As Conseqüências a Longo Prazo do Uso de Antidepressivos: uma entrevista com Michael Hengartner

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Pesquisadores da Universidade de Zurique, liderados por Michael Hengartner, recentemente relataram que o uso de antidepressivos estava associado a piores resultados em pacientes seguidos ao longo de mais de 30 anos. Nesta entrevista, Hengartner fornece mais informações sobre a metodologia do estudo e suas descobertas e seus planos para pesquisas futuras sobre esse tópico.

Michael HengartnerMichael P. Hengartner, PhD, é pesquisador sênior e professor da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique, na Suíça. Ele possui um doutorado em psicologia clínica e uma qualificação para a cátedra em medicina. Seus principais interesses de pesquisa são psicopatologia, psicossomática, epidemiologia psiquiátrica, psiquiatria social e psicologia clínica. Ele é casado e pai de três filhos. Siga-o no Twitter @HengartnerMP

P. Você recentemente publicou um estudo que descobriu que o uso de antidepressivos estava associado a piores resultados ao longo de um período de trinta anos. Você pode nos contar um pouco mais sobre a natureza do estudo?

R. Utilizamos os dados de um levantamento epidemiológico longitudinal, conhecido como “Estudo prospectivo de coorte de Zurique“, para realizar essa análise. Este notável estudo longitudinal foi desenhado e conduzido pelo investigador principal Dr. Jules Angst, e mais tarde pelo Dr. Wulf Rössler, ambos afiliados ao Hospital Universitário de Psiquiatria em Zurique, Suíça. Eu tive o privilégio de acessar este inédito conjunto de dados porque sou um ex-pesquisador associado tanto do Dr. Angst quanto do Dr. Rössler.

O estudo de Zurique foi patrocinado pela Fundação Suíça de Ciência para o avanço do nosso conhecimento da epidemiologia psiquiátrica. O estudo de Zurique começou em 1978 com a inscrição de uma amostra representativa de 4.547 jovens adultos (os homens tinham 19 anos e as mulheres de 20 anos) da província de Zurique, na Suíça. Com base em um breve teste de triagem psiquiátrica, os participantes foram classificados como de alto risco ou com baixo risco de transtornos mentais.

Em seguida, uma amostra de 591 pessoas, envolvendo dois terços dos indivíduos de alto risco e um terço dos indivíduos de baixo risco, foram sorteados aleatoriamente desta amostra da triagem inicial para participar da pesquisa longitudinal. Este procedimento é referido como um procedimento de amostragem estratificada e é comum em pesquisas psiquiátricas, devido à baixa prevalência de alguns transtornos mentais na população em geral.

A primeira avaliação abrangente desse grupo foi realizada em 1979, quando os participantes tinham 20/21 anos, com uma entrevista clínica semiestruturada, que captava a psicopatologia, o tratamento, o funcionamento social e a saúde física. Essas avaliações psiquiátricas abrangentes foram repetidas em 1981, 1986, 1988, 1993, 1999 e, finalmente, em 2008. Ou seja, a amostra foi acompanhada (follow-up) durante um período total de observação de 30 anos à medida em que os participantes progrediram de 19/20 anos para 49 /50 anos.

Por favor, note que este estudo de coorte, no início, não foi projetado para medir o efeito a longo prazo dos tratamentos psicofarmacológicos. O principal objetivo do estudo de Zurique foi determinar a prevalência e o curso dos transtornos de humor e ansiedade na comunidade, que, no final dos anos 70 e início dos anos 80, eram em sua maioria desconhecidos. Assim, a presente análise foi necessariamente uma análise post-hoc que eu iniciei devido ao meu crescente interesse nos efeitos a longo prazo da farmacoterapia antidepressiva.

P. Qual foi os resultados primários do seu estudo e como foram medidos?

A. O resultado primário deste estudo foi a gravidade da sintomatologia depressiva nos últimos 12 meses, conforme avaliado em cada onda de avaliação (ou seja, em 1979, 1981, 1986, 1988, 1993, 1999 e 2008). Como está detalhado no artigo, definimos os seguintes quatro níveis que refletem o aumento da gravidade da doença: 1) ausência de sintomas depressivos, 2) sintomas depressivos transitórios e menores, 3) transtorno depressivo subliminar (sintomas que não se qualificam para um diagnóstico psiquiátrico), e 4) depressão maior (de acordo com os critérios de diagnóstico do DSM-IV). Preferimos esse resultado contínuo (sem sintomas para sintomas clinicamente relevantes) mais do que um diagnóstico dicotômico (ou seja, distúrbio presente versus ausente), porque as alterações na psicopatologia são frequentemente sutis e são inadequadamente capturadas por amplas categorias diagnósticas. A remissão completa e os distúrbios diagnosticáveis totalmente sintomáticos agudos são polos extremos ao longo de uma dimensão onde a mudança mais observável (isto é, melhoria / deterioração) ocorre entre estes extremos dentro do intervalo moderado da gravidade da doença.

Imagine você, por exemplo, uma pessoa que tenha depressão grave e que tenha começado com um medicamento antidepressivo. E que alguns anos mais tarde, os seus sintomas foram reavaliados e verificou-se que a pessoa ainda apresentava sintomas de depressão debilitantes, embora estes não ultrapassassem o limiar de diagnóstico (isto é, depressão subliminar). E que outra pessoa também tenha apresentado depressão grave no início do estudo, mas que não usou antidepressivos e no acompanhamento essa pessoa não relatou nenhum sintoma. Agora imagine que só avaliamos diagnósticos psiquiátricos. Em ambos os casos, a depressão maior estava presente no início e ausente no acompanhamento, portanto, nenhum efeito de droga teria sido detectado. No entanto, olhando para um resultado de depressão contínua classificado de acordo com a gravidade da doença, torna-se evidente que a pessoa que usou drogas experimentou apenas uma ligeira melhoria nos sintomas de depressão, enquanto o não-usuário experimentou uma remissão completa. Em consequência, um possível efeito adverso do medicamento só foi detectado porque foram avaliadas mudanças sutis ao longo de um gradiente dimensional de gravidade da doença (semelhante aos escores dimensionais baseados em escalas de avaliação para depressão aplicadas nos ensaios clínicos).

P. Você pode explicar um pouco mais sobre o que encontrou durante as avaliações periódicas?

R. Nós utilizamos um modelo de regressão com defasagem de tempo para testar a associação entre o uso de antidepressivos em qualquer momento e a gravidade da depressão subsequente. Isso significa que uma associação separada foi calculada para todas as ondas de avaliação consecutivas. A destacar: O uso de antidepressivos em 1979 (linha de base) foi relacionado à gravidade da depressão em 1981 (acompanhamento), uso de antidepressivos em 1981 (linha de base) à gravidade da depressão em 1986 (acompanhamento) e assim por diante até ao uso de antidepressivos em 1999 (linha de base) relacionada à gravidade da depressão em 2008 (follow-up). No total, houveram assim 6 efeitos prospectivos únicos que foram agrupados estatisticamente, para se obter uma estimativa de tamanho de efeito único para todo o período de observação de 30 anos.

Para minimizar a confusão por indicação, que qualifica o grau em que uma associação entre tratamento (no início do estudo) e resultado (no acompanhamento) é influenciada pela gravidade da doença no início e por outros fatores, nós estatisticamente controlamos vários fatores potenciais de confusão. Imagine você, por exemplo, que apenas pessoas com depressão grave usam antidepressivos (o que certamente não é verdade, mas vamos supor), então o tratamento se refere a um desfecho ruim, porque as pessoas com formas graves de depressão geralmente têm um desfecho pior independentemente do tratamento recebido. Portanto, incluímos vários marcadores de depressão grave, como é a presença de grave tendência suicida no início do estudo, transtorno de ansiedade em comorbidade ou o alto desconforto subjetivo no início do estudo.

Como o intervalo de tempo médio entre as avaliações consecutivas foi de aproximadamente cinco anos, a interpretação do efeito relatado é que, em qualquer momento entre 20 e 50 anos, pessoas com algum tipo de sintomatologia depressiva que usam antidepressivos têm, em média, uma chance aumentada de 81% em ter uma doença mais grave no follow-up de cinco anos do que pessoas que não usaram antidepressivos (quando ajustado estatisticamente para sexo, nível de escolaridade, casamento, qualquer transtorno afetivo no início do estudo, alta probabilidade de suicídio no início e histórico familiar de depressão).

Mais especificamente, se uma pessoa teve apenas sintomas de depressão menores no início do estudo, ela terá um aumento de 81% nas chances de apresentar depressão subliminar em um acompanhamento médio de 5 anos. Se uma pessoa apresentou depressão subliminar no início do estudo, então o uso de antidepressivos relacionou-se a um aumento de 81% nas chances de ter depressão maior diagnosticável no acompanhamento (controlando os potenciais fatores de confusão detalhados acima).

P. Então você encontrou essa associação entre o uso de antidepressivos e os resultados subsequentes piores em todas as avaliações?

R. Sim, esteve presente em todas as avaliações, ou seja, entre todos os pontos de tempo consecutivos. No entanto, devido ao pequeno número de usuários de antidepressivos em alguns momentos, nem sempre se alcançou significância estatística. Essa é exatamente a razão pela qual é importante usar métodos estatísticos sofisticados que considerem medidas repetidas e forneçam uma estimativa combinada de todas as medições. De alguma forma, este procedimento estatístico se compara à metanálise, que agrupa os efeitos de vários estudos individuais para se chegar a um único tamanho médio de efeito. A análise de medidas repetidas tem mais vantagens. Por exemplo, ela permite que pela análise de tendências do tempo (isto é, os efeitos da idade) e para controlar a confusão que varia no tempo (por exemplo, as variações de gravidade da doença em diferentes episódios de depressão).

P. Houve alguma investigação adicional que você fez, além do que foi colocado artigo publicado, para testar essa associação entre o uso de antidepressivos e os piores resultados a longo prazo?

R. Para testar a robustez e generalização de um efeito relatado, os pesquisadores geralmente conduzem as chamadas análises de sensibilidade. O objetivo dessas análises complementares é aumentar a confiança e a credibilidade de uma associação relatada. Nós realizamos várias análises de sensibilidade que não foram incluídas no artigo publicado devido a restrições para o tamanho do manuscrito, porque o editor da revista decidiu aceitar o trabalho apenas como um relatório curto (em vez de um artigo completo).

Então, aqui vou adicionar alguns detalhes interessantes que não foram relatados no artigo publicado. Como mencionado acima, o efeito prospectivo relatado refere-se ao uso de antidepressivos, em algum momento, e em associação com a gravidade subsequente da depressão durante um período médio de acompanhamento de 5 anos (no entanto, note que alguns intervalos de tempo foram consideravelmente menores, como as avaliações em 1986 e 1988, e outras muito mais longas, como a que ocorreram  entre 1999 e 2008). Não foi relatado no artigo publicado é se a idade na avaliação inicial desempenhou um papel na força da associação (ou seja, efeitos potenciais da idade). A análise de sensibilidade revelou que esse não era realmente o caso. A idade no início do estudo não desempenhou um papel na força da associação. O efeito relatado foi estável ao longo do tempo e se aplica a toda a faixa etária de 20 a 50 anos.

Também não relatamos, no artigo publicado, se a medicação antidepressiva de longo prazo (ou seja, uso de antidepressivos presentes em dois pontos de tempo consecutivos) está relacionada a um desfecho diferente da interrupção da farmacoterapia (ou seja, uso de antidepressivos no momento basal, mas uso descontinuado no próximo período de acompanhamento). Embora o número de casos tenha sido pequeno, a análise de sensibilidade revelou que a interrupção da droga e o não uso persistente estavam relacionados a uma redução significativa na gravidade da depressão, enquanto a terapia a longo prazo estava relacionada a sintomas crônicos / recorrentes (ou seja, sem aparente mudança nos sintomas).

P. Em outras palavras, embora os números fossem pequenos, nenhum uso foi melhor do que a exposição seguida de descontinuação, e a descontinuação foi melhor do que o uso contínuo de antidepressivos? É isso mesmo?

R. Sim, isso é exatamente o que essa análise adicional revelou, embora a diferença entre o não uso e a descontinuação tenha revelado apenas uma tendência à uma significância estatística. No entanto, e mais importante, tanto o não uso quanto a descontinuação estão relacionados a um desfecho claramente melhor do que o uso a longo prazo. Então, dito com outras palavras, a associação entre o uso de antidepressivos e os piores resultados reportados no estudo se deveu principalmente ao uso prolongado das drogas, embora a descontinuação também tenha sido relacionada a um risco ligeiramente aumentado de pior depressão. Mas, novamente, havia poucos registros de uso a longo prazo nesta coorte comunitária (especificamente 21), portanto, esses efeitos precisam ser replicados usando uma amostra maior para aumentar a credibilidade.

P. Você fez alguma outra análise de sensibilidade?

R. Uma terceira análise de sensibilidade centrou-se na mudança intra-individual ao longo do tempo, tanto no uso de medicamentos como na gravidade dos sintomas. A análise da mudança intra-individual adota uma abordagem de modelagem estatística ligeiramente diferente. Mas mesmo com essa análise alternativa, o efeito relatado no artigo publicado foi reproduzido de forma completa e consistente. Ou seja, a associação prospectiva relatada entre o uso de antidepressivos e a gravidade subsequente da depressão foi robusta e confiável.

P. Você tem mais pesquisas planejadas sobre esse assunto, o que é obviamente da maior importância?

R. Conforme discutido no artigo, a maior limitação desta pesquisa (e outros artigos publicados anteriormente) é que as análises são feitas sobre tratamento não aleatório. Embora controlemos vários fatores de confusão em potencial, não podemos descartar que fatores não medidos, como as habilidades de enfrentamento e os traços de personalidade de um indivíduo, influenciaram a associação relatada. Infelizmente, ensaios clínicos randomizados e controlados não são boas alternativas, porque não podem acompanhar grandes amostras em períodos de observação tão longos. Portanto, outras abordagens são necessárias para eliminar o viés de seleção.

Uma solução é usar a análise de correspondência de escore de propensão, uma técnica estatística que vincula usuários de drogas a não usuários comparáveis com base em uma infinidade de covariáveis clinicamente importantes. Este método estatístico assegura que os usuários de drogas e não usuários diferem apenas em relação à seleção do tratamento, mas não em relação a outras variáveis que geram confusão (como funcionamento social, número de hospitalizações anteriores, recebimento de benefícios por invalidez e assim por diante). Neste momento, temos esse artigo em fase de revisão e, como o que acabamos de publicar, ele mostra que as pessoas tratadas com drogas têm o pior resultado a longo prazo com relação aos pacientes não medicados.

Em contraste com a presente análise que foi baseada em uma amostra da comunidade, esse outro trabalho é focado em uma amostra clínica de pacientes psiquiátricos internados em dois locais diferentes na província de Zurique, Suíça, e o resultado primário foram as taxas de reinternação dentro de doze meses a partir dos indicadores de hospitalização. No entanto, como você bem sabe, devido à corrupção institucional dentro da psiquiatria acadêmica, é muito difícil se fazer com êxito o processo de revisão de tais documentos. A maioria dos especialistas em psiquiatria que revisa os principais periódicos científicos recusa peremptoriamente qualquer relato que questione os méritos das drogas psiquiátricas. Então, pode levar algum tempo até que este trabalho seja publicado.

P. Existem outros projetos de pesquisa em que você está trabalhando?

R. Sim, claro. Outra limitação importante do presente trabalho é que não sabemos exatamente por quanto tempo alguém esteve usando antidepressivos, porque só tivemos dados de sete ondas de avaliação espalhadas por 30 anos (e não uma avaliação a cada ano). Outro objetivo de pesquisas futuras deve ser considerar a duração da farmacoterapia e as consequências adversas de se interromper a terapia de manutenção a longo prazo. Ou seja, não só temos de olhar para o resultado a longo prazo da farmacoterapia aguda, mas também para o resultado a longo prazo do uso de antidepressivos a longo prazo (ou seja, farmacoterapia de manutenção ao longo de vários anos). Como detalhado acima, parece que o uso a longo prazo é particularmente problemático.

Essas análises também devem enfocar a saúde física, já que o uso prolongado de drogas provavelmente desempenha um papel importante na interrupção de funções corporais adaptativas (como sexualidade, digestão, imunidade e metabolismo) que podem aumentar a vulnerabilidade a doenças físicas sérias. No momento, estamos desenvolvendo um estudo longitudinal prospectivo sobre as consequências do uso de antidepressivos na saúde mental e física, com base em dados médicos abrangentes de longo prazo derivados de sinistros registrados em seguros. Então, definitivamente, há mais por vir do nosso laboratório de pesquisa sobre esse assunto.

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P.S.: Essa entrevista foi feita pelos editores do Mad in America.

Yoga melhora a Qualidade de Vida em Estudantes do Ensino Fundamental

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jjanzeUm novo estudo, publicado na revista Psychology Research and Behavior Management, investiga o efeito da Yoga nas escolas com relação à qualidade de vida dos estudantes. Os resultados do ensaio clínico randomizado demonstram um aumento significativo na qualidade de vida emocional e psicossocial para os alunos da terceira série do ensino fundamental. Esta breve intervenção na escola mostra resultados promissores e acessíveis para o gerenciamento do estresse nas escolas de ensino fundamental.

“Os currículos de Yoga e de Mindfulness podem proporcionar às crianças em risco de ansiedade uma habilidade que lhes permite melhorar sua qualidade de vida psicossocial e emocional”, escrevem o pesquisador-chefe Bazzano e sua equipe. “ Essas habilidades de enfrentamento, quando fornecidas no ambiente escolar, podem ajudar os alunos a alcançar uma ótima saúde física e mental”.

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O aumento das demandas dos alunos e a ênfase na aprendizagem orientada para avaliação impõem demandas crescentes ao desempenho do aluno. Esses estresses têm criado uma pressão por mais programas de Aprendizagem Social e Emocional(SEL) nas escolas, que enfatizem a redução do estresse e o desenvolvimento psicossocial.

“As parcerias da comunidade com organizações locais que prestam serviços aos estudantes são uma forma de as escolas ampliarem sua capacidade de fornecer atividades relacionadas ao SEL, e podem diminuir a carga de professores e funcionários para fornecer treinamento adicional de atividades fora do currículo exigido ”, acrescentam os pesquisadores.

Programas de Yoga e Mindfulness realizados na escola são uma tendência crescente e aumentaram na última década. A literatura mostra efeitos promissores desses programas na abordagem da saúde mental e na redução do estresse entre os estudantes. A pesquisa também demonstra a diminuição de problemas comportamentais e o aumento do desempenho acadêmico por meio de intervenções de Yoga. No entanto, esses resultados abordam apenas têm abordado um aspecto da cultura orientada para a avaliação que as escolas passaram a valorizar.

O atual estudo randomizado controlado baseado na escola enfoca os benefícios de qualidade de vida, em vez de realização, para alunos e professores após um programa de Yoga e Mindfuness na escola. Os estudantes incluídos no estudo foram da terceira série que testaram positivamente para sintomas de ansiedade. Metade dos alunos do estudo recebeu a intervenção de Yoga, enquanto o grupo de controle recebeu cuidados como de costume, que consistiram em terapia e outros tratamentos comuns.

O Inventário Pediátrico de Qualidade de Vida (PedsQL), uma medida bem validada de qualidade de vida para crianças de 8 a 12 anos, foi aplicado antes do estudo, durante e após a intervenção. Os alunos que receberam a intervenção de Yoga participaram de um curso de oito semanas ministrado por um experiente instrutor de Yoga. Além disso, o professor recebeu informações e treinamento sobre como incorporar o Yoga em suas salas de aula.

Após o período de intervenção, os pesquisadores encontraram aumentos significativos na qualidade de vida emocional e psicossocial entre os estudantes que receberam a intervenção de Yoga, em comparação com aqueles que receberam o tratamento de controle. Bazzano e sua equipe relatam: “A diferença para o PedsQL emocional alcançou significância estatística, com um aumento de 18,27 unidades no grupo de intervenção em comparação com uma redução de 0,86 unidade no grupo de controle em relação ao período basal”.

“O uso de um currículo de yoga pode ser estudado, de modo que os resultados do estudo sejam comparados com outros previamente relatados. A qualidade de vida dos alunos foi avaliada usando instrumentos previamente validados desenhados para serem usados em crianças. Finalmente, os dados coletados dos professores e da equipe irão facilitar futura pesquisa para ajudar a assegurar que sejam atendidas as preocupações e sugestões dos educadores ”.

Mais pesquisas são necessárias para compreender a gama de efeitos da Yoga que se apresentam para o desenvolvimento da pessoa.

Este estudo aponta para o crescimento das evidências do emprego da Yoga nas escolas para abordar resultados não apenas de realizações e resultados em saúde, mas também para melhorar a forma como a pessoa experimenta a vida. Enquanto que o papel da Yoga na melhoria do sistema escolar ainda está sob investigação, dotar as crianças em idade escolar do ensino fundamental com habilidades necessárias para melhorar a sua qualidade de vida pode ser um importante desenvolvimento para o sistema educacional.

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Bazzano, A. N., Anderson, C. E., Hylton, C., & Gustat, J. (2018). Effect of mindfulness and yoga on quality of life for elementary school students and teachers: results of a randomized controlled school-based study. Psychology research and behavior management11, 81. (Link)

A visão xamânica da doença mental

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De UPLIFT: Na visão xamânica, a angústia emocional e a psicose sinalizam um despertar ou emergência espiritual, não uma patologia. As culturas ocidentais podem aprender muito com a abordagem xamânica da saúde mental.

“Adotar uma abordagem ritual sagrada para a doença mental, em vez de considerar a pessoa como um caso patológico, dá à pessoa afetada – e também à comunidade em geral – a oportunidade de começar a examiná-la a partir desse ponto de vista também, o que leva a toda uma infinidade de oportunidades e iniciativas rituais que podem ser muito, muito benéficas para todos os presentes ”, afirma o Dr. Somé.

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Uso de antidepressivos leva a resultados piores a longo prazo, diz estudo

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Photo Credit: Flickr

Um novo estudo de Michael P. Hengartner, Jules Angst e Wulf Rossler descobriu que aqueles que tomavam antidepressivos tinham maior probabilidade de ter sintomas piores de depressão após 30 anos. Esse achado foi independente da gravidade da doença, bem como de um grande número de outros potenciais fatores de confusão. Os autores, da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique e da Universidade de Zurique, publicaram suas descobertas online este mês na revista Psychotherapy and Psychosomatics. O estudo acompanhou 591 adultos suíços a partir dos 20/21 até os 49/50 anos de idade. O uso de antidepressivos em algum momento do estudo esteve associado a piores sintomas de depressão no final do estudo, mesmo quando se controlava os sintomas iniciais e outros fatores.

“Essas descobertas estão de acordo com um crescente corpo de evidências de vários estudos observacionais naturalistas que sugerem que o uso de antidepressivos (a longo prazo) pode produzir um resultado ruim a longo prazo em pessoas com depressão”, escreve Hengartner.

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A evidência de que os antidepressivos pioram os resultados em longo prazo vem principalmente de pesquisas que mapeiam resultados do mundo real. Por exemplo, um estudo de um ano em uma amostra da comunidade descobriu que apenas 5% gozavam de uma “remissão sustentada”, que é uma taxa de remissão muito mais baixa do que é tipicamente encontrada em estudos de pacientes deprimidos não medicados. Da mesma forma, no grande estudo STAR * D, apenas 108 dos 4041 (3%) pacientes que entraram no estudo remeteram e ficaram bem durante o acompanhamento de um ano. Todos os outros nunca foram remetidos, recaíram ou abandonaram o estudo. Outro estudo em pacientes do mundo real publicado no ano passado descobriu que o uso de antidepressivos estava associado a piores resultados após 9 anos.

A teoria predominante sobre por que os antidepressivos podem piorar a depressão é a sensibilização dos receptores – a ideia de que o uso a longo prazo modifica as formas de funcionamento dos neuro-receptores, tornando a medicação ineficaz, e potencialmente tornando as pessoas vulneráveis ao agravamento da depressão.

Esta nova contribuição para a literatura apresenta os resultados de 591 adultos em uma amostra da comunidade. Os participantes foram avaliados por psicólogos e psiquiatras treinados com entrevista semiestruturada. As avaliações começaram em 1979 (avaliação inicial) quando todos os participantes tinham entre 20 e 21 anos, e as avaliações foram realizadas novamente em 1981, 1986, 1988, 1993, 1999 e finalmente em 2008 (quando tinham 49-50 anos). Em cada avaliação, o resultado primário foi a gravidade dos sintomas depressivos no ano anterior. Também em cada avaliação, os participantes relataram se tinham sido prescritos antidepressivos no ano anterior.

Com a finalidade de criar o seu modelo preditivo, os autores testaram se a prescrição de antidepressivos numa avaliação (por exemplo, 1988) aumentava a probabilidade de sintomas depressivos mais graves no próximo ponto temporal (por exemplo, 1993). Os autores estratificaram os participantes em vários grupos: sem sintomas depressivos; poucos sintomas depressivos que não duraram mais de 2 semanas; depressão “subliminar” que não alcançou os critérios diagnósticos; e depressão maior conforme definido pelo atendimento dos critérios especificados no Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM).

A média entre os períodos, 6% das pessoas com poucos sintomas depressivos estavam tomando antidepressivos; 7% daqueles com sintomas “subliminares” estavam tomando antidepressivos, e 22% daqueles com depressão maior estavam tomando antidepressivos.

Depois de controlar vários fatores – incluindo sexo, nível educacional, estado civil, qualquer distúrbio afetivo no início do estudo, tendências suicidas no início, história familiar de depressão, angústia subjetiva, adversidade na infância e baixa renda dos pais – os pesquisadores descobriram que o uso de antidepressivos estava associado a um aumento de 81% na probabilidade de aumento da gravidade da depressão. Por exemplo, isso significa que as pessoas que tiveram depressão “subliminar”, mas tomaram um antidepressivo, tinham 81% mais chances de piorar o transtorno depressivo maior do que aquelas que apresentavam sintomas “subliminares”, mas não tomavam antidepressivos.

Como os pesquisadores do estudo atual não conseguiram randomizar as pessoas para os antidepressivos ou para um grupo de controle, isso limita as conclusões causais. Existe sempre a possibilidade de que algum outro fator tenha sido responsável pelo fraco efeito de longo prazo que os pesquisadores encontraram, por ex. alguma característica compartilhada por pessoas que procuraram medicação que levou a resultados piores. No entanto, quando os pesquisadores controlaram todos os fatores de risco usuais – como gravidade da depressão, angústia subjetiva, sintomas iniciais, características demográficas (por exemplo, sexo, nível educacional) e até mesmo adversidade na infância – eles ainda descobriram que o uso de antidepressivos estava associado a um pior resultado final.

O Fim dos Asilos Psiquiátricos na Itália

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ITALY. Piedmont region. Collegno near Turin. Psychiatric hospital. 1980.

Publicado em Magno Photos. Para relembrar os 40 anos de aprovação da Lei Basaglia na Itália, um conjunto de fotos. Elas fazem parte de um trabalho de Raymond Depardon, fotógrafo e cineasta francês, que pode ser visto em detalhes em um livro de sua autoria, Manicômio: Selected Madness.

Em 13 de maio de 1978, entrou em vigor a Lei 180 – também conhecida como lei Basaglia – que eliminou asilos para o atendimento de pacientes com psicose crônica na Itália. Em seu lugar, foi proposto um serviço comunitário descentralizado de tratamento e reabilitação de doenças mentais.

Depardon seguiu à risca a recomendação de Basaglia: “Tire suas fotos … caso contrário, as pessoas não vão acreditar em nós“.

Em 1982, o documentário de Depardon sobre o hospital de San Clemente foi lançado, apesar de que seriam necessárias outras três décadas antes de ele publicar Manicomio(2013), seu relatório sobre os últimos dias dos hospitais psiquiátricos da Itália.

Eis alguns dos relatos que Depardon faz da sua experiência:

Com o barulho e a decrepitude do lugar, confesso que por um momento me assustei.”

“Eu sempre voltava ao antigo hospital de Trieste, o lugar chamado manicômio, o asilo lunático. Um dia, segui esse grupo saindo da cantina. O que acontecia com os pacientes que me impressionava tanto: a maneira como eles pareciam, as roupas que usavam, a maneira como andavam? Eu fui atraído por eles. Eu encontrei-me em um muito velho ‘pavilhão’; a porta da enfermaria se fechou atrás de mim, não havia um enfermeiro à vista. Com o barulho e a decrepitude do lugar, confesso que por um momento me assustei. Eu comecei a tirar fotografias, muito silenciosamente. Eu passei a voltar lá todos os dias. Passava todo o meu tempo nesta ala. Ninguém nunca me perguntou nada. Uma tarde, ouvi alguém gritando e abri uma porta. Eu encontrei-me cara a cara com um homem em uma jaula. Eu tinha dúvidas sobre fotografá-lo. Perguntei a uma enfermeira por que ele recebia esse tratamento específico; ela me disse que o homem era violento e um perigo, especialmente para si mesmo. “

ITALY. Friuli Venezia Giulia region. Trieste. Psychiatric hospital. 1979.
ITALY. Friuli Venezia Giulia region. Trieste. Psychiatric hospital. 1979.

Durante o início dos anos 70, mais de 100.000 pacientes estavam encarcerados, em condições frequentemente desumanas, isso em toda a Itália. Era uma estatística que Basaglia estava lutando para mudar, com os resultados de suas políticas alternativas em vigor ao longo de vários anos. Ativamente encorajado por Basaglia, Depardon começou a visitar asilos neste período de transformação, em Veneza, Nápoles, Arezzo e Turim.

As fotos feitas por Depardon são fortes e indiscutíveis evidências do que é o modelo asilar de assistência.

Entre tantas e tantas imagens documentadas sobre a tragédia do modelo manicomial de assistência no Brasil, é igualmente eloquente o trabalho fotográfico de Luiz Alfredo, sobre o que era o Hospital de Barbacena (MG/Brasil) antes da Reforma Psiquiátrica no país. Como é o que nos diz essa foto:

Barbacena

Não deixe de conferir o que acaba de ser publicado em Magno Photos. As imagens dizem mais do que qualquer discurso.

Na Itália, assim como no Brasil, quer dizer, no mundo inteiro, os resultados do modelo manicomial de assistências são os mesmos.

Confira a matéria de Magno Photos,  clicando aqui →

O Impacto Psiquiátrico Desconhecido da Garganta Inflamada

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TriciaO seu filho está mentalmente doente? Talvez não.

De um dia para o outro, uma criança se transforma de despreocupada em uma criança ansiosa, irritável e obsessiva. À família parece que a criança deve ter sido possuída durante o sono. Pois é, foi isso o que aconteceu com a minha filha pré-adolescente no inverno passado. Mesmo sendo médica de família e também sido formada em medicina integrativa, eu não sabia o que havia acontecido com minha filhinha.

Um início abrupto

Minha família e eu passamos a ser espectadores de uma luta livre, vendo a minha filha a começar a grunhir, segurar as orelhas e a golpear a sua cabeça com as suas mãos. Eu pensei que ela devia estar tendo uma doença aguda, senão a sofrer de baixa de açúcar no sangue; mas isso não foi o caso. Nós tentávamos fazer com que ela comesse alguma coisa;  mas nada. Nós a tiramos do ginásio, para apenas ver ela se acalmar um pouco no carro. Aquele primeiro episódio de birra foi apenas o começo do que se tornaria uma recorrência frequente nos nove meses seguintes.

Os episódios vinham durando dias, durando semanas. Os sintomas variavam de irritabilidade leve e agitação a ataques de pânico, gemidos e grunhidos, a agitar os membros sem parar. Às vezes, o comportamento extremo podia durar nada menos do que meia hora. Outras vezes, poderia durar horas a fio, terminando apenas com o esgotamento ao cair no sono. Seu humor geral permanecia irritável, especialmente com seus irmãos e pais. Ela mostrou regressão mental e emocional, passando a brincar com jogos infantis e pré-escolares. Ela perdeu sua iniciativa e desejo de participar de atividades, e ela cansava facilmente em seus esportes habituais. Ela ficou inconfundivelmente indecisa; até mesmo escolhas simples, como decidir entre suco de laranja ou cranberry, podiam causar pânico. Como uma estudante superdotada que sempre havia sido, ela não apresentou nenhum declínio significativo na escola; mas voltava para casa exausta, queixando-se de dores no corpo e muitas vezes desejava ficar na cama.

Profissionais foram mistificados

Nós nos perguntávamos, isso seria apenas um estágio? O início da puberdade? O começo de uma doença mental?

Era assustador e doloroso vê-la sofrer. Ela não podia ser consolada por nenhuma das nossas intervenções. Ela não conseguia descrever como se sentia, para mim, seu pai ou seus irmãos, nem com a psicóloga a quem nós a levávamos para pedir ajuda. A terapeuta tentou a terapia cognitivo-comportamental, a terapia verbal, assim como a ludoterapia; mas sem sucesso ao longo de vários meses. Com a ajuda da psicóloga, tentamos a terapia “sem falas” e outras técnicas recomendadas para crianças no espectro autista. Ficamos desanimados quando a terapia parecia somente desencadear e até mesmo piorar seu estado mental. Nós testamos para a doença de Lyme e outras doenças fisiológicas, e até fizemos uma ressonância magnética cerebral, com medo de um tumor se apresentar com mudanças comportamentais tão drásticas.

Felizmente, sua psicóloga lançou mão da sua lista de colegas, ansiosa por encontrar alguma ajuda para a nossa filha. Depois de receber a resposta: “Você já considerou PANDAS?”, ela repassou a pergunta para mim. Eu imediatamente comecei a ler e a pesquisar para ver exatamente o que esse ‘urso peludo preto ou branco’ poderia ter a ver com a minha filha sofredora. Eu serei eternamente grata por essa sugestão!

O que é PANDAS?

(PANDAS), Transtorno Neuropsiquiátrico Auto-Imune Pediátrico Associado ao Estreptococo (Pediatric Autoimmune Neuropsychiatric Disorder Associated with Strep) é uma causa pouco conhecida de distúrbios neuropsiquiátricos em crianças. Em retrospecto, foi fácil diagnosticar: nossa filha tinha tido faringite por estreptococos e foi tratada com antibióticos (azitromicina) dez dias antes do primeiro episódio da luta livre. Suas mudanças comportamentais súbitas foram devido a uma reação auto-imune, resultando em anticorpos que atacaram os gânglios da base em seu cérebro. Essa parte do cérebro está envolvida no processamento emocional, na expressão motora e no planejamento motivacional.

A situação era clara, mas infelizmente eu não tinha conhecimento da existência dessa condição, assim como os outros dois médicos de família que inicialmente a avaliaram. O diagnóstico foi posteriormente confirmado, primeiro pela sua forte resposta positiva ao mês de uso de antibióticos para tratar estreptococos e, depois, pelo especialista em doenças infecciosas pediátricas que a havia visto. Agora, dois meses após o início do tratamento, ela continuou a tomar penicilina diariamente, para evitar novos episódios de estreptococos – o que poderia desencadear novos sintomas psiquiátricos. E a minha filha voltou ao que era antes: rindo, praticando esportes e aproveitando sua vida novamente. Seu entusiasmo, iniciativa e espontaneidade voltaram!

Comumente confundido com doença mental

Tem havido controvérsias em torno do diagnóstico de PANDAS, desde que foi definido pela primeira vez por Susan Swedo, MD, no NIMH em 1998.

Parece que essa controvérsia é pelo menos parte da razão pela qual eu e os outros médicos ainda ignorávamos a doença, mais do que 20 anos depois. Acredita-se que seja uma doença rara; no entanto, suspeito que na verdade não é tão rara quanto parece; apenas raramente diagnosticada. Quando uma criança apresenta ao seu médico de família um início súbito de sintomas emocionais ou comportamentais, recebe frequentemente um rápido diagnóstico psiquiátrico. Um rótulo de ansiedade, TDAH ou transtorno obsessivo-compulsivo é aplicado imediatamente e, em seguida, drogas psiquiátricas são prescritas para a criança que já está emocionalmente perturbada. Esses rótulos descrevem os sintomas da criança, mas não identificam a causa desses sintomas. Seria como tratar o vômito da apendicite aguda com uma pílula anti-náusea, e não com a operação cirúrgica necessária para remover o apêndice infectado. A criança continuará a ficar doente enquanto a droga mascara temporariamente os sintomas.

Medicamentos psiquiátricos adicionam confusão e agravamento do comportamento

Se a criança receber inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) para tratar o TOC ou a ansiedade, os medicamentos têm seus efeitos esperados; que frequentemente incluem hiperestimulação, ansiedade e mania; e a criança pode se tornar mais agressiva e até mesmo violenta. Uma doença orgânica não é levada em consideração e, na maioria das vezes, presume-se que a criança está piorando, não que ela esteja sendo impactada negativamente pelos efeitos esperados da medicação.

Se a criança recebe estimulantes, seu comportamento pode mudar de hiperatividade e agitação para apatia. As crianças que recebem estimulantes são frequentemente observadas por falta de espontaneidade, prazer ou curiosidade. Elas provavelmente experimentarão qualquer combinação dos efeitos listados no folheto informativo do medicamento: sonolência, perda de apetite, letargia, insônia, tiques faciais, alterações de humor ou episódios psicóticos. Logo, a criança já sofrendo pode ter depressão adicionada ao rótulo de diagnóstico. Se ela já não preenche todos os critérios para PANDAS – o que inclui TOC, tiques psicomotores e ansiedade -,  certamente assim o fará com a adição de drogas psiquiátricas. Infelizmente, a causa raiz é perdida quando a criança é drogada e seus sintomas estão piorando.

Procure a causa raiz, não uma etiqueta psiquiátrica

É necessária uma mudança radical na avaliação de crianças com distúrbios psicológicos percebidos. O amplo diagnóstico psiquiátrico de crianças levou os clínicos a sub-diagnosticar distúrbios físicos. Os pais são informados de que seu filho tem um desequilíbrio bioquímico fictício no cérebro, enquanto os distúrbios médicos reais são negligenciados. Cada criança com um novo início ou mudança repentina de perturbação emocional ou comportamental precisa ser avaliada para causas infecciosas subjacentes e que podem estar levando ao seu sofrimento. Isso inclui a avaliação de uma infecção por estreptococos; mas também uma longa lista de outros patógenos, como Lyme, Bartonella e Mycoplasma, que também são conhecidos por causar PANS (Síndrome Neuropsiquiátrica Pediátrica de Início Agudo). Outras etiologias de mudança comportamental e emocional abrupta também devem ser consideradas, incluindo traumatismo craniano, concussão, trauma, abuso e exposição a toxinas e drogas. Muitos medicamentos prescritos, especialmente psicotrópicos, podem induzir sintomas cognitivos e psiquiátricos destrutivos.

Os Clínicos precisam de uma nova consciência

Precisamos educar nossos médicos sobre esse problema e identificar essas crianças no início de sua doença quando ela é mais responsiva ao tratamento. O tratamento para PANDAS inclui antibióticos apropriados, terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos graves, terapia imunológica (como esteróides ou imunoglobulina intravenosa, IGIV). Certamente, vamos parar de rotular crianças com distúrbios psiquiátricos e a dar-lhes diagnósticos para toda a vida e drogas psiquiátricas que alteram o cérebro em nome do tratamento. Essas crianças que sofrem e suas famílias precisam de cuidados adequados, tratamento eficaz e compreensão compassiva.

A comunidade médica demorou a aceitar essa etiologia infecciosa de um distúrbio neuropsiquiátrico, mas os pesquisadores têm trabalhado duro e as evidências são claras. As novas diretrizes do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) confirmam as realidades de PANDAS / PANS. Agora, a palavra precisa ser espalhada para médicos, conselheiros, professores e pais: se uma criança tiver uma mudança comportamental ou emocional súbita e abrupta, procure primeiro a causa raiz. Trate a doença real e pare o sofrimento.

Um Comentário sobre a Análise Finlandesa dos Resultados do Primeiro Episódio de Esquizofrenia

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JoannaUm recente estudo observacional, que buscou saber o que aconteceu com as pessoas após uma primeira internação por esquizofrenia, concluiu que a interrupção do tratamento com antipsicótico está associada a maiores riscos de morte e rehospitalização (Tiihonen et al., 20181). Este é o último artigo de um grupo de pesquisadores finlandeses especializados em análises complexas de dados de registros populacionais e, ao contrário de muitos outros dados, sempre acham que o tratamento medicamentoso a longo prazo é bom para a sua saúde. Eles têm ligações extensas com empresas farmacêuticas que produzem antipsicóticos.

O último estudo usa os registros da população finlandesa que registram mortes e episódios de hospitalização e um registro de prescrição de antipsicóticos. O resultado principal foi uma variável que foi chamada de ‘falha do tratamento’, que consistiu em uma combinação de rehospitalização e morte. É um pouco curioso o uso de uma medida combinada, já que a morte e a readmissão tendem a mostrar diferentes padrões de ocorrência e diferentes associações. Outra característica curiosa é que as pessoas que interromperam os antipsicóticos nos primeiros 30 dias após a alta hospitalar foram excluídas da análise, sem qualquer justificativa aparente.

O estudo tem uma amostra grande, e eu presumo que os registros usados sejam abrangentes, de modo que o acompanhamento tenha sido bem completo. Não obstante, a confiabilidade dos dados sobre o uso de antipsicóticos tem sido questionada (De Hert et al., 20102). Os autores apontam as limitações dos ensaios clínicos randomizados na coleta de dados de acompanhamento a longo prazo e oferecem seu estudo como uma contribuição que pode ajudar a preencher essa lacuna. No entanto, há vários problemas bem reconhecidos nesse tipo de estudo e devemos ser muito cautelosos ao aceitar suas conclusões pelo que de imediato aparece.

O principal problema é que se trata de um estudo ‘observacional’ e não um ensaio clínico randomizado. Um estudo observacional é quando se olha para os resultados de pessoas que têm uma condição de saúde determinada e que recebem tratamento da maneira usual. Não se intervém ativamente como se faria em um estudo randomizado para garantir que as pessoas que fazem o tratamento sejam praticamente as mesmas que as que não recebem tratamento. Estudos observacionais desse tipo podem fornecer resultados completamente opostos aos daqueles obtidos em ensaios clínicos randomizados. Isso aconteceu no caso da droga para insuficiência cardíaca, a espironolactona, por exemplo. Um estudo randomizado controlado mostrou que a espironolactona reduz o risco de morte em cerca de 30%, mas uma análise cuidadosamente combinada dos dados observacionais verificou incorretamente que o seu uso aumentava o risco de morte em cerca de 30% (Freemantle et al., 2013[i]).

Os autores de estudos observacionais estão cientes de que as pessoas que tomam remédios tendem a diferir de maneiras importantes das que não o fazem (ou mesmo daquelas que descontinuam cedo, o que é o foco do estudo finlandês) e que essas diferenças podem estar relacionadas ao resultado do objeto de interesse e não pode ser capturado em ajustes estatísticos durante a análise. Por exemplo, pessoas que são prescritas espironolactona podem ser mais velhas ou mais jovens, e podem estar mais ou menos doentes, do que aquelas que não são. Por essa razão, os autores de estudos observacionais costumam fazer grandes esforços para combinar cuidadosamente usuários e não usuários em uma variedade de fatores, tanto demográficos quanto relacionados à saúde. Eles podem construir ‘escores de propensão’ que combinam um número de variáveis que predizem a exposição ao tratamento que é objeto de interesse, e combinam pessoas que são e não são tratadas de acordo com essas pontuações. Isto é o que os autores da análise de espironolactona fizeram. No entanto, no presente estudo, as pessoas foram pareadas apenas pelo tempo em que estavam tomando antipsicóticos. Idade e sexo foram controlados na análise subsequente, mas parece não ter havido qualquer tentativa de controlar os numerosos outros fatores que podem influenciar os resultados como são morte e readmissão. Em uma análise prévia da mortalidade para o mesmo grupo, as seguintes variáveis foram controladas de alguma forma: idade, sexo, duração da doença, tratamento hospitalar prévio devido à tentativa de suicídio, diagnóstico de esquizofrenia, câncer e doença cardíaca isquêmica (Tiihonen et al., 2009[ii]). Os autores ainda foram criticados por não incluírem variáveis que podem ter efeitos importantes sobre a mortalidade, como status socioeconômico, uso indevido de substâncias, indicadores de estilo de vida pouco saudável e fatores detalhados de risco cardiovascular (De Hert, Correll, & Cohen, 2010). A gravidade dos sintomas, o status funcional, o apoio social, o uso de outros medicamentos e vários outros fatores também podem afetar as chances de morte prematura ou de readmissão hospitalar. No entanto, no presente estudo, não houve esforço para comparar os pacientes com quaisquer fatores de risco em potencial. Os autores argumentaram que a duração do tratamento antipsicótico é uma medida indireta da gravidade, mas isso parece improvável, já que eles estavam apenas observando a duração do tratamento após a primeira hospitalização. Portanto, é improvável que a correspondência conduzida neste estudo tenha resultado em grupos com níveis semelhantes de fatores de risco subjacentes para os desfechos objeto de interesse.

No entanto, com o cuidado de comparar as pessoas, o verdadeiro problema dos estudos observacionais é que provavelmente haverão diferenças residuais entre as pessoas que tomam o medicamento e as que não o fazem, o que pode estar relacionado ao resultado. Na análise do tratamento com espironolactona, apesar da tentativa mais sofisticada de correspondência, os resultados ainda estavam completamente em desacordo com aqueles obtidos em ensaios clínicos randomizados.

Essas diferenças ocorrem porque a decisão sobre quem continua e quem interrompe o tratamento em estudos observacionais não é aleatória. É uma decisão tomada por pacientes ou clínicos que provavelmente está relacionada a outros fatores que predizem o desfecho. Por exemplo, sabemos que as pessoas que estão em conformidade com qualquer tratamento, incluindo placebo, têm melhores resultados do que aquelas que não estão em uma variedade de condições. Na Iniciativa de Saúde da Mulher, por exemplo, mulheres que apresentaram alta adesão ao placebo tiveram menores taxas de fraturas de quadril, ataques cardíacos, morte por câncer e morte por todas as causas em comparação àquelas que apresentaram baixa adesão (Curtis et al., 2011). Parece que as pessoas que aderem ao tratamento recomendado têm outras características que as levam a que se saem bem. Elas podem ser mais fisicamente ou mentalmente saudáveis, mais propensas a se engajar com outros aspectos do tratamento e podem ter mais apoio social. Por outro lado, as pessoas que interrompem a medicação podem estar mais doentes, com maior risco de negligenciar sua saúde de outras maneiras e podem ter um estilo de vida mais caótico e menos apoio social. Não sabemos quais fatores desconhecidos estão influenciando os resultados, e é improvável que possamos identificar e avaliar tudo o que é relevante.

As decisões dos médicos para prescrever ou parar a medicação também não são aleatórias. Em particular, os médicos podem evitar prescrever uma droga com complicações físicas conhecidas em alguém que já tenha fatores de risco para o desenvolvimento dessas complicações. Eles não podem prescrever olanzapina para alguém que já tem diabetes, por exemplo. Portanto, se você observar os dados dos cuidados clínicos de rotina, você pode achar, ao contrário das evidências farmacológicas, que a olanzapina tem menor probabilidade de estar associada à diabetes do que outras drogas. Da mesma forma, quando alguém está seriamente doente fisicamente, os médicos podem decidir parar alguns medicamentos. Como os antipsicóticos são conhecidos por serem cardio-tóxicos, os médicos podem decidir não usar essas drogas se alguém pode desenvolver uma doença cardíaca, por exemplo.

Não conhecer as causas de morte no presente estudo torna os números ainda mais difíceis de interpretar. Os números apresentados nas informações suplementares sugerem que as pessoas que nunca usaram antipsicóticos desde a alta hospitalar tiveram o maior número de mortes, seguidas por aquelas que descontinuaram os antipsicóticos no período de um ano, mas aquelas que interromperam os antipsicóticos após períodos mais longos não apresentaram maiores taxas de morte em comparação com aqueles que continuaram com os antipsicóticos, embora o número de mortes para esses grupos tenha sido pequeno. As mortes que ocorreram após a hospitalização (que podem incluir a admissão em um hospital geral) também não seriam registradas nesses dados, no entanto, o que pode subestimar o risco de morte em geral.

Na comparação não emparelhada (nenhum grupo combinado é fornecido para essa comparação), o risco de rehospitalização foi apenas ligeiramente maior entre os não usuários em comparação com os usuários contínuos de medicação antipsicótica (HR 1,24 IC 1,18-1,30). Na comparação dos grupos de utilizadores contínuos e dos descontínuos ‘emparelhados’, o risco de rehospitalização aumenta com uma duração mais longa do tratamento antes da interrupção (ver figura).

adjusted-hazard-ratio PortuguêsNo entanto, a análise é o que é conhecido como análise de ‘sobrevivência’ ou ‘tempo para evento’. Os números e proporções de pessoas hospitalizadas de fato foram comparáveis entre usuários contínuos e descontinuadores, mas o tempo de seguimento foi menor. O acompanhamento terminou no momento da rehospitalização (ou quando as pessoas mudaram de status antipsicótico – isto é, quando os descontínuos começaram a usar antipsicóticos novamente, ou quando os usuários pararam de tomá-los), o que sugere que as readmissões ocorreram mais cedo em pessoas que interromperam antipsicóticos, mas não necessariamente mais comumente. Esse achado é consistente com outras evidências mostrando que interromper os antipsicóticos traz o risco de recaída, mas pode não influenciá-lo a longo prazo. Isso foi demonstrado no estudo Wunderink de pessoas com primeiro episódio de psicose (Wunderink et al., 20136).

O foco em eventos de curto prazo também explica a discrepância entre o presente estudo e os achados do estudo de Martin Harrow, sugerindo que as pessoas que evitam o tratamento contínuo de longo prazo obtêm melhores resultados, incluindo taxas mais baixas de recaída e níveis mais altos de funcionamento e recuperação, em comparação com usuários contínuos (Harrow et al., 2012). O estudo de Harrow et al. também foi observacional, é claro, e está, portanto, aberto aos vieses que surgem quando o tratamento não é alocado aleatoriamente. É possível que os resultados do estudo de Harrow e cols. sejam explicados por uma associação entre o tratamento a longo prazo e um pior prognóstico, por exemplo.

Outra explicação são os diferentes períodos de acompanhamento. Embora o estudo finlandês se apresente como um acompanhamento de 20 anos, essa é a duração máxima, e a maioria das pessoas só foi acompanhada por pouco mais de um ano. As pessoas que não usaram antipsicóticos tiveram a maior duração mediana de acompanhamento ao longo dos 408 dias, os usuários contínuos foram acompanhados por uma média de 376 dias, e, por sua vez, as pessoas que interromperam os antipsicóticos foram acompanhadas apenas por uma mediana entre 122 e 134 dias (ou seja, pouco mais de quatro meses). Os benefícios que os não usuários de antipsicóticos mostram no estudo de Harrow et al. começam a se tornar visíveis nos quatro anos de acompanhamento. Assim, diferentemente do estudo de Harrow e cols. que acompanhou todo mundo durante 20 anos, o presente estudo não está nos dizendo nada sobre o resultado em longo prazo das pessoas que tomam antipsicóticos. Pode estar nos dizendo que é mais provável que as pessoas recaiam no período imediato após a interrupção dos antipsicóticos, embora, dadas as advertências sobre os estudos observacionais, devamos ser cautelosos quanto a ir tão longe. Mas certamente não nos diz o que acontece nos próximos 20 anos.

Então, o que devemos fazer desta última oferta que nos está sendo feita? Primeiro, porque não é um ensaio randomizado, esse estudo não fornece evidências convincentes ou conclusivas de que interromper a medicação antipsicótica causa re-hospitalização ou morte. As pessoas param os antipsicóticos por todos os tipos de razões e em todos os tipos de circunstâncias que podem estar relacionadas à re-hospitalização ou à morte, independentemente do seu uso ou não de antipsicóticos.

Em segundo lugar, este não é um estudo de uma redução controlada e gradual de antipsicóticos com o apoio de profissionais. Alguns casos de descontinuação podem ter sido desse tipo, mas a maioria provavelmente foi interrompida sem o conhecimento da equipe clínica, e alguns podem ter sido descontinuações causadas por doenças físicas.

Precisamos de evidências de ensaios clínicos randomizados, como o estudo Wunderink (Wunderink, Nieboer, Wiersma, Sytema e Nienhuis, 2013), e o estudo RADAR em andamento, para mostrar se uma redução gradual e sustentada e a descontinuação do tratamento antipsicótico aumentam as taxas de re-hospitalização e, em caso afirmativo, em quanto. Apenas uma tentativa na qual a decisão de continuar ou descontinuar o tratamento é feita de modo randomizado é que pode evitar os preconceitos inerentes à análise de dados observacionais e fornecer uma resposta confiável.

Referências Bibliográficas:

  1. Tiihonen, J., Tanskanen, A., & Taipale, H. (2018). 20-Year Nationwide Follow-Up Study on Discontinuation of Antipsychotic Treatment in First-Episode Schizophrenia. Am. J. Psychiatryappiajp201817091001, doi:10.1176/appi.ajp.2018.17091001 (doi).
  2. De Hert, M., Correll, C. U., & Cohen, D. (2010). Do antipsychotic medications reduce or increase mortality in schizophrenia? A critical appraisal of the FIN-11 study. Schizophr. Res.117, 68-74.
  3. Freemantle, N., Marston, L., Walters, K., Wood, J., Reynolds, M. R., & Petersen, I. (2013). Making inferences on treatment effects from real world data: propensity scores, confounding by indication, and other perils for the unwary in observational research. BMJ347, f6409.
  4. Tiihonen, J., Lonnqvist, J., Wahlbeck, K., Klaukka, T., Niskanen, L., Tanskanen, A., & Haukka, J. (2009). 11-year follow-up of mortality in patients with schizophrenia: a population-based cohort study (FIN11 study). Lancet 374, 620-627.
  5. Curtis, J. R., Larson, J. C., Delzell, E., Brookhart, M. A., Cadarette, S. M., Chlebowski, R., Judd, S., Safford, M., Solomon, D. H., & Lacroix, A. Z. (2011). Placebo adherence, clinical outcomes, and mortality in the women’s health initiative randomized hormone therapy trials. Med. Care 49, 427-435, doi:10.1097/MLR.0b013e318207ed9e (doi).
  6. Wunderink, L., Nieboer, R. M., Wiersma, D., Sytema, S., & Nienhuis, F. J. (2013). Recovery in Remitted First-Episode Psychosis at 7 Years of Follow-up of an Early Dose Reduction/Discontinuation or Maintenance Treatment Strategy: Long-term Follow-up of a 2-Year Randomized Clinical Trial. JAMA Psychiatry.
  7. Harrow, M., Jobe, T. H., & Faull, R. N. (2012). Do all schizophrenia patients need antipsychotic treatment continuously throughout their lifetime? A 20-year longitudinal study. Psychol. Med. 1-11.

O uso indevido de antipsicóticos em lares para idosos

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Publicado em Health Affairs: Embora o problema do uso indevido de antipsicóticos em lares de idosos tenha sido levantado para os formuladores de políticas sociais em inúmeras vezes nas últimas seis décadas, a questão ainda permanece sem solução.

“Com décadas de abuso documentado e mais de um milhão de americanos com mais de 65 anos atualmente residindo em 15.000 lares de idosos, dois terços dos quais são mulheres e com uma população em rápido envelhecimento, com as projeções para triplicar o número de adultos com demência, não surpreende que a Human Rights Watch(HRW) tenha agora analisado o problema. Em 2016 e 2017, a HRW, cuja missão é defender a dignidade humana e promover a causa dos direitos humanos, visitou 109 casas de repouso em seis estados com o maior número de residentes e com a maior proporção de residentes em medicamentos antipsicóticos, ou seja, Califórnia, Flórida, Illinois, Kansas, Nova York e Texas. A organização também entrevistou mais de 320 residentes de clínicas de repouso, funcionários e administradores das instalações e vários especialistas na área e fez uma análise detalhada dos esforços de fiscalização regulatória do CMS. Sua conclusão abrangente é evidenciada no título de seu relatório de fevereiro, “‘They Want Docile: How Nursing Homes in the United States Overmedicate People with Dementia” (“Eles Querem os Dóceis: Como as Residências para Idosos nos Estados Unidos Sobremedicam as Pessoas com Demência”).

‘As instalações de cuidados a idosos nos EUA’, segundo o relatório da HRW, ‘usam medicações antipsicóticas em grande escala.’ A HRW estimou que em uma semana as casas de repouso administram drogas antipsicóticas a mais de 179.000 residentes que não têm um diagnóstico para o qual medicamentos antipsicóticos são aprovados. O relatório cita dados da CMS que estimam que 16% dos residentes de longa permanência, ou aqueles que residem em uma casa de repouso por mais de 100 dias, receberam um medicamento antipsicótico sem um dos três diagnósticos excludentes: esquizofrenia, doença de Huntington ou síndrome de Tourette.”

Artigo

Idosos

Resultados de 20 anos para Psicose de Primeiro Episódio: Impacto da Descontinuação de Drogas Neurolépticas

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Sandra SteingardAs diretrizes de tratamento padrão em psiquiatria recomendam que as drogas neurolépticas sejam indefinidamente mantidas após uma pessoa ter passado por mais do que um episódio psicótico. Essas recomendações baseiam-se em estudos que encontraram uma taxa mais alta de recorrência de psicose entre aqueles que param em comparação com aqueles que permanecem sob efeito de drogas.

O livro Anatomia de uma Epidemia levantou preocupações sobre os resultados a longo prazo para aqueles que permanecem com estas drogas. A maioria dos psiquiatras, inclusive eu, assumia que, ao reduzir o risco de recaída, se estaria melhorando os resultados a longo prazo. No entanto, parece haver evidências razoáveis de que essa suposição não esteja correta.

Não só o uso a longo prazo de drogas expõe as pessoas aos riscos de ganho de peso e discinesia tardia, mas também pode prejudicar o resultado funcional.

Minha opinião pessoal é que essa é uma discussão que os psiquiatras precisam ter com seus pacientes. Uma pessoa pode optar por aceitar um risco maior (e não inevitável) de recorrência da psicose, como forma de minimizar os riscos a longo prazo de resultados negativos associados à permanência na droga.

Embora pareça que as autoridades psiquiátricas continuem a favorecer o uso prolongado de medicamentos para a maioria das pessoas que experimentaram múltiplos episódios de psicose, há menos uniformidade de opinião em relação às recomendações após um único episódio psicótico. As diretrizes atuais recomendam o tratamento com drogas por dois a cinco anos; a ideia é que, se uma pessoa permanecer bem durante esse período, pode ser seguro interromper a droga.

Um estudo recente realizado por Tiihonen e colegas, ‘Estudo de Acompanhamento Nacional de 20 Anos sobre a Descontinuação do Tratamento Antipsicótico na Esquizofrenia de Primeiros Episódios’, publicado no American Journal of Psychiatry, é uma tentativa de lançar luz sobre esse assunto. A conclusão dos autores, afirmada em seu resumo (abstract), é que “ao contrário da crença geral, o risco de fracasso ou recaída após a interrupção do uso de antipsicótico não diminui como uma função do tempo durante os primeiros oito anos da doença e que o tratamento de longo prazo com antipsicótico está associado com o aumento da sobrevida.” Esta é uma descoberta séria e o artigo garante uma cuidadosa revisão e reflexão.

É difícil estudar os resultados durante longos períodos de tempo. Para resolver esse problema, Tiihonen e colegas usaram, como base para as suas pesquisas, os extensos bancos de dados disponíveis em registros na Finlândia, o que lhes permitiu identificar diagnósticos, hospitalizações e morte. A partir do registro nacional de prescrição, eles puderam determinar as vendas reembolsadas de medicamentos para todos os residentes da Finlândia. Medicamentos reembolsados são usados na pesquisa como o equivalente da adesão à medicação. Neste estudo, eles estiveram interessados na correlação entre a adesão à medicação após uma primeira hospitalização, – durante à qual uma pessoa é diagnosticada com esquizofrenia – com a subsequente re-hospitalização e morte. Ao determinar quem era aderente aos medicamentos e por quanto tempo, eles puderam determinar se uma adesão mais longa estaria correlacionada com a taxa reduzida de re-hospitalização. A coorte em estudo incluiu indivíduos que foram internados em um hospital psiquiátrico entre 1994 e 2014, e que haviam recebido um diagnóstico de esquizofrenia. Para identificar aqueles que estavam experimentando um primeiro episódio, eles excluíram quaisquer indivíduos que tivessem sido prescritos um medicamento antipsicótico para o ano anterior à admissão deste índice. Deste grupo, excluíram qualquer pessoa que tenha sido hospitalizada novamente ou que faleceu no prazo de 30 dias após a alta hospitalar. Naquele momento (30 dias após a alta hospitalar), eles identificaram 4.217 usuários de drogas antipsicóticas e 3.217 não usuários. Dos 4.217 usuários, 1.714 foram subsequentemente identificados como ‘descontinuantes’ aqueles que durante o período de acompanhamento haviam deixado de ter prescrições emitidas para eles. Esse grupo foi subdividido de acordo com o tempo entre a alta da primeira internação e a interrupção do medicamento: <1 ano (1.019), 1- <2 anos (284), 2- <5 anos (274) e maior que 5 anos (137). Eles então analisaram esses grupos ao longo do tempo até que morreram, tenham sido hospitalizados novamente, tenham parado de usar drogas (para usuários) ou que começaram a usar drogas (para não usuários).

Os autores pensavam que aqueles que permaneciam na droga por períodos mais longos de tempo poderiam ter melhores resultados quando as drogas fossem interrompidas, mas isso não é o que eles encontraram. Enquanto que os usuários contínuos se saíram melhor em relação à taxa de re-hospitalização, o grupo que fez o segundo melhor resultado foi o daqueles que pararam imediatamente. Quanto mais tempo permaneceram no medicamento, maior o risco de re-hospitalização se o medicamento fosse interrompido em comparação com aqueles que permaneciam aderentes. O grupo que se saiu pior foi aquele que parou depois de cinco anos.

Eles também analisaram as taxas de mortalidade, e nesta análise eles compararam três grupos: usuários contínuos, não usuários e aqueles que descontinuaram dentro de um ano (estes foram os grupos com os números mais altos). A taxa de mortalidade foi maior entre os não usuários e melhor entre aqueles que tinham uso contínuo de drogas, embora as mortes em todos os grupos fossem baixas.

Este artigo apoia uma recomendação para o uso a longo prazo dos medicamentos, mesmo entre aqueles que experimentaram apenas um episódio de psicose.

O artigo oferece uma visão panorâmica. Foi um estudo com uma metodologia naturalista, como foi naturalista o trabalho feito por Harrow; os números são muito maiores, porém os resultados são mais brutos, imperfeitos. Tiihonen usa a re-hospitalização como um proxy para a recaída, enquanto Harrow e seus colegas se reuniram com cada pessoa e conduziram uma extensa avaliação. Harrow estudou indivíduos por 20 anos, independentemente do resultado. Neste estudo, o período de acompanhamento terminou quando a pessoa foi hospitalizada ou morreu. Nesse sentido, este estudo privilegia a recaída da mesma maneira que muitos outros estudos o fizeram ao longo dos anos. Nós não sabemos nada sobre qualidade de vida. Implícito nas recomendações de tratamento que podem vir deste estudo é que nunca é seguro parar um antipsicótico. Embora isso possa ser verdade se ‘seguro’ for sinônimo de reduzir a chance de re-hospitalização, pode não ser verdade se pudéssemos avaliar diferentes tipos de medidas de resultados.

Há outras informações valiosas nesses dados. Mais de 43% dos indivíduos nunca iniciaram a droga, e em um ano quase 57% pararam. Ao final do estudo, 33,6% da coorte total de 7.434 ainda estão sob uso de drogas. As pessoas não querem tomar esses medicamentos e, independentemente desses dados, ainda precisamos descobrir como nos relacionar com eles de maneiras que possam ajudá-las a navegar pelo mundo com menos riscos ao seu bem-estar e segurança. Embora o fracasso do tratamento tenha sido maior entre os que interromperam a droga (38%), também é interessante que não foi exatamente mais baixo no grupo aderente que foi usado como amostra de comparação (29,3%). Obviamente, isso significa que a taxa de permanência fora do hospital é de 62% para aqueles que pararam e 71% para aqueles que permaneceram com drogas. Uma pessoa razoável pode escolher essas probabilidades e decidir parar, especialmente se houver um plano para tentar intervir se surgirem problemas.

Neste estudo, não sabemos nada sobre o tratamento, a maneira como a droga foi interrompida ou a qualidade de vida geral. Também não sabemos o que aconteceu com aqueles que têm uma segunda hospitalização. Supõe-se que uma recaída indique que o tratamento a longo prazo seja o recomendado, mas não acredito mais nisso.

É aí que outras fontes de dados têm relevância para mim, mas esses são os tipos de dados que tendem a não ser considerados. Esta é a experiência em primeira pessoa, análise qualitativa, auto-relato. Eu conheci muitas pessoas na comunidade de ‘sobreviventes’ que levaram algum tempo para resolver seus problemas, mas que acabaram encontrando alguma paz sem as drogas. Eventualmente alguns optaram por continuar a tomar alguns medicamentos, mas nem todos assim o fizeram. Para aqueles que encontraram o caminho, pareceu levar anos. Isso é o que é sugerido nos dados da Harrow. Aos dois anos, aqueles que não tomam drogas continuam experimentando um alto grau de psicose. Sua melhora só é observada após 4 anos. Em contraste, aqueles que estão em uso de drogas continuam a experimentar uma taxa razoavelmente alta de sintomas.

Eu recentemente li um conto escrito por uma ex-namorada de Will Hall. Will é um homem brilhante que escreveu sobre suas próprias experiências com psicose e que literalmente escreveu um livro sobre maneiras de parar com drogas psiquiátricas. A história, contada por Susie Meserve, faz parte de uma antologia, ‘Mostre-me todas as suas Cicatrizes: Histórias Verdadeiras de Superar a Doença Mental’ (Show Me All Your Scars: True Stories of Overcoming Mental Illness). Essa história engraçada e tocante narra sua vida juntos por um breve tempo. E confesso que tive algumas surpresas particulares, havendo conhecido o Will, ouvido ele falar, lido seus escritos, penso que talvez ele não fosse ‘verdadeiramente’ um psicótico. Esta não é uma reação incomum de psiquiatras que encontram uma pessoa que parece ter se recuperado da psicose. Algo nessa história me ajudou a entender que, se eu tivesse conhecido Will durante seus momentos mais difíceis, eu provavelmente teria concordado com o diagnóstico, de esquizofrenia, que lhe havia sido dado. E nessa época, eu provavelmente teria previsto consequências terríveis quando ele optou por ignorar o conselho médico de que ele deveria permanecer nas drogas. Eu teria ficado preocupada vendo a sua luta e haveria sugerido que ele retomasse as drogas. Sua história me ajuda a entender que existem outros caminhos e essa é uma mensagem que posso compartilhar com as pessoas que vejo, assim como com as famílias preocupadas.

Por outro lado, tenho conhecido pessoas que são tão torturadas por suas experiências que parece haver pouco espaço para se envolver. Eles são superados por seu mundo que pode estar distorcido a tal ponto de não haver segurança para eles, mesmo com aqueles que estão ansiosos para apenas fazer uma conexão. Para eles, as drogas podem ser extremamente úteis.

Conheço outros que estão horrorizados com sua psicose e querem fazer tudo o que podem para evitar uma recorrência. Mesmo se a droga só confere uma ligeira vantagem, eles optaram por conviver com elas.

E eu não desconsidero essas famílias preocupadas. Elas estão frequentemente experimentando seus próprios traumas. Psicose pode ser muito assustadora para aqueles que estão tentando cuidar da pessoa. Eu entendo o desejo dessas pessoas de impedir isso. Eu só quero que elas tenham uma compreensão completa do que as drogas podem e não podem fazer.

Este artigo oferece algum conforto para aqueles que optaram por permanecer nas drogas. Isso sugere que devemos sempre ser cautelosos ao interrompê-las. Mas eu ainda afirmo que isso não nos diz que permanecer nas drogas é o melhor caminho para todos.

Retirada de Antidepressivos: dados on-line e o déficit de informação

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Nesta matéria publicada no Psychiatric Times, James Phelps escreveu sobre a falta de dados oficiais a respeito do número de pessoas que tentam se livrar dos antidepressivos e menciona o trabalho da organização de apoio de sobreviventes dos Antidepressivos.

“Um artigo recente no New York Times e outro na edição impressa atual do Psychiatric Times expressam preocupação com a síndrome de abstinência de antidepressivos. Esses artigos levantam a questão: quantas pessoas que começam a tomar um antidepressivo terão dificuldades graves quando tentam diminuir?

antidepressantsDados indiretos sugerem que a resposta é “muitas”. Diversos ensaios clínicos em andamento irão gerar dados relevantes, mas que ainda não foram projetados especificamente para responder a essa questão crucial.

Para mais informações, podemos ver as comunidades on-line mencionadas no artigo do Psychiatric Times. Um dos mais avançados deles é o do survivingAntidepressants.org. Se os depoimentos puderem influenciar sua opinião sobre a potencial gravidade das dificuldades de retirada do antidepressivo, saiba que este site tem centenas ”.

Artigo na íntegra →

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