DIÁLOGO ABERTO: REDUÇÃO DA MEDICAÇÃO E SUPORTE CIENTÍFICO

Tratamento da esquizofrenia e psicoses em geral. Os melhores resultados no mundo ocidental.

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Jaakko Seikkula, apresenta com detalhes a abordagem finlandesa da esquizofrenia e das psicoses em geral com os melhores resultados em todas as sociedades do mundo ocidental. Trata-se do Open Dialogue (Diálogo-Aberto).

O Mad in Brasil, dá sequência às postagens com o resumo das palestras apresentadas no Simpósio Científico: Drogas Psiquiátricas – riscos e alternativas -, que ocorreu na cidade de Gotemburgo, na Suécia, em 15 de outubro de 2016, .

Jaakko inicia a sua apresentação chamando a nossa atenção para o fato que ele está naquele momento se apresentando enquanto um cientista. Ele nos lembra que sem rigor científico seria impossível o que foi desenvolvido até hoje com a abordagem do Diálogo-Aberto (Open Dialogue).  Daí a importância de se fazer Ciência.

Sabemos que a maioria da pesquisa que hoje em dia é feita no campo da psiquiatria está baseada em falhas que comprometem significativamente seus resultados. Isso porque uma parte considerável dos princípios básicos da ciência utilizados pela Psiquiatria estão baseados em uma lógica de laboratório, portanto separada da vida real das pessoas. São os critérios considerados como ‘padrão ouro’: que a pesquisa seja ‘randomizada’ (os sujeitos selecionados de forma aleatória) e em ‘duplo cego’ (onde nem o examinado e nem o examinador sabem qual é a variável que está sendo utilizada em um dado momento).  É esse o modelo que é defendido, patrocinado financeiramente, e propagandeado pela Indústria Farmacêutica.

A proposta de Jaakko é que se desenvolva uma metodologia que dê conta da experiência da clínica no cotidiano das pessoas, como é o caso do Diálogo-Aberto. Trata-se do que ele chama de ‘pesquisa naturalística’. E propõe que essa metodologia seja comparada com o modelo de pesquisa hoje dominante e que costuma ser generalizável para todas as realidades investigadas.

É muito frequente se ouvir que a pesquisa que é feita de orientação ‘naturalística’ não é Ciência, na medida em que não segue os padrões científicos dominantes. E em que consiste a metodologia naturalística?  Em termos gerais:

Desenho Naturalístico:

  • Volta o olhar para o que ocorre no mundo real.
  • Não é um desenho de pesquisa de laboratório.
  • A ênfase é na validade externa.
  • O desenho é de acordo com o contexto específico e o método específico
  • O emprego de ‘métodos mistos’ – dados tanto quantitativos quanto qualitativos no mesmo projeto.

Aspectos:

  • Uso de terapias interacionais.
  • Passo 1: Fazer um acompanhamento sistemático dos resultados.
  • Passo 2: Escolha de casos para comparações.
  • Fase 3: Estudos de caso com resultados pobres e bons.
  • Passo 4: Integrar os resultados dos casos para dados estatísticos.

Em seguida, Jaakko apresenta a evolução da abordagem do Diálogo-Aberto. A abordagem tem sido desenvolvida e construída a partir da experiência no mundo real das pessoas e das suas interações interpessoais. E graças à sistemática avaliação dos resultados é que a clínica passa a ser inseparável do processo de pesquisa.  Nas próprias palavras de Jaakko:

“Não haveria o Diálogo-Aberto sem a pesquisa, porque sem pesquisa não se pode sobreviver! “.

Vejamos esses quadros que sintetizam o processo desenvolvido nessa região da Finlândia há umas três décadas.

Estudos do Diálogo Aberto em Western Lapland:

  • 1988-1991: As fronteiras entre o Hospital e a família.
  • Diferença entre pacientes que estão na primeira hospitalização, quando é recorrente a hospitalização, e os pacientes em tratamento a longo-prazo.
  • A equipe abre-se para um interesse social mais amplo.
  • Primeiras ideias sobre a importância do ‘diálogo’.

Estudos sobre Psicose:

  • 1992-1993 (Projeto Tratamento Integrado da Psicose Aguda)

(1) estudar o papel da droga psiquiátrica, no começo do tratamento e não no final.

(2) começa-se a constatar que de fato muito poucas pessoas necessitam da medicação.

  • 1994-1997 (Pesquisar o papel do Diálogo Aberto na fase aguda)

(1) Mudanças do sistema do hospital para intervenções móveis, de preferência na residência.

(2) O diálogo como foco, explorando seus recursos.

  • 2003-2005: Quais são os principais aspectos?

(1) Diferenciar o Diálogo Aberto das abordagens convencionais.

(2) Não há necessidade de hospitalização, quando se reúne com as famílias e o diálogo é de fato aberto, as soluções são construídas em conjunto, sem hierarquia.

Estudos de follow-up são realizados sistematicamente. O primeiro, de dois anos; em seguida, de 5 anos, e depois um outro de 10 anos.  Os resultados são abordados quantitativa e qualitativamente.

Princípios fundamentais para a organização do Diálogo Aberto nas Redes Sociais:

  • Ajuda imediata
  • Perspectiva de rede social
  • Flexibilidade e Mobilidade
  • Responsabilidade
  • Continuidade Psicológica
  • Tolerância da incerteza
  • Dialogismo

Os resultados dos estudos de follow-up estão disponíveis ao final do texto.

A observar que o estudo naturalístico não é ‘randomizado’ e nem com o ‘duplo-cego’. O estudo é feito na vida real. As entrevistas de follow-up são fóruns de aprendizado mútuo: pacientes-família-redes sociais/equipe de saúde mental.

Metas:

  • Meta 1: Garantir o tratamento fora do hospital, no lar das pessoas de preferência.
  • Meta 2: Aumentar o conhecimento do lugar da medicação. Não começar com medicação neuroléptica no começo do tratamento, mas focalizar em um tratamento psicossocial ativo.
  • Explorar as forças terapêuticas inerentes ao diálogo

Os resultados com o Diálogo-Aberto são surpreendentes, de longe os melhores resultados obtidos em todo o mundo ocidental.

Conclusões:

  • O Diálogo Aberto se desenvolveu em um processo inseparável da pesquisa.
  • A pesquisa naturalística fornece informação avaliável a respeito da prática – levando em conta os problemas, os dilemas.
  • A validade externa (o acompanhamento dos casos) é mais elevada do que os ensaios clínicos empíricos.
  • O grupo não medicado desde o começo tem resultados muito superiores, em médio e longo prazos.
  • Há o uso seletivo da medicação (o uso de ansiolíticos, no começo do tratamento, quando é considerado necessário por todos envolvidos, quando indispensável após as duas primeiras semanas antipsicóticos), e isso é acompanhado avaliado sistematicamente.
  • Há a replicação de todo o processo, dez anos depois.
  • A ênfase é nas descrições, e não em explicações
  • É um processo continuado.

Atualmente está sendo realizado um estudo de follow-up de 25 anos.

Bibliografia dos estudos de follow-up.

  • Seikkula, J., Aaltonen, J., Alakare, B., Haarakangas, K., Keranen, J., & Lehtinen, K. (2006). Five year experience of first episode nonaffective psychosis in open-dialogue approach: Treatment principles, follow-up outcomes, and two case studies. Psychotherapy Research, 16(02), 214–228.CrossRefGoogle Scholar
  • Seikkula, J., Aaltonen, J., Rasinkangas, A., Alakare, B., Holma, J., & Lehtinen, K. (2003a). Open dialogue approach: Treatment principles and preliminary results of a Two-year follow-up on first episode schizophrenia. Ethical and Human Sciences and Services, 5, 163–182.Google Scholar
  • Seikkula, J., Alakare, B., & Aaltonen, J. (2001a). Open dialogue in psychosis I: An introduction and case illustration. Journal of Constructivisit Psychology, 14, 247–265.CrossRefGoogle Scholar
  • Seikkula, J., Alakare, B., & Aaltonen, J. (2001b). Open dialogue in psychosis II: A comparison of good and poor outcome cases. Journal of Constructivisit Psychology, 14, 267–284.CrossRefGoogle Scholar
  • Seikkula, J., Alakare, B., Aaltonen, J., Holma, J., Rasinkangas, A., & Lehtinen, V. (2003b). Open dialogue approach: Treatment priciples and preliminary results of a two-year follow-up on first episode psychosis. Ethical and Human Sciences and Services, 5(3), 163–182.Google Scholar