O TDAH é uma doença com base biológica?

As bases biológicas do TDAH não foram encontradas, mas isso não impede a grande quantidade de diagnósticos e crianças sendo medicalizadas na atualidade.

0
2016

É bem sabido que o número de disgnósticos de TDAH em crianças e adolescentes cresceu no mundo todo de maneira dramática. E como consequência, muitas delas veem sendo medicadas desde muito novas. Nesse sentido, o artigo Por que o diagnóstico biomédico do TDAH tem se tornado tão dominante? de Michael W. Corrigan, Robert Whitaker e Fernando Freitas, traz contribuições importantes.

Publicado na revista Práxis Educacional, o artigo faz uma revisão histórica de como o diagnóstico de TDAH vem sendo construído. O argumento principal utilizados pelos autores é que apesar de chegar ao grande público que o TDAH apresenta origem em fatores genéticos, neurobiológicos, ambientais e múltiplos genes associados, não existem evidências seguras e confiáveis de uma determinação biológica.

Para contribuir com a discussão, os autores analisam um estudo sobre TDAH, considerado um grande avanço científico, o qual conclui que o cérebro de crianças com TDAH seriam menores do que o de crianças que não apresentam o tal transtorno, publicado pelo Lancet Psychiatry. Os autores acharam várias falhas na análise do estudo, o que poem por terra que o estudo trouxe evidências definitivas sobre a base biológica do TDAH.

“O diagnóstico TDAH tem pouca evidência científica para dar suporte à ideia que ele representa um transtorno físico do cérebro e do sistema nervoso. A análise crítica das evidências científicas hoje existentes concluem que esse diagnóstico nos diz muito pouco (se não nada) a respeito da causa, do tratamento e resultados para tais problemas emocionais ou comportamentais.”
Na verdade, o motivo pelo qual foi patologizado alguns comportamentos infantis tem mais a ver com como nós interpretamos esses comportamentos e emoções das crianças/ adolescentes. Ou seja, é fruto de uma nova construção social da infância. Como resultado, teremos crianças/adolescentes potenciais consumidores da psiquiatria e das medicações psiquiátricas por toda a vida.
•••
CORRIGAN, M.W; WHITAKER, R.; FREITAS, F. Por que o diagnóstico biomédico do TDAH tem se tornado tão dominante? Revista Práxis Educacional, Vitória da Conquista – Bahia, v. 16, n. 37, p. 16-33, Edição Especial, 2020. (link)

 

Artigo anteriorExiste um pequeno grupo para quem os antidepressivos são eficazes?
Próximo artigoOs antipsicóticos devem ser usados ‘nunca’
Graduada em Psicologia pela UERJ, especialista em Terapia Familiar pelo IPUB/UFRJ, com ênfase em saúde mental. Pesquisadora auxiliar do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho (CEE/Fiocruz) e Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial(LAPS/ENSP/Fiocruz) Produtora e apresentadora do podcast Enloucast. Além de atuar como psicóloga clínica. Áreas de interesse: Saúde Mental, Terapia Sistêmica, Diálogo Aberto, Construcionismo Social, Medicalização e Patologização da vida