Como Adolescentes Podem Diminuir o Impacto do Isolamento Social (Covid-19)

0

Artigo publicado pelo site da Unicef -Brasil, fala sobre como os adolescentes podem proteger sua saúde mental durante o período de surto de Coronavírus (Covid-19).

O isolamento social se tornou uma medida importante para controlar o surto de coronavírus, mas exige uma atenção redobrada com os adolescentes. Com o fechamentos das escolas e eventos cancelados, os jovens podem perder atividades essências para o seu desenvolvimento e bem-estar.

Por isso, a Unicef conversou com a especialista brasileira Karen Scavacini, psicóloga fundadora do Instituto Vita Alere, que trouxe algumas dicas para os adolescentes:

  1. Reconheça que ter ansiedade é normal;
  2. Tenha uma rotina;
  3. Crie distrações, seja criativo;
  4. Encontre novas maneiras de se conectar com seus amigos;
  5. Use a tecnologia a ser favor;
  6. Concentre-se em você;
  7. Vivencie seus sentimentos;
  8. Seja gentil consigo mesmo e com os outros

Para saber mais, leia o artigo completo → (Link)

Conferência Internacional sobre Retirada das Drogas Psiquiátricas

0

O Instituto Internacional para a Retirada de Drogas Psiquiátricas (IIPDW) está organizando a sua primeira conferência internacional, previsto para ocorrer nos dias 16 e 17 de outubro de 2020, na Islândia. Serão três os temas centrais da conferência: a retirada segura de medicamentos psiquiátricos, alternativas a medicamentos psiquiátricos e a necessidade de questionar a predominância dos medicamentos nos cuidados de saúde mental.

Estão confirmados vários nomes internacionais de grande relevância no enfrentamento dessas problemática. Alguns deles o público brasileiro já teve oportunidade de conhecer por ocasião dos Seminários Internacionais organizados pelo LAPS/ENSP/FIOCRUZ e em eventos nacionais da ABRASME. Tais como Robert Whitaker e Laura Delano (Estados Unidos), John Read (Reino Unido), Olga Runciman (Dinamarca).

Com a pandemia do novo coronavírus é possível que as datas tenham que ficar para o próximo ano.  De qualquer forma, as inscrições estão abertas e valerão seja para este ou para o próximo ano. E o número de inscritos é limitado.

Se você quer conhecer melhor o IIPDW, clique aqui para acessar a página do Instituto.

E eis a versão em Português do documento oficial para a divulgação do evento. Ajude a divulgar.

OS IMPACTOS DO ISOLAMENTO SOCIAL COM O COVID-19 PARA A SAÚDE MENTAL

0

O segundo programa da TV MIB está no ar.

CLIQUE AQUI →

Os entrevistados foram:

ERNESTO VENTURINI, italiano, psiquiatra atuante no campo dos direitos humanos.

Foi colaborador de Franco Basaglia no processo de desinstituzionalização na Italia desde o principio, em Gorizia e em Trieste, onde assumiu o cargo de médico chefe. Contribuiu ativamente para o êxito da lei da reforma psiquiátrica na Itália. Foi diretor do Departamento de Saúde Mental em Imola e desempenhou papéis de responsabilidade na Saúde Pública na Região Emilia Romagna. É colaborador de Universidades italianas e internacionais e autor de vários livros e artigos sobre direitos humanos, saúde mental e reforma psiquiátrica. Cooperou com a OMS (WHO) e com o Ministério dos Assuntos Estrangeiros da Italia em diversos países da África. Como assessor da Opas para a America Latina, acompanhou a reforma psiquiátrica brasileira desde o 1992.

MARIA STELLA BRANDÃO GOULART. É psicóloga, professora de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É presidente do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco, a APUBH.

HOLMES MARTINS.  Psiquiatra. Na área pública, atuou como médico psiquiatra concursado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, 2004-2007, lotado no Hospital Municipal Lourenço Jorge, referência para a emergência psiquiátrica da Barra da Tijuca e demais bairros da Zona Oeste, inclusive da Colônia Juliano Moreira. Também integrou a Unidade Docente-Assistencial de Psiquiatria da UERJ, como médico cedido pelo município, lotado no setor de Psiquiatria da Infância e Adolescência e posteriormente no setor de Psicoterapia e Psicanálise. É psiquiatra de referência de diversos Juizados e Varas Federais Previdenciárias, Cíveis e Criminais.

Camila M. Gomes: formada em psicologia pela UERJ, atualmente aluna de Pós-graduação em Terapia de Família no IPUB/UFRJ. Psicóloga clínica e forma a equipe do Mad in Brasil.

O conteúdo deste Programa:

  • Cada evento traumático causa impactos evidentes. Como a guerra, a carestia, a fome. Assim como o isolamento social.  O homem é um ser social por natureza.
  • O importante é se construir um sentido para o que está ocorrendo.
  • As pessoas tendem a assumir um papel não passivo, mas ativo.
  • Essa situação é ocasião para ajudar as pessoas a descobrir como é importante sair da “bolha” da cotidianidade, que é alienante, e saber usar melhor o seu tempo.
  • As situações difíceis não necessariamente criam problemas mentais.
  • Há o medo da morte, falar da morte é em geral um tabu para nós.
  • O isolamento social é necessário. A gente se isola não apenas para proteger a nós mesmos, mas aos outros.
  • Algo que não é bom é a incerteza frente ao que uma autoridade diz e é desdito por uma outra, como o Presidente da República. Isso gera uma insegurança na população.
  • Depois que o isolamento acaba, a literatura diz haver consequências nos meses seguintes. Durante muitos meses iremos reviver essa experiência traumática. Mas que pode ser muito relevante sob o ponto de vista existencial.
  • A importância de se difundir informações corretas é mais do que nunca indispensável. Estamos recuperando o papel a Ciência. Vivíamos até então em uma era do negacionismo, da pós-verdade. A Ciência e a Ética e a Moral voltam a desempenhar papeis sociais relevantes.
  • Até o SUS está sendo salvo. Há um reinvestimento do SUS. O SUS será uma ferramenta fundamental para superarmos essa crise.
  • Uma preocupação especial é com os profissionais de saúde, que estão adoecendo.
  • Sobre o isolamento, há que se reconhecer haver várias formas de estar em isolamento. Pessoas que vivem em um lugar com 3 metros quadrados, com cinco a seis pessoas, às vezes várias com tuberculose, p.e. Mandar essas pessoas ficar dentro de casa, esse é um isolamento bem diferente.
  • Para os jovens, a ansiedade sobre o futuro, as incertezas, isso está muito forte hoje com essa crise.
  • Esse momento é um desafio para as famílias. Viver 24 horas juntos, dia após dia, pode ser ocasião para a eclosão de muitos conflitos. Como é o caso do aumento da violência doméstica.
  • A experiência clínica está mostrando que a adesão do chamado psicótico para o atendimento à distância está sendo imediata, sem problemas.
  • Na Itália, há experiência de dar de presente um celular para quem não o tem. Até mesmo para se comunicar com os familiares na hora da morte, visto que não pode receber visitas. Isso pode ser pensado para os usuários psiquiátricos no Brasil, para os que não têm um celular. Ou para a população de rua.
  • Iniciativas importantes de solidariedade estão sendo tomadas em Belo Horizonte.

 

 

CLIQUE AQUI →

 

Psicólogos e pacientes se adaptam às exigências de confinamento

0

Publicado no LE MONDE, uma matéria assinada por Léa Iribarnegaray, mostrando como os profissionais de saúde mental estão fazendo uso de meios alternativos e criativos para oferecer seus cuidados em tempos de isolamento e confinamento social.

“Para recriar o divã, alguns não hesitaram em se instalar em seu carro, no banco do carona levemente inclinado – com o telefone um pouco atrás. Falando ao telefone, o seu psicanalista.”

Frente às medidas oficiais das autoridades francesas regulamentando os deslocamentos no quadro da luta contra a propagação do vírus Covid-19, o Sindicato Nacional dos Psicólogos da França acaba de tomar uma posição recomendando “teleconsulta para todos”, que não se pode considerar “o acompanhamento psicológico como não essencial. Se não são os profissionais de saúde na linha de frente, “os psicólogos participam da malha de cuidados psíquicos e da saúde mental. Em um contexto de epidemia nacional, ele(a)s devem estar lá para escutar e aliviar a ansiedade dos que sofrem”.

Que meios vem sendo empregados?  Conversas telefônicas, trocas de e-mails ou de SMS, videoconferências via Skype, FaceTime, Whatsapp, entre outras plataformas digitais.

Alguns relatos interessantes:

“ ‘No começo, eu tinha medo que não funcionasse’, afirma Claire (os nomes foram modificados), diz um dos pacientes. Como a maioria das pessoas interrogadas, a jovem de 28 anos se diz agradavelmente surpresa após um primeiro teste feito por telefone. Baseada em uma aliança terapêutica forte, a teleconsulta é sempre mais fluida quando feita em terreno conhecido. “

“De repente, o paciente faz emergir as coisas por telefone que ele não teria ousado dizer face-a-face”, explica Frédéric Tordo, psicólogo clínico. “Se chama isso de desinibição digital”.

Para que uma teleconsulta responda ao ‘contrato’ previamente acordado entre as quatro paredes do consultório, há necessidade de que as condições de um quadro ético e deontológico estejam reunidas. Como é bem observado pela jornalista, garantir a estrita confidencialidade de uma sessão pode parecer como um exercício acrobático em período de confinamento.

“É complicado de se isolar e ter uma intimidade total, diz Claire. Eu não quero dizer aos meus colegas com quem compartilho o meu apartamento que eu vou a um psicólogo”.

E com as pessoas menos favorecidas, que não contam com espaços para um mínimo de privacidade?  Jean-Pierre Couteron, psicólogo, diz o que uma de suas pacientes nessa situação faz, “quando a sua mãe sai para fazer compras, ela pega seu telefone para uma sessão de improviso”.

Clicando leia a matéria na íntegra íntegra →

EUA consideram políticas que levarão à morte em massa de pacientes psiquiátricos

0

A primeira morte do coronavírus (COVID-19) na Coréia do Sul foi um paciente psiquiátrico em uma enfermaria trancada.

Seis outros pacientes psiquiátricos, também presos, morreram em poucos dias.

Quem a doença mais atinge não está totalmente claro, assim como muita coisa a respeito dessa pandemia. Mas a primeira morte na Coréia do Sul é consistente com o que sabemos sobre o número de mortes em todo o mundo: são os idosos e as pessoas com condições de saúde preexistentes e sistemas imunológicos comprometidos que parecem ser os mais vulneráveis. Para deixar claro, até os jovens saudáveis estão ficando gravemente doentes e morrendo, mas, no geral, o número de mortes é mais alto entre os mais frágeis.

Pacientes psiquiátricos têm taxas muito mais altas de diabetes, tabagismo / cigarro eletrônico, pressão alta, obesidade e outras condições de saúde que aumentam a vulnerabilidade ao vírus. Estresse contínuo, isolamento, vivendo sob estigma e sem relacionamentos e redes sociais contribuem para o enfraquecimento da imunidade. O confinamento em enfermarias psiquiátricas ou residências terapêuticas, em comunidades terapêuticas  casas de repouso para idosos também certamente agravará o risco de adoecer, e as pessoas com diagnóstico psiquiátrico estão super-representadas no sistema prisional, em um orfanato, entre os sem-teto e entre aqueles que vivem na pobreza – onde maiores taxas de doenças e menor expectativa de vida são a norma.

Ser um paciente psiquiátrico provavelmente o coloca em um risco muito maior de adoecer ou morrer de COVID-19.

Enquanto a maior parte da conversa sobre ‘saúde mental no tempo da pandemia’ se concentra na ‘atenção-plena’ (‘mindfulness’), em maneiras de aliviar o estresse e na acessibilidade dos psiquiatras durante o distanciamento social, essa realidade do COVID-19 e da saúde mental está sendo ignorada.

Portanto, devemos ficar claros: quando você ouve as frases “os mais vulneráveis”, “os frágeis”, “os com maior risco” e “os idosos” como sendo quem está morrendo e morrerá do COVID-19, essa linguagem claramente também inclui pacientes psiquiátricos e pessoas com diagnóstico de saúde mental. A política de resposta pandêmica também é, portanto, política de saúde mental: como tratamos as pessoas com diagnóstico psiquiátrico.

Sabemos o que funciona e salva as vidas. Sabemos o que protegerá os vulneráveis, incluindo pacientes psiquiátricos. Respostas bem-sucedidas à pandemia retardaram a doença e protegeram o sistema de saúde da sobrecarga na China, Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e outros lugares. É absolutamente claro que existe um conjunto direto de políticas comprovadas para proteger as pessoas de doenças e defender hospitais e profissionais médicos de ficarem tão sobrecarregados que não podem cuidar das pessoas, como está acontecendo na Itália e na Espanha. Essas políticas incluem distanciamento e bloqueio social, rastreamento de contatos, contenção e testes generalizados. Temos a sorte de ter dados muito bons desses países a mostrar o que funciona para salvar os ‘frágeis e vulneráveis’ – que sabemos que incluem pacientes psiquiátricos que, de outra forma, morreriam.

Nosso imperativo moral está, portanto, bem diante de nós.

É claro que há um custo para a economia dessas medidas disruptivas. Essa é a natureza dessa pandemia, que está afetando fortemente nossas economias. Vai custar nossa economia. Mas não há argumento: economias voltam: pessoas mortas não. Implementada globalmente, uma resposta eficaz à pandemia salvará dezenas ou centenas de milhões de vidas; nos EUA, estima-se que medidas efetivas possam reduzir o número de mortos em um milhão de pessoas ou mais.

No entanto, agora a liderança política dos EUA está abertamente falando em abandonar políticas eficazes e seguir uma direção diferente que poderá matar desnecessariamente muito mais pessoas – talvez milhões – e inclusive matar centenas de milhares ou mais de pacientes de tratamento em saúde mental. No momento, o presidente dos EUA, conselheiros, políticos, líderes estaduais e locais e comentaristas estão discutindo a suspenção do distanciamento social, do bloqueio e da contenção que estão retardando a propagação da doença.

Por quê? A ideia – que está longe de ser correta – é que voltar ao trabalho e voltar aos negócios melhorará os resultados e manterá a economia mais lucrativa, evitando recessão ou depressão que precisariam de uma intervenção governamental mais massiva. Nesta visão, o ‘custo econômico’ – isto é, lucros perdidos e perturbações sociais e o custo das medidas governamentais – é mais importante do que salvar vidas. Mais pessoas ‘idosas’ devem morrer do que precisam, para manter os lucros das empresas na economia.

É isso mesmo, em nome da proteção dos negócios, como de costume, agora existe um cálculo que diz que é permitido deixar o vírus se espalhar mais rapidamente, ajudar o mercado de ações e aumentar o fluxo de receita de empresas privadas. Ao acelerar a propagação do vírus e aumentar a carga em nosso sistema hospitalar, essas políticas sendo consideradas quase certamente levarão à morte em massa de muitas pessoas mais ‘vulneráveis’. (E lembre-se de que o distanciamento social não é apenas para protegê-lo – é para retardar a disseminação para outras pessoas. Pessoas em situações em que não conseguem se distanciar socialmente ou são impedidas de se distanciar socialmente, como instituições ou residências terapêuticas, ainda seriam deixadas correndo maior risco de infecção se mudarmos essas políticas porque o vírus será mais disseminado e infectará mais rapidamente pessoas confinadas e institucionalizadas, além de deixar os hospitais mais propensos a ficar sobrecarregados e impedidos de prestar ajuda na medida que os profissionais fiquem doentes.)

Portanto, devemos esclarecer o que isso significa: nossos líderes, confrontados com as escolhas do que fazer na pandemia, confrontados com os fatos do que salvará vidas, agora, de maneira explícita, intencional e consciente, estão pensando em escolher políticas que quase certamente resultarão na morte em massa de pacientes psiquiátricos que não precisariam morrer. É isso mesmo: os líderes estão considerando seriamente abandonar políticas que salvam vidas em grande escala para economizar dinheiro. Dinheiro. Não vidas. Dinheiro. E vidas que podem chegar a centenas de milhares, um milhão ou mais.

O fato de isso estar sendo discutido – considerado aceitável e pensável – é uma acusação moral da crueldade de nossa sociedade. Precisamos parar de falar eufemisticamente sobre ‘os idosos’ e ‘aqueles com sistema imunológico comprometido’. Precisamos adicionar pacientes psiquiátricos e entender de quem está sendo falado, para que fiquemos totalmente claros sobre quem vai morrer. Precisamos tornar o imperativo moral de forma severa e inequívoca.

Essa ideia de abandonar esse isolamento social eficaz seria impensável se os ricos e poderosos não estivessem mais protegidos de adoecer e morrer do que você e eu. Eles não estão olhando para políticas com a mesma probabilidade de acabar matando a si ou a seus familiares como as que devem matar você e eu. Os ricos, as celebridades e o 1% estão obtendo acesso mais fácil a testes e bons tratamentos por causa de um sistema médico privatizado, onde quanto mais rico se é, melhor é o atendimento. Dada essa desigualdade, são os mais vulneráveis e excluídos, inclusive os psiquiátricos, que são os dispensáveis. Economizar dinheiro é visto como mais importante do que salvar vidas. Mais mortes são consideradas um preço aceitável a pagar – porque são outras pessoas que morrerão.

Não é um sacrifício nacional compartilhado que está sendo proposto. As mortes adicionais não serão para proteger uma economia que beneficie a todos. As pessoas morrerão pelo bem de uma economia que enriqueceu um número cada vez menor de pessoas como parte da maior desigualdade de riqueza e renda da história da humanidade. Uma economia que alimentou a assistência médica privada com lucro que levou diretamente à crise da pandemia se tornar no que é. Uma economia que privatizou os cuidados de saúde e nos deixou completamente despreparados para uma pandemia que sabíamos que estava por vir.

Vivemos em um mundo onde os crimes de guerra do passado são considerados impensáveis hoje. Tragicamente, esses mesmos crimes muitas vezes retornam vestidos em linguagem diferente, uma linguagem mais civilizada e higienizada de eufemismo e jargão. O que é visto como normal, quando olhamos mais de perto acaba sendo imoral e errado. Ao considerar abandonar as medidas de distanciamento social, bloqueio e contenção que sabemos funcionar, os líderes agora estão discutindo políticas que resultariam diretamente na morte de um grande número de pacientes psiquiátricos entre os vulneráveis. Tudo porque nossas vidas são consideradas dispensáveis para manter os preços das ações altos e os negócios como de costume. Tudo em nome da ‘economia’.

As primeiras mortes na Coréia do Sul devem soar um alarme para todos nós. Estamos à beira de um abismo moral.

COVID-19 e pessoas com deficiência psicossocial: uma declaração conjunta e algumas recomendações

0

As seguintes organizações envolvidas elaboraram uma declaração coletiva sobre o risco aumentado que as pessoas que vivem com deficiências psicossociais enfrentam em meio a uma pandemia como a do COVID-19.

-Pan African Network of Persons with Psychosocial Disabilities
-Redesfera Latinoamericana de la Diversidad Psicosocial
-TCI Asia Pacific (Transforming Communities for Inclusion of persons with psychosocial disabilities, Asia Pacific)
-European Network of (Ex-) Users e
-Survivors of Psychiatry (ENUSP)
-Center for the Human Rights of Users and Survivors of Psychiatry (CHRUSP)
-World Network of Users and Survivors of Psychiatry (WNUSP)

Nós, pessoas com deficiência psicossocial integrantes de organizações regionais e internacionais em todo o mundo, estamos preocupados com a vulnerabilidade de pessoas com deficiência psicossocial à infecção e mortes por COVID-19. ‘Pessoas com deficiência psicossocial’ refere-se a um grupo historicamente discriminado e marginalizado que inclui usuários e ex-usuários da psiquiatria, vítimas-sobreviventes da violência psiquiátrica, pessoas loucas, ouvidores de vozes e pessoas com diversidade psicossocial.

Pessoas com deficiência psicossocial podem estar em maior risco de contrair coronavírus como resultado de:

  • estarem colocadas e / ou privadas de liberdade em unidades e instituições psiquiátricas, instituições de assistência social, casas de repouso, ‘abrigos’ não-regulamentados e informais, cadeias, prisões e casas correcionais, onde são incapazes de exercer o distanciamento social de acordo com seus vontade e preferências;
  • o risco inerente de infecção nesses ambientes, exacerbado pelo fato de estarem superlotados e insalubres e em locais onde os maus-tratos tendem a ocorrer;
  • barreiras no acesso à informação em saúde, incluindo falta de informação em linguagem simples e suporte à comunicação;
  • barreiras na implementação de medidas preventivas de higiene devido à pobreza, acesso desigual aos recursos dentro das famílias e à falta de moradia;
  • maus-tratos e abusos;
  • falta de redes de apoio social e de comunidades inclusivas; e
  • a discriminação sistêmica contra pessoas com deficiências psicossociais, especialmente mulheres, crianças, idosos, pessoas LGBTQIA +, indígenas, pessoas de diversas raças, cores, descendências, castas, nacional ou étnica, pessoas de diferentes afiliações religiosas, pessoas com outras deficiências e outros grupos que enfrentam discriminação múltipla e interseccional.

Pessoas com deficiência psicossocial também podem estar em risco aumentado de desenvolver sintomas mais graves e morrer devido a:

  • má nutrição, saúde e condições sanitárias em unidades e instituições psiquiátricas, instituições de assistência social, casas de repouso e prisões;
  • sistema imunológico enfraquecido devido à má nutrição, negligência, institucionalização e falta de moradia, inclusive em crianças e idosos com deficiências psicossociais;
  • consequências a longo prazo da violência e abuso físico, psicológico e sexual, particularmente contra mulheres com deficiências psicossociais;
  • relutância em acessar o sistema de saúde devido a experiências de discriminação, indiferença, negligência, violência e traumatização nesse sistema;
  • condições de saúde subjacentes, como diabetes e hipertensão, causadas ou exacerbadas por drogas psiquiátricas, frequentemente administradas contra a vontade das pessoas ou sob consentimento forçado; e
  • barreiras no acesso aos cuidados de saúde e falta de cobertura dos planos de saúde.

Os Estados têm a responsabilidade, sob o direito internacional, de respeitar e garantir os direitos humanos das pessoas com deficiência psicossocial em pé de igualdade com os demais. Essa responsabilidade é aumentada durante uma emergência nacional e global, como a pandemia do COVID-19. As vulnerabilidades destacadas durante a pandemia como resultado de discriminação estrutural, legislação discriminatória e práticas de exclusão e violência, tanto nas comunidades como nos ambientes de assistência médica e social, devem ser levadas em consideração e sanadas durante e após a emergência.

Lembramos aos Estados que a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência exige que os Estados abolem internações e tratamentos involuntários em contextos de saúde mental e libertem os detidos e tratados contra sua vontade sob tais regimes. Essa obrigação não é suspendida durante a pandemia do COVID-19, pois a detenção discriminatória nunca é justificada, nem a administração de tratamentos que alteram a mente contra a vontade de uma pessoa.

Apelamos aos governos nacionais e locais para que implementem as seguintes medidas:

Contextos Institucionais

  • Reduzir drasticamente o número de pessoas em unidades psiquiátricas e instituições e instituir uma moratória sobre admissões involuntárias.

Ser assegurado de que ninguém seja obrigado a permanecer em tais ambientes contra sua vontade, onde eles correm maior risco de infecção, doenças mais graves e morte.

  • Implementar urgentemente medidas sanitárias e preventivas para evitar infecções em unidades e instituições psiquiátricas, instituições de assistência social e casas de repouso, incluindo limpeza e desinfecção ambiental, circulação de ar, higiene regular das mãos e acesso gratuito a suprimentos sanitários, como sabão, desinfetante para as mãos, papel higiênico e toalhas de papel. As pessoas não devem ter que ir a um local centralizado para obter suprimentos sanitários. A equipe deve ser obrigada a cumprir todas as medidas sanitárias e preventivas.
  • Que se interrompa o uso de reclusão, restrições, medicamentos não consensuais e qualquer restrição ao uso de lavatórios em unidades e instituições psiquiátricas. Além de contrárias à dignidade e integridade das pessoas, essas práticas inevitavelmente geram condições insalubres e causam estresse severo e deterioração física, resultando em uma imunidade enfraquecida.
  • Que se proporcione às pessoas em unidades psiquiátricas, instituições e casas de grupo acesso às informações mais recentes sobre o COVID-19 e que se permita que elas mantenham contato com seus amigos e familiares. As pessoas não devem ser proibidas de sair de seus quartos ou ter contato com o mundo exterior como forma de prevenir infecções. Embora sejam necessárias medidas preventivas para evitar infecções dos visitantes, as políticas gerais de restrição de visitantes não podem ser desproporcionais e expor as pessoas a mais abusos e negligências. Meios alternativos para manter contato, como telefone e Internet, devem ser permitidos sem restrições.
  • Reduzir drasticamente a população em cadeias, prisões e casas correcionais, inclusive libertando aqueles que estão em julgamento, presos por delitos não violentos ou programados para serem libertados em breve, incluindo pessoas com deficiências psicossociais sob bases equivalentes as das outras pessoas.
  • Garantir, em todos os casos, que as pessoas privadas de liberdade e as institucionalizadas sejam testadas em tempo hábil, dada a sua vulnerabilidade diferencial, e que todas essas instituições implementem medidas sanitárias e preventivas adequadas. Quando um surto ocorre em um ambiente institucional, as pessoas afetadas devem ser transferidas para unidades de saúde competentes e o restante deve ser removido do ambiente infeccioso. Qualquer esforço de quarentena não deve resultar em pessoas sendo colocadas em ambientes mais restritivos, como confinamento solitário.

Não-discriminação

  • Garantir que as pessoas com deficiência psicossocial tenham igual acesso a testes, cuidados de saúde e informações públicas relacionadas ao COVID-19. Cuidados de saúde de qualidade devem ser prestados às pessoas infectadas, sem discriminação de qualquer tipo e independentemente da cobertura do seguro de saúde. As pessoas com deficiência psicossocial não devem ser desviadas dos principais hospitais para as unidades e instituições psiquiátricas para tratamento, onde os cuidados com a saúde do COVID-19 costumam ser de padrão inferior.
  • As restrições públicas baseadas na saúde pública e as ações das equipes de aplicação da lei e segurança não devem discriminar de forma alguma as pessoas com deficiência psicossocial. As medidas coercitivas psiquiátricas não devem ser usadas como parte da resposta ao COVID-19. Os padrões e mecanismos de direitos humanos que oferecem proteção às pessoas privadas de liberdade e às pessoas em locais de institucionalização, incluindo as de unidades e instituições psiquiátricas, devem permanecer em vigor e não devem ser reduzidas como parte de medidas de emergência.
  • Ninguém deve ser obrigado a tomar medicamentos psiquiátricos ou outros tratamentos que causam sofrimento e comprometem sua saúde ou sistema imunológico. As ordens de tratamento compulsório devem ser levantadas e nenhuma nova introduzida, conforme exigido pelo direito internacional.
  • Garantir que as pessoas com deficiência psicossocial não sejam discriminadas ao acessar as medidas temporárias implementadas pelos governos para garantir a continuidade dos serviços durante o surto de COVID-19, incluindo programas de educação e proteção social.

Suporte da comunidade

  • Que se garanta o acesso contínuo ao suporte para pessoas em sofrimento psíquico ou estados incomuns de consciência durante o surto do COVID-19, inclusive por meio de atendimento psicossocial por telefone e on-line e suporte por pares, com base no respeito à vontade e às preferências individuais.
  • Que se intensifique os esforços para desenvolver uma ampla gama de serviços baseados na comunidade que atendam às necessidades das pessoas com deficiências psicossociais e respeitem a autonomia, as escolhas, a dignidade e a privacidade das pessoas, incluindo o apoio de colegas e outras alternativas aos serviços de saúde mental convencionais.
  • Que se garanta o acesso voluntário a medicamentos psiquiátricos durante o surto de COVID-19 para aqueles que os querem e oferecer apoio a quem quiser interromper a medicação ou estão em processo de redução da medicação psiquiátrica.
  • Que se prepare e incentive as comunidades a apoiarem-se de maneira inclusiva, incluindo as pessoas com deficiências psicossociais, durante o surto de COVID-19. Isso é especialmente importante, pois a quarentena obrigatória, o confinamento doméstico e a sobrecarga de informações podem resultar em estados de angústia elevados.
  • Que se forneça apoio prático, como apoio na obtenção de alimentos e suprimentos, para pessoas com deficiências psicossociais que talvez não possam sair de casa devido à quarentena ou que tenham dificuldade em sair de casa durante esse período de preocupações elevadas sobre contaminação.
  • Que se considere mecanismos flexíveis para autorizar as pessoas com deficiência psicossocial a deixarem suas casas durante quarentenas obrigatórias, por curtos períodos e de maneira segura, quando tiverem dificuldades específicas com o confinamento em casa.
  • Que se adote medidas financeiras adicionais para apoiar as pessoas com deficiências psicossociais que talvez precisem se auto-isolar durante o surto de COVID-19, particularmente aquelas que vivem na pobreza, ou estão desempregadas ou são autônomos.
  • Que se incentive a mídia a relatar de maneira responsável sobre o surto de COVID-19 e a população em geral a exercitar pensamento e julgamento críticos ao ler e compartilhar informações nas plataformas de mídia social.

Grupos vulneráveis

  • Fornecer acesso a informações de violência doméstica para apoiar as pessoas, incluindo crianças, sofrendo abuso e violência em casa. Pessoas com deficiências psicossociais, de qualquer idade, podem experimentar um risco aumentado de abuso e violência durante a quarentena ou isolamento doméstico.
  • Realizar atividades de sensibilização da comunidade para identificar e resgatar pessoas com deficiências psicossociais privadas de liberdade ou maltratadas em casa ou dentro das comunidades, inclusive por meio de algemas e cordas, e fornecer apoio adequado a elas de uma maneira que respeite seus direitos humanos.
  • Garantir o acesso de pessoas sem-teto, incluindo pessoas com deficiências psicossociais, a medidas preventivas contra a infecção por COVID-19, como acesso a instalações sanitárias limpas e bem supridas, além de testes e tratamento, sem discriminação, e de uma maneira que respeite seus direitos humanos. Os governos devem garantir que as pessoas com deficiência psicossocial desabrigadas durante o período de isolamento social não sejam maltratadas pelas autoridades e recebam água, comida e abrigo em igualdade de condições como as demais pessoas.
  • Garantir a prestação contínua de serviços de redução de danos, como programas de agulhas e seringas e terapia de substituição de opióides, para impedir a disseminação do COVID-19 entre os usuários de drogas.

Participação

  • Consulte e envolva ativamente pessoas com deficiências psicossociais e suas organizações representativas na resposta do Estado ao surto de COVID-19.
  • Envolva as pessoas com deficiência e suas organizações representativas no monitoramento independente dos ambientes institucionais.

Nota à Imprensa da Congregação da Faculdade de Saúde Pública da USP sobre a evolução da pandemia de Covid-19 no Brasil

0

Com 102 anos de história, sendo uma das instituições pioneiras da saúde pública no Brasil, a Faculdade de Saúde Pública da USP, por meio de sua Congregação, dirige-se aos meios de comunicação para informar o seguinte.

  • Não há contradição entre proteção da economia e proteção da saúde pública. A recessão econômica decorrente da pandemia será global e já é inevitável. Medidas de proteção social, especialmente o provimento de renda mínima para trabalhadores informais e complemento de renda para populações vulneráveis, a exemplo do que outros países estão fazendo, devem ser adotadas imediatamente. Esta proteção econômica é um dever do Estado que garantirá tanto a subsistência dos beneficiários como a preservação de um nível básico de consumo, protegendo a vida e a economia, inclusive os pequenos comércios. Neste cenário, os cortes de salários, inclusive de servidores públicos, constituiriam dano irreparável à economia, com queda ainda mais brusca de patamares de consumo. Não há que se confundir a economia brasileira com interesses econômicos de determinados grupos.
  • O isolamento exclusivo de pessoas em maior risco não é uma medida viável, especialmente em um país com as características do Brasil, com elevados índices de doenças crônicas não transmissíveis que constituem comorbidades relevantes diante da incidência do novo coronavírus. É importante ressaltar que a Covid-19 pode ser assintomática, tem largo potencial de propagação e, como bem revelam os dados de outros países, pode acometer igualmente jovens saudáveis que, com a sobrecarga dos serviços de saúde públicos e privados, podem vir a engrossar as estatísticas de óbitos evitáveis. Ademais, a experiência de outros países demonstra que, na falta de isolamento, parte significativa dos profissionais de saúde está sendo infectada por transmissão comunitária, ou seja, em seu convívio social, reduzindo o contingente de trabalhadores disponíveis, em prejuízo da saúde desses profissionais e de toda a sociedade.
  • Neste momento de crise, mostra-se urgente e essencial reforçar as capacidades do Sistema Único de Saúde no Brasil, ampliando o seu financiamento, articulando de forma eficaz e cooperativa as ações e serviços públicos de saúde prestados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, ampliando as ações de vigilância em saúde e consolidando protocolos e diretrizes terapêuticos nacionais que orientem a sociedade brasileira de forma segura e cientificamente eficaz. Deve haver imediata regulação da distribuição dos leitos de UTI, articulando os setores público e privado, a fim de garantir o acesso equitativo ao tratamento intensivo para o conjunto da população.
  • Ainda no que se refere à valorização do SUS, deve ser ressaltada a importância dos profissionais de saúde que vêm se dedicando à atenção dos infectados pelo novo coronavírus. É fundamental que o Estado brasileiro proteja esses profissionais para o pleno desenvolvimento de suas atividades, uma vez que são extremamente expostos ao risco de contaminação e às jornadas de trabalho intensas e exaustivas. Para tanto, deve-se garantir o fornecimento dos equipamentos de proteção individual essenciais no manejo clínico da doença, assim como organizar rotinas e jornadas que evitem a sobrecarga de trabalho e ofereçam a esses profissionais ambientes de trabalho adequados e seguros.
  • A situação dos idosos merece particular atenção. A banalização da ideia da prescindibilidade de suas vidas no discurso político constitui afronta inadmissível à dignidade humana. A subsistência dos idosos deve merecer políticas específicas, pautadas por preceitos éticos.
  • O sucesso da política de saúde voltada à contenção do coronavírus depende da adesão da população às medidas orientadas pelo Estado, que deve ser capaz de organizar e incentivar a ação social coletiva nesse momento estratégico. Assim, as ações e serviços públicos de saúde devem pautar-se pelas melhores evidências científicas, com total transparência, clareza e objetividade. As medidas restritivas de direitos devem ser devidamente motivadas, proporcionais, potencialmente eficazes e atentamente monitoradas pela sociedade brasileira.
  • Por fim, o investimento em pesquisa e formação superior deve ser não apenas mantido mas incrementado de forma significativa e permanente. A experiência da Covid-19 demonstra o quanto a ciência é imprescindível na resposta às emergências, além do extraordinário proveito da vinculação estreita entre a produção científica e os grande sistemas públicos de saúde, com alto grau de fecundação recíproca. No entanto, a ciência requer investimentos de curto, médio e longo prazo, que podem ser altamente comprometidos pela instabilidade ou suspensão temporária de recursos.

Reiterando sua missão, seus valores e compromissos com o Estado Democrático de Direito e com a sociedade brasileira, a Congregação da FSP/USP coloca-se à disposição e solidariza-se com as autoridades sanitárias neste momento de extrema dificuldade, reconhecendo o empenho dos mandatários dos Estados da federação brasileira em salvar vidas. Nossa união e nossa solidariedade serão fundamentais para o êxito da resposta à Covid-19.

Como sanitaristas com formação plural e multidisciplinar que dedicamos nossa vida à formação e à pesquisa nesta área, pedimos: fiquem em casa, busquem informação confiável e defendam políticas imediatas de proteção social.

Congregação da Faculdade de Saúde Pública da USP

 

O original, clique aqui →

Por que é saudável ter medo em uma crise?

0

Carta da Dra. Lucy Johnstone publicada na edição de hoje do The Guardian. Lucy Johnstone esteve conosco durante o 3 Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas, em 2019, na ENSP, Rio de Janeiro.

“Como profissional de saúde mental, discordo da mensagem veiculada no artigo de Paul Daley (Nós estamos enfrentando uma pandemia de transtornos de saúde mental, em 24 de março). Nós não estamos enfrentando ‘uma pandemia de transtornos graves de saúde mental. Estamos todos enfrentando medo, ansiedade, desespero e confusão totalmente normais frente a uma situação verdadeiramente aterradora a desafiar todo o nosso modo de vida. Nunca ficou mais claro que os chamados ‘transtornos mentais’ fazem sentido em seu contexto. De fato, muitos profissionais argumentam que isso se aplica a toda a gama de experiências rotuladas como depressão clínica, transtorno de personalidade, psicose e assim por diante.

“Quanto mais rotularmos nossas reações humanas compreensíveis como sendo transtornos, maior será a tentação de desconectá-las de sua fonte e focarmos em novos ‘tratamentos’ individuais. As empresas farmacêuticas devem estar esfregando as mãos diante da perspectiva de todos esses novos clientes. Podemos sair desta crise em um estado melhor do que antes ao permanecermos conectados com nossos sentimentos e com as ameaças que exigem imediatas ações ou atenção, e adotando modos de agir coletivos para lidar com as causas profundas. Isso inclui as mudanças climáticas, a degradação ambiental, o tráfico de animais silvestres, o emprego inseguro, a estrutura e o financiamento de serviços públicos e os valores neoliberais que nos tem impulsionado há muito tempo.”

Dra. Lucy Johnstone

Psicóloga clínica, consultora, Bristol

Photograph: Victoria Jones/PA

 

 

 

 

Leia o artigo na íntegra →

CRIAÇÃO DA ADAPS – ATAQUE AO SUS EM MEIO À CRISE DO CORONAVÍRUS

0
As entidades que subscrevem essa nota repudiam a homologação pelo Governo Bolsonaro, em plena pandemia pelo Coronavírus, do Decreto 10.283, de 20 de março de 2020, que institui a Agência Para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (ADAPS). Essa medida é potencialmente indutora de uma maior precariedade no âmbito da organização do Sistema Único de Saúde (SUS), e mais especificamente da Estratégia Saúde da Família (ESF).
Apesar do nome que poderia sugerir uma postura “desenvolvimentista”, a ADAPS é nada mais do que a criação de uma entidade do Terceiro Setor, denominada de Serviço Social Autônomo (SSA), um ente privado e não estatal (apesar de criada pelo governo) com natureza jurídica próxima a outras experiências como as Organizações Sociais de Saúde (OSS), só que agora com uma dimensão nacional, que irá usurpar atribuições antes da alçada da União, estados e municípios em relação ao ordenamento e funcionamento de serviços de atenção primária à saúde do país.
Próximo ao estabelecimento dessa agência já se iniciaram as mensagens aos médicos participantes do 13º ciclo do Projeto Mais Médicos para o Brasil (PMMB) que serão desligados dos serviços de saúde até o dia 25 de abril.
Ou seja, em plena pandemia, onde se precisa maximizar esforços de disponibilidade de força de trabalho, o Governo Bolsonaro irá realizar um “cavalo de pau” nas ações de provimento nacional para os serviços da Estratégia Saúde da Família, o que poderá piorar sobremaneira as condições de acesso da população a serviços de saúde em diversas das áreas mais vulneráveis socialmente do Brasil.
Possivelmente se implementará uma lógica de uberização na contratação de médicos, dentro dos parâmetros que serão dados pela criação da Carteira de Trabalho Verde-Amarela, e a fragilização da atual Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), pela reforma trabalhista que corre em paralelo.
Chama a atenção a criação dessa agência no mesmo momento onde foram liberados R$ 10 bilhões de reais dos fundos de reserva aos planos de saúde. Ou seja, possivelmente a ADAPS poderá ter relações como intermediadora para a contratação de serviços privados para prestação assistencial de saúde à população, aproveitando-se da situação de crise para realização de negócios duvidosos, visto o controle público muito mais frouxo a estes entes do terceiro setor por órgãos de controle como Tribunal de Contas e Corregedoria Geral da União.
Tal distorção surge no mesmo momento em que se ampliam a demanda de investimentos para os serviços públicos do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem se mostrado “a grande ponta de lança” na luta contra o Coronavírus, apesar das dificuldades enfrentadas pelos seus profissionais como melhores condições de trabalho, de proteção individual, de testagem de casos e de ações vigilância em saúde mais efetivas em plena pandemia, mas que têm sido bravamente aplaudidos pela população que percebe o SUS como o principal braço do Estado frente às demandas de saúde mais diretamente colocadas.
Assim alertamos sobre as conseqüências a médio prazo da implementação da ADAPS. Diversas experiências nacionais mostram que a grande extensão não só da terceirização na contratação de profissionais de saúde, como da gestão de serviços, NÃO É UM MODELO SUSTENTÁVEL E ESTÁVEL para organização da gestão do SUS, bem como podem se tornar grandes portas para prática de corrupção e de caixa 2 para campanhas eleitorais.
Exemplos dessas situações são episódios como o total desmonte em curso na Atenção Primária à Saúde (APS) da cidade do Rio de Janeiro, a CPI da Saúde pela Assembléia Legislativa do estado de São Paulo, e a crise com a Cruz Vermelha, no estado da Paraíba, para elencar problemas de ampliação de gestão por Organizações Sociais de Saúde (OSS); e também merece atenção a crise da experiência de Serviço Social Autônomo (SSA), no estado Acre, dentre vários outros episódios em todo o país.
O entendimento de que a contratação pelo terceiro setor é um modelo alternativo aos limites de contratação de pessoal impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), diante do teto estabelecido, não tem mais unanimidade junto aos órgãos de controle, que vem considerando esse modelo de contratação como burla aos procedimentos habituais de transparência, isonomia e providência a serem respeitados pelas instituições públicas, inclusive diante dos escândalos cada vez mais freqüentes.
Assim exigimos que o governo federal tome as seguintes medidas para o fortalecimento do SUS, imprescindíveis para o adequado cuidado da população, dos profissionais de saúde, especialmente neste momento de crise:
1- Manter a contratação e a atuação dos médicos participantes do Projeto Mais Médicos para o Brasil (PMMB), experiência claramente estabelecida como exitosa ação de provimento de profissionais médicos para a Estratégia Saúde da Família (ESF);
2- Sustar a implementação da ADAPS, havendo maior debate com as instâncias de controle social do SUS antes de sua efetiva criação;
3- Revogação da Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019, que estabelece mudanças no financiamento de custeio da Atenção Primária à Saúde no país, visto que elas poderão aprofundar o processo de desfinanciamento da APS em diversos municípios brasileiros mais sensíveis à crise em curso;
4- Revogação da Emenda Constitucional 95 (EC 95), que congelou os gastos sociais por um período de 20 (vinte) anos;
5- Alteração da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) com a retirada dos investimentos e despesas com pessoal nas áreas da saúde, educação e assistência social do teto estabelecido pela LRF, podendo assim garantir a expansão de força de trabalho de profissionais de saúde em momento de crise como o atualmente instalado;
6- Suspender a tramitação das contra-reformas propostas pelo Governo Bolsonaro, como a trabalhista, a tributária, a da Administração do Estado e dos Fundos Públicos, pois é necessário nesse momento ampliar medidas de proteção social frente às dificuldades vividas pela nossa população;
7- Garantia de renda mínima para todos os cidadãos e cidadãs de nosso país, a partir de recomendações dadas pela própria Organização Mundial de Saúde (OMS).
A pressão das entidades da sociedade civil brasileira e da população levou à revogação parcial da Medida Provisória nº 927, lançada na surdina no dia 22 de março de 2020, que autorizava empresas a suspenderem empregados por quatro meses, deixando os trabalhadores sem salários, o que ainda mais fragilizaria as medidas de proteção tão necessárias, e que devem ser ampliadas neste momento da pandemia.
Assim, no intuito de fortalecer uma articulação de entidades e movimentos sociais em defesa do direito à saúde e do SUS, assinam a seguinte nota:
1- Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMMP)
2- Associação Paulista de Saúde Pública (APSP)
3- Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME)
4- Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABRES);
5- Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (CEBES);
6- Associação Brasileira Rede Unida;
7- Sociedade Brasileira de Bioética (SBB)
8- Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO)
9- Fórum de Trabalhadores de Saúde Mental de Pernambuco;
10- Núcleo Estadual da Luta Antimanicomial de Pernambuco – Libertando Subjetividades;
11 – Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (RENILA);
12- Fórum Mineiro de Saúde Mental;
13- Frente Mineira Drogas e Direitos Humanos;
14 – Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais (ABRATO)
15- Federação Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR)
16- Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE)
17- Federação Nacional dos Assistentes Sociais (FENAS)
18 – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS)
19- Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia (ABENFISIO)
20 – Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN)
21 – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS)
22- Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (SINMED-RJ)
——
Leia o conteúdo na íntegra do Decreto No. 10.283, de 20 de março de 2020.  

Uma Conversa Reflexiva sobre o Diálogo Aberto

0

No artigo publicado pela revista Nova Perspectiva Sistêmica, a autora Cecília Villares propõem uma conversa reflexiva sobre o Diálogo Aberto. Formada em Terapia Ocupacional, especializou-se em terapia de família nos anos 90 e, mais recentemente, realizou a formação no Diálogo Aberto.

A proposta do artigo é narrar a trajetória da autora, para então gerar a reflexão sobre a formação de profissionais da saúde mental. Ela propõem uma conversa fluida e entranhável, como uma história de amor. A explicação dada é que as “nossas histórias só podem ser contadas quando se encontra um ouvinte atento, curioso, respeitoso e responsivo. Da mesma forma, os terapeutas se colocam ao escutar a história de outros, a partir de uma postura dialógica que é necessariamente amorosa.”

“As histórias só existem na presença de alguém
que as escute, e nesse sentido o contar histórias é um fenômeno dialógico.”(Seikkula & Trimble, 2005)

A autora inicia registrando a perspectiva dialógica no campo da terapia de família, em uma tradição de terapias narrativas, colaborativas e reflexivas propostas por Tom Andersen (Noruega), Michel White (Austrália), Harlene Anderson e Harry Goolishian (EUA), citando aqueles mais influentes.

No entanto,  o primeiro contato da autora com a abordagem do Diálogo Aberto pode ser remetida a sua formação em terapia de família, quando tomou conhecimento da “abordagem adaptada às necessidades” de Irjö Alanen, grande inspiração para Seikkula e colaboradores. Alanen era professor de psiquiatria da Universidade de Turku (Finlândia), onde desenvolveu um trabalho de práticas terapêuticas em saúde mental.

Desde o primeiro contato com o serviço psiquiátrico, os familiares ou pessoas significativas da rede social já passavam a participar das reuniões abertas de discussão e planejamento do tratamento, juntamente com os pacientes. Essa proposta é uma das mais inovadoras de Alanen e seus colaboradores. Foram estabelecidos 5 princípios para a “abordagem adaptada às necessidades”:

1.Rápida intervenção após o primeiro contato;

2. Planejamento do tratamento de maneira singular para cada paciente, integrando abordagens terapêuticas;

3. Atitude terapêutica de todos os profissionais envolvidos no tratamento, em todas as etapas;

4. Compreensão do tratamento como um processo contínuo;

5. Follow-up constante do progresso e resultados do tratamento.

A esses princípios, a equipe de Seikkula adicionou os princípios da tolerância à incerteza e dialogismo.

Com experiência de 20 anos como terapeuta ocupacional no Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, a autora reconhece o Diálogo Aberto como uma proposta alternativa de prática integrada em saúde mental, que questiona e desafia o discurso dominante, fortemente biomédico, que se inseriu na psiquiatria e nos serviços  de saúde mental nas últimas décadas.

“(…) A abordagem do Diálogo Aberto foi o caminho que encontrei para aproximar o que aprendi com a terapia familiar às práticas de saúde mental mais afinadas com posturas reflexivas e colaborativas.”

A psicose apresenta um desafio na construção de um diálogo, por ser uma resposta a vivências para as quais não há (ainda) palavras. No entanto, é potente pensar que somos artesãos de relações e de diálogos potencialmente transformadores.

A autora sugere que o Diálogo Aberto é o caminho do coração aberto para aprender com o outro, através da prática do ouvir mais, silenciar mais, conectar-se e responder com o corpo e com as emoções para seguir cuidadosa e respeitosamente a história e o tempo do outro, sem apressar compreensões, acordos e decisões.

Como conclusão, o artigo apresenta algumas perguntas convidando para continuar a conversa:

• Quais as convergências entre as abordagens do Diálogo Aberto e do Projeto Terapêutico Singular (PTS) podem ocorrer na RAPS/SUS? São propostas possíveis de serem integradas nos serviços de saúde mental? Que mudanças institucionais serão necessárias, onde e como podemos começar a propor essa aproximação?

A formação dos profissionais de saúde mental geralmente não contempla uma postura sistêmico-relacional e a diferença na formação aumenta a complexidade e dificuldade de trabalhar seguindo os princípios de dialogia, transparência e tolerância à incerteza. Como poderemos fomentar a formação de profissionais para trabalhar em abordagens dialógicas com famílias e redes?

Algumas experiências de atendimento no GAPi/Unifesp têm mostrado que o profissional da equipe que entra conosco nos atendimentos para conhecer e participar de um atendimento parece sair com mais esperança e curiosidade em relação à família atendida. Como criar mais conversas reflexivas sobre a experiência desta prática com esses profissionais num sistema que não contempla espaços de reflexão?

• Talvez pelas dificuldades de acesso aos serviços de saúde, muitas pessoas que buscam
tratamento já vêm vivenciando crises que não são recentes nem brandas. Quanto isso dificulta uma prática dialógica efetiva? Como poderemos criar condições dentro da estrutura de um serviço público para desenvolver mais agilidade para atender mais rapidamente a situações de crise?

• Pensando na dificuldade de praticar num ritmo e tempo mais lentos, sobre falas sobrepostas e sem pausa e falta de espaço para o silêncio nas conversas: quanto de cultural há nesse jeito de estar com as pessoas que é tão diferente do ritmo finlandês?

Villares, C. C. (2019). Pelos caminhos do diálogo aberto: reflexões sobre aprender, praticar e formar profissionais no contexto da saúde mental no Brasil. Nova Perspectiva Sistêmica28(65), 98-113. (LINK)

Noticias

Blogues