Corrupção na saúde global: o segredo aberto

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Acaba de ser publicado no último número de The Lancet: “A corrupção está embutida nos sistemas de saúde. Ao longo da minha vida – como pesquisador, agente de saúde pública e ministro da Saúde – pude ver desonestidade e fraude entrincheiradas. Mas, apesar de ser uma das barreiras mais importantes à implementação da cobertura universal de saúde em todo o mundo, a corrupção raramente é discutida abertamente. Nesta palestra, descrevo a magnitude do problema da corrupção, como ele começou e o que está acontecendo agora. Também descrevo os temores das pessoas em relação ao tópico, o que é necessário para lidar com a corrupção e as responsabilidades das comunidades acadêmicas e de pesquisa em todos os países, independentemente do seu nível de desenvolvimento econômico. Os formuladores de políticas, pesquisadores e financiadores precisam pensar na corrupção como uma área importante de pesquisa da mesma maneira que pensamos em doenças. Se realmente pretendemos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e garantir vidas saudáveis para todos, a corrupção na saúde global não deve mais ser um segredo aberto.”

Leia o artigo na íntegra →

Reduzida em 60% a necessidade de antidepressivos

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Publicado na página oficial da Prefeitura de Jaraguá do Sul: “Um trabalho realizado pelo psiquiatra da Policlínica de Especialidades Dr. João Biron (Centro Vida), Marcelo José Fontes Dias, e pelo psicólogo do Caps AD, Matheus Vinicius Munhoz, resultou em 60% de redução no consumo de antidepressivos por pacientes de saúde mental da rede municipal de Jaraguá do Sul. De acordo com Dias, essa estatística iniciou em março, quando 450 pacientes tomavam um total de 10 mil cápsulas de Fluoxetina mensalmente.

Com a adoção de nova metodologia no atendimento, em cerca de oito meses esse consumo caiu para 4 mil cápsulas mensais. Além disso, o número de pacientes atendidos no Centro Vida diminuiu para 150 pessoas. ‘Muitos receberam alta e outros voltaram para a atenção básica’, informa o psiquiatra.”

A matéria na íntegra →

Antropólogos Contemplam o Futuro Papel da Psiquiatria

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Antropólogos que estudam o campo psiquiátrico publicaram recentemente artigos em dois periódicos altamente influentes. O New England Journal of Medicine destacou um comentário de Gardner e Kleinman, “Medicina e a mente – as consequências da crise de identidade da psiquiatria“, enquanto “Mesclando apoio intensivo de pares e prática dialógica: lições de implementação do programa Parachute de Nova York” por Hopper e colegas, foi em Psychiatric Services. Arthur Kleinman e Kim Hopper são líderes em seu campo. Por esse motivo, esses documentos são dignos de revisão. Enquanto ambos pedem ou descrevem iniciativas de reforma, eles nos apontam diferentes direções em relação ao futuro papel dos psiquiatras.

Gardner e Kleinman afirmam que a psiquiatria é um campo em crise. Eles apontam as limitações da nossa base de conhecimento, observando que “diagnósticos e medicamentos psiquiátricos proliferam sob a bandeira da medicina científica, embora não haja um entendimento biológico consistente das causas ou dos tratamentos de distúrbios psiquiátricos”. Eles se referem à historiadora Anne Harrington que sugere que uma resposta seria a psiquiatria restringir o seu alcance aos mais severamente prejudicados. Gardner e Kleinman rejeitam isso, pedindo uma nova geração médicos “em geriatria, dependência química e psiquiatria social”. Eu me simpatizo com o pedido deles que sejam fortalecidos recursos para fornecer psicoterapia. Mas eles parecem equiparar a psicoterapia com abordagens psicodinâmicas, sem o reconhecimento de que as falhas dos psicanalistas podem ter contribuído para a hegemonia esmagadora dos chamados psiquiatras “biológicos”. Partilho seu desejo de que o financiamento da pesquisa seja alocado em outros campos que não a pesquisa biológica básica. No entanto, fiquei surpresa que os estudiosos de tal amplitude apoiem ​​- ou pelo menos pareçam apoiar – reforçar o domínio da psiquiatria sendo líderes em pesquisa e desenvolvimento de programas. Preciso de ser convencida de que os problemas que concordamos existir serão melhor abordados dentro da minha profissão. Nos últimos anos, fiquei muito impressionada com as abordagens ao sofrimento mental que emanam de fora da psiquiatria.

O artigo de Hopper e colegas descreve uma dessas iniciativas, o projeto Parachute NYC. Financiado por uma concessão federal para inovação dos Centros de Serviços Medicare e Medicaid (CMS), esta foi uma implementação de tratamento adaptado às necessidades (NAT) na cidade de Nova York. Adaptado de um programa sueco com o mesmo nome, o objetivo era treinar equipes que pudessem ir às casas de indivíduos logo no início de uma primeira experiência de psicose e trabalhar com eles e suas famílias para ajudá-los na crise. Também foram desenvolvidos serviços feitos entre pares. Profissionais e pares foram treinados em conjunto no tratamento adaptado às necessidades (Diálogo Aberto evoluído a partir do NAT) e no Suporte Intencional dos Pares (Intentional Peer Support).  Um extenso resumo pode ser encontrado neste “White Paper“.

Hopper e colegas foram incorporados a esse projeto e sua perspectiva é compartilhada no white paper e em outro elegante artigo escrito por Cubellis, coautor desse artigo e membro de sua equipe. (Para mais informações sobre esse modo de fazer antropologia aplicado por esse grupo – que seria um tipo de estudo antropológico feito por antropólogos – veja este artigo).

Estranhamente, embora o artigo de Gardner e Kleinman critique explicitamente a psiquiatria (e tenha sido recebido com muita consternação em alguns dos círculos que frequento), ele parece concluir com o tipo de nota triunfalista que ouvi repetidas vezes ao longo dos anos. Em essência, eles sugerem que, com uma mudança de recursos, a psiquiatria possa finalmente acertar.

O artigo de Hopper, por outro lado, está descrevendo um programa que envolve uma profunda mudança na maneira como pensamos sobre os problemas daqueles que procuram nossa ajuda; o NAT difere de outras abordagens, pois fundamentalmente não é um empreendimento médico. O Suporte Intencional de Pares (IPS) é, por definição, uma abordagem não médica e evita explicitamente qualquer tipo de privilégio ao enquadramento médico. Os médicos podem ser incluídos em uma equipe de NAT, mas de maneira restrita e mais alinhada à proposta de Harrington. O conhecimento médico pode ser oferecido, mas não é especificamente privilegiado. O IPS oferece a noção de que existem múltiplas visões de mundo e que cada uma deva ser respeitada. NAT e Diálogo Aberto introduzem a noção de polifonia– as múltiplas perspectivas não são apenas toleradas, mas valorizadas. Criticamente, os pares trabalhavam ao lado de profissionais, enquanto parceiros iguais nas equipes, pelo menos como aspiração. Como Hopper coloca, “a finalidade extravagante que o Parachute tentou perseguir é ‘contra-hegemônica’, ao apontar em direção a uma inovação que não apenas desafia os interesses profissionais e institucionais, mas que também parece divergir do senso clínico comum”.

Apesar de anunciar uma mudança radical pela qual alguns de nós anseiam, o artigo de Hopper é decididamente sombrio. Embora eu suspeite que Hopper e seus colegas apoiem as iniciativas incorporadas em Parachute NYC, eles compartilham ironicamente o sentimento de Mueser, que escreveu um comentário para Psychiatric Services no início deste ano sobre o futuro das iniciativas do Diálogo Aberto. Mueser duvidava que houvesse recursos disponíveis para implementar essa maneira de trabalhar; ele não achava que a base de evidências disponível no Open Dialogue fosse suficientemente forte para justificar mais apoio à pesquisa. Hopper se pergunta se Mueser estava certo, mas pelas razões erradas: “Pode ser que as organizações que assinaram o projeto Parachute possam não ter entendido completamente o quão radical ele era. No final, isso pode ter contribuído para a dificuldade de se sustentar quando a concessão chegou ao fim. ”

Existem grupos que continuam tentando implementar aspectos do NAT e eu trabalho entre eles. Muitos de nós acham que isso oferece uma maneira profundamente humana de trabalhar. Para mim, a humildade e a transparência dessa maneira de trabalhar se tornaram o único antídoto para os problemas levantados por Gardner e Kleinman. Estou inteiramente de acordo com a sugestão de Harrington de que a psiquiatria restrinja o seu alcance; sou membro de uma equipe, mas não a líder. Minha colega que compartilha a sua experiência pessoal com psicose é frequentemente mais útil para a pessoa no centro das preocupações do que eu.

Mas há um enigma. O sistema apoiará essa “prática contra-hegemônica”? Se não conseguirmos apoio adequado, estaremos fadados ao fracasso? Hopper levanta essa preocupação em sua conclusão: “aceitar adaptações parciais e fragmentárias pode ser para restringir as chances de sucesso a todos, e garantir mais evidências de sua ineficiência”.

O Diálogo Aberto ensina a tolerar a incerteza. É um treinamento útil para aqueles entre nós que descobrem que não temos escolha a não ser continuar a trazer essa maneira de trabalhar em nossas clínicas, apesar dos desafios que enfrentamos.

Serviços de saúde mental transformaram a crise da minha filha em um modo de vida

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O mundo virou de cabeça para baixo em 2005 quando minha filha Alice * quase morreu de uma tentativa muito séria de suicídio. “Um corte muito rente” foi o que o médico-chefe nos disse na Unidade de Terapia Intensiva alguns dias depois.

Menos de quatro semanas antes, após um longo período de depressão e pensamentos suicidas, haviam sido receitados antidepressivos e sedativos a Alice pela equipe local de tratamento domiciliar para resolução de crises (CRHTT). Deixando-a em casa comigo, em vez de optar pela internação hospitalar, a equipe nos visitava quase todos os dias para avaliar o progresso. Durante esse tempo, Alice estava experimentando sensações corporais angustiantes, como sentir que sua pele havia se transformado em plástico e que seu corpo estava emitindo cheiros incomuns. Depois de duas semanas, um membro da equipe de serviços de saúde mental decidiu que esses eram sinais de psicose e deu a ela um medicamento antipsicótico.

Não nos foi dada nenhuma explicação ou escolha sobre isso, apenas uma promessa verbal de que ela melhoraria uma vez que os comprimidos ‘começassem a fazer efeito’. Embora preocupados com a medicação extra, confiávamos neles porque os considerávamos os especialistas em saúde mental. Como estávamos equivocados!

Efeitos devastadores

O antipsicótico teve um efeito devastador sobre Alice. Ela ficou extremamente angustiada meia hora depois de tomá-lo, sentindo-se ainda mais confusa ao mesmo tempo em que ficou muito quieta e retraída. Muito depois, ela descreveu os efeitos da droga como “levar um tiro na parte de trás da cabeça”. Nos dias seguintes, Alice ficou visivelmente mais sedada e estupefata, enquanto eu fiquei muito mais ansiosa e preocupada. Certa manhã, ela saiu de casa às 8 da manhã; felizmente, consegui convencê-la a voltar. Ela me disse muito mais tarde que havia saído para encontrar um prédio alto ou uma ponte da qual pular porque se sentia muito mal. Naquele momento, tive que trancar as portas e fui aconselhada por um dos psiquiatras da equipe do CRHTT a não deixá-la sair sozinha. Alice havia se tornado praticamente minha prisioneira! Ela tinha quase 24 anos na época, mas eu não pensei nas implicações legais desse plano, pois estava mais preocupada com a segurança dela.

Durante essas semanas muito difíceis em casa, Alice continuou pedindo para interromper os medicamentos, que ela sentiu que não estavam ajudando em nada. No início a equipe relutou em fazer isso, mas afinal acabou por concordar, pois ela claramente não estava respondendo bem. No entanto, eles nos disseram que não estavam conseguindo fazer o processo de redução gradual dos medicamentos, pois não havia psiquiatra disponível para supervisioná-los. Eu acho que foi quando Alice e eu estávamos no nosso ponto mais baixo, de alguma forma percebendo não apenas que esses medicamentos não a ajudariam, mas também que ela teria que ficar com eles ainda mais do que o necessário, sem um plano definido para quando ela poderia parar. Parecia um castigo. Nós dois estávamos exaustos e confusos, mas eu sentia que Alice estava achando que já havia chegado ao máximo.

Alguns dias depois, recebemos uma visita da equipe, durante a qual Alice admitiu abertamente que ainda se sentia suicida. Logo depois que saíram, ela subiu as escadas e conseguiu se enforcar com um longo cachecol de lã amarrado ao corrimão da escada do terceiro andar. Estando em “alerta máximo” e sentindo que algo estava errado, consegui encontrá-la bem a tempo de impedir sua morte.

A experiência chocante e horrível está gravada para sempre em minha memória. É uma lembrança que Alice preferiria que eu não tivesse – do dia em que minha filha quase morreu e poderia se tornar outra estatística de suicídio. Ela explicou muito mais tarde que os medicamentos a faziam se sentir ainda mais confusa e ansiosa, e que se sentira compelida a fazer algo para deter as sensações insuportáveis ​​que estava experimentando. Ela pensou que ninguém sabia o que fazer e acreditava que sua morte era a única maneira de resolver seu tormento.

Dúvidas crescentes

Acredito que essa experiência inicial levou à minha crescente desconfiança do sistema de saúde mental. Fiquei profundamente traumatizada e precisando de apoio. Meus sentimentos eram complexos, meus pensamentos confusos e minha paixão pela justiça despertada. Três meses depois, apresentei uma queixa formal sobre o serviço de tratamento em casa porque queria uma explicação – para mim e principalmente para Alice. Eu queria saber por que minha filha quase morreu seguindo o plano de tratamento deles. Depois de registrar minha reclamação, solicitei aconselhamento jurídico e consegui estabelecer que a equipe de Tratamento Doméstico era culpada por várias acusações. Em particular, eles haviam dado a Alice dois medicamentos – sertralina (um antidepressivo) e respiriden (um antipsicótico) – que provavelmente aumentariam sua ideia de suicídio e, portanto, ela deveria ter sido supervisionada de perto em um hospital. O Mental Health Trust local resolveu fazer um acordo jurídico por uma quantia relativamente pequena, mas pelo menos tínhamos descoberto a verdade.

Uma semana depois de deixar a Unidade de Terapia Intensiva, Alice havia sido internada em um hospital psiquiátrico. Mesmo assim, ela recebeu mais medicamentos psiquiátricos e não lhe deram outras opções de tratamento. Um desses medicamentos, um antipsicótico, começou a afetar seu apetite imediatamente, aumentando seu peso normal de 63,5 kg para mais de 91 kg dentro de seis meses. O fato de a droga ter um componente sedativo importante não ajudou. Alice ganhou ainda mais peso desde então, levando a preocupações com possíveis diabetes, problemas cardíacos e síndrome metabólica. Esses efeitos colaterais são bem conhecidos e bem documentados, mas ninguém nos serviços de saúde mental parecia pensar que eles eram um problema!

As tentativas de Alice de lidar com a situação

Após a conclusão de sua graduação em têxteis antes de sua crise, Alice procurava ativamente trabalho. Após a tentativa traumática de suicídio, internações hospitalares e efeitos adversos dos medicamentos, ela achou a vida muito mais difícil. Sua vida parecia destruída e levou tempo e esforço para juntar as peças e encontrar algum tipo de ordem novamente. Mudar o diagnóstico e o estigma aumentaram sua dificuldade. A princípio, Alice recebeu um diagnóstico de depressão com características psicóticas. Mais tarde, isso foi alterado para transtorno esquizoafetivo e, em vários momentos, ela foi rotulada com outros diagnósticos, como transtorno bipolar.

Ser designado com um diagnóstico é uma faca de dois gumes. Sem ele, um paciente pode não ser capaz de reivindicar benefícios, mas o próprio diagnóstico pode afetar a autoestima de uma pessoa, pois a doença mental carrega um estigma generalizado, tanto na sociedade quanto nos próprios serviços de saúde mental. Alguns profissionais enfatizaram que a ‘doença’ seria para ela uma incapacidade de longo prazo, o que não foi útil. Esses psiquiatras estavam interessados principalmente em observar sintomas que pudessem indicar uma recaída e advogar a adesão a medicamentos a longo prazo. Então, onde está a esperança nesse cenário? E como viver uma vida com alguma qualidade e sentido?

Alice fez valentes esforços em seu trabalho voluntário e participou de vários cursos, mantendo-se contato com amigos e parentes. No entanto, ela descobriu que seu humor continuava flutuando e às vezes passava por uma fase maníaca que a levava a comportamentos arriscados, como abuso de substâncias e álcool, relacionamentos predatórios com pessoas não confiáveis e um estilo de vida caótico – tudo isso não era o característico dela e que ela agora lamenta muito.

O fato de ela não ter conseguido o que esperava quando mais jovem ainda a leva a ter pensamentos suicidas. Sua falta de autoestima e confiança muitas vezes a leva a ficar deprimida, e ataques de pânico são facilmente desencadeados. Seus níveis de energia flutuam devido a seus problemas contínuos com ganho de peso e exaustão. A falta de bom engajamento social e uma vida profissional significativa deixam Alice se sentindo muito sozinha na maior parte do tempo. Ela vê seu futuro sombrio e autoestigmatizado, tendendo a ver seu passado como cheio de erros cometidos por ela e pelos outros.

As lutas para cuidar

E quanto a mim – uma trabalhadora mãe solteira que de repente se transforma em um cuidador?

Embora eu estivesse em um estado de espírito muito perturbado e em licença médica prolongada durante esse período, ainda estava fornecendo o necessário apoio diário a Alice, tanto no hospital quanto em casa. Consegui entrar em psicoterapia, que continuou por 18 meses; meu médico também me prescreveu pílulas para dormir para ajudar a bloquear os contínuos flashbacks que experimentava ao tentar adormecer à noite. No entanto, os serviços de saúde mental não me ofereceram nada até eu apresentar minha queixa contra eles. Dois grandes amigos ficavam comigo durante a noite em uma base rotativa, ajudando-me nesses primeiros meses. Ao todo, tirei um ano de folga do meu trabalho como assistente social, retornando em período parcial até me aposentar seis meses depois.

Passei a maior parte desse tempo com Alice, ajudando-a a se adaptar à vida como paciente. Cerca de 18 meses após sua tentativa de suicídio, ela começou a progredir e sentir-se capaz de reduzir e interromper a medicação antipsicótica. Infelizmente, alguns de seus sintomas anteriores de paranoia começaram a reaparecer e ela foi internada novamente no hospital por algumas semanas enquanto eles tentavam os bons efeitos de um novo antipsicótico. Olhando para trás, acho que foi um erro e a situação poderia ter sido superada sem a reintrodução de drogas.

Desde então, aprendi como os sintomas podem reaparecer quando uma pessoa está se retirando desses medicamentos. Fiquei chocado ao saber que não existem diretrizes oficiais que os profissionais possam usar para ajudar as pessoas durante a retirada das drogas. Consequentemente, pessoas como Alice costumam parar de tomá-los abruptamente e experimentam sintomas extremos de abstinência e, frequentemente, recaída – levando a novas hospitalizações e ainda a mais medicamentos. Esse ciclo leva muitos médicos a serem informados por seus médicos de família e psiquiatras de que eles precisam permanecer em uso de medicação por toda a vida, como Alice foi informada quando pediu que suas doses fossem reduzidas e possivelmente retiradas. Felizmente, agora existem recursos on-line explicando como se retirar devagar e com segurança, sem supervisão médica. Ainda assim, essa não é uma solução ideal.

Acima de tudo, aprendi que a admissão em uma enfermaria de saúde mental nem sempre é útil para uma pessoa vulnerável em crise, pois outros pacientes que usam drogas ilegais podem facilmente influenciá-la. Medicamentos antipsicóticos podem aumentar a vulnerabilidade de uma pessoa e levá-la a mais comportamentos de risco. Isso aconteceu com minha filha, que ficou viciada em crack depois que outro paciente a convenceu a experimentá-lo. Fiquei sem saber o que fazer. O ambiente hospitalar deveria ser seguro, mas esse não era o caso. A essa altura, meus nervos estavam triturados e comecei a pensar que tudo estava perdido. Passei mais seis meses após a alta hospitalar ajudando Alice a superar seu vício psicológico com a droga de rua. Foi necessário muito trabalho de ambas as partes para superar esse dilema extra.

Conforme o tamanho do braço

Depois de um tempo, comecei a me perguntar como sobreviveria se continuasse sendo a única cuidadora de Alice. Eu não tinha previsto quanto os serviços de saúde mental dependeriam de mim nesse papel e quão pouco eles me apoiariam para cumpri-lo. Frequentemente, eu não era consultada sobre nenhum dos seus planos de tratamento, nem sobre os detalhes dos cuidados da minha filha. Uma intervenção útil, a terapia de família – pela qual tive que pedir repetidamente – acabou sendo oferecida por um psicólogo, que trabalhou conosco, juntas e separadamente. Ele foi a única pessoa que confirmou que meu papel como cuidador era muito difícil. Ele também foi capaz de me dar conselhos sobre como gerenciar a tarefa de ser mãe e cuidadora, o que me ajudou em um nível prático e me permitiu considerar minhas próprias necessidades e as da minha filha.

Esse conselho levou a minha decisão, em 2008, de sair de Londres para o ambiente mais saudável de uma cidade menor. Eu me perguntei se os serviços de saúde mental poderiam ser melhores em uma área diferente do Reino Unido, mas, infelizmente, estava errado. Apesar do meu papel de cuidadora de Alice, continuei me sentindo excluída das decisões dos serviços de saúde mental sobre seu tratamento. Comecei a perceber que eles me consideravam um ativo econômico necessário, mas não me levavam a sério como alguém que poderia dar uma contribuição válida para apoiar a saúde mental da minha filha. O fato de eu estar questionando aspectos dos serviços provavelmente não os agradava. Além disso, a questão da confidencialidade dos pacientes suscitou muitos conflitos para esses profissionais e dificultou o trabalho de parceria com eles dos cuidadores e familiares. Embora necessário em alguns casos, agora acredito que os serviços de saúde mental às vezes usam a ‘confidencialidade’ como uma cortina de fumaça que lhes permite exercer exclusividade e poder sobre pacientes e usuários do serviço.

Procurando e encontrando alternativas

A essa altura, comecei a me perguntar se o tratamento oferecido pelos serviços de saúde mental estava transformando pessoas vulneráveis e angustiadas em pacientes de longa duração, apresentando-as ao mesmo modelo biomédico que muito mal havia atendido à minha filha. Eu estava interessada em encontrar alternativas para esse modelo, então entrei para um grupo que queria criar uma Casa Soteria. Também comecei a participar de conferências e a ler livros sobre o movimento da anti-psiquiatria. Nos anos seguintes, adquiri conhecimento e confiança e me tornei ainda mais crítica com relação aos serviços de saúde mental.

Enquanto isso, minha filha estava passando por mais episódios psicóticos e eu estava ficando cada vez mais preocupada com os efeitos adversos de sua medicação – tanto mental quanto física. Eu estava aprendendo muito mais sobre os perigos da dependência dessas drogas. Eu não conseguia entender por que a psiquiatria continuava a prescrevê-los enquanto um corpo crescente de pesquisas vinha mostrando o quão prejudiciais esses medicamentos podem ser, especialmente quando usados a longo prazo. Comecei a perceber que a maioria dos psiquiatras que encontrava não parecia interessada em nenhuma abordagem, exceto no modelo médico dominante. Felizmente, tenho descoberto alguns psiquiatras que criticam o modelo e desejam ver mudanças.

Então, cerca de cinco anos atrás, ouvi falar do tratamento de Diálogo Aberto para psicose – um sistema muito bem-sucedido usado na Finlândia nos últimos 25 anos que depende muito pouco de medicamentos antipsicóticos. O interesse substancial por essa maneira de trabalhar começou a crescer e agora o treinamento em Diálogo Aberto está disponível em unidades do Serviço Nacional de Saúde (NHS) no Reino Unido. Uma grande pesquisa do tratamento também está ocorrendo aqui. Um dos NHS Trusts em Londres está prestando um serviço, o Primeiro o Diálogo( Dialogue First), para pessoas que não estão em crise, mas desejam tentar uma abordagem diferente das práticas habituais de saúde mental. Minha filha e eu estamos atualmente recebendo esses serviços. Descobrimos que a abordagem do Primeiro o Diálogoé tão humana e inclusiva, pois abrange membros da família, amigos e pessoas em suas redes. Todos são incentivados a contribuir e a ênfase está em ‘ser ouvido’ e encontrar significado, em vez de receber ‘tratamento’.

 

Teria sido muito mais construtivo ter esse tipo de ajuda 14 anos atrás, durante a primeira crise de Alice. Tornou-se mais claro durante as primeiras sessões do Primeiro o Diálogo que grande parte do sofrimento mental e emocional de Alice foi causada por vários problemas da vida relacionados a desafios sociais, psicológicos, ambientais, culturais e de identidade. Não acredito que seja uma doença física ou simplesmente um desequilíbrio químico que a medicação possa curar. A vida é muito mais complexa do que isso.

No entanto, é um processo muito longo para superar 14 anos de medicamentos tóxicos, várias internações hospitalares e as experiências extremamente traumáticas que Alice e eu sofremos devido à falta de boas condições de saúde mental. Acho espantoso que os serviços de saúde mental continuem a usar medicamentos como tratamento de primeira linha quando há evidências substanciais sobre seus muitos efeitos adversos quando tomados a longo prazo. Isso inclui os riscos que observei acima, além de comprometimento cognitivo, discinesia tardia, possível encolhimento cerebral e morte precoce. Quem gostaria de receber esse “tratamento”, que parece estar fazendo muito mais mal do que bem? Mas que outras opções temos? O que fazemos quando estamos no limiar de uma crise, quando é necessária ajuda para pessoas que sofrem extrema angústia emocional e que correm risco de sofrer danos? Quando a situação chegou a um ponto muito além do que posso fazer por mim mesmo e me sinto exausta com a falta de apoio?

Mudando o Paradigma

Não quero traumatizar ainda mais minha filha impondo uma ‘seção’ de saúde mental e mais hospitalização e mais medicamentos, mas não abandoná-la em sua busca para encontrar seu próprio caminho em sua difícil jornada. Viver com essa situação é aterrorizante, tanto para o paciente / usuário do serviço quanto para o cuidador, a família e os amigos. Com muita frequência, uma crise começa a aumentar dramaticamente, não há ajuda construtiva disponível e a situação entra em uma escala que está além do nosso controle. É quando me encontro “entre uma pedra e um lugar difícil”. É quando eu gostaria de ter acesso a um serviço como o Diálogo Aberto, cujos membros que eu conheço responderiam muito rapidamente e forneceriam uma equipe que ajudasse e apoiasse a minha filha e a mim ao longo da crise.

O que podemos fazer para mudar a forma como nossos serviços de saúde mental são organizados para reduzir nossa ansiedade e medo, seguros de que, quando pedimos ajuda, os serviços prestados não transformarão uma crise em um modo de vida para aquelas pessoas já angustiadas e vulneráveis? Não tenho resposta para todos, apenas para mim. Agora sou membro do Open Dialogue Champions, um pequeno grupo de familiares / cuidadores que experimentaram o benefício de trabalhar de maneira alternativa. Nossa missão é promover o Diálogo Abertoem todo o NHS da maneira que pudermos, ajudando a provocar uma transformação que interromperá o uso excessivo de medicamentos psiquiátricos e os danos duradouros que esta forma de tratamento está causando atualmente aos familiares, amigos e a sociedade em geral.

* Nota do editor: o nome da filha de Ruth foi alterado para proteger a privacidade desta última.

Programa de suporte entre pares em Nova York apresenta desafios e oportunidades na assistência em saúde mental

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Wikipedia Commons

Um artigo recente publicado Psychiatric Services examina os desafios da implementação do suporte de pares e das práticas de Diálogo Aberto no lugar dos serviços psiquiátricos tradicionais. Um grupo de antropólogos acompanhou secretamente o apoio de pares e profissionais associados ao Diálogo Aberto trabalhando no Parachute NYC, um novo programa destinado a lidar com crises psiquiátricas dando ênfase ao apoio de pares e às práticas dialógicas com bases comunitárias.

Os antropólogos descobriram vários desafios para a implementação do programa, como são os recursos inadequados para treinamento e supervisão, dificuldade em traduzir os princípios do Diálogo Aberto em práticas, os meios inseguros de subsistência dos participantes e a indiferença do sistema de saúde em geral. Não obstante, os envolvidos continuam esperançosos e sentem que há muito a aprender com a experiência.

“Em 2012, impulsionado por um suporte financeiro federal para a inovação dos Centros do Medicare e do Medicaid, o Departamento de Saúde e Higiene Mental da cidade de Nova York lançou o Parachute NYC, uma abordagem em toda a cidade para fornecer um território agradável’ para pessoas que sofrem uma crise psiquiátrica por renunciar à hospitalização enquanto resposta padrão às crises psiquiátricas e para manter os laços dos seus usuários com a comunidade durante o tratamento ”, explicam os autores Kim Hopper, Jennifer Van Tiem, Lauren Cubellis e Leah Pope.

“Modelado em protótipos suecos e alemães, o Parachutefoi projetado para ser uma alternativa preferida aos efeitos muitas vezes alienantes do tratamento convencional, por meio de apoio de colegas, do envolvimento da rede e o alívio da crise. Distintamente, também, o programa treinou os pares em suporte intensivo e os integrou totalmente a equipes dialógicas móveis e aos centros de acolhimento à crise. Na intenção e no design, então, o Parachute foi promovido como prática ‘transformacional’ de saúde mental pública. ”

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Os modelos de abordagem em saúde mental conhecidos como ‘apoio dos pares’ e ‘Diálogo Aberto’ representam algumas das alternativas contemporâneas mais promissoras aos serviços psiquiátricos tradicionais. Ambas abordagens visam abordar muitos dos elementos alienantes e prejudiciais da psiquiatria tradicional e hegemônica, como as relações hierárquicas de poder, o isolamento promovido pela institucionalização e uma ênfase excessiva nos medicamentos psiquiátricos.

O apoio de pares e o Diálogo Aberto têm despertado muito entusiasmo, com uma base crescente de evidências para dar apoio à sua eficácia. Apesar de toda a badalação em torno dessas duas abordagens, ‘a sua implementação é desencorajada’ pelas autoridades sanitárias.

Os antropólogos do Instituto Nathan Kline de Pesquisa Psiquiátrica acompanharam o NYC Parachute desde o início do programa, no período de 2012 a 2015. Eles realizaram uma análise etnográfica para localizar barreiras à implementação e para coletar dados que possam ser úteis em esforços futuros. Isso incluiu o apoio dos pares e dos funcionários do Open Dialogue no programa, bem como “um diário, feito em tempo real, detalhando obstáculos, erros e mal-entendidos à medida que iam surgindo”.

Segundo os autores, a logística foi aquilo que apresentou o maior conjunto de desafios. Isso incluiu encontrar candidatos apropriados, implantação rápida de suas equipes, coordenação da cobertura dos participantes, rotatividade de pessoal e cooperação entre as instituições existentes.

“O sucesso no enfrentamento desses desafios foi assimétrico. (Um juiz do tribunal de saúde mental, por exemplo, recusou-se a reintegrar um cliente do Parachute, que havia tido um confronto com a polícia durante um episódio paranoico, porque o juiz queria que o seu acompanhamento pelo ambulatório fosse obrigatório e monitorado de perto; a participação no Parachute era aparentemente insuficientemente segura porque era voluntária).”

A equipe achou difícil operacionalizar os princípios do Diálogo Aberto, tais como construir relacionamentos não hierárquicos com clientes e pessoas em sua rede social. O programa era uma abalo radical nos cuidados psiquiátricos tradicionais, significando que os trainees precisavam ser orientados para diferentes maneiras de pensar e agir em relação com o Outro. Isso exigia um ritmo e um estilo diferentes de engajamento, que se chocam com as normas estabelecidas da prática, necessitando substancial “desaprendizagem e reciclagem”. A prática dialógica tem resistido a uma codificação, portanto não há um ‘guia’ facilmente acessível para aprender as atitudes e técnicas associadas.

Os especialistas entre os pares foram treinados experimentalmente ao longo de 18 meses através de aprendizados improvisados. A inconsistência com relação ao atendimento e à rotatividade de pessoal, no entanto, significou que havia muita variabilidade na competência do pessoal. Diferentes disponibilidades de agendamento para supervisão fez com que sessões via Skype fossem utilizadas, mas isso abriu as portas para dificuldades técnicas.

O apoio questionável das instituições sociais existentes complicou ainda mais a implementação do programa. As agências patrocinadoras estavam despreparadas para a extensão das reformas da NYC Parachute. Os autores argumentam que briefing e preparação insuficientes foram realizados pela equipe do programa, o que resultou em agências vendo o programa de forma suspeita ou simplesmente incapazes para atender às suas demandas.

“Ainda assim, nossa opinião é que ceticismo delas refletia uma suspeita mais geral de compromissos de tratamento a longo prazo em uma era de atendimento gerenciado. Apesar da disposição regulamentar explícita, a agência patrocinadora das visitas domiciliares das equipes de Parachute não conseguiu receber o reembolso do Medicaid pelo suporte concedido para esse programa, e teve que reverter o seu suporte para as equipes móveis de crise. (Os centros de acolhimento fizeram a troca e ainda estão em operação.)”

A precariedade econômica foi outro desafio decisivo. O Diálogo Aberto na Suécia tem contado com um forte apoio do welfare state, o que esteve ausente na cidade de Nova York. O programa esbarrou em questões relacionadas à “moradia adequada, treinamento profissional, folga remunerada para participar das reuniões da rede, benefícios por incapacidade, e à cobertura de seguro de saúde”. Essa tensão com estruturas sociais e econômicas mais amplas dificultou a implementação, pois esses tipos de programas exigem segurança, meios de subsistência para seus participantes, a fim de serem eficazes em um nível de alta escala.

Apesar desses desafios, os membros do programa permaneceram otimistas, e a tentativa de revolucionar o atendimento foi parcialmente bem-sucedida. Os especialistas em apoio a colegas continuaram comprometidos, mesmo correndo o risco de serem explorados por seu trabalho emocional.

A equipe conseguiu manter uma postura de inclusão em relação aos membros da comunidade e à importância das vozes dos participantes, em contraste com os cuidados psiquiátricos tradicionais. Os problemas parecem haver surgido principalmente por causa de apoio social e institucional inadequado, além de planejamento insuficiente por parte da equipe do programa. Os autores argumentam que há muitas lições a serem aprendidas com a experiência de Parachute de Nova York, que podem ser aplicadas em esforços futuros na superação do atual sistema psiquiátrico.

Os autores concluem:

“A meta atraente que o programa Parachute tentou é ‘contra-hegemônica’ que descreve uma inovação que não apenas desafia os interesses profissionais e institucionais, mas também parece divergir do senso clínico comum. De maneira reveladora, o único grupo entre as partes interessadas que manteve um entusiasmo duradouro, embora cauteloso, durante todo o esforço, foram os pares. ”

“Em retrospecto, a interrupção do programa poderia ter sido prevista se as intervenções fossem melhor compreendidas pelos arquitetos do Parachute (o que poderia implicar, por exemplo, que as agências repensassem os cronogramas e a supervisão da equipe, oportunidades para progressão profissional e tomada de decisões administrativas rotineiras). Uma melhor preparação entre as burocracias potencialmente colaborativas (clínicas, hospitais, tribunais e administração de assistência social) certamente teria ajudado. E imaginar como combater um sistema de saúde mental cada vez mais consciente dos custos é difícil, mesmo considerando estimativas preliminares favoráveis ​​dos custos com o programa Parachute que foram feitos por avaliadores externos. ”

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Hopper, K., Van, T. J., Cubellis, L., & Pope, L. (2019). Merging intensive peer support and dialogic practice: Implementation lessons from Parachute NYC. Psychiatric Services(Link)

DSM: Manual de Patologia ou Apenas um Dicionário Descritivo?

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O DSM-V vem gerando polêmica desde sua criação, em 2013. O artigo de Sandra Caponi e Fernanda Martinhago, Controvérsias sobre o uso do DSM para diagnósticos de transtornos mentais, da revista Physis, expõe as contradições presentes no manual.

Em paralelo às edições do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), houve o crescimento significativo dos diagnósticos de transtornos mentais. As autoras se questionam se isso realmente significa que a sociedade está tomada por doenças mentais, ou se algo mais é o que está causando essa ‘epidemia’.

O DSM surge apenas na segunda metade do séc. XX, a partir do desejo de sistematizar os diagnósticos referentes aos transtornos da mente. Em 1952, a APA (Associação Americana de Psiquiatria) publica a primeira versão do manual, o DSM-I. Mas de lá para cá o manual veio sofrendo várias alterações, demonstrando uma mudança na própria psiquiatria.

Vale destacar que no DSM – I (1952) e o DSM – II (1968) as categorias eram baseadas no enfoque psicanalítico. No entanto, com a publicação do DSM-III (1980) há uma reviravolta, as categorias são baseadas na medicina baseada em evidências, o que na época foi considerado uma revolução científica, trazendo à tona a mudança de paradigma que a psiquiatria vinha sofrendo. A partir daí, os manuais seguintes, DSM -V (1994) E DSM-V (2013), seguiram a mesma linha.

O artigo visa compreender o uso do DSM como instrumento para fundamentar os diagnósticos de transtornos mentais através das evidência científicas. É resultado de uma pesquisa de doutorado feita por uma das autoras, entre os anos de 2013 – 2017.

“Segundo Berrios (2007, p.11), a psiquiatria é o ‘conjunto de narrativas desenvolvidas (principalmente por sociedades ocidentais) para configurar, explicar e lidar com fenômenos comportamentais, os quais, com base em critérios sociais, mais do que neurobiológicos, foram definidos como desvios’. Para Izaguirre (2011), a psiquiatria não é uma ciência e está distante de conquistar este objetivo. Ela estaria relacionada ao desenvolvimento de outras disciplinas heterogêneas entre si, nas quais busca se embasar. Todavia, estas lhe proporcionariam mais interrogações do que soluções.”

Ao longo da História, a psiquiatria estabeleceu três paradigmas: ‘alienação menta’, o rompimento com a ideia de doenças (nesse momento a psiquiatria era englobada pela medicina) e o terceiro são as “estruturas psicopatológicas”, influenciado por diversas disciplinas como fenomenologia, linguística, neurobiologia, etc. Foi em paralelo com o terceiro paradigma que se desenvolveram novos psicofármacos. Esse acontecimento impulsionou os estudos sobre neurociências e genética, as autoras levantam a possibilidade desse ser o quarto, e atual, paradigma da psiquiatria.

As autoras destacam que o DSM se caracteriza mais como um ‘dicionário descritivo’ do que um manual de patologia. Isto porque as doenças devem possuir uma etiologia (origem da doença), uma agrupação de sintomas, um curso e um prognóstico (provável desenvolvimento futuro e resultado de um processo) e uma certa resposta ao tratamento. O que não é o caso dos transtornos mentais.

A psiquiatria parece buscar conectar-se com três níveis de desenvolvimento
científico atual: as neurociências como principal, a genética e o resultado tecnológico desta díade, a psicofarmacologia. A questão é que a psiquiatria não construiu elementos diagnósticos e classificatórios que fossem coerentes com estas disciplinas, cujo embasamento estaria nos mecanismos neuronais, neurotransmissores e genéticos, bem como os efeitos psicofarmacológicos no comportamento e elementos do sistema nervoso central para estabelecer uma nova nosologia com base científica
(IZAGUIRRE, 2011).”

Mas o DSM também é considerado conveniente, na medida que favorece os interesses corporativos da medicina, os interesses financeiros dos planos de saúde e o fortalecimento da indústria farmacêutica. Afinal, o DSM é o responsável pela fronteira entre normalidade e doença, e a consequência é sua grande relevância social, pois é o responsável por definir quem recebe ou não benefício por invalidez, quem é que pode adotar um filho, quem vai ocupar uma vaga de emprego, quem é doente e quem é sadio… Além disso, gera muito lucro para a indústria farmacêutica e para os planos de saúde.

O DSM não leva em consideração a complexidade do ser humano. O manual apresenta uma serie de controvérsias, uma forte inconsistência teórica e não preenche os critérios de confiabilidade. Mas por ser conveniente ao poder médico, à indústria farmacêutica e à indústria da saúde, o DSM mantém a sua hegemonia e autoriza a epidemia de transtornos psiquiátricos e, consequentemente, a de remédios psiquiátricos.

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MARTINHAGO, FERNANDA; CAPONI, SANDRA. Controvérsias sobre o uso do DSM para diagnósticos de transtornos mentais. Physis,  Rio de Janeiro ,  v. 29, n. 2,  e290213,    2019 . (LINK)

Treinar profissionais de saúde leigos em terapia leva a melhorias e a menos uso de medicamentos

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Um estudo que comparou dois tipos de intervenções de saúde mental para depressão na Nigéria encontrou altas taxas de melhora, incluindo um grupo que usou menos tratamentos medicamentosos. Mais de três quartos dos pacientes em ambos os grupos experimentaram remissão completa da depressão.

A pesquisa foi liderada por Oye Gureje da Universidade de Ibadan, Nigéria. Foi publicado no The Lancet Global Health. Um comentário anexo foi escrito por Bolanle Adeyemi Ola e Olayinka Atilola na Universidade Estadual de Lagos, Nigéria.

“Essas descobertas fornecem mais evidências de que intervenções com mudança de paradigma para depressão oferecidas por profissionais de saúde leigos são eficazes, independentemente do modelo de intervenção adotado”, de acordo com Ola e Atilola.

O estudo comparou dois tipos de treinamento em atenção primária. Os provedores são considerados profissionais de saúde leigos (enfermeiro(s) e agentes comunitários de saúde). Na Nigéria, existem muito poucos médicos; portanto, os profissionais de primeira linha (atenção primária) geralmente têm de 2 a 3 anos de educação pós-secundária.

No estudo, os dois grupos de profissionais receberam treinamento em tratamento da depressão, incluindo “psicoeducação e aconselhamento para lidar com estressores e ativar redes sociais e farmacoterapia quando necessário”. No entanto, um grupo (o grupo de “intervenção”) também recebeu treinamento específico sobre como administrar a ativação comportamental e a terapia de solução de problemas – duas formas de psicoterapia que seguem uma estrutura manualizada (mhGAP intervention guide) e são consideradas “baseadas em evidências” para o tratamento da depressão.

Os pesquisadores descobriram que os profissionais que receberam o treinamento específico em psicoterapia eram menos propensos a prescrever medicamentos – apenas 13% de seus pacientes deprimidos receberam medicação, em comparação com 32% dos pacientes no outro grupo.

Apesar de serem prescritos com menos da metade dos antidepressivos, os pacientes do grupo de intervenção fizeram o mesmo. Os testes de acompanhamento foram realizados 12 meses após o estudo, e os pesquisadores descobriram que 76% dos participantes do grupo de intervenção e 77% dos participantes do grupo controle experimentaram “remissão” da depressão. Isso significa que eles pontuaram ≤ 6 no PHQ-9, uma enorme melhoria em relação à pontuação média original de 13,7.

De acordo com os autores dos comentários, os críticos dos serviços globais de saúde mental levantaram preocupações sobre a exportação de um modelo neocolonial baseado nos costumes culturais ocidentais em torno da saúde mental, o que pode resultar em superdiagnóstico e uso excessivo de medicamentos, em vez de abordagens culturalmente sensíveis que valorizam outras saúde.

Os autores acreditam que este estudo demonstrou que os que foram treinados em abordagens de psicoterapia baseadas em evidências podem reduzir a dependência de medicamentos desnecessários.

“A incorporação e disponibilidade de habilidades em um tratamento psicológico intensivo, culturalmente apropriado e baseado em evidências poderia reduzir potencialmente a necessidade e a prescrição de antidepressivos em ambientes de atenção primária sem comprometer a eficácia”.

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Commentary: Ola, B. A., & Atilola, O. (2019). Task-shifted interventions for depression delivered by lay primary health-care workers in low-income and middle-income countries. The Lancet Global Health, 7(7), PE829-E830. (Link)

Article: Gureje, O., Oladeji, B. D., Montgomery, A. A., Bello, T., Kola, L., Ojagbemi, A., . . . Araya, R. (2019). Effect of a stepped-care intervention delivered by lay health workers on major depressive disorder among primary care patients in Nigeria (STEPCARE): a cluster-randomized controlled trial. The Lancet Global Health, 7(7), e951–60. http://dx.doi.org/10.1016/ S2214-109X(19)30148-2 (Link)

Uso de maconha pelos pais associado ao uso de substâncias em crianças

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Novas pesquisas exploram alguns dos impactos a longo prazo do uso da maconha nas famílias. A equipe utilizou dados coletados ao longo de 16 anos, representando 380 famílias, para explorar as relações entre o uso de maconha relatado pelos pais e os hábitos com drogas das crianças, atitudes em torno do uso de substâncias, padrões de comportamento de internalização e externalização, problemas de atenção e notas na escola.

As pesquisadoras Marina Epstein, Jennifer A. Bailey e Madeline Furlong, da Universidade de Washington, e Christine Steeger e Karl Hill, da Universidade do Colorado, Boulder, publicaram suas descobertas em Psychology of Addictive Behaviors da American Psychological Association. O estudo revelou que os filhos de pais que relataram uso de maconha durante a adolescência eram significativamente mais propensos a relatar o uso de substâncias do que os filhos daqueles que não o fizeram.

Os resultados também indicaram que as crianças cujos pais relataram um histórico de uso de maconha mais tarde na idade adulta tiveram filhos um pouco mais propensos a ter notas mais baixas e dificuldades de atenção, mas que não eram mais propensos a relatar o uso de substâncias do que seus pares. O uso atual versus uso no passado da maconha pelos pais não mediou significativamente os resultados.

“A legalização do uso de maconha em 10 estados e no Distrito de Columbia se reflete na percepção pública de que o uso entre adultos não é prejudicial e não precisa ser reduzido. De fato, ao contrário das consequências negativas documentadas do uso de maconha entre adolescentes, as consequências do uso pouco frequente de maconha para adultos são relativamente poucas. No entanto, muitos adultos são pais, e estudos recentes mostraram que o uso de maconha entre os pais também aumentou. ”

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A maconha, agora legal para uso recreativo em 10 estados e no Distrito de Columbia, aumentou em popularidade nos últimos anos. Apesar de seu alcance, as barreiras à pesquisa rigorosa sobre segurança e efeitos do uso da maconha têm sido bem documentadas. Em estudos recentes que examinaram a maconha e suas consequências, alguns pesquisadores identificaram potenciais riscos à saúde mental associados ao uso da maconha, enquanto outros sugeriram que existem poucos riscos discerníveis.

Além disso, houve críticas poderosas sobre a pouca pesquisa existente, como os estudos de Madras, destacando as falhas metodológicas de um estudo longitudinal feito em 2015, sugerindo nenhuma conexão entre o uso de maconha para adolescentes e problemas posteriores de saúde mental em adultos. O tópico do uso da maconha pode ser sensível, político e polarizador, e muitos estudos relacionados são analisados ​​minuciosamente, quaisquer que sejam as implicações que pretendam.

Epstein e colegas relatam que “[o] uso de maconha é particularmente preocupante porque estudos mostram que o uso atual de substâncias pelos pais pode estar ligado a efeitos adversos no bem-estar da criança, incluindo uma maior probabilidade de uso de substâncias entre as crianças”. Eles sugerem que o deles é o primeiro estudo a examinar até que ponto o uso da maconha pelos pais antes e durante a paternidade afeta as características e os padrões de comportamento das crianças em vários domínios relevantes.

A equipe explorou os vínculos entre as nuances das histórias de uso de drogas dos pais e os resultados dos adolescentes através das lentes do modelo de desenvolvimento social (SDM), que sugere que os meandros da socialização informam trajetórias comportamentais ao longo da vida. Essa perspectiva sugere que a família, a escola e os grupos de pares são as forças mais influentes nos processos de socialização infantil.

Pesquisas anteriores, usando alguns dos mesmos dados aplicados neste exame, agruparam o uso de maconha dos pais em quatro categorias; não usuário, uso crônico, limitado na adolescência e de início tardio. Com o uso da maconha familiar como foco do presente estudo, os autores levantaram a hipótese de que “filhos de pais no grupo crônico terão os piores resultados em comparação com outras classes. Eles também esperavam que a participação da criança no grupo dos pais usuários esteja mais associada ao uso e às normas de maconha infantil, embora as associações com a saúde mental e comportamental também tenham sido postuladas. ”

O projeto examinou uma amostra diversificada de famílias envolvidas em dois estudos, o Projeto de Desenvolvimento Social de Seattle (SSDP) e o Estudo Intergeracional (TIP). As unidades familiares participantes compreendiam os pais, o filho biológico mais velho e, em alguns casos, entrevistas com cuidadores adicionais.

A coleta de dados ocorreu em dez momentos entre 2002 e 2018. Os hábitos dos pais foram registrados de acordo com o autorrelato, os padrões e atitudes de uso de substâncias das crianças foram coletados por meio do autorrelato, e internalização, externalização, problemas de atenção e notas da criança foram coletados por meio dos relatórios feitos pelos pais. A modelagem multinível foi realizada para avaliar mudanças nas relações e resultados ao longo do tempo.

Semelhante ao que foi proposto, “crianças de pais nos grupos de uso crônico e de grupo de uso limitado na adolescência tiveram maiores chances de usar maconha e álcool em comparação com filhos de pais no grupo de não usuários. Filhos de usuários de início tardio não relataram mais risco de uso de substâncias, mas relataram notas mais baixas em comparação aos não usuários. Esses achados obtidos no grupos de uso limitado na adolescência e no grupo de início tardio após o uso simultâneo de maconha com os pais foram incluídos nos modelos, sugerindo que, embora o uso atual dos pais seja um fator de risco importante para a saúde infantil, o histórico dos pais de uso de maconha representa um risco adicional, particularmente para o uso e as normas da maconha. ”

Os autores afirmam que suas descobertas destacam o impacto intergeracional do uso da maconha, indicando que os padrões de comportamento dos pais podem estar ligados às atitudes e comportamentos das crianças associados à maconha e outras drogas. Este estudo fornece evidências para relações entre socialização, desenvolvimento de entendimentos sobre comportamento normativo na infância e padrões de tomada de decisão posteriores. No entanto, são necessárias mais pesquisas para elucidar a gravidade das implicações associadas a esses efeitos intergeracionais. Pesquisas sobre resultados longitudinais críticos do uso de maconha ainda estão em sua infância.

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Epstein, M., Bailey, J. A., Furlong, M., Steeger, C. M., & Hill, K. G. (2019). An intergenerational investigation of the associations between parental marijuana use trajectories and child functioning. Psychology of Addictive Behaviors. DOI: 10.1037/adb0000510 (Link)

Movimento Antimanicomial denuncia ‘indústria da loucura’ no Governo Bolsonaro

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Saiu publicado em Brasil de Fato: uma matéria sobre o XI Encontro Nacional do Movimento da Luta Antimanicomial (Enala) e do XII Encontro Nacional de Usuários e Familiares da Luta Antimanicomial (Enufa), que ocorre entre os dias 15 e 17 de novembro de 2019 em São Paulo.

“A nossa luta é para mobilizar contra um procedimento que quer lucrar em cima da loucura.” A frase de Mário Alexandre Moro, representante do segmento de usuários do Movimento Nacional de Luta Antimanicomial (MNLA), resume os debates dos dois encontros.

Leia a matéria na íntegra →

Medo e crença no “desequilíbrio químico” impedem as pessoas de parar de usar antidepressivos

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Em um novo estudo, os pesquisadores entrevistaram pessoas que receberam orientação médica para interromper os antidepressivos. O uso de antidepressivos pelos participantes foi considerado como sendo “não indicado”, tomando como base as diretrizes que orientam a prática clínica. Usuários de antidepressivos que não tinham diagnóstico de saúde mental no momento, tampouco histórico de problemas de saúde mental recorrentes e que estavam tomando antidepressivos por muito mais tempo do que as diretrizes sugerem (mais de nove meses). Apesar de receber esse conselho para interromper, mais da metade dos participantes se recusou a parar de tomar o medicamento – e os pesquisadores descobriram duas razões principais.

A pesquisa foi liderada por Rhona Eveleigh e Peter Lucassen na Universidade Radboud, na Holanda. O estudo foi publicado no Therapeutic Advances in Psychopharmacology.

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Segundo os pesquisadores, cerca de cinco em cada seis usuários de antidepressivos não estavam se beneficiando com o seu uso. Assim, a maioria das pessoas que estava tomando antidepressivos estava sendo exposta desnecessariamente aos possíveis danos do medicamento. As evidências sobre o uso a longo prazo são escassas (a maioria dos medicamentos recebe a aprovação do FDA com base em estudos de curto prazo), mas estudos demonstraram que o uso a longo prazo pode ser inútil ou até causar mais danos do que benefícios.

As diretrizes da prática clínica são a referência para esta pesquisa. Geralmente, o conselho apresentado nas diretrizes é considerar como positivo a interrupção do uso de antidepressivos após vários meses (o período exato varia de acordo com as diretrizes), se os sintomas indicados tiverem diminuído. Obviamente, muitas pessoas estão tomando antidepressivos prescritos off-label – de uma maneira que não segue as diretrizes – e a descontinuação também pode ser uma opção nesses casos.

Em suas entrevistas, os pesquisadores identificaram duas barreiras significativas à descontinuação. O primeiro foi o medo: medo de que, se os participantes parassem de tomar antidepressivos, experimentariam níveis de depressão com os quais poderiam ser incapazes de lidar.

“O medo (de recorrência, recaída ou de equilíbrio perturbado) foi a barreira mais importante; e tentativas anteriores alimentaram essas antecipações.”

Segundo os pesquisadores, a melhor solução para esse medo foi a explicação e a orientação clara que seriam apresentadas pelo médico prescritor: enquadrar o uso de antidepressivo como temporário no início do tratamento, bem como uma compreensão clara do processo de retirada para a descontinuação.

A segunda barreira para poder seguir o conselho médico em torno da descontinuação seria a crença na teoria de deficiência de serotonina: trata-se da noção de que os antidepressivos corrigem um desequilíbrio químico. Em suas entrevistas, os pesquisadores descobriram que essa crença equivocada estava ligada à ideia de que os participantes tinham uma doença ao longo da vida e que precisariam de antidepressivos indefinidamente.

“A deficiência de serotonina como explicação para a eficácia do antidepressivo promove o uso por toda a vida e dificulta a interrupção do tratamento com antidepressivos”.

Por exemplo, aqui estão as palavras de dois participantes diferentes que “rejeitaram o conselho e não interromperam” o medicamento:

“Eu só preciso disso. Para mim, isso não é uma doença psicológica, é física. E meu corpo não é capaz de produzir serotonina suficiente, então tomo a pílula para fornecê-la. ”

 “Ela (a clínica) me disse que eu deveria ver isso como tendo uma deficiência no cérebro, como alguém que sente falta de uma certa substância e que o medicamento a fornece. Ela me disse que é como alguém com diabetes que precisa de insulina pelo resto da vida. Bem, porque acredito nisso, então nunca questionei o meu uso.”

Segundo os pesquisadores, explicar biologicamente o sofrimento emocional “parece sair pela culatra, dificultando convencer o paciente a interromper o medicamento”.

No entanto, outros médicos descreveram claramente o uso de antidepressivos de maneira diferente. Outro participante disse: “Meu clínico geral deixou bem claro que (o antidepressivo) é apenas uma solução temporária, ajudará, mas que o problema está em outro lugar”.

Parece que a maneira como o médico prescreveu o uso de antidepressivos desempenha um papel significativo se a pessoa tentou seguir o conselho para interromper ou não.

Além disso, quando o médico foi visto como uma figura útil, que levava a sério as preocupações do paciente e o ajudava na descontinuação, os pacientes podiam ver isso como “uma rede de segurança” e assim iniciar o processo de redução gradual da droga.

Os pesquisadores escrevem que os médicos precisam estar cientes dos medos dos pacientes em relação à descontinuação, pois isso pode impedi-los de agir sob orientação médica. Eles também sugerem que os médicos se mantenham a par de novos métodos de redução e descontinuação de antidepressivos para minimizar os sintomas de abstinência.

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Eveleigh, R., Speckens, A., van Weel, C., Voshaar, R. O., & Lucassen, P. (2019). Patients’ attitudes to discontinuing not-indicated long-term antidepressant use: barriers and facilitators. Therapeutic Advances in Psychopharmacology, 9, 1-9. https://doi.org/10.1177/2045125319872344 (Link)

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