se vê o seu filho sentado, aparentemente concentrado no trabalho escolar, e seguindo instruções de uma forma que não estava a fazer antes, pode parecer que este é um tratamento transformador.

Mas este não passa de um efeito geral a curto prazo dum estimulante. Fá-lo-á para a maioria das crianças que tomam o estimulante, independentemente do rótulo que ele tenha. Os estudos que apoiaram a utilização de estimulantes como tratamento foram quase todos realizados por empresas farmacêuticas, duraram apenas algumas semanas ou meses, e concentraram-se na classificação de “sintomas” de TDAH em vez de outras medidas de qualidade de vida. No entanto, uma vez prescrito um estimulante às crianças, a prescrição não é para algumas semanas ou meses, mas normalmente para muitos anos. É aqui que precisamos das provas. O que acontece após vários anos?

Dado que as anfetaminas são altamente viciantes, a tolerância física é susceptível de ocorrer. Como muitos sistemas no corpo, as sinapses nervosas (as ligações entre células nervosas) têm propriedades homeostáticas. Isto significa que gostam de manter os seus mensageiros químicos num intervalo estreito para um funcionamento ótimo. Se houver mais do que a quantidade habitual de dopamina (por exemplo) a ser liberada como resultado da ingestão regular de uma anfetamina, a sinapse começará a desligar os receptores de dopamina para, com efeito, reduzir a quantidade total de dopamina de volta ao seu intervalo estreito habitual. É por isso que os viciados em cocaína que tomam uma certa quantidade regularmente descobrem que, para obterem a mesma dose, têm de tomar mais cocaína – na medida em que a quantidade que costumava dar-lhes essa quantidade já não o faz.

Devido a este mecanismo homeostático, após algum tempo, os comportamentos problemáticos começam a surgir novamente na criança, à medida que o efeito de concentração crescente do estimulante começou a desvanecer-se. Isto é o que chamamos “tolerância” à dose de anfetamina. Isto significa que as sinapses desligaram alguns dos receptores de dopamina, por isso é que já não se obtém o mesmo efeito.

No entanto, se pararmos agora a anfetamina, teremos efeitos de abstinência, uma vez que as células nervosas terão agora muito pouca dopamina, devido ao número reduzido de receptores para o trabalho. O estado de agitação que a retirada súbita ou demasiado rápida do estimulante pode fazer parecer que o “TDAH” estar a voltar com uma vingança, convencendo a todos, incluindo os médicos – poucos dos quais parecem compreender o processo acima referido – de que a criança precisa realmente da anfetamina para um funcionamento mais “normal”.

Agora, portanto, a dose será aumentada e ao ser colocada em funcionamento será um processo de aumento da dependência física (na criança) e psicológica (nos pais e no professor), o que leva a aumentos graduais da dose ao longo do tempo com períodos temporários de melhoria, que acabam por se esgotar – conduzindo a outro aumento de dose – juntamente com uma solidificação da ideia de que a criança tem uma condição cerebral chamada TDAH e que necessita de anfetaminas para a manter sob controle.

A interferência com o sono significa muitas vezes que uma ajuda para dormir será adicionada (como a melatonina); e dificuldades contínuas de comportamento resultam muitas vezes, à dada altura, em utilização também de medicamentos “antipsicóticos” muito pesados. Não é, portanto, raro, após vários anos, encontrar jovens rotulados com TDAH que estão a tomar vários medicamentos, muitas vezes em doses elevadas, e os problemas continuam a voltar ou nunca desaparecem completamente.

Mas o que dizem as evidências da investigação sobre os resultados a longo prazo?

Em 1999, foi publicado um famoso estudo americano sobre “tratamento” para o TDAH. Nessa época a prescrição de medicamentos estimulantes nos EUA já estava generalizada. Quando este estudo foi publicado, recebeu uma extensa cobertura pública e profissional. Lembro-me de assistir à nossa conferência anual da Faculdade de Psiquiatria Infantil e Adolescente (no Royal College of Psychiatrists do Reino Unido) no ano 2000, de ouvir o então presidente da faculdade explicar à audiência de psiquiatras infantis do Reino Unido que as implicações deste estudo eram que teríamos de prescrever estimulantes para qualquer pessoa diagnosticada com TDAH, e que provavelmente (dadas as limitações de recursos) os estimulantes prescritos por si só seriam insuficientes para a maioria.

Então, o que descobriu este famoso estudo? Este estudo, referido como o estudo “MTA” (Multimodal Treatment of Children with ADHD), foi um ensaio multicêntrico de 14 meses em que pacientes jovens foram randomizados para 4 grupos de tratamento: Medicação (estimulantes) apenas, terapia comportamental apenas, medicação combinada e terapia comportamental, e cuidados comunitários de rotina.

Os autores concluíram que, após 14 meses de tratamento, houve mais redução dos sintomas de TDAH apenas na medicação e nos grupos combinados de medicação e terapia comportamental do que no grupo de terapia comportamental apenas, que por sua vez tiveram melhores resultados do que o grupo de cuidados comunitários de rotina.

Como se poderia prever, houve problemas consideráveis associados ao estudo e que tornaram tal conclusão questionável. Por exemplo, dois terços do grupo de cuidados comunitários de rotina estavam também a tomar a mesma medicação que o segmento de medicação do estudo, mas tiveram os resultados mais pobres. Além disso, o segmento de tratamento comportamental consistiu em um tratamento intensivo de 6 semanas que foi concluído em qualquer momento durante os 14 meses, de modo que na altura da avaliação de 14 meses, algumas das famílias que receberam a intervenção da terapia comportamental tinham-no concluído até 9 meses antes das avaliações de 14 meses, enquanto o segmento de medicação incluía consultas regulares até 14 meses.

Isto levanta a possibilidade distinta de uma resposta placebo ser a principal razão para os melhores resultados na medicação e nas formas de tratamento combinado. Nessa época, as declarações de conflito de interesses não eram obrigatórias na maioria dos periódicos. Previsivelmente, quando estas foram divulgadas, muitos dos autores principais tinham longas listas de ligações com as empresas farmacêuticas.

O estudo MTA de 14 meses tornou-se rapidamente o estudo mais citado para tratamentos de TDAH, regularmente referido nas diretrizes de tratamento de muitos países. Com base no que ainda é citado como a melhor prova disponível, ter-se-ia pensado que o estudo MTA terminou aí e não havia mais nada a dizer. Mas mesmo que se aceite os resultados ao valor declarado, 14 meses não equivale aos muitos anos que a maioria dos medicamentos acabam por ser prescritos. Portanto, o estudo MTA ainda não conseguiu abordar a questão do que acontece aos estimulantes prescritos a longo prazo. Ou poderia?

De fato, a história do estudo da MTA não termina aí. Numa conferência em Phoenix a que assisti em 2002, acabei por acaso sentado ao lado de alguém que descobri ser um psicólogo envolvido nas avaliações do ensaio da MTA e um dos centros. Ele disse-me que a sua equipe lá tinha acabado de concluir a análise dos dados para o triênio seguinte.

Lembro-me de ele me dizer “Uma vez publicadas estas descobertas, ninguém mais vai querer que o seu filho tome medicamentos“. Fiquei surpreendido com a clareza e certeza da sua conclusão. Explicou que no seu centro, as crianças que ficaram medicadas tinham piorado constantemente e tinham muitos efeitos adversos, enquanto as que tinham ficado sem medicação estavam agora muito melhor. Disse-me que os seus resultados eram semelhantes aos dos outros centros e que não demoraria muito até que fossem publicados.

Tive de esperar mais 5 anos antes que o follow-up de 3 anos do MTA fosse publicado em 2007. Ao contrário do estudo original de 1999, esta publicação, publicada 8 anos mais tarde (dando tempo suficiente para que a prescrição de estimulantes defendida pelo jornal de 1999 se tornasse a norma), teve pouca cobertura de imprensa ou profissional. Após 14 meses, os participantes no estudo tinham sido livres para escolher os seus tratamentos em curso. Com efeito, o estudo converteu-se num estudo naturalista, semelhante ao que acontece em ambientes de ambulatório em geral.

Os resultados de 3 anos não conseguiram encontrar apoio para uma superioridade contínua dos medicamentos, independentemente da gravidade inicial dos sintomas de TDAH. Além disso, aqueles que utilizaram mais medicação durante os 3 anos tinham maior probabilidade de sofrer uma deterioração dos sintomas de TDAH, tinham taxas de delinquência mais elevadas, e eram significativamente mais curtos (em média 4 cm) e mais leves (em 3 kg) do que aqueles que não tinham tomado medicação.

Por 3 anos, aqueles que continuaram a tomar estimulantes estavam a fazer pior e a experimentar mais efeitos negativos do que aqueles que não o fizeram. Confirmou o meu palpite anterior de que o placebo tinha desempenhado um papel importante nos resultados dos 14 meses. O que o psicólogo me disse 5 anos antes estava certo. Quem, no seu juízo perfeito, iria querer continuar a dar quaisquer estimulantes infantis?

Mas isto (o fim da prescrição de estimulantes às crianças) não foi o que aconteceu. A ciência não pode vencer o marketing numa economia orientada para o mercado livre. As prescrições de estimulantes quase não piscaram após a publicação deste estudo de follow-up. O MTA de 14 meses continuou a ser referido e o follow-up de 3 anos foi ignorado. O estudo de follow-up de 3 anos do MTA tem conclusões semelhantes a outros estudos de follow-up a longo prazo.

Outros estudos também não mostram que o uso a longo prazo de estimulantes está associado a quaisquer resultados melhorados em comparação com os diagnosticados com TDAH que não os tomam, e onde há diferenças é frequentemente com crianças que tomam estimulantes com resultados piores do que as que não os tomam: com problemas físicos (como a hipertensão arterial), psiquiátricos (como “perturbações” do humor), e problemas acadêmicos mais comuns nos que tomam medicamentos a longo prazo.

Se estes medicamentos tivessem poucas provas de danos associados à sua utilização, talvez pudéssemos tolerar a pequena melhoria inicial que por vezes está associada à sua prescrição, mesmo que não haja provas de resultados melhorados a longo prazo. No entanto, os estimulantes que estão a ser receitados são anfetaminas ou substâncias semelhantes a anfetaminas com propriedades farmacológicas quase idênticas às drogas de rua, tais como “speed” e cocaína, que avisamos regularmente os outros dos perigos associados à sua utilização.

Se estes medicamentos só fossem prescritos a doentes durante um ano ou menos, poderia ser possível reunir argumentos baseados em provas para a sua utilização desta forma limitada e controlada. Infelizmente, uma vez iniciada, é provável que uma prescrição continue a ser prescrita durante anos. Como existem danos consideráveis associados ao uso de substâncias tão poderosas e viciantes, é realmente necessária água azul clara nos resultados entre aqueles que recebem tais medicamentos e aqueles que não os recebem. Não consigo pensar num argumento ético racional (provavelmente porque não existe nenhum) para justificar a prescrição a longo prazo de estimulantes.

Se você procurar informação sobre os problemas associados aos estimulantes quando estes estão a sendo categorizados como drogas de abuso, você obterá algo como isto:

“Todos os estimulantes têm em comum um conjunto de efeitos secundários que podem causar estragos no sistema de um utilizador. Os efeitos incluem aumento do ritmo cardíaco, aumento da pressão arterial, aumento da temperatura corporal, tremores ou espasmos musculares, agitação. Todos estes efeitos são comuns. Não importa como se reduz, o abuso estimulante, mesmo a curto prazo, pode ter consequências desastrosas para o usuário, resultando em hipertermia, anomalias cardiovasculares e morte súbita.

Contudo, quando uma pessoa abusa dos estimulantes durante um longo período de tempo, estes agravam os seus riscos de sofrer uma série de outros problemas devastadores de saúde física e mental, tais como alucinações, delírios, ansiedade persistente, paranóia, depressão, perda de peso, redução da função sexual, problemas gastrointestinais, deterioração muscular, danos cardiovasculares, problemas respiratórios, dores de cabeça, derrames e convulsões.

Um usuário de estimulantes crônicos está também em alto risco de desenvolver tolerância à dependência e, eventualmente, dependência química. Além disso, os indivíduos dependentes podem experimentar uma síndrome de abstinência de estimulantes quando o uso da droga para ou abranda. A abstinência do abuso de estimulantes não é um processo que ponha em risco a vida, mas pode ser desconfortável. Há aspectos físicos e psicológicos da abstinência de estimulantes que podem ser difíceis de enfrentar. Os sintomas comuns da abstinência dos estimulantes incluem exaustão mental e física, insônia, anedonia (incapacidade de sentir prazer), irritabilidade, ansiedade e agitação, sono excessivo, fome intensa. Um dos maiores riscos com a abstinência de estimulantes é a depressão com pensamentos suicidas, e a gravidade pode variar de acordo com a substância. Por vezes, esta depressão pode durar para além da fase aguda de abstinência”.

Não há razão para acreditar que as advertências acima não sejam tão relevantes para a prescrição legal de estimulantes como o são para o abuso ilegal das mesmas.

Os perigos dos estimulantes prescritos vão além dos acima descritos, uma vez que os pacientes podem continuar a tomá-los durante décadas com todas as consequências potenciais que isso tem para a confusão das substâncias químicas no cérebro. Por exemplo, num estudo que se seguiu, durante várias décadas, a pacientes a quem foram prescritos estimulantes, os investigadores descobriram um aumento de mais de 8 vezes na probabilidade de tais pacientes desenvolverem condições neurológicas, tais como a doença de Parkinson.

 

Parkinson é uma doença que resulta do fato de os pacientes não terem o neurotransmissor dopamina suficiente no sistema nervoso. É altamente provável que esta descoberta esteja relacionada com a ingestão de estimulantes a longo prazo, dado que os estimulantes funcionam principalmente estimulando as células a libertarem mais do que a quantidade habitual de dopamina.

O TDAH não é um diagnóstico e não pode ser apoiado como uma construção baseada em evidências

Independentemente do que se possa pensar serem os méritos percebidos da construção do TDAH como um “diagnóstico” que tem origem biológica e pode ser “tratado” com medicação, a verdade científica é que não pode ser pensada como uma entidade científica válida e a recomendação vigente para o seu tratamento que normalmente dá prioridade à medicação sem limites de tempo não é baseada em evidências.

O TDAH é um exemplo da forma como a psiquiatria acadêmica se infectou com o cientificismo, o que provavelmente levou a danos incalculáveis. Imaginar que o TDAH é um diagnóstico cega as crianças, pais, professores, médicos e outros profissionais para uma grande variedade de fatores relacionados com o contexto, incluindo imaturidade, dificuldades de aprendizagem, problemas escolares, bullying, exposição à violência, dieta, estilo de vida, falta de apoio familiar, falta de confiança nos pais, etc., que podem ser relevantes.

Também os cega à normalidade da infância e à capacidade das crianças de irritar os adultos. O TDAH é mais um comentário sobre a intolerância cultural que temos para com as diversidades das formas de crescimento das crianças, e a pressão que exercemos sobre elas e sobre os seus pais para que desempenhem os padrões de idade estreitos que estabelecemos.

Como psiquiatra infantil em exercício, vivi os anos de TDAH, emergindo de uma condição rara de interesse limitado e geralmente construída em termos sistêmicos, para que proliferasse para a condição infantil mais comum e construída em termos em grande parte biológicos. Atingiu a saturação há cerca de 5 anos quando a nova criança do bloco estava a ganhar uma dinâmica incessante-autismo, o tema do meu próximo capítulo.

[trad. e edição Fernando Freitas]

Idosos LGBT em Maior Risco de Declínio Cognitivo devido ao Stress das Minorias

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Um artigo recente, publicado no Journal of Gay & Lesbian Mental Health, reviu os fatores de risco de declínio cognitivo com lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) mais velhos. Os investigadores prosseguem propondo um modelo para orientar a futura investigação e prática clínica.

“Os cuidados de saúde geriátricos e os cuidados de saúde mental não podem ser informados de forma abrangente sem um maior conhecimento dos grupos e subgrupos minoritários, incluindo os idosos LGBT”, escrevem os investigadores, Anthony Correro II e Kristy A Nielson.

Pesquisas anteriores descobriram repetidamente que o stress resultante da discriminação, denominado “stress de minorias“, contribui para um risco acrescido de problemas de saúde mental em indivíduos LGBT.  No entanto, até este ponto, tem sido realizada pouca investigação sobre os fatores de risco para o envelhecimento cognitivo nesta população.

Os idosos LGBT são propensos a desigualdades na saúde, enfrentando desafios do heterossexismo e do envelhecimento sob o quadro do modelo de stress das minorias. Acredita-se que a exposição prolongada ao stress pode danificar as estruturas e funções dos sistemas corporais.

Estudos anteriores descobriram que os idosos LGBT estão em maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, vulnerabilidade inflamatória crônica a infecções patogênicas, e perturbações metabólicas devido à exposição a fatores de stress relacionados com a identidade. O aumento de condições de saúde crônicas, tais como artrite, diabetes, hipertensão, e ataque cardíaco, também se encontram em idosos LGBT. A saúde mental dos mais velhos LGBT também está comprometida devido à discriminação direta. Por exemplo, descobriu-se que a homofobia internalizada aumenta os sintomas de ansiedade e depressão.

Em geral, níveis mais elevados de hormônios de stress estão associados ao envelhecimento acelerado do cérebro e ao declínio cognitivo. Além disso, o stress crónico aumenta o risco de demência e de níveis elevados de cortisol, levando à doença de Alzheimer. Este estudo investigou o impacto específico do stress das minorias na cognição dos indivíduos LGBT.

“Os sistemas ambientais e sociais moldam as trajetórias de envelhecimento, e estes sistemas estão imbuídos de vantagens e desvantagens baseadas na posição de cada um dentro da sociedade”, observam os autores. “O stress das minorias continuará a afetar a sua saúde mental (LGBT mais velhos) e a utilização dos cuidados de saúde, o que poderá alterar a sua trajetória de envelhecimento”.

O artigo propõe um modelo conceitual introdutório do declínio cognitivo dos mais velhos LGBT relacionado com o stress das minorias. No modelo, a trajetória cognitiva dos mais velhos LGBT é teoricamente modificável pelo stress da minoria. Os autores acreditam que os efeitos neurotóxicos dos hormônios do stress e das perturbações metabólicas são os mecanismos para um declínio acelerado.

Os investigadores recomendam que os prestadores de cuidados de saúde tenham em consideração as identidades sexuais e de gênero nas avaliações cognitivas e que prestem serviços LGBT afirmativos direcionados e acessíveis. O apoio social, o envolvimento da comunidade LGBT, e a revelação da identidade são identificados como fatores protetores que retardam o declínio cognitivo dos mais velhos LGBT.

“Dado o seu (LGBT mais velhos) risco particularmente elevado de exposição ao stress, o risco de envelhecimento patológico pode ser exacerbado nos mais velhos LGBT”, concluem eles. “A compreensão dos seus riscos de declínio cognitivo e demência e das formas potenciais de prevenir os seus riscos particulares é extremamente necessária”.

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Correro, A. N., & Nielson, K. A. (2020). A review of minority stress as a risk factor for cognitive decline in lesbian, gay, bisexual, and transgender (LGBT) elders. Journal of Gay & Lesbian Mental Health24(1), 2-19. (Link)

Como o Público Compra um Conhecimento Falho da Investigação em Saúde Mental

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Apesar das críticas frequentes, o modelo de doença biomédico da psiquiatria e a sua forte confiança nos tratamentos com drogas psicotrópicas continuam a dominar o discurso público sobre saúde mental. Em um artigo publicado na Harvard Review of Psychiatry, os investigadores Estelle Dumas-Mallet e François Gonon descrevem como o modelo enganador das doenças cerebrais se torna exagerado e vendido ao público em geral.

Revendo uma vasta gama de estudos, eles mostram como as observações biomédicas são deturpadas, embelezadas e sujeitas a uma literatura plena de vieses, promovendo narrativas públicas que prejudicam os resultados dos pacientes e ofuscam abordagens psicoterapêuticas e sociais eficazes à saúde mental.

Numa comunicação por correio eletrônico com Mad in America, os autores explicaram que foram levados a escrever a matéria através de sinais de que a psiquiatria académica estava preparada para refletir sobre estas deturpações e mudar de rumo. François Gonon explicou:

“Existe, de fato, um duplo discurso da psiquiatria biológica e que afeta negativamente os cuidados prestados aos pacientes. Os meus colegas e eu trabalhámos durante dez anos para descrever as falsidades da psiquiatria biológica nos meios de comunicação social. No entanto, o principal acontecimento que nos levou a escrever o nosso artigo de perspectiva foi a publicação da carta de opinião de Gardner e Kleinman publicada em 31 de Outubro de 2019 no New England Journal of Medicine. Pela primeira vez numa revista médica de prestígio, o duplo discurso da psiquiatria foi reconhecido… No nosso artigo, revemos a literatura acadêmica, mostrando como e por que este duplo discurso é gerado. Também discutimos até que ponto ele afeta negativamente os cuidados prestados aos pacientes, especialmente a prevenção social dos transtornos mentais”.

Na primeira matéria que mencionaram (ver o resumo no MIA), um psiquiatra e um antropólogo médico proeminente, ambos da Universidade de Harvard, escreveram no New England Journal of Medicine:

“Ironicamente, embora estas limitações (dos “tratamentos biológicos”) sejam amplamente reconhecidas pelos especialistas na matéria, a mensagem dominante para o público e para o resto da medicina continua a ser que a solução para os problemas psicológicos envolve combinar o diagnóstico “certo” com a medicação “certa”. Consequentemente, os diagnósticos e os medicamentos psiquiátricos proliferam sob a bandeira da medicina científica, embora não exista uma compreensão biológica abrangente, quer das causas quer dos tratamentos das patologias psiquiátricas”. 

As limitações das abordagens predominantemente neurológicas e biológicas à saúde mental têm sido bem documentadas e discutidas em toda a literatura científica. No entanto, estas limitações não conseguiram, na sua maioria, alterar as mensagens públicas prevalecentes sobre os males psicológicos.”

A narrativa comum sugere que a resolução de problemas de saúde mental começa e termina com a correspondência de diagnósticos cientificamente validados com os correspondentes medicamentos psicotrópicos. Esta narrativa permanece inalterada, mesmo quando psiquiatras proeminentes começam a reconhecer publicamente que a compreensão neurobiológica dos transtornos psiquiátricos ainda não se traduziu em melhores cuidados para os pacientes. Do mesmo modo, os neurocientistas têm desafiado a viabilidade dos métodos prevalecentes no campo e têm argumentado que estamos dispostos a aprender tanto sobre a cognição humana, a partir de estudos comportamentais clássicos, como a partir da investigação neurocientífica.

Além disso, as mensagens públicas continuam a sobreavaliar o progresso da psiquiatria biológica. Os autores argumentam que este é um efeito de enviesamento de divulgação, onde apenas são publicados resultados estatisticamente significativos. Dada a constante dose de indignação que este problema causa aos que estão familiarizados com o problema, as lacunas nas mensagens são muitas vezes explicadas por meio da referência à fraude ou ao ato ilícito. Mas pode ser necessária uma explicação mais sistémica e multi-causal para provocar a mudança.

Dumas-Mallet e Gonon explicam como as mensagens enganosas são geradas através de um sistema que dá prioridade, nos processos de investigação e publicação, aos vários atores e interesses das instituições. Analisam os estudos acadêmicos e demonstram a prevalência de deturpações e vieses na literatura científica. As falsidades na literatura científica são promovidas como descobertas significativas, são divulgadas à imprensa e amplificadas pelos meios de comunicação social.

Em primeiro lugar, os autores descrevem as falsificações das observações científicas já presentes na literatura biomédica, centrando-se na psiquiatria. O embelezamento de dados, por vezes chamado “p-hacking”, envolve falsificação destinada a gerar resultados significativos através da eliminação de dados, alteração, término da coleta de dados, ou manipulação estatística. Tal embelezamento é incentivado para os investigadores em um contexto de cultura de competição acadêmica. Por exemplo, revistas proeminentes favorecem estudos positivos, e estas publicações são necessárias para assegurar financiamento futuro e subir na hierarquia da investigação acadêmica. Os autores explicam:

“A percentagem de artigos científicos que relatam resultados que confirmam as hipóteses dos investigadores aumentou de 70% em 1990 para 86% em 2007, com a psiquiatria e a psicologia a mostrar a maior taxa de resultados positivos de todas as disciplinas científicas em revisão”.

Outros problemas incluem descrições imprecisas ou vagas de métodos, o que é extremamente problemático. Estas descrições afetam de forma decisiva a capacidade dos outros para julgar a validade dos resultados ou para tentar replicar a descoberta. A deturpação é também comum em toda a literatura. Os autores apontam vários casos em que houve incoerências óbvias entre os resultados reais do estudo e as conclusões tiradas no final.

Por exemplo, “um estudo de imagem do cérebro publicado em 2017 relatou que algumas áreas subcorticais do cérebro são menores em doentes com TDAH”. A maior diferença entre pacientes e controles estava relacionada com o volume da amígdala, e era muito menor (diferença média = 1,5%) do que a variabilidade natural dentro de controles saudáveis (DP = 9,4%). Os autores concluíram que “os nossos resultados confirmam que os pacientes com TDAH têm realmente cérebros alterados, ou seja, que a TDAH é uma perturbação do cérebro”. (ver artigo publicado sobre este controverso estudo).

Há também questões relacionadas com a cobertura dos meios de comunicação social da investigação biomédica psiquiátrica. Quando existem distorções na literatura científica, elas são divulgadas acriticamente ao público por jornalistas pressionados pelo tempo. Os comunicados de imprensa são promovidos por instituições científicas para publicitar estes estudos, e as afirmações feitas nos comunicados são frequentemente copiadas por atacado para a cobertura dos meios de comunicação social. Os jornalistas cobrem preferencialmente os estudos iniciais e seguem de perto e consistentemente os comunicados de imprensa correspondentes, não relatando as limitações e incertezas dos resultados.

Num estudo comparativo de 663 estudos iniciais associando um fator de risco a uma patologia, uma média de um em cada dois estudos iniciais “foi ou contrariada ou fortemente atenuada pela meta-análise correspondente”. No entanto, o público raramente é informado de pesquisas que refutam os estudos iniciais, e as teorias reducionistas não são encontradas com provas contrárias existentes. Num outro exemplo, apenas 4 dos 50 jornais que cobrem uma história sobre a susceptibilidade genética à depressão também relataram uma meta-análise posterior que não confirmou os seus resultados.

Estas deturpações não são apenas imprecisas. Também afetam os cuidados ao paciente, aumentando a estigmatização que, por sua vez, afeta negativamente as perspectivas de cura e recuperação.

“De fato, a percentagem de estadunidenses que estão convencidos de que a esquizofrenia e a depressão são doenças genéticas do cérebro aumentou de 61% em 1996 para 71% em 2006”, escrevem os autores. “Embora os leigos que aderem a esta crença tendam a culpar menos os doentes pelos seus sintomas, eles os percebem como mais perigosos e são mais pessimistas quanto a uma possível recuperação”.

Os autores apontam também para estudos genéticos e epidemiológicos que confirmam a importância dos fatores ambientais na etiologia das perturbações mentais comuns. Porque os fatores de risco psicossociais são mais susceptíveis do que os seus equivalentes genéticos à remediação pela política social, isto deveria ser uma boa notícia. No entanto, na hierarquia dos fatores causais, as reportagens das medias enfatizam mais os fatores genéticos do que os psicológicos, deixando os fatores sociais de fora quase que inteiramente.

Estes fatores sociais estão consistentemente relacionados com a posição socioeconómica das pessoas afetadas. Em termos gerais, quanto maiores forem as desigualdades num território, maior será a prevalência de perturbações mentais nas populações mais desfavorecidas”. A relação entre a pobreza relativa e as perturbações mentais é elidida em favor de narrativas que descrevem as perturbações mentais como resultantes de uma disfunção intrínseca e não de uma desvantagem social sistêmica.

A literatura existente faz um argumento irrefutável de que uma compreensão psicossocial dos transtornos psíquicos é pelo menos tão importante quanto uma compreensão neurobiológica. Uma tal mudança na narrativa dominante tem o potencial de influenciar os tratamentos de saúde mental, bem como a educação em saúde mental do público, o que tem impacto na forma como os doentes de saúde mental são tratados por aqueles que os rodeiam.

****

Dumas-Mallet, E., & Gonon, F. (2020). Mensagens em Psiquiatria Biológica: Más representações, suas causas e potenciais consequências. Harvard Review of Psychiatry, https://doi.org/10.1097/HRP.0000000000000276 (Link)

A PSIQUIATRIA É BASEADA EM EVIDÊNCIAS? Capítulo 2/Parte 2

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Kit de sobrevivência
em saúde mental e retirada
dos medicamentos
psiquiátricos

Peter C. Gøtzsche

Nota do Editor: Por autorização do autor, o Mad in Brasil (MIB) estará publicando quinzenalmente um capítulo do recente livro do Dr. Peter Gotzsche. Os capítulos irão ficar disponíveis em um arquivo aqui

CAPÍTULO 2, PARTE 2

A PSIQUIATRIA É BASEADA EM EVIDÊNCIAS?

Os antibióticos também são tratamentos muito específicos. Você pode ficar fatalmente doente se estiver infectado com estreptococos, mas pode se recuperar em uma ou duas horas, se receber penicilina.

As drogas psiquiátricas interagem com vários receptores e há receptores em outros lugares do corpo, fora do cérebro. Mais de cem neurotransmissores foram descritos, e o cérebro é um sistema altamente complicado, o que torna impossível saber o que acontecerá quando você perturbar este sistema com uma droga.

É revelador ver o que acontece quando as pessoas são expostas a drogas psiquiátricas e a outras substâncias psicoativas. Há semelhanças notáveis, não importa qual droga ou substância utilizamos, se são drogas de prescrição, narcóticos comprados na rua, álcool ou ópio. Os efeitos comuns são entorpecimento dos sentimentos, embotamento emocional,
sonolência, falta de controle sobre seus pensamentos, menor preocupação consigo mesmo e com os outros, e capacidade reduzida ou ausente de ter relações sexuais e de se apaixonar.

As substâncias psicoativas mudam o seu cérebro e se você parar abruptamente de tomar uma droga, os sintomas de abstinência também são notavelmente semelhantes, não importa que droga é. Há também diferenças, mas é claro que as drogas psiquiátricas não têm ações específicas. Se você as der a voluntários ou a animais saudáveis, eles
experimentarão os mesmos efeitos não específicos que os pacientes sentem. Isto não é assim para os medicamentos específicos. Se você der penicilina a uma pessoa saudável, essa pessoa não se tornará melhor e provavelmente não sentirá nada.

Temos muitas drogas específicas que podem aumentar a sobrevivência. Antibióticos, anti-hipertensivos, estreptoquinase para ataques cardíacos, aspirina para prevenir novos ataques cardíacos, fatores de coagulação para pessoas com defeitos hereditários de coagulação, vitaminas para pessoas com deficiências vitamínicas graves, hormônios da tireoide para mixedema, e muito mais.

Os medicamentos psiquiátricos não podem curar as pessoas, apenas amortecem os seus sintomas, acompanhados por muitos efeitos nocivos. E eles não salvam a vida das pessoas; eles matam as pessoas. Estimei, com base na melhor ciência que pude encontrar, que os medicamentos psiquiátricos são a terceira principal causa de morte, depois das doenças
cardíacas e do câncer. [4] Talvez não sejam tão prejudiciais assim, mas não há dúvida de que matam centenas de milhares de pessoas a cada ano. Estimei que apenas uma droga neuroléptica, a olanzapina (Zyprexa), matou 200.000 pacientes até 2007. [51] O que é particularmente triste é que de longe a maioria desses pacientes nunca deveria ter sido tratada com Zyprexa.

Os psiquiatras querem ouvir sobre isso? Não. Em outubro de 2017, fui convidado a dar duas palestras no 17º Congresso Mundial de Psiquiatria da Associação Psiquiátrica Mundial, em Berlim. Quando falei sobre “A retirada de psicotrópicos”, havia cerca de 150 psiquiatras na plateia. Quinze minutos depois, falei sobre “Por que as drogas psiquiátricas são a terceira causa principal de morte depois das doenças cardíacas e do câncer?” Três dos mais de 10.000 psiquiatras presentes no congresso se recusaram a dar entrevistas e cuidadosamente evitaram ser filmados pela equipe do documentário que me seguia, como se eles estivessem a caminho para ver um filme pornô.

A primeira coisa que as pessoas notam quando começam a tomar uma droga psiquiátrica são os seus danos. Poucas pessoas não sofrerão nenhum dano. A reação óbvia a isto seria dizer ao seu médico que não quer o medicamento. Mas – de acordo com o roteiro da psiquiatria – seu médico o persuadirá a continuar e lhe será dito que leva algum tempo até que o efeito comece e que os danos – que os médicos chamam de efeitos colaterais porque parece mais agradável – serão menos perceptíveis com o tempo.

Portanto, você continua. Mesmo quando você estiver bem, o que teria acontecido na maioria dos casos, também sem medicamentos, seu médico insistirá – de acordo com as diretrizes baseadas em estudos altamente deficientes que muitas vezes foram escritos por médicos que estão na folha de pagamento da indústria [4] – que você precisa continuar por mais um número de meses, às vezes anos, ou pelo resto de sua vida.

Em seu artigo, “Os antidepressivos curam ou criam estados anormais no cérebro?”, Joanna Moncrieff e David Cohen explicam porque o modelo de ação de drogas centrado na doença que supõe que as drogas retificam as anormalidades biológicas é incorreto.[52] Um modelo de ação centrado em drogas é muito mais plausível. Neste modelo, que não é um modelo, mas apenas uma simples realidade, as drogas psicotrópicas criam estados anormais que podem, por coincidência, aliviar os sintomas. Os efeitos do álcool podem aliviar sintomas de fobia social, mas isso não implica que o álcool corrija um desequilíbrio químico subjacente à fobia social.

Os autores argumentam que um modelo baseado na doença – como a insulina para a diabetes – poderia ser considerado estabelecido se:

a patologia das condições ou os sintomas psiquiátricos tivessem sido delineados independentemente da caracterização da ação da droga, e a ação da droga pudesse ser extrapolada a partir dessa patologia;

escalas de classificação usadas para avaliar o tratamento de medicamentos em ensaios clínicos tivesse detectado de forma confiável mudanças nas manifestações de um processo de doença subjacente em vez de detectar efeitos induzidos pelos medicamentos;

modelos animais de doenças psiquiátricas tivessem selecionado drogas específicas; drogas que se pensava terem uma ação específica em certas condições, tivessem mostrado ser superiores às drogas que se pensava terem efeitos não específicos; os voluntários saudáveis tivessem mostrado padrões de efeitos diferentes ou ausentes, em comparação com os pacientes diagnosticados, uma vez que se espera que as drogas exerçam os seus efeitos terapêuticos apenas em um sistema nervoso anormal;

e o uso generalizado de medicamentos supostamente específicos para doenças tivesse levado à demonstração de melhorias a curto ou longo prazo nos resultados dos transtornos psiquiátricos.

Nada disso é verdade para as drogas psiquiátricas. Em uma cadeia circular de lógica, a teoria da monoamina da depressão foi formulada principalmente em resposta a observações  que as primeiras pílulas da depressão comercializadas aumentavam os níveis de monoamina cerebral.

As monoaminas incluem serotonina, dopamina e noradrenalina, mas não há evidência de que exista uma anormalidade de monoamina na depressão. As escalas de classificação da depressão, por exemplo, a escala Hamilton, [53] contêm itens que não são específicos da depressão, incluindo dificuldades para dormir, ansiedade, agitação e queixas somáticas. Estes sintomas provav lmente respondem aos efeitos sedativos não específicos que ocorrem com muitas pílulas da depressão e em outras substâncias, por exemplo, álcool, ópio e neurolépticos, que também poderiam ser considerados pílulas da depressão, mas não prescrevemos álcool ou morfina para pessoas com depressão e nem as chamamos de pílulas da depressão.

Usando a escala Hamilton, até mesmo estimulantes como cocaína, ecstasy, anfetaminas e drogas de TDAH poderiam ser consideradas pílulas da depressão. Quase tudo poderia. De fato, muitas drogas que não são consideradas pílulas da depressão mostram efeitos comparáveis a elas, por exemplo, benzodiazepinas, opiáceos, buspirona, estimulantes, reserpina, eoutros neurolépticos. [52]

Os recentes aumentos acentuados no uso de pílulas da depressão foram acompanhados por uma maior prevalência e duração de episódios depressivos e pelo aumento das taxas de ausência por doenças. [52] Em todos os países onde esta relação tem sido examinada, o aumento do uso de medicamentos psiquiátricos tem sido acompanhado por um aumento nas pensões por invalidez por razões de saúde mental. [3] Isto mostra que os medicamentos psiquiátricos são prejudiciais.

[1] Todos nós devemos contribuir para mudar a narrativa seriamente enganosa da psiquiatria.

[2] Pílula da depressão é o termo correto para um “antidepressivo”, na medida que não faz promessas.

[3] Grande tranquilizante é o termo correto para um “antipsicótico”, pois é isso que o medicamento faz, nos pacientes, em voluntários saudáveis e em animais. Ele também pode ser chamado de neuroléptico, na medida que não faz promessas.

[4] Sedativo é o termo correto para um medicamento “anti-ansiedade”, pois é isso que o medicamento faz, em pacientes, voluntários saudáveis e em animais.

[5] Aceleração na prescrição é o termo correto para os medicamentos TDAH, pois funcionam como anfetaminas, e alguns deles são anfetaminas de fato.

6 “Estabilizador de humor” é como o unicórnio. Como tal droga não existe, o termo não deve ser usado.

Julgamentos errados levaram os psiquiatras a se extraviarem

As escalas de classificação utilizadas em ensaios controlados por placebo de medicamentos psiquiátricos para medir a redução dos sintomas fizeram os psiquiatras acreditarem que os medicamentos funcionam e que o efeito é específico para o transtorno que está sendo tratado. Entretanto, tais resultados não dizem nada sobre se os pacientes foram curados ou se podem levar uma vida razoavelmente normal. Além disso, os efeitos medidos com estas escalas não são confiáveis. Praticamente todo ensaio clínico de drogas controlado por placebo na psiquiatria é falho.[4,54]

Como as pesquisas são deficientes, as revisões sistemáticas das pesquisa também são deficientes, e as diretrizes são por sua vez deficientes. Até mesmo o processo de aprovação de medicamentos é deficiente. Os reguladores de drogas não prestam atenção suficiente às falhas. Eles nem mesmo pedem às empresas farmacêuticas os muitos dados ou apêndices
em falta que, de acordo com os indicadores que as empresas fornecem, deveriam ter sido incluídos em seus pedidos. [55]

A abrupta interrupção no grupo placebo

Na grande maioria dos ensaios clínicos, os pacientes já estavam tomando um medicamento semelhante ao que está sendo testado contra o placebo. Após um curto período de washout sem este medicamento, os pacientes são randomizados para o novo medicamento ou para o placebo. Há três problemas principais com este projeto. Primeiro, os pacientes que são recrutados para os ensaios são aqueles que não reagiram muito negativamente na obtenção de tal medicamento [52]. Portanto, provavelmente não reagirão negativamente ao novo medicamento, o que significa que os ensaios subestimarão os danos dos
medicamentos psiquiátricos.

Segundo, quando pacientes que toleraram um medicamento psiquiátrico são randomizados para o grupo placebo, eles provavelmente reagirão mais negativamente a isto do que se não tivessem estado em tratamento antes. Isto porque os medicamentos psiquiátricos têm uma gama de efeitos, alguns dos quais podem ser percebidos como positivos, por exemplo,
euforia ou entorpecimento emocional. Em terceiro lugar, os sintomas de abstinência pelos quais passam alguns pacientes do grupo placebo os prejudica. Portanto, não é surpreendente que o novo medicamento pareça ser melhor do que o placebo. A introdução de períodos mais longos de washout não elimina este problema. Se as pessoas sofreram danos cerebrais permanentes antes de entrar nos testes, os períodos de washout não podem compensar, e mesmo que não seja o caso, elas podem sofrer de sintomas de abstinência durante meses ou anos.[7,56,57] Milhares de ensaios de neurolépticos foram realizados, mas quando recentemente o meu grupo de pesquisa procurou ensaios controlados por placebo em psicose que incluíam apenas pacientes que não tinham recebido tal medicamento antes, encontramos apenas um ensaio.[58] Era da China e parecia ser fraudulento. Assim, todos os ensaios de drogas neurolépticas controlados por placebo e randomizados em pacientes com transtornos do espectro da esquizofrenia foram defeituosos, o que significa que o uso de drogas neurolépticas não pode ser justificado com base nas evidências que temos atualmente.[4]]

O primeiro ensaio que não teve falhas foi publicado em 20 de março de 2020, [59] 70 anos após a descoberta do primeiro neuroléptico, a clorpromazina, que a Rhône-Poulenc comercializou em 1953 com o nome comercial Largactil, o que significa ampla atividade. Entretanto, mesmo 70 anos não foram suficientes para os psiquiatras caírem em si. Eles ainda não estavam prontos para tirar as consequências de seus resultados, o que seu resumo demonstra:[59]

“as diferenças de grupo foram pequenas e clinicamente triviais, indicando que o tratamento com medicação placebo não foi menos eficaz do que o tratamento antipsicótico convencional (Diferença média = -0,2, intervalo de confiança de 2 lados 95% -7,5 a 7,0, t = 0,060, p = 0,95). Dentro do contexto de um serviço especializado de intervenção precoce, e com uma curta duração de psicose não tratada, a introdução imediata de medicamentos antipsicóticos pode não ser necessária para todos os casos de psicose do primeiro episódio, a fim de ver uma melhora funcional.

Entretanto, esta descoberta só pode ser generalizada para uma proporção muito pequena de casos de psicose do primeiro episódio (FEP) nesta fase, e um estudo maior é necessário para esclarecer se o tratamento sem antipsicóticos pode ser recomendado para subgrupos específicos daqueles com FEP”. Traduzi o que isto significa para aqueles de nós que não têm interesses corporativos a defender:

“Nosso estudo foi pequeno, mas é único porque só incluiu pacientes que não tinham sido tratados com um neuroléptico antes. Descobrimos que os neurolépticos não são necessários para pacientes com psicose não tratada. Isto é um grande progresso para os pacientes, pois estas drogas são altamente tóxicas e dificultam o seu retorno a uma vida normal”. Com base na totalidade das evidências que temos, o uso de neurolépticos em psicose não pode ser justificado. Os neurolépticos só devem ser utilizados em ensaios aleatórios controlados por placebo de pacientes com drogas”.

Os autores de uma revisão sistemática da Cochrane de 2011 sobre neurolépticos para  esquizofrenia em episódios iniciais de esquizofrenia indicaram que as evidências disponíveis não suportam a conclusão de que o tratamento antipsicótico em um episódio precoce agudo de esquizofrenia é eficaz.60 Esta é uma das poucas revisões Cochrane de medicamentos psiquiátricos em que se pode confiar. [4,54] Há enormes problemas com a
maioria das revisões da Cochrane, por exemplo, as revisões da Cochrane na esquizofrenia incluem rotineiramente ensaios em uma meta-análise (que é um resumo estatístico dos resultados de vários ensaios) onde falta a metade dos dados.[4] Isto é lixo que entra, lixo que sai, com um pequeno logotipo da Cochrane, como Tom Jefferson disse em uma entrevista no artigo, “Cochrane – um navio afundando?” [61] Para saber por quanto tempo os pacientes devem ser aconselhados a continuar tomando os seus medicamentos, foram realizados os chamados estudos de manutenção, também chamados de estudos de abstinência.

Estes estudos são altamente enganosos devido aos efeitos da “interrupção abrupta”. Uma grande metanálise de 65 ensaios controlados por placebo descobriu que apenas três pacientes precisavam ser tratados com neurolépticos para evitar uma recaída após um ano.[62] Isto parece muito impressionante, mas o resultado é totalmente não confiável. O benefício aparente do tratamento contínuo com neurolépticos diminuiu com o tempo e ficou próximo de zero após três anos. Assim, o que foi visto após um ano foi o dano iatrogênico, que foi descrito como um benefício.

Quando o acompanhamento é maior do que três anos, acontece que descontinuar os neurolépticos é a melhor opção. Há apenas um teste de manutenção devidamente planejado e conduzido, da Holanda. Ele tem sete anos de acompanhamento, e os pacientes que tiveram suas doses diminuídas ou descontinuadas se deram muito melhor do que aqueles que continuaram tomando neurolépticos: 21 de 52 (40%) contra 9 de 51 (18%)
tinham se recuperado de seu primeiro episódio de esquizofrenia. [63] As lideranças psiquiátricas interpretam os estudos de manutenção dos neurolépticos e das pílulas da depressão como sendo altamente eficazes na prevenção de novos episódios de psicose e depressão, respectivamente, [4] e que os pacientes devem, portanto, continuar tomando os medicamentos por anos ou até mesmo pela vida.

Os pesquisadores dinamarqueses tentaram repetir o estudo holandês, mas o seu estudo foi abandonado porque os pacientes estavam assustados com o que aconteceria se não continuassem tomando as suas drogas. Um psiquiatra envolvido com o ensaio clinico fracassado me falou sobre outro recente teste de retirada, realizado em Hong Kong.[64] Os pesquisadores trataram pacientes do primeiro episódio com quetiapina (Seroquel) por dois anos; interromperam o tratamento em metade dos pacientes introduzindo placebo; e relataram os resultados em dez anos. Eles descobriram que um resultado clínico ruim ocorreu em 35 (39%) dos 89 pacientes no grupo de descontinuação e em apenas 19 (21%) dos 89 pacientes no grupo de manutenção do tratamento. Imediatamente suspeitei que o ensaio estava com falhas, pois este resultado era exatamente o oposto do resultado holandês, e que eles tinham afilado o neuroléptico muito rapidamente e tinham causado os sintomas com a ‘abrupta interrupção’. Como não havia nada sobre o seu esquema de afilamento no artigo, procurei em uma publicação anterior os resultados em três anos.65 Eles não afilaram nada; todos os pacientes randomizados com placebo foram expostos à ‘interrupção abrupta’. O relatório de dez anos foi altamente revelador: “Uma análise post-hoc sugere que as consequências adversas da descontinuação precoce foram mediadas em parte através de uma recaída precoce durante o período de um ano após a descontinuação da medicação”.[64]

Os investigadores definiram um mau resultado como sendo um conjunto de sintomas psicóticos persistentes, um requisito para tratamento comclozapina ou morte por suicídio. Eles chamaram o seu estudo de duplo cego, mas é impossível manter o cego em uma pesquisa com sintomas da interrupção abrupta, e é altamente subjetivo se existem sintomas psicóticos e se a clozapina deve ser administrada. Estou muito mais interessado em saber se os pacientes retornam a uma vida normal, e uma tabela mostrou, após dez anos, 69% dos que continuaram tomando a sua droga estavam empregados contra 71% no grupo de abstenção abrupta, um resultado bastante notável considerando os danos iatrogênicos infligidos a este último grupo.

Considero este ensaio clínico altamente antiético porque alguns pacientes cometem suicídio quando experimentam efeitos da interrupção abrupta. Robert Whitaker demonstrou que este projeto de ensaio é letal.[1,66]

Um em cada 145 pacientes que entraram nos ensaios para risperidona (Janssen), olanzapina (Eli Lilly), quetiapina (AstraZeneca) e sertindole (Lundbeck) morreu, mas nenhuma destas mortes foi mencionada na literatura científica, e a FDA não exigiu que fossem mencionadas. A taxa de suicídio nestes ensaios clínicos foi 2 a 5 vezes maior do que a norma. Não é de se admirar que a AstraZeneca que vende quetiapina tenha ficado feliz em financiar um estudo em Hong Kong que foi seriamente prejudicado em favor da sua droga.[64]

A tentativa dos investigadores de explicar o que encontraram é de tirar o fôlego. Eles escreveram que o seu resultado, no terceiro ano, levantou a sugestão de que, “pode haver uma janela de tempo ou um período crítico durante o qual uma recaída pode ser modificadora do curso”. A plausibilidade da existência de tal janela de tempo entre o segundo e o terceiro ano é zero. Como é altamente variável quando ou se um paciente recai, não pode haver nenhuma janela de tempo. Os psiquiatras prejudicaram deliberadamente a metade de seus pacientes, mas concluíram que não fizeram nada de errado e que seus pacientes, ou a doença deles, ou uma “janela de tempo”, é que são os culpados.

Ausência de cegueira

Devido aos evidentes efeitos colaterais dos medicamentos psiquiátricos, os ensaios rotulados como duplo-cegos não são duplo-cegos. Muitos pacientes – e seus médicos – sabem quem está drogado e quem está tomando placebo. [4] É preciso muito pouca quebra da cegueira em uma pesquisa antes que pequenas diferenças registradas possam ser explicadas puramente por um viés na avaliação dos resultados em uma escala de
classificação subjetiva. Em ensaios supostamente duplo cegos, os investigadores podem relatar efeitos positivos que só existem em sua imaginação. Isto ocorreu em um
famoso estudo financiado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA em 1964, que ainda é altamente citado como evidência de que os neurolépticos são eficazes. Foi um ensaio com 344 pacientes recém admitidos com esquizofrenia que foram randomizados para fenotiazinas como a clorpromazina, ou para placebo.[67] Os investigadores relataram,
sem oferecer nenhum dado numérico, que as drogas reduziram a apatia e tornaram os movimentos menos retardados, exatamente o oposto do que essas drogas fazem às pessoas, o que os psiquiatras haviam admitido uma década antes.[3] Os investigadores alegaram um enorme benefício para a participação social (tamanho do efeito de 1,02) e que as drogas tornam os pacientes menos indiferentes ao meio ambiente (tamanho do efeito de 0,50). Os medicamentos fazem o oposto. Eles também alegaram, sem dados, que 75% contra 23% estavam acentuada ou moderadamente e sugeriram que as drogas não deveriam mais ser chamadas de tranquilizantes, mas sim de drogas anti-esquizofrênicas.  estudo contribuiu para moldar as crenças errôneas de que a esquizofrenia pode ser
curada com drogas e que os neurolépticos devem ser tomados indefinidamente.[1]

Os neurolépticos não têm efeitos clinicamente relevantes sobre a psicose. Apesar dos formidáveis vieses – interrupção abrupta, falta de cegueira, e financiamento da indústria que implica em torturar os dados até eles confessarem,[4,51] – os resultados publicados têm sido muito pobres.[4] O  efeito clinicamente menos relevante corresponde a cerca de 15 pontos na Escala de Síndrome Positiva e Negativa (PANSS) [68] comumente usada nos
ensaios. No entanto, o que foi relatado em ensaios controlados por placebo de medicamentos novos submetidos à FDA foi de apenas 6 pontos [69] – embora a pontuação melhore facilmente quando alguém é derrubado por um tranquilizante e passa a expressar ideias anormais com menos frequência.[9]

Os remédios para a depressão também não funcionam. O menor efeito que pode ser percebido na escala Hamilton é de 5-6,70 mas apenas cerca de 2 é obtido em ensaios com falhas.[71,72]

Algumas meta-análises descobriram que o efeito das pílulas da é maior se os pacientes estiverem severamente deprimidos,[71,73,74] e os comprimidos são geralmente recomendados para a depressão severa e às vezes também para a depressão moderada. Entretanto, os efeitos relatados são muito pequenos para todas as severidades de depressão, por exemplo, [2,7] para pacientes com um escore de Hamilton acima de 23 que
é considerado depressão muito severa,[74] e 1,3 para graus mais amenos.[71]

Além disso, é provavelmente apenas um artefato matemático que o efeito pareça ser um pouco maior na depressão severa.[75] Como a pontuação de linha de base para depressão severa é maior do que para depressão leve, qualquer tendência influenciará o resultado medido mais em pacientes com depressão severa do que naqueles com depressão leve. Se assumirmos que o viés de desbloqueio é de 10% ao estimar o efeito no grupo de medicamentos e, pela simplicidade do exemplo, que não há viés no grupo placebo e nenhuma melhora entre a linha de base e a visita final, então uma pontuação de linha de base Hamilton de 25 ainda seria de 25 após o tratamento. Mas devido ao viés, haveria uma diferença de 2,5 pontos entre o medicamento e o placebo. Se a linha de base for 15, essa diferença seria de apenas 1,5.

O pequeno efeito das pílulas da depressão medido em ensaios com falhas desaparece se o placebo contiver atropina, que tem efeitos colaterais semelhantes aos das pílulas, por exemplo, boca seca.[76] Tais testes foram feitos há muitos anos quando as pílulas da depressão eram tricíclicos.

Muitos psiquiatras dizem que estas são mais eficazes do que as novas pílulas da depressão (mas também mais perigosas, razão pela qual são raramente usadas). Apesar disso, o efeito em sete ensaios com atropina no placebo só correspondeu a 1,3 na escala de Hamilton.76 O “efeito” dos medicamentos mais novos é de cerca de 2,3, ou quase o dobro.[71,72]

É muito fácil fazer com que quase qualquer substância com efeitos colaterais “funcione” para a depressão, incluindo os estimulantes.[77] Três dos 17 itens na escala Hamilton são sobre a insônia, e só essa questão pode render seis pontos na escala,[53] ou três vezes mais do que o “efeito” em testes tendenciosos. E se uma pessoa passa da ansiedade máxima para nenhuma ansiedade, oito pontos podem ser ganhos.

Resultados irrelevantes

O que os médicos querem alcançar com as drogas? Acima de tudo, é evitar suicídios e mortes por outras causas. Além disso, levar os pacientes de volta a uma vida normal e com bons contatos sociais. Às vezes, isto não pode ser obtido. A maioria dos pacientes que recebem um diagnóstico de depressão vivem vidas deprimentes, por exemplo, são casados com a pessoa errada, têm um chefe que os intimida, um trabalho tedioso ou uma doença crônica, e dificilmente é o trabalho dos médicos tentar tirá-los dessa situação. Além disso, não existem pílulas para isso, mas a essas pessoas são rotineiramente prescritas pílulas da depressão, que são vistas como sendo a “solução” para os problemas da vida. Uma pontuação em uma escala de classificação não nos diz se o paciente está bem. Mais de mil testes de pílulas da depressão controlados por placebo já foram realizados, mas não vi nenhum que medisse se os pacientes estavam curados por um medicamento, ou seja, se voltaram a ter uma vida produtiva normal. Se tais ensaios clínicos existissem, teríamos
sabido sobre eles. A menos que eles tenham mostrado que as drogas pioraram a situação e, por conseguinte, foram enterrados nos arquivos da empresa.[4]

De acordo com o manual da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-5, a depressão maior está presente quando o paciente apresenta 5 ou mais de 9 sintomas que “causam angústia ou comprometimento clinicamente significativo na área social, ocupacional ou em outras áreas importantes de funcionamento”. Dada a forma como o transtorno é
definido, não faz sentido que os testes de drogas não utilizem esses resultados.

Um estudo com esses resultados não foi apropriado, por ser uma pesquisa sobre a abstinência que apenas nos disse que os danos com a interrupção abrupta que os psiquiatras infligem aos pacientes eram maiores para alguns medicamentos do que para outros.[78] Sem surpresa, os pacientes que tomavam fluoxetina (o produto do patrocinador, Eli Lilly) podiam suportar uma curta interrupção do tratamento, onde os pacientes recebiam placebo, na medida que este medicamento tem um metabolito ativo com uma meia-vida muito longa. A paroxetina tem uma meia-vida curta, e mesmo depois de faltar apenas uma dose, ocorreu um aumento estatisticamente significativo dos danos, que se agravou durante os cinco dias seguintes. A pesquisa do laboratório Lilly foi grosseiramente antiética. Os sintomas de abstinência após a retirada da paroxetina eram graves, o que era o esperado tomando como referência as observações clínicas e um estudo anterior, semelhante, também patrocinado por Lilly.[79] Os pacientes experimentaram “durante a substituição do placebo, uma piora estatisticamente significativa da gravidade da náusea, sonhos incomuns, cansaço ou fadiga, irritabilidade, humor instável com mudanças repentinas, dificuldade de concentração, dores musculares, sensação de tensão, calafrios, problemas para dormir, agitação e diarreia”. [78] Na
experiência anterior do Lilly,[79] cerca de um terço dos pacientes em uso da paroxetina ou da sertralina tiveram uma piora do humor, irritabilidade e agitação, assim como um aumento na pontuação de pelo menos oito na escala Hamilton, que é a diferença entre estar ligeiramente deprimido eseveramente deprimido.[74]

Lilly sacrificou os pacientes para obter uma vantagem comercial. Muitos pacientes sofreram de uma depressão com a abstinência causada pelo desenho cruel do ensaio clínico, e os vários danos que sofreram aumentaram o risco de suicídio, violência e homicídio. [4] Isto já era conhecido muito antes da realização do estudo. [2,4,80]

Sem surpresas, “Pacientes tratados com a paroxetina relataram uma deterioração estatisticamente significativa no funcionamento no trabalho, nos relacionamentos, nas atividades sociais e no funcionamento em geral”. [78]

REFERÊNCIAS 

Capítulo 2. A psiquiatria é baseada em evidências?

1 Whitaker R. Mad in America: bad science, bad medicine, and the enduring mistreatment
of the mentally ill. Cambridge: Perseus Books Group; 2002.
2 Healy D. Let them eat Prozac. New York: New York University Press; 2004.
3 Whitaker R. Anatomy of an epidemic, 2nd edition. New York: Broadway Paperbacks;
2015.
4 Gøtzsche PC. Deadly psychiatry and organised denial. Copenhagen: People’s Press;
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[Trad. e Ed. Fernando Freitas]

Para Hannah Arendt, o totalitarismo está enraizado na solidão

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Publicado em Aeon: “‘O que prepara os homens para o domínio totalitário no mundo não totalitário é o fato de que a solidão, outrora uma experiência limite normalmente sofrida em certas condições sociais marginais como a velhice, se tornou uma experiência quotidiana das massas sempre em crescimento no nosso século’. – From The Origins of Totalitarianism (1951) por Hannah Arendt

. . . A solidão organizada, criada a partir da ideologia, leva ao pensamento tirânico, e destrói a capacidade de uma pessoa distinguir entre realidade e ficção – de fazer julgamentos. Na solidão, a pessoa é incapaz de continuar uma conversa consigo própria, porque a sua capacidade de pensar está comprometida. O pensamento ideológico afasta-nos do mundo da experiência vivida, mata à fome a imaginação, nega a pluralidade, e destrói o espaço entre os homens que lhes permite relacionarem-se uns com os outros de forma significativa. E assim que o pensamento ideológico se enraíza, a experiência e a realidade já não se sustentam no pensamento. Em vez disso, a experiência conforma-se com a ideologia no pensamento. É por isso que quando Arendt fala de solidão, não está apenas a falar da experiência afetiva da solidão: está a falar de uma forma de pensar. A solidão surge quando o pensamento está divorciado da realidade, quando o mundo comum foi substituído pela tirania das exigências lógicas coercivas.

Pensamos a partir da experiência, e quando já não temos novas experiências no mundo para pensar, perdemos os padrões de pensamento que nos guiam no pensamento sobre o mundo. E quando nos submetemos ao automatismo do pensamento ideológico, abdicamos da nossa liberdade interior de pensar. É esta submissão à força da dedução lógica que “prepara cada indivíduo no seu isolamento solitário contra todos os outros” para a tirania. A livre circulação no pensamento é substituída pela corrente propulsora e singular do pensamento ideológico”.

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A estratégia da Gestão Autônoma da Medicação (GAM) em um território da cidade de São Paulo

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A estratégia da Gestão Autônoma da Medicação (GAM) em um território da cidade de São Paulo foi abordado pela recente pesquisa publicada na revista Polis e Psique. As autoras da PUC-SP usaram fragmentos de conversas registradas nos diários de campo das atividades do GAM.

O Guia GAM, criado no Canadá e adaptado para o Brasil, é uma ferramenta que visa potencializar a participação das pessoas nas decisões relativas à medicação e ao seu processo de cuidado, sendo utilizada em grupos de usuários e técnicos de saúde mental (Onocko-Campos et cols., 2012).

“O Coletivo GAM é o espaço onde usuários, trabalhadores, gestores, docentes e pesquisadores partilham a análise dos processos de trabalho, os desafios da experiência, suas dificuldades, êxitos, perspectivas futuras.”

Foi realizada entre 2012-2014 uma pesquisa – intervenção que envolveu os serviços de Atenção Básica e os Centros de Atenção Psicossociais do território da Freguesia do Ó/Brasilândia, a partir do reconhecimento por parte de gestores e trabalhadores da necessidade de novas práticas como resposta a um crescente processo de medicalização dos usuários.

A pesquisa acompanhou 12 casos de saúde mental desse território por carca de um ano. Da análise dessas trajetórias emergiram algumas problematizações: a escassa oferta de saúde mental na Atenção Básica, muitas vezes reduzidas a trocas de receitas; a queixa dos usuários quanto aos efeitos adversos e incômodos dos remédios psiquiátricos; o consumo exagerado e continuado de drogas prescritas; a pouca visibilidade e oferta de cuidado da Atenção Básica às necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas e a demanda de usuários de saúde mental por espaços de expressão, escuta, reconhecimento e troca.

Foi durante a pesquisa que os autores utilizaram o guia GAM como uma ferramenta para que os participantes pudessem falar sobre os efeitos adversos dos remédios e expressarem suas necessidades em saúde mental, como forma de reivindicar sua autonomia. Como estratégia de formação permanente das equipes de saúde foram ofertadas oficinas sobre a metodologia do GAM.

Os três efeitos encontrados com a experiência intensiva do GAM: A estratégia GAM instala uma experiência crítica à medicalização, instala uma radicalidade em relação à perspectiva da Reforma Psiquiátrica e instala outro regime de afetabilidade, de partilha na confiança que configura uma subjetivação política.

“Um Usuário do grupo GAM da UBS afirmou ir às consultas com uma lista de perguntas para o médico para não esquecer tudo que gostaria de perguntar e discutir, além de levar as receitas e ressalta: “o médico [que não participa da GAM] me diz que prefere quando eu ia às consultas e não falava tanto”.”

Com a estratégia GAM, o usuário tem acesso ao conhecimento sobre os medicamentos que lhe foram prescritos e coloca em questão a não garantia do cuidado somente pelo uso da medicação. O usuário tem espaço para trazer o seu próprio conhecimento sobre as reações e experiências com os medicamentos ao médico, além de dúvidas e questionamentos.

“A GAM ajudou a mudar primeiramente nós, que estamos programadas pela prescrição”. (Agente Comunitário de Saúde)

Os princípio da reforma psiquiátrica são resgatados de maneira radical, pois aposta e possibilita a autonomia do usuário, como agente responsável pelo seu tratamento. Construindo, assim, a horizontalidade na relação usuário-profissional de saúde.

“vamos levar para as escolas”, propõe o usuário, porque lá as crianças são medicadas; vamos levar também nos conselhos tutelares, numa espécie de vírus – disposição democratizante da estratégia.”

E, por fim, o espaço GAM é um espaço da fala e da escuta. O usuário pode falar sem ser reprimido, sendo um espaço de confiança e de exercício democrático.

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