Doente de Brasil

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O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de troca da guarda. EVARISTO SA AFP

Publicado em El País, em 2 de agosto de 2019, artigo de Eliane Brum, escritora, repórter e documentarista. Embora longo, vale a pena ler na íntegra este artigo, de grande relevância para todos, especialmente para os profissionais de saúde mental.

Jair Bolsonaro é um perverso. Não um louco, nomeação injusta (e preconceituosa) com os efetivamente loucos, grande parte deles incapaz de produzir mal a um outro. O presidente do Brasil é perverso, um tipo de gente que só mantém os dentes (temporariamente, pelo menos) longe de quem é do seu sangue ou de quem abana o rabo para as suas ideias. Enquanto estiver abanando o rabo – se parar, será também mastigado. Um tipo de gente sem limites, que não se preocupa em colocar outras pessoas em risco de morte, mesmo que sejam funcionários públicos a serviço do Estado, como os fiscais do IBAMA, nem se importa em mentir descaradamente sobre os números produzidos pelas próprias instituições governamentais desde que isso lhe convenha, como tem feito com as estatísticas alarmantes do desmatamento da Amazônia. O Brasil está nas mãos deste perverso, que reúne ao seu redor outros perversos e alguns oportunistas.”

“… É desta ordem os relatos que tenho recolhido nos últimos meses junto a psicanalistas e psiquiatras, e também a médicos da clínica geral, medicina interna e cardiologia, onde as pessoas desembarcam queixando-se de taquicardia, tontura e falta de ar. Um destes médicos, cardiologista, confessou-se exausto, porque mais da metade da sua clínica, atualmente, corresponde a queixas sem relação com problemas do coração, o órgão, e, sim, com ansiedade extrema e/ou depressão. Está trabalhando mais, em consultas mais longas, e inseguro sobre como lidar com algo para o qual não se sente preparado.”

“…Em 10 de julho, o psiquiatra Fernando Tenório escreveu um post no Facebook que viralizou e foi replicado em vários grupos de Whatsapp. Aqui, um trecho: “Acabei de atender a um homem de 45 anos, negro, sem escolaridade. Nos últimos cinco anos, viu seus colegas de setor serem demitidos um a um e ele passou a acumular as funções de todos. Disse-me que nem reclamou por medo de ser o próximo da fila. Tem sintomas de esgotamento que descambam para ansiedade. Qual o diagnóstico para isso? Brasil. Adoeceu de Brasil. Se eu tivesse algum poder iria sugerir ao DSM (o manual de transtornos mentais da psiquiatria) esse novo diagnóstico. Adoecer de Brasil é a mais prevalente das doenças. Entrei agora na Internet e vi que a reforma da previdência corre para ser aprovada sem sustos. O povo, adoecido de Brasil, permanece inerte. Vai trabalhar sem direito a aposentadoria até morrer de Brasil”.”

Leia o artigo na íntegra, clicando aqui →

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de troca da guarda. EVARISTO SA AFP

A Política de Saúde Mental em Perigo no Brasil !

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O Caderno do CEAS publicou recentemente o artigo A violência da contrarreforma psiquiátrica no Brasil: um ataque à democracia em tempos de luta pelos direitos humanos e justiça social , de Ana Pitta e Ana Paula Guljor.

As autoras têm por objetivo contribuir sobre o debate acerca dos retrocessos e ameaças aos direitos humanos dos usuários da saúde mental, arduamente conquistados pelo Movimento da Reforma Psiquiátrica. Elas fazem um percorrido histórico, em que relembraram como o movimento da Reforma Psiquiátrica foi amadurecendo até tornar-se política pública de diferentes governos, assim como conseguiu aprovar a importante lei 10.216 de 2001, a qual orienta sobre os direitos dos usuários, e que nasce a partir de um intenso debate e mobilização social.

No entanto, o artigo lembra que os avanços alcançados pelo movimento começou a sofrer ataques no final de 2015, quando foi nomeado para a Coordenação da Saúde Mental do Governo Federal, o antigo diretor de um dos maiores hospitais psiquiátricos da América Latina durante a Ditadura Militar. Após intensos protestos de usuários e profissionais, ele foi retirado do cargo. Algum tempo depois, em dezembro de 2017, houve a formulação da “Nova Política de Saúde Mental”, sem qualquer participação dos movimentos sociais, profissionais da saúde mental, usuários ou familiares, e por ironia, os maiores interessados no tema. Sobre a tal Nova Política:

” (…) traz apenas o retorno à hospitalização para usuários com transtornos mentais em hospitais psiquiátricos, e, em Comunidades Terapêuticas, para os usuários de álcool e outras drogas , multiplicando as camas de internação a números superiores aos tempos da “Indústria da Loucura”, quando o país gastava 97% dos recursos para o setor em hospitais (1982) e apenas 3% em estruturas comunitárias.”

Mas não para por aí, a rede ambulatorial também retorna a um modelo de prescrições de psicofármacos e guias de internação como sendo, oficialmente, a terapêutica principal. Se hoje já é difícil deslocar o saber biomédico de sua hegemonia com uma política que preconiza as estruturas comunitárias e que vem apostando nelas, quanto mais com uma política que explicitamente tem por único interesse o protagonismo do tratamento biomédico.

A nota técnica de 2018, ainda traz o retorno dos hospitais psiquiátricos na Rede de Atenção  Psicossocial, o que vai contra os princípios da própria atenção psicossocial, que pretende priorizar o tratamento comunitário e em liberdade. Dessa forma, o resultado é o retorno do dinheiro público para as redes hospitalares e comunidades terapêuticas, que apostam no enclausuramento. Mas lembremos que pela lei 10.216, os leitos psiquiátricos e de Álcool e Drogas deveriam ser estabelecidos nos Hospitais Gerais, o que praticamente não foi implementado na rede, com este decisão perderão ainda mais força.

Mais recentemente, ainda surgiu o documento “Esclarecimentos sobre as mudanças na Política Nacional de Saúde Mental e nas Diretrizes na Política Nacional sobre Drogas”, retirado do ar após uma enxurrada de críticas recebidas, que dá continuidade aos retrocessos nos direitos humanos dos usuários.

As autoras também destacam a dissociação da gestão das políticas de saúde mental do Ministério da Saúde e a de álcool e outras drogas, agora na Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (SENAPRED), no Ministério da Cidadania, ministério esse fortemente comprometido com as comunidades terapêuticas com amplo envolvimento político e religioso.

“Outros aspectos problemáticos, na Nota, são a defesa de ambulatórios
“especializados” desconsiderando a cobertura assistencial da Atenção Primária e o matriciamento por Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF, ou mesmo a rede dos mais de 2.000 CAPS espalhados no território nacional, garantindo, assim, atenção integral e descentralizada no território nacional. O único momento no qual a saúde mental da infância e juventude está contemplada tem a ver com internação em hospitais.”

Não é possível esquecer de dizer que, no que diz respeito às tecnologias de cuidado, apenas a defesa da eletroconvulsoterapia (ECT) tem garantia de financiamento na nota.

As autoras concluem apontando para a necessidade de incentivar o debate através de artigos de pesquisadores interdisciplinares sobre a temática. É necessário se reafirmar as conquistas da Reforma, ao mesmo tempo, em que é necessário criar novas possibilidades de resistência, de fortalecimento dos serviços de saúde mental, assim como repensar nossos pontos fracos na assistência, para consolidar ainda mais a eficácia e o apoio social à Reforma Psiquiátrica. Isto não é apenas dever dos profissionais da assistência e pesquisadores da área, mas de todos nós, usuários, familiares, estudantes, movimentos sociais democráticos e populares e as mídias de comunicação.

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PITTA, Ana Maria Fernandes; GULJOR, Ana Paula. A VIOLÊNCIA DA CONTRARREFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL: UM ATAQUE À DEMOCRACIA EM TEMPOS DE LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA SOCIAL. Cadernos do CEAS: Revista crítica de humanidades, [S.l.], n. 246, p. 6-14, jun. 2019. (Link)

Um psiquiatra tenta tomar antipsicóticos: Seroquel

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Matéria publicada em Fugitive Psychiatrist:

“Hoje, um paciente me disse que, se eu o colocasse em quetiapina novamente, ele pularia de uma ponte. Isso parecia dramático, mas, de acordo com sua personalidade dramática, não, eu não havia dito que o internaria no hospital. Perguntei-lhe (retoricamente) se ele estava tendo efeitos colaterais. Havia uma longa lista. Perguntei se isso era mais ou menos problemático do que o outro episódio maníaco. Ele me incentivou que eu tomasse a medicação e que contasse a ele o que ocorria. Eu nunca fui maníaco, nem fumei metanfetamina, então seria difícil fazer comparações, mas decidi aceitar a sua sugestão. Irei experimentar em mim mesma o que eu prescrevo.”

Sendo uma droga psicoativa, como maconha, cocaína, crack, heroína, por que não os psiquiatras que prescrevem psicotrópicos experimentarem neles próprios as drogas que eles prescrevem?

A ver a experiência de um clínico experimentando o que ele prescreve.

Artigo →

Olá, sou David. Eu sou viciado em drogas psiquiátricas

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Coming off antidepressants can mirror the struggle many people face in trying to wean themselves from prescription drugs.(Getty Images)

Publicado em Los Angeles Times: É comum se ouvir, do médico, do psiquiatra, que ele, como clínico-médico, sabe como fazer com que o seu paciente deixe de tomar as drogas (psiquiátricas) prescritas. Deixar de ser dependente do tratamento psicofarmacológico é dramático. O que é dito pelos médicos: os sintomas são da suposta doença, e não sintomas de ‘abstinência’.

Na prática, na experiência dos usuários dessas drogas, deixar de tomar as drogas prescritas é uma experiência dolorosa, perigosa, que envolve muito sofrimento.

Não obstante, essas drogas continuam a ser prescritas e mantidas, sem qualquer base científica para dar suporte a esse tipo de tratamento.  Pelo menos, a médio e longo prazos.

Eis aí mais um depoimento. Prepare-se, porque é comovente.

“Um médico me colocou em uso de antidepressivos há cerca de uma década. Passei o último ano e meio tentando sair deles.

É uma das coisas mais difíceis que já fiz.

Chame de vício. Chame isso de dependência. Chame como quiser. Eu sou viciado.

Depois de reduzir lentamente minha dosagem, agora estou entrando na minha terceira semana infernal. Não é um sentimento debilitante – passei meses me preparando para este momento. Mas é muito desagradável.

Minha experiência com antidepressivos reflete a luta que muitas pessoas enfrentam ao tentar se afastar de medicamentos poderosos – medicamentos →que podem desempenhar um papel positivo em sua vida até que você perceba que é um prisioneiro.”

Leia na íntegra o depoimento, clicando aqui

Coming off antidepressants can mirror the struggle many people face in trying to wean themselves from prescription drugs.(Getty Images)

[Nós do Mad in Brasil gostaríamos de ter depoimentos dos brasileiros acerca das suas experiências de deixar de ser dependentes químicos do tratamento psicofarmacológico. Torne pública a sua experiência. Envie-nos para o e-mail do madinbrasil seu depoimento.]

O que Thomas Szasz nos ensinou sobre o mito da doença mental

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Publicado em CENAT (Centro Educacional Novas Abordagens Terapêuticas).  Mais do que nunca, Thomas Szasz está presente entre nós, para os tempos atuais.

“Reverenciado por sua perspicácia, inteligência e teoria, Thomas Szasz se tornou uma das grandes referências da saúde mental no mundo.

Fazendo críticas à psiquiatria e ao seu uso comum do conceito ‘doença mental’, Szasz liderou debates sobre a patologização de comportamentos na academia, nos lugares em que estudou e frequentou.

As ideias de Thomas Szasz são históricas e baseiam discussões dentro da saúde mental até hoje, tamanha sua essencialidade para pensamentos colocando a subjetividade do ser humano no centro de questões psicossociais.

Sua obra principal por exemplo – a base de sua teoria, intitulada como ‘O mito da doença mental’, ainda se faz atual e importante, e é sobre ele e ela que conversaremos no nosso artigo de hoje!”

Leia a matéria na íntegra, clicando aqui →

 

Após o Uso de Antidepressivos Tempo Maior para a Recuperação

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Um novo estudo descobriu que haver sido prescrito um antidepressivo anteriormente estava associado a um risco aumentado de recaída depressiva após a recuperação total. O risco foi cerca de três vezes maior do que para aqueles que nunca haviam tomado um antidepressivo.

A pesquisa foi liderada por Jay Amsterdam e Thomas Kim, da Universidade da Pensilvânia, e publicada no Journal of Clinical Psychopharmacology.

Eles escrevem: “Essas descobertas apoiam evidências anteriores de uma influência negativa do número de estudos anteriores sobre tratamento antidepressivo na probabilidade de resposta e sugerem que o número de estudos anteriores sobre antidepressivos também pode estar associado a maiores chances de recaída depressiva e a um menor tempo para uma. recaída.”

Photo Credit: Flickr

Segundo Amsterdam e Kim, estudos anteriores descobriram que um teste antidepressivo anterior resulta em até 50% de perda de eficácia para a próxima tentativa de tratamento. Neste último estudo, eles quiseram ver se as prescrições anteriores estavam associadas a um risco aumentado de recaída após a recuperação.

Às vezes, o uso de antidepressivos após a recuperação é recomendado, pois se pensa que reduza a probabilidade de recaída. No entanto, a pesquisa tem sido ambígua sobre se o uso a longo prazo impede episódios depressivos. O estudo de Amsterdam e Jay pode fornecer algumas evidências de que, em vez de proteger contra a recaída, o uso continuado de antidepressivos e o uso anterior de antidepressivos estão associados a uma maior probabilidade de recaída.

O estudo incluiu 148 pessoas com o diagnóstico bipolar II e que haviam se recuperado de um episódio depressivo maior. Eles foram divididos aleatoriamente em grupos: um grupo tomou fluoxetina (Prozac) após a recuperação, um grupo tomou lítio e um grupo tomou placebo (pílula falsa).

No estudo, as pessoas que tomaram fluoxetina tiveram um pouco menos probabilidade de recaída- cerca de um terço desses participantes teve uma recaída, em comparação com cerca de metade das pessoas que tomaram lítio ou placebo. No entanto, o maior preditor de que alguém teria recaída era se eles haviam tomado antidepressivos antes de serem incluídos no estudo. Para cada prescrição anterior de antidepressivos, o risco de recaída aumentava cerca de uma vez e meia. Aqueles que tomaram antidepressivos tiveram 2,93 vezes mais chances de recaída do que aqueles que não tomaram.

Os pesquisadores controlaram uma variedade de possíveis fatores de confusão, como idade, sexo, raça, número de episódios anteriores de depressão e mania, idade de início e gravidade dos sintomas da linha de base. Isso significa que eles testaram a teoria de que pior depressão estava associada ao aumento do uso de antidepressivos e ao aumento do risco de recaída. Depois de controlar essa possibilidade, seus achados permaneceram os mesmos: ainda havia um efeito grande e significativo do uso prévio de antidepressivos no aumento do risco de recaída.

Segundo Jay e Amsterdã, a evidência é “particularmente perturbadora”, pois apoia a ideia de dano iatrogênico: os efeitos neurobiológicos a longo prazo dos antidepressivos danificam o sistema de neurotransmissores monoaminérgicos, resultando em perda de eficácia e risco de recaída.

Os autores escrevem que “alguns casos de depressão resistente podem ser de natureza iatrogênica e resultar do uso repetido ou prolongado de antidepressivos”.

Os riscos e benefícios do uso prolongado e repetido de antidepressivos raramente foram estudados, mas pesquisas anteriores descobriram que o uso a longo prazo está associado a efeitos decrescentes nos sintomas depressivos e ao aumento dos resultados adversos à saúde. Segundo os autores, mais de 25% das pessoas que tomam antidepressivos os usam há mais de 10 anos. Apenas 5,8% tomam antidepressivos por menos de 2 meses.

Os dados deste estudo vieram de uma investigação sobre a eficácia da fluoxetina, no qual menos da metade dos participantes se recuperou da depressão depois de tomar o medicamento. Além disso, esse estudo foi aberto, o que tende a aumentar os benefícios potenciais do medicamento devido ao efeito placebo.

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Amsterdam, J. D., & Kim, T. T. (2019). Prior antidepressant treatment trials may predict a greater risk of depressive relapse during antidepressant maintenance therapy. Journal of Clinical Psychopharmacology, 39(4), 344-350. doi: 10.1097/JCP.0000000000001049 (Link)

Explicar biologicamente a depressão aumenta o prognóstico pessimista

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Um estudo recente publicado em Psychology and Psychotherapy: Theory, Research, and Practice examina os efeitos da psicoeducação nas percepções sobre a depressão. O estudo testa como as explicações da interação biológica e pessoa-ambiente diferem nos efeitos sobre a preferência pelo tratamento, pessimismo prognóstico e estigma. Os autores abordam a questão a partir das lentes da teoria da atribuição, que explora como o enquadramento da ‘doença mental’ pode contribuir para crenças e ações em torno do fenômeno.

“Por exemplo, o modelo biomédico assume que a depressão é uma disfunção cerebral e que a função cerebral é em grande parte o resultado de uma composição genética predeterminada ou por um desequilíbrio químico. Desse modo, atribuir a depressão a uma etiologia biomédica implica em uma causalidade interna, estável e incontrolável. Por outro lado, ao enfatizar os padrões cognitivos aprendidos, as contingências ambientais e as interações entre esses fatores, o modelo cognitivo e comportamental da depressão pode ser caracterizado como mais externo, variável e controlável. O exame desse processo é essencial para determinar como a etiologia da depressão deve ser estruturada de maneira a apoiar a busca eficaz de tratamento e atitudes relevantes”, escrevem Martha Zimmerman e Dr. Anthony Papa, da Universidade de Nevada.

Os pesquisadores há algum tempo se interessam pelos efeitos iatrogênicos ou não intencionais de diferentes modelos explicativos da doença mental. Algumas evidências sugerem que explicações biológicas da depressão podem resultar em maior culpabilização de si próprio, pessimismo e estigma. O filósofo e historiador da ciência Ian Hacking sugeriu que é comum interpretarmos a nós próprios por meio de ‘ferramentas’ culturais disponíveis, como são os diagnósticos psiquiátricos, levando a um tipo de ciclo de feedback no qual nos construímos em resposta a essas noções.

‘Teoria da atribuição’ é outra proposta relevante que argumenta que os efeitos de diferentes explicações podem ser medidos ao longo das linhas de locus de controle (externo versus interno), estabilidade e controlável ou incontrolável. Em outras palavras, uma narrativa é capaz de nos convencer de que um fenômeno (como doença mental) está fora de nosso controle, é estável e não está aberto a mudanças, é incontrolável.

“Os padrões de atribuição têm consequências importantes para respostas e comportamentos afetivos subsequentes. Acreditar que um evento ou característica negativa seja algo interno, por exemplo, pode resultar em mais auto-culpa”, explicam os autores.

O presente estudo expande as pesquisas existentes sobre a teoria da atribuição, no que se refere a explicações sobre a depressão. Os autores pediram aos participantes da pesquisa para que lessem três anúncios diferentes: um relato biológico da depressão, uma explicação da interação pessoa-ambiente para a depressão e uma descrição da depressão que evitava explicações. Os participantes foram recrutados na plataforma de crowdsourcing anônima, o Mechanical Turk da Amazon.

Somente participantes que não estavam recebendo tratamento e sem histórico de tratamento farmacológico para depressão foram incluídos, para evitar vieses pré-existentes em relação às terapias específicas. A presença de depressão foi medida nos participantes através do Inventário de Depressão de Beck. Após a leitura das instruções, os participantes preencheram questionários medindo o locus de controle, estabilidade, controlabilidade, preferências de tratamento e atitudes como estigma e pessimismo prognóstico.

Os resultados do estudo indicaram que a explicação biomédica estava associada a uma crença muito mais firme na credibilidade dos medicamentos em comparação com os grupos psicossociais e de controle. Em relação à confiança na psicoterapia, nenhum dos grupos diferiu significativamente.

Os participantes expostos à explicação biomédica também eram mais propensos a acreditar que a depressão é um distúrbio ao longo da vida, que a depressão é semelhante a “sentir pena de si mesmo” e que o diagnóstico de depressão provavelmente fará com que outras pessoas as vejam como perigosas. O prognóstico pessimista e o estigma foram significativamente afetados pela explicação biomédica.

As dimensões da teoria da atribuição não se mostraram significativamente afetadas pelas explicações. Os autores oferecem vários pontos especulativos aqui, incluindo a possibilidade de que isso possa ser o resultado do estudo de indivíduos deprimidos atualmente, muitos dos quais são resistentes a “informações de tratamento relevantes para o paciente” e têm maior probabilidade de interpretar mal as informações sobre o tratamento.

Além disso, os participantes do grupo de controle preferiram o tratamento com antidepressivo. Os autores especulam que isso possa estar relacionado a campanhas midiáticas de empresas farmacêuticas, expondo muitos à explicação biomédica antes do estudo.

 “Crenças pré-existentes sobre a causa da depressão podem ter impedido que a condição psicossocial se provasse eficaz no aumento da preferência pela psicoterapia. Assim, pesquisas futuras devem examinar crenças pré-existentes que podem impactar a eficácia da psicoeducação. ”

De maneira semelhante, eles afirmam que, apesar dos participantes acharem as explicações igualmente críveis, atraentes, convincentes e semelhantes às crenças existentes, as explicações biomédicas foram associadas a uma maior percepção da mudança de crenças. Isso pode estar relacionado ao que os autores chamam de “essencialismo genético”, ou à crença socialmente aceita e intuitiva na verdade das explicações genéticas, além das explicações mais complicadas e contextuais.

O estudo teve algumas limitações. A maioria dos participantes era branca e relatou níveis mais altos de educação do que a população em geral. Além disso, a escolha para não incluir participantes atualmente recebendo tratamento e com histórico de tratamento farmacológico pode afetar a generalização do estudo.

Por fim, a plataforma Mechanical Turk crowd-sourcing da Amazon pode ter sido inadequada para garantir que os participantes prestassem plenamente atenção às suas explicações ou que se sentissem totalmente envolvidos na tarefa. Também pode haver um viés de auto-seleção entre as pessoas que se inscreverem no serviço Mechanical Turk, apresentando mais problemas com a generalização da amostra.

Os autores concluem:

“Tomados em conjunto, os resultados indicam que a forma como a etiologia é estruturada na psicoeducação tem efeitos importantes nas atitudes de busca de tratamento. A psicoeducação, enfatizando uma etiologia biológica da depressão, em particular, aumentou a credibilidade do medicamento antidepressivo para indivíduos deprimidos, não teve efeito na credibilidade da psicoterapia e não parece reduzir o estigma. Essas descobertas são geralmente consistentes com trabalhos anteriores. ”

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Zimmermann, M. & Papa, A. (2019). Causal explanations of depression and treatment credibility in adults with untreated depression: Examining attribution theory. Psychology and Psychotherapy: Theory, Research, and Practice. (Link)

“LIBERTANDO A MENTE”, um BLOGUE criado por usuários de um CAPs

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No dia 28 de agosto de 2019, no auditório internacional da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ), em uma seção do seu Centro de Estudos, ocorreu a celebração do lançamento do blog Libertando a Mente, criado e mantido por usuários do Centro de Atenção Psicossocial Carlos Augusto Magal, localizado na comunidade de Manguinhos no Rio de Janeiro. Um evento que merece destaque do Mad in Brasil, pela importância que tem para exemplificar conquistas da reforma psiquiátrica no país.

Ao todo foram dez participantes reunidos em torno do projeto de inclusão digital “Eu quero entrar na rede: Um Blogue sobre saúde mental construído por pessoas em sofrimento psíquico”, que teve como meta a capacitação de usuários de CAPs para a criação de um BLOGUE que fala sobre saúde mental e outros assuntos. O Projeto que surgiu em parceria entre o CAPs MAGAL, o LAISS (Laboratório Internet Saúde e Sociedade) e o LAPS (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial), com a finalidade de incentivar as pessoas que passam por sofrimento mental a realizarem um projeto de utilidade pública e de inovação, trazendo informações sobre o tratamento que recebem e como convivem com seus sofrimentos.

Aprovado no Edital para Projetos de Divulgação Científica da vice-presidência de educação, informação e comunicação da Fundação Osvaldo Cruz (VPEIC/FIOCRUZ), o “Quero entrar na Rede” teve a duração de 10 meses, de outubro de 2018 a julho de 2019, e foi coordenado pelo professor Paulo Amarante. Durante todo o período do projeto foram realizados encontros semanais mediados pela jornalista Bruna Ribeiro, no Laiss, coordenado pelo professor André Pereira Neto.

Dentre as atividades realizadas, estavam rodas de conversa sobre comunicação comunitária e reforma psiquiátrica, além oficinas de fotografia e vídeo que promoveram a instrumentalização através da exploração do espaço da Fundação Osvaldo Cruz de forma autônoma. Os participantes receberam mensalmente uma bolsa de pesquisa no valor de R$100 cada, que visava promover a autoestima e adesão dos usuários.

O nome Libertando a Mente foi escolhido pelos próprios usuários em votação, que tiveram como objetivo um nome que não contribuísse com a estigmatização das pessoas em sofrimento mental. A Proposta é que após o lançamento, o blogue se torne uma ferramenta do CAPs integrando outros usuários e envolvendo cada vez mais as pautas de profissionais, usuários e familiares do CAPs.

A seguir alguns trechos de textos que estão atualmente na primeira página do BLOGUE. Como o que foi escrito por Luiz Cláudio Henrique narrando a sua trajetória até chegar ao CAPs:

“Tinha uma vida normal: trabalhava, saia com família, jogava futebol. Antes não tinha nenhum problema. Mas com o tempo os problemas começaram a vir como: depressão, ficava no escuro o tempo todo, saia para andar na rua sem rumo, ficava falando comigo mesmo e com a televisão. Perdi carteira, celular, dinheiro. Era injustiçado na rua. Perdi meu emprego. Perdi minha esposa. Perdi meus amigos. Tudo isso com o tempo.(…) Hoje consigo compreender um pouco o que me aconteceu. Hoje estou estabilizado porque procurei ajuda e com essa ajuda consegui ficar sóbrio”.

Veja na íntegra o texto de Luiz Cláudio Henrique →

E vale destacar um trecho da narrativa feita pela jovem Michele Guimarães:

“No ano de 2014 eu acabei tendo um surto. Nesse dia eu tinha ido à escola e isso fez tudo piorar pois na hora que a aula acabou eu fui para casa. No caminho eu comecei a ouvir vozes me dizendo para fugir e sumir de tudo. Foi então que eu, depois de três dias meio perdida, consegui chegar em casa. No outro dia me levaram na Clínica da família e aí começou meu tratamento psicológico (…) “Em 2017 entrei no CAPS e eu conseguia enxergar pessoas como eu. Então eu vi que não estava sozinha. As mulheres que eu enxergava lá também passavam por muitas crises. Eu sabia que elas só precisavam de alguém para estender a mão. Elas realmente precisavam de ajuda, igual a mim.”

Na íntegra o texto de Michele Guimarães →

E para acessar o BLOG Libertando a Mente, clique aqui →

 

Ayahuasca, Antidepressivo Natural?

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Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Translacional em Medicina (INCT-RN) e Instituto do Cérebro e USP – Ribeirão Preto, organizaram uma pesquisa sobre os efeitos da ayahuasca sobre a depressão, intitulado Acute effects of ayahuasca in a juvenile non-human primate model of depression (Efeitos agudos da ayahuasca em um modelo juvenil de primatas não humanos para a depressão), publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria.

O artigo considera que a depressão maior é caracterizada por humor depressivo, anedonia, alterações de peso, desordens do sono e alterações psicomotoras. Os antidepressivos só causam alívio nos sintomas em apenas 40% dos pacientes, depois de diversos tratamentos; além disso, demoram cerca de 2 semanas para começar a fazer algum efeito.

A ayahuasca é um cozimento de uma combinação entre duas plantas da Floresta Amazôniza: Psychotria viridis e Banisteriopsis caapi. Estudos recentes sugerem que a ayahuasca não causa tolerância e não é aditiva. De fato, benefícios positivos tem sido achados em indivíduos que regularmente usam a ayahuasca em contextos religiosos. Além do mais, seus efeitos antidepressivos foram explorados em um recente ensaio controlado randomizado, mostrando um rápido início de efeitos antidepressivos em pacientes resistentes ao tratamento da depressão.

A pesquisa foi realizada com jovens saguis, respeitando a variedade genética, havendo sido escolhidos oito machos e sete fêmeas. A depressão foi induzida através de isolamento social, os animais foram removidos de seus grupos familiares e colocados de maneira isolada em recintos menores, apresentando contato auditivo e olfativo, mas sem contato visual com outros da sua espécie.

Os animais receberam a mesma dieta, duas vezes ao dia. A dieta incluiu frutas da estação, assim como batatas e proteínas. Duas vezes na semana, um suplemento multivitamínico era diluído na alimentação dos saguis. Os animais foram pesados todos os 15 dias, para monitorar sua saúde.

Enquanto os saguis estavam com suas famílias, seu comportamento e seu cortisol fecal foram monitorados em dias alternados. Depois se seguiram oito semanas de isolamento social, foram novamente monitorados na primeira e na última semana. Consequentemente, cinco machos e quatro fêmeas foram selecionados para participar da pesquisa. O grupo recebeu na primeira semana um placebo, seguido pela avaliação do comportamento e do cortisol fecal. Depois de uma semana, os animais receberam uma dose de ayauhasca, seguido novamente por monitoramento comportamental e amostra fecal.

Depois de oito semanas de isolamento social, os saguis demonstraram aumento de comportamentos auto -dirigidos, tais como coçar e catação, comum durante estresse psicossocial. Também foram observados redução do comportamento alimentar, aumento de sonolência e anedonia (inferido através da diminuição do consumo de sacarose). Os machos também apresentaram perda de peso e aumento dos marcadores de odores, considerados comportamentos de ansiedade, quando ocorridos sem um interesse específico. Esses comportamentos são considerados depressivos em primatas não-humanos.

Depois do tratamento apenas com o placebo, não foram observadas mudanças de comportamento ou de peso corporal. Já com uma única dose de ayahuasca notou-se melhora em alguns dos comportamentos depressivos, principalmente nos machos. Nesse caso, houve uma significativa redução do coçar e aumento das taxas de alimentação com recuperação do peso corporal, indicando um efeito positivo. O cortisol também sofreu aumento, diferentemente de alguns antidepressivos, já que estes apresentam como um de seus efeitos colaterais o desenvolvimento de anorexia, diminuindo a sua tolerância ao medicamento. Os níveis de cortisol observados com o isolamento começou a diminuir 24 horas depois da dose de ayahuasca, assim como a regulação homeostática que foi relativamente rápida. Um estudo anterior com o antidepressivo nortriptilina apresentou uma diminuição de níveis de cortisol apenas depois de uma semana.

A pesquisa é relevante ao trazer a possibilidade de um antidepressivo natural, já utilizado pelos povos indígenas brasileiros milenarmente em rituais religiosos. Ao mesmo tempo em que a ayahuasca não demonstra apresentar risco de dependência ou grandes efeitos colaterais, ao contrário dos antidepressivos sintéticos cujos fortes efeitos colaterais são amplamente reconhecidos, assim como o risco de dependência. .

No entanto, é necessário esclarecer que a pesquisa também apresenta vulnerabilidades. Primeiramente, a pesquisa foi realizada de maneira artificial, induzindo os saguis a apresentarem comportamentos considerados depressivos, através do isolamento social. Nesse sentido, sabemos que a depressão não se resume a apresentar comportamentos considerados disfuncionais, mas é um sofrimento multifacetado, que pode se expressar através de certos comportamentos. Pessoas que acabaram de perder um ente querido apresentam os mesmo sintomas da pessoa diagnosticada com depressão, ainda que não recebam o diagnóstico (ou pelo menos não deveriam!) de depressão, porque na verdade estão passando pelo luto. Os saguis passaram por isolamento social, o que gerou o sentimento de tristeza, o que muito provavelmente aconteceria também com um ser humano isolado, já que somos seres sociais. Porém, sabemos que pessoas com sintomas de depressão, não necessariamente estão apenas isoladas socialmente, ou então a solução seria simplesmente reintegrar a pessoa a um grupo no qual possa travar relações.

Provavelmente isto está claro para os pesquisadores (mas não necessariamente para quem lê a pesquisa), então podemos considerar que os pesquisadores desejavam apenas perceber a ação química da ayahuasca nos comportamentos presentes com a depressão (que também aparecem no luto, na tristeza, etc.). Sendo assim, podemos perceber melhorias no comportamento dos saguis, ainda sim, é necessário manter o olhar sobre a pesquisa como um recorte, um olhar lançado apenas ao fator químico e comportamental, enquanto que a depressão é de natureza fortemente psicossocial. Assim como poderíamos fazer esses saguis se “sentirem bem” através de efeitos químicos, também seria possível, simplesmente, serem reintegrados na sua colônia. Como consequência, poderíamos dizer que a inserção social é importante para não adquirir comportamentos considerados depressivos?

Novamente, pode ser muito útil no tratamento da depressão um auxiliar para os momentos mais críticos, juntamente com outros elementos psicossociais, como terapia, rede de apoio, atividades físicas, etc. Mas devemos tomar cuidado para que a ayahuasca não venha a ser apropriada pela indústria farmacêutica e objeto de seu lucro.

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DA SILVA, Flávia S. et al . Acute effects of ayahuasca in a juvenile non-human primate model of depression. Braz. J. Psychiatry,  São Paulo ,  v. 41, n. 4, p. 280-288,  Aug.  2019. (Link)

Pobreza: a mais nova doença cerebral tratável clinicamente

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Tristeza, ansiedade e raiva não são mais vistas como reações normais às coisas que acontecem na vida de alguém, mas como doenças cerebrais espontâneas (‘depressão’, ‘ansiedade generalizada’ e ‘transtorno bipolar’). Impulsividade e desatenção não são mais vistas como características normais de crianças ainda em fase de crescimento, mas igualmente como uma doença biológica (‘TDAH’). Assim sendo, por que parar aqui? Por que não estender o domínio da psiquiatria biológica para incluir todas as experiências desagradáveis? Isso poderia ser feito com facilidade: a mesma ‘evidência’ usada para ‘provar’ as alegações acima também poderia ser usada, por exemplo, para ‘provar’ uma afirmação tão absurda quanto: “Agora sabemos que a pobreza é uma doença cerebral tratável”. Aqui está como:

  1. Sofrimento: a pobreza certamente envolve sofrimento, o que o DSM diz ser um aspecto crucial da “doença mental”.
  2. Alta morbidade/mortalidade em geral: isso é típico da pobreza, evidenciando ainda mais que é uma condição debilitante e de difícil recuperação.
  3. Sintomas específicos que afetam o funcionamento normal: como qualquer “doença mental”, o diagnóstico de pobreza é baseado em sintomas subjetivos (insegurança alimentar / habitacional, fome e frio persistentes e desespero em geral) que interferem nas atividades diárias (falta de higiene) / desnutrição, subemprego e comportamentos anormais repetitivos, como vasculhar lixo, implorar e procurar abrigo).
  4. Bioquímica anormal: a fome demonstrou envolver atividade da dopamina.[1] Essa descoberta importante sugere que a fome constante relatada na pobreza é causada por um problema de regulação da dopamina, em vez de uma necessidade real de comida, como se pensava anteriormente. E foi demonstrado que a desnutrição encontrada na pobreza se correlaciona com níveis anormais de proteínas ou outros produtos químicos.[2] Esse enorme avanço aponta ainda mais para a pobreza como devida a um desequilíbrio químico, em vez de comida, dinheiro ou moradia realmente inadequados. Esse desequilíbrio provavelmente prejudica o funcionamento do cérebro, causando pensamentos desordenados, como uma preocupação irracional por comida e dinheiro. É análogo ao modo como a “depressão” é considerada uma doença cerebral bioquímica que produz sentimentos e pensamentos negativos injustificados.
  5. Predisposição genética: é sabido que a pobreza ocorre nas famílias – se uma criança a tiver, seus irmãos também terão quase 100% de chances. Inclusive ocorre nas famílias em que os filhos não são criados por seus pais biológicos: os filhos adotivos, cujos pais biológicos costumavam ter pobreza, geralmente desenvolvem a pobreza quando adultos. [3 ] Isso implica que a ocorrência de sintomas de pobreza é resultado de um cérebro determinado geneticamente por um defeito de conexão, em vez de questões ambientais reais. Reivindicações de fome ou falta de moradia são “apenas a pobreza se manifestando”.
  6. Resposta à medicação: Acabei de concluir um estudo sobre pessoas que têm pobreza: Após administrar uma dose de 1000 mg de Seroquel, dentro de uma hora, quase todos os indivíduos surpreendentemente deixaram de reclamar de fome ou frio! Além disso, os comportamentos problemáticos relacionados à pobreza que eles estavam exibindo (ou seja, implorando) diminuíram instantaneamente. (Mas, assim como em outras doenças cerebrais, os sintomas negativos da pobreza, como redução da higiene e da nutrição, eram misteriosamente menos responsivos ao tratamento.) Como os sinais e sintomas da pobreza são curados por produtos químicos, a hipótese que ela deveria ser uma doença causada por bioquímica desordenada hoje ganha evidências na clínica. Leia meu estudo, intitulado “Altas doses de tranquilizantes fortes aliviam surpreendentemente os sintomas da pobreza em horas”, no American Journal of Pseudocientifc SCAMs (Silenciando Medicamente as Queixas dos Americanos).
  7. Scanners cerebrais anormais: Altas taxas de atrofia cerebral ou outras anomalias estruturais são observadas nas ressonâncias magnéticas de pessoas idosas com pobreza [4]  – o que ” confirma que a pobreza é uma doença cerebral crônica e progressiva.

A ‘lógica’ que usei aqui é exatamente a mesma que a psiquiatria moderna usa para apoiar sua alegação de que comportamentos incômodos e emoções indesejadas são doenças graves, mas tratáveis. É assim que meus argumentos são tão válidos quanto. Então, por que não tentar corrigir, com essa hipótese, a falta de dinheiro / moradia / comida em pessoas que sofrem de pobreza? A teoria que é um problema social fica assim desmascarada. A ciência prova que é bioquímica; os pobres apenas precisam de remédios adequados para a sua doença, assim como os diabéticos precisam de insulina.

Todo mundo às vezes experimenta fome e se preocupa com dinheiro / moradia. Mas se a sua fome / preocupações são tão graves e persistentes que levam a comportamentos anormais e disfuncionais, você tem uma pobreza clínica. Não lute desnecessariamente com a pobreza não tratada. Como qualquer doença, você não pode se livrar dela sozinho. Você precisa de ajuda e agora está aqui – pergunte ao seu médico sobre novos e excitantes tratamentos para a pobreza hoje!

Você agora concorda que a psiquiatria biológica é uma farsa ridícula que que realmente está calando totalmente as pessoas, descartando (invalidando) suas queixas como meros ‘sintomas’ a serem drogados? Caso contrário, considere o seguinte:

Se os médicos que tratam problemas médicos reais também adotassem a “lógica” da psiquiatria e parassem de procurar razões subjacentes? Imagine, por exemplo, que você vá ao pronto-socorro reclamando de dor no peito esmagadora que é típica de um ataque cardíaco, e o médico diz: “Devido a novas pesquisas nas quais descobrimos que os remédios para dor reduzem essa dor no peito, deduzimos que isso é dor, portanto, não se deve a um ataque cardíaco, como se acreditava anteriormente; é devido à desregulação dos analgésicos naturais do seu corpo.” As últimas palavras que você ouviria antes de morrer seriam: “Vamos corrigir o seu desequilíbrio químico com esses opiáceos, e tudo ficará bem”.

Notas de pé de página:

  1.  “Hunger and Satiety Gauge Reward Sensitivity” Cassidy, R and Tong, Q, Frontiers in Endocrinology, May 18, 2017.
  2. “Evaluation of Blood Biomarkers Associated with Risk of Malnutrition in Older Adults: A Systematic Review and Meta-Analysis” Zhang, Z, et al, Nutrients, Aug 3, 2017,9,829,1-20.
  3. “Improving Family Foster Care: Findings of the Northwest Foster Care Alumni Study” Pecora, P, et al, Casey Family Program and Harvard Medical School, April 5, 2005.
  4. “Malnutrition and Risk of Structural Brain Changes Seen in Magnetic Resonance Imaging in Older Adults” de van der Schueren, MA, et al, J Am Geriatric Soc, 2016 Dec,64(12)2457-63.

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